O segundo encontro

Yuki

— Eu sabia! Um homem que usa um perfume desses tem que ser bonito. E como ele é? Quero detalhes.

— E pra quê? Foi só um homem que esbarrei na rua.

— Ah, nunca se sabe se vão se encontrar de novo.

— Rina, não delire. Não há a menor possibilidade de vê-lo novamente.

— Quem é que sabe? Às vezes ele pode ser seu verdadeiro amor.

— Que frase mais brega. — Acabei rindo, sua imaginação não tinha limites. — De onde tirou isso?

— Amor à primeira vista existe, sabia? Mas não desconversa, quero detalhes do tal homem, anda, estamos chegando na sala.

— Ok — Suspirei em desistência. — Ele é alto, loiro e tem olhos azuis.

— Só isso?

— Só. O que mais você quer que eu diga?

— Ah, sei lá! Poderia dizer que ele é um gato, um puta de um gostoso, que tem um corpo daqueles, a boca gostosa…

— Por Deus, Rina. Não continue, sinto vergonha.

— Yuki, só estou desempenhando meu papel de amiga. Há quanto tempo você não namora? Você precisa arrumar um amor, de preferência um homem lindo e gostoso. — Devolveu-me o lenço antes de entrar na sala me deixando sem chances de retrucar.

A segui e me desculpei com o professor devido a intromissão, detestava ser o centro das atenções. Eu não era tão tímido, mas só me soltava com meus amigos mais próximos e minha família, aliás, me julgava muito discreto quanto a minha vida pessoal.

Eu também não pensava muito em amor, acho que saberei quando encontrar, mas não espero tanto. Meus objetivos são claros, terminar meus estudos e ingressar no mercado de trabalho. Além do mais, relacionamentos entre dois homens não é a preferência da sociedade, havia várias complicações a serem consideradas.

Bom, eu só desejo ter uma vida tranquila, não é um desejo ambicioso.

Não sou de procurar namoros, só aconteceu uma única vez e ele foi meu primeiro em tudo, depois dele, apenas tive relacionamentos rápidos, em sua maioria de uma noite, mesmo assim, é raro de acontecer. Às vezes me sinto carente, apenas isso. E em todas elas, procuro ser o mais discreto possível.

Infelizmente, não fui discreto o suficiente para que meu pai não descobrisse. Família às vezes pode ser complicada e a minha não é diferente. Me pergunto a razão de ter um pai tão estúpido e preconceituoso, eu não sou “defeituoso” como ele me disse tantas vezes, não há nada de errado em mim.

Entendi que gostava de meninos um pouco tarde, eu tinha quinze anos, mas acho que foi algo natural de perceber. Naquela época, eu era muito tímido, no máximo olhava para um garoto de canto, procurei esconder isso a todo custo com medo de sofrer preconceito e bullying na escola.

Eu também não tinha muitos amigos por ser bastante quieto, não era difícil ser ignorado. Então, o conheci.

Richard chegou transferido à minha classe, os olhos esverdeados, cabelos loiros encaracolados. Um estrangeiro. Ele me chamou atenção no mesmo instante em que entrou na sala e acabou por sentar ao meu lado. Era metido a malandro, mas em pouco tempo, descobri que era só uma fachada que mantinha para se defender.

Começamos a ficar próximos e fazíamos alguns trabalhos juntos, na maioria das vezes, íamos juntos para o almoço. Ele passou a frequentar minha casa, assim como eu ia na dele. Foi natural e espontâneo. Richard se mostrou um cara incrível e aos poucos fomos nos envolvendo, até acontecer.

Começamos a namorar escondido e deu certo até meu pai descobrir. Foi um inferno, ele tentou me “corrigir” de todas as maneiras possíveis e o resultado foi a minha saída de casa para não sofrer mais com sua violência, nem minha mãe pôde ajudar, ela não tem voz nesse casamento.

Para a minha sorte, devido a universidade, meu irmão já morava sozinho em outra cidade, apesar de mal se sustentar e morar em um apartamento ruim de apenas um cômodo pequeno, me trouxe para morar com ele e desde então, trabalhamos para termos um bom futuro.

Quanto ao meu namoro, fui feliz enquanto durou. Hoje somos amigos a distância já que ele não mora mais aqui no Japão.

Suspirei ao lembrar de tudo isso, era sempre doloroso, havia coisas que jamais esqueceria, outras ficaram marcadas na minha pele, literalmente.

Encarei o professor apontando algumas informações nos slides e procurei meu pequeno caderno de anotações, mas não estava na bolsa e tinha certeza de ter colocado.

Será que coloquei realmente?

….

— Não acredito que teremos o fim de semana comprometido — Rina reclamou enquanto andava escorada no namorado. — Aquele professor não deve ter vida social e desconta todas as suas frustrações na gente.

— Não reclame, baby, ele poderia ter passado um trabalho maior. Eu te ajudo. — Ito disse com gracejos.

— Você? É mais fácil eu fazer os dois trabalhos sozinha.

Sorri enquanto andávamos até o portão, eles viviam discutindo, mas não se desgrudavam.

Antes de chegar na saída, me surpreendi com a pessoa que estava escorada no portão. O homem do acidente de hoje de manhã olhava atentamente para os estudantes que estavam saindo.

Quando me viu, ajeitou a postura, ele ainda estava com a camisa manchada de café. Devia ter tentado limpar pois estava melhor, mesmo assim, estava horrível, o terno não cobria totalmente. Aquela culpa que senti antes, retornou com um pouco mais de força.

— Ah, oi. — Cumprimentou-me assim que cheguei perto.

— Oi.

Foi o que consegui responder, já que não fazia ideia de como agir. Ele, provavelmente, veio me cobrar o prejuízo, pois não tinha certeza de que aquela mancha iria sair, talvez tenha sido repreendido no trabalho, só de imaginar…

— Olá. Não vai me apresentar seu amigo, Yuki? — Claro que Rina não ia perder a chance.

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