Ademir ficou sem palavras mais uma vez. A ira era tão grande assim? Ela realmente não queria que ele viesse? Embora já estivesse preparado para isso antes de vir, naquele momento, não pôde evitar a sensação de desapontamento. Mas o que adiantava se sentir assim? De repente, Ademir se lembrou de algo. Se aproximando do ouvido de Karina, perguntou em um tom audível apenas para ela: — Aquele filé de antes não foi o suficiente? Karina não entendeu de imediato por que o assunto mudou tão de repente. Mas a expressão que surgiu em seu rosto por um instante, somada ao reflexo inconsciente de engolir em seco, provou que ele estava certo. — Entendi. — Ademir não conteve um sorriso. — Vou pedir mais um para você. Ao se levantar, ele riu baixinho e comentou: — Parece uma criança. Só porque comeu um pedaço a menos já ficou emburrada comigo. Karina ficou sem reação e quase o chamou de volta. Desde quando perder um pedaço de carne fazia alguém parecer uma criança? Além disso
— Quero saber... Você veio aqui esta noite como investidor do projeto, para impressionar o Dr. Marco e o Dr. Felipe com sua gentileza e elegância, ou por minha causa? Karina foi tão direta que Ademir ficou momentaneamente desconcertado, seu sorriso foi enrijecendo. Em vez de responder diretamente, ele retrucou: — O que você acha? — Eu não sei. — Karina balançou a cabeça, dizendo a verdade. — Mas espero que seja a primeira opção... — Claro que é a primeira. — Ademir riu friamente, seguindo a deixa dela. — Ou será que você achou que fosse por você? Karina ficou em silêncio. Mesmo se sentindo um pouco envergonhada, não podia negar que havia pensado exatamente isso. O riso baixo dele soou no ar. Ergueu uma sobrancelha e provocou: — Karina, você é bem interessante. De onde vem essa confiança para acreditar que eu me prenderia a uma mulher que não sente nada por mim? Não há mais mulheres no mundo? Ou você acha que ninguém me quer? Karina ficou sem palavras. Claro que não
Como já estava no final da gravidez, não podia viajar de avião, então Karina comprou uma passagem de ônibus. Ia passar uma semana na Cidade L, e a bagagem não era pouca. Felizmente, Dr. Felipe cuidava bem de Karina e garantiu que ela escolhesse um ônibus mais confortável. Ao subir, encontrou seu assento, mas não conseguia carregar as malas sozinha. Pensou em chamar um comissário de bordo para ajudá-la. — Karina. — Sentiu um leve toque no ombro. Ao se virar, viu Túlio sorrindo para ela. — Túlio. — Karina também sorriu. — Essa mala é sua? — Sim. — Deixa que eu levo. — Túlio entendeu na hora e pegou a mala de Karina, acomodando ela no compartimento. — Obrigada. — Não foi nada. O mais surpreendente era que os assentos dos dois ficavam lado a lado. Uma coincidência e tanto. Karina sorriu: — Vou para a Cidade L participar de um congresso. Você está indo a trabalho? — Sim. — Túlio assentiu e explicou. — Estou tomando medicação, e o Dr. Amílcar me aconselhou a evi
Às dez da noite, no Hotel Dynasty.Karina Costa olhou para o número na porta: Suíte Presidencial 7203.“É aqui.”Seu celular vibrou com uma mensagem de Lucas Costa: [Karina, sua tia concordou. Contanto que você acompanhe bem o Sr. Francisco, eu pago imediatamente as despesas médicas do seu irmão.]Karina leu a mensagem, com uma expressão neutra em seu rosto pálido.Ela já estava entorpecida, incapaz de sentir dor.Depois que seu pai se casou novamente, ele deixou de se importar com ela e seu irmão. Durante mais de dez anos, eles foram deixados à mercê dos maus-tratos e até abusos da madrasta.Faltar roupas e comida era normal; insultos e espancamentos eram frequentes.Desta vez, devido a dívidas de negócios, eles a forçaram a dormir com um homem!Quando Karina se recusou, eles ameaçaram cortar o tratamento do irmão dela.Seu irmão tinha autismo, e o tratamento não podia ser interrompido.Mesmo os tigres, por mais ferozes que sejam, não comem seus filhotes. Lucas era pior que um animal!
Karina se apressou para voltar para casa.Um homem de meia-idade, gordo e com a cabeça semi-careca, estava sentado no sofá da sala, olhando furioso para Vitória.— Uma estrela em ascensão, eu prometi que me casaria com você! Como ousa me enganar e me deixar esperando a noite toda?Vitória aguentava a humilhação. Nem se falava que Francisco usava essa desculpa todas as vezes para se aproveitar das mulheres. Mesmo que ele estivesse realmente disposto a se casar com Vitória, isso seria uma armadilha! Quem se atreveria a se casar com ele?Vitória teve o azar de ser notada por ele.Mas seus pais, preocupados com ela, fizeram Karina substituir Vitória.Só que não esperavam que Karina fugisse na última hora!Eunice falou cuidadosamente:— Sr. Francisco, sinto muito, a menina não entende as coisas, por favor, perdoe ela.Lucas falou timidamente:— Por favor, não fique zangado.— Não ficar zangado? — Francisco disse muito irritado. — Impossível! Já que Srta. Vitória não está disposta, eu não a
— Sr. Ademir. — Francisco de repente parou de andar. No círculo comercial, todos que tinham algum status conheciam Ademir. — O que o senhor está fazendo aqui?Ademir nem olhou para ele, com os olhos fixos em Vitória, que não parava de chorar.Essa mulher era a garota que na noite passada chorava delicadamente em seus braços...De repente, ele levantou a mão e deu um tapa forte em Francisco, jogando-o no chão!Francisco imediatamente cuspiu um dente, ainda coberto de sangue.A família de Vitória estava tão assustada que nem ousava respirar.Os lábios finos de Ademir se curvaram em um sorriso sarcástico. Sua voz, indiferente, era como uma lâmina fina e afiada:— Você ousa tocar na minha pessoa?!Francisco, caído no chão, cobria a boca, falando tremulamente:— Sr. Ademir, eu não sabia que ela era sua pessoa, eu não a toquei, juro! Por favor, me perdoe!Ademir não acreditou em suas palavras e olhou para Vitória.— É verdade?Vitória balançou a cabeça, atordoada:— Não, não é...— Saia daqu
Karina entendeu, mas casamento não era algo trivial, e ela hesitou, balançando a cabeça.— Não é necessário, né? Tente convencer o Sr. Otávio...Antes de terminar a frase, foi interrompida.Ademir, com a expressão inalterada e o tom de voz tranquilo, disse:— Como condição, vou te compensar financeiramente.Compensação financeira? Karina ficou surpresa e não conseguiu recusar. Seu irmão ainda estava esperando pelo dinheiro do tratamento. Ela tinha procurado a família Barbosa exatamente por causa do dinheiro.Percebendo sua hesitação, Ademir acrescentou:— Basta você concordar, e quanto você precisar, eu darei.Karina ficou em silêncio por alguns segundos, depois assentiu:— Está bem, eu concordo.Ademir baixou os olhos, escondendo a frieza e o desprezo.“Uma mulher que vende seu casamento por dinheiro é realmente barata. Tudo bem, assim será fácil se divorciar depois.”— Vou preparar o contrato. Amanhã de manhã, leve seus documentos e nos encontraremos no cartório!— Certo.Na manhã se
Karina entrou cambaleando no quarto do hospital, quase perdendo o equilíbrio. O médico havia acabado de examinar Otávio e, ao ver Ademir, disse:— Sr. Ademir, o senhor chegou. O Sr. Otávio está temporariamente fora de perigo, apenas bastante fraco. Ele precisa cuidar bem da saúde, prestar atenção à alimentação e ao descanso. O mais importante é manter o bom humor e não sofrer choques emocionais.Terminando de falar, o médico saiu.Otávio estava meio deitado e acenou com a mão.— Ademir, Karina, vocês tiraram a certidão de casamento hoje. Não disse ao Ademir para aproveitarem a lua de mel e não virem me ver?— Sr. Otávio. — Karina estava um pouco nervosa. — Desculpe...Otávio ficou confuso:— Ainda me chama de Sr. Otávio? Por que está se desculpando comigo?— Eu...Com um aperto no pulso, Ademir interrompeu suas palavras:— Karina quer dizer que, com o senhor ainda no hospital, não temos cabeça para aproveitar a lua de mel. Por isso, tivemos que desobedecer a sua vontade.Karina ficou