Karina ficou paralisada, olhando fixamente para as costas de Ademir, sem saber o que fazer."Ele vai pensar? Como ele vai pensar?"...Depois daquele dia, Karina passou a morar na Rua de Francisco Antônio.Todos os dias, ela ia a pé para o Hospital J, vivendo de acordo com o plano que havia feito.E Ademir não voltou mais para perturbá-la.No entanto, não sabia por que, mas Karina sentia algo estranho, uma sensação de medo que a tomava sem explicação.Ela não conseguia identificar exatamente o que era.Naquela tarde, durante o intervalo, Karina decidiu pegar um táxi até as colinas verdes.Ao chegar, o segurança na porta a olhou, surpreso.— Irmã do Catarino, o que você está fazendo aqui?Karina, sem perceber nada estranho, ouviu o segurança continuar.— Será que o Catarino deixou algo por aqui? Você veio pegar?— O quê?A frase parecia completamente errada.Karina franziu a testa e perguntou:— O Catarino deixou alguma coisa aqui? Onde?— O quê? — O segurança estava tão confuso quanto
Karina estava parada na janela do corredor, preparada para esperar por um longo tempo.Mas, ao contrário do que imaginava, Ademir apareceu rapidamente, depois de acalmar Vitória.— Karina.Ela virou-se, encarando Ademir diretamente.Sem rodeios, perguntou:— Onde está o Catarino? O que você fez com ele?Embora sua expressão estivesse calma, as mãos apertadas de Karina denunciavam suas verdadeiras emoções.Ademir observou tudo, franzindo a testa, mas falou com uma suavidade impressionante:— Em Colinas Verdes não era o melhor lugar para o tratamento especializado do Catarino. Eu o transferi para uma clínica mais adequada. Não se preocupe, a Cecília e o Amílcar estão com ele. O Catarino está bem.As palavras de Ademir foram astutas, desviando completamente da pergunta de Karina.Karina, irritada, aumentou o tom de voz:— Eu perguntei onde está o Catarino! Eu quero vê-lo!Já esperando a reação de Karina, Ademir a observava com a serenidade de sempre, olhando profundamente em seu rosto lim
Catarino estava ali.Catarino foi colocado em um pátio separado, com um médico responsável exclusivamente por ele. Amílcar e Cecília também estavam presentes.Ao ver a irmã, Catarino ficou muito feliz.— Irmã!— Catarino, querido.— Marido da irmã mais velha!Catarino olhou para Ademir, que estava atrás da irmã, e sorriu:— Aqui é tão grande!— É, não é? — Ademir sorriu e assentiu. — O marido da irmã mais velha não te mentiu, né? Aqui é ainda maior e mais divertido!— Sim, é!Karina ficou surpresa:— Catarino, você gosta daqui?— Sim! Gosto!Vendo o entusiasmo de seu irmão, parecia que suas preocupações eram desnecessárias.Após confirmar que Catarino estava bem, emocionalmente estável, Karina finalmente relaxou.Ademir, discretamente, pegou sua mão:— Daqui a pouco, tenho uma reunião. Você prefere ficar com o Catarino ou vir comigo?— Vai lá, resolva suas coisas. — Karina não hesitou nem por um segundo, sem precisar pensar. — Quero passar mais tempo com o Catarino.— Certo. — Ademir l
Ademir segurava a colher e a aproximava dos lábios de Karina.Parecia tão atencioso.No entanto, Karina não conseguia evitar a lembrança de uma cena que presenciou mais cedo naquele dia, no quarto de hospital.Naquele momento, Ademir também alimentava Vitória dessa maneira...Seu coração se apertou com uma dor aguda, e Karina franziu ligeiramente a testa:— Não precisa...— Karina. — O homem apertou os olhos, visivelmente um pouco irritado.— Eu só quero dizer que posso fazer isso sozinha. — Temendo desagradar Ademir, Karina deixou a toalha de lado e pegou a tigela. — Já terminei de secar o cabelo, vou beber sozinha.Ela tinha mãos e pés, não era Vitória.Dito isso, ela deu um gole na sopa.Ao vê-la beber sozinha, a expressão de Ademir, que estava tensa, foi se suavizando lentamente.— Como está o sabor? Está bom?Karina respondeu com uma voz indiferente:— Está... Aceitável.Parecia que Karina não estava muito impressionada com a sopa.— Não gostou?— O sabor é aceitável. — Karina fez
— Está tudo bem...Mas Vitória não parava de gritar, em uma fúria desenfreada.— Srta. Vitória, por favor, se acalme!— Rápido, pegue a medicação!— Sim! — O médico e a enfermeira estavam claramente perdendo o controle sobre a situação. — Srta. Vitória, não se mexa tanto! Você pode se machucar!— É ela... — Vitória continuava a gritar descontrolada, apontando para Karina com uma acusação furiosa. — Foi ela! Foi ela quem me prejudicou!Ao ouvir isso, o médico olhou para Karina, franzindo a testa.— O que aconteceu aqui?— Eu... — Karina estava completamente confusa, sem saber o que responder.Ela não tinha ideia de por que Vitória estava agindo assim, nem por que estava a acusando de algo tão absurdo.— Ela disse que fui eu quem a prejudicou?— Expulsem ela! Expulsem ela daqui! — De repente, Vitória voltou a gritar, totalmente fora de si.— Dra. Costa, melhor sair. — O médico, percebendo que a situação estava fora de controle, pediu com urgência. — Com o estado emocional da paciente, vo
Karina chorou. Na memória de Ademir, Karina sempre foi uma pessoa muito forte, rara eram as vezes em que ela derramava lágrimas. Especialmente em questões de sentimentos, parecia que apenas Catarino tinha o poder de fazer Karina chorar. Mas agora, Karina chorava. E quem a fez chorar foi Ademir. Ele estava desajeitado e apavorado. — Karina, me perdoe... Levantou a mão, querendo enxugar as lágrimas de Karina, mas ela se afastou de seu toque e virou a cabeça. — Por favor, saia. Não quero te ver agora. Me deixe sozinha, tudo bem? Ademir queria dizer algo, mas não teve coragem. Não queria sair. Porém, a resistência de Karina o fez ceder... — Tá bom, eu saio. — Disse Ademir, com a voz rouca. E então saiu do escritório. Ficou parado na porta por um bom tempo, sem dizer uma palavra. Ademir sentia que havia causado sofrimento a Karina. Será que Ademir estava sendo injusto com Karina? Mas então, por que Karina tinha ido até Vitória? Ao pensar sobre isso, lembrou-se
Alguém quebrou o silêncio, falando em tom brincalhão: — Dra. Costa, uma notícia tão maravilhosa como essa, não vai comemorar de alguma forma? — Isso mesmo! A nossa Karina agora é a Sra. Barbosa, você não vai convidar a gente para um jantar especial? — Que tal uma festa? Que tal organizar uma comemoração? — Sim, sim, uma festa seria ótima! A conversa começou a se animar, e logo o ambiente ficou ainda mais descontraído. Felipe, observando a situação, deu uma olhada para Karina e balançou a cabeça. — Pessoal, calma aí! Todos nós somos professores e mentores da Karina. Como ela acabou de entrar, é claro que o hospital vai fazer uma recepção para ela. A animação se dissipou instantaneamente. Não por outro motivo, mas porque o tipo de confraternização que o hospital oferecia era sempre um evento sem muita graça. O orçamento era limitado, e o local escolhido para as comemorações raramente variava. Muitos tinham se animado com a ideia de aproveitar a posição de "Sra. Barbos
Quando saiu do setor e atravessou a ala cirúrgica, Karina ainda estava com o rosto fechado.— Karina. — Ademir a puxou. — Por que você está tão irritada?Já que ele havia perguntado, Karina não viu razão para esconder:— O jantar era minha responsabilidade, por que você não conversou comigo antes de tomar essa decisão sozinho?— O quê? — Ademir se sentiu injustiçado. — Fui eu que reservei o lugar, você não gostou? Não é você quem adora a comida do Cozyroom?— Adoro? — Karina estava furiosa. — Você sabe quantas pessoas tem na nossa equipe? Com médicos e enfermeiros, são mais de trinta pessoas!— E daí? — Ademir estava completamente confuso.E daí? Pensando no custo, aquele jantar ia custar cerca de 300 mil reais!Karina estava sem palavras, de tão irritada.— Você realmente não sabe o quanto isso é caro?— Caro? — Ademir franziu a testa, sem entender. Ele realmente não achava caro. Karina estava brava só por causa disso? — Karina, não é caro, a gente pode pagar, não é um problema.Esse