Naquele dia, elas haviam saído às pressas, sem dar uma boa explicação a Simão. — Não precisa. — Patrícia sacudiu a cabeça. — Hoje é dia de semana, ele tem que trabalhar. Não é como a gente, que está sem nada para fazer. De fato, fazia sentido. Karina não insistiu mais. O filme era bem mediano, e quando saíram do cinema, as duas estavam quase dormindo. A Cidade J continuava coberta por uma forte nevasca. — Está tão frio! — Patrícia disse animada, enlaçando o braço de Karina. — Vamos comer hot-pot? Estou morrendo de vontade de algo apimentado! — Então vamos naquele de sempre. — Ótimo! Por sorte, elas já estavam perto do Restaurante Ocean. Assim que pisou dentro do restaurante, Patrícia ficou paralisada. — O que foi? — Karina perguntou intrigada, seguindo o olhar de Patrícia. Não muito longe dali, Simão estava saindo do restaurante. Mas ele não estava sozinho. Ao seu lado, havia uma jovem. Os dois riam alegremente, e Simão, atencioso, segurava um casaco feminin
Karina ficou completamente atordoada com a pergunta de Ademir, sem saber como responder. — Eu não te disse que você não precisa mais fazer tantas coisas pela Vitória...? — Eu não estou fazendo isso por ela! — Ademir já não conseguia mais conter sua frustração, sua paciência estava se esgotando. — Pare de falar da Vitória! Agora sou eu e você. Você fica trazendo o nome dela o tempo todo... Quer me afastar desse jeito? Karina ficou paralisada e, logo em seguida, sentiu uma leve inquietação no peito. De repente, ela disse: — Chega, não quero mais ouvir. Enfiou a mão no bolso, procurando a chave. — Terminamos de falar antes de você entrar. — O pulso de Karina foi envolvido pela mão firme de Ademir. Sua voz grave carregava um traço de autoridade. — Você realmente não entende ou está me punindo de propósito? Você realmente não sabe o que eu quero dizer? — O que eu deveria saber? — O coração de Karina acelerou descompassado. — Eu gosto de você. No instante em que essas pal
— Karina! — Ademir franziu a testa, segurando a mão de Karina com firmeza. — Estou falando de você agora! — Certo, então fale de mim. — Karina ergueu a sobrancelha com um sorriso divertido, olhando para ele com calma. — Você acha que sou tão fácil de enganar? Que bastam algumas palavras suas para me fazer chorar de emoção e, no fim, aceitar ficar com você? — Nunca pensei assim. — O amargor tomou conta de seu peito, e Ademir balançou a cabeça. — Estou preparado... Vou me dedicar e conquistar você de verdade... — Nem vem! — Karina recusou sem hesitar, com uma firmeza límpida no olhar. — Eu não aceito! O silêncio tomou conta do ambiente. Só restavam os dois, se encarando. Os olhos negros de Ademir permaneceram fixos nela. Depois de um momento, ele sorriu de repente: — Já imaginei que diria isso. Mas, Karina, você precisa entender que o fato de eu gostar de você... não está sob seu controle. Nem sob o meu. Ele ergueu a rosa que trazia nas mãos e a estendeu diante dela. — Fo
Quando o dia mal havia amanhecido, Karina já estava de pé. Patrícia abriu os olhos, ainda sonolenta, e perguntou: — Que horas são? — Ainda é cedo. — Karina afagou o rosto de Patrícia. — Vou tomar café da manhã com o Catarino, por isso acordei mais cedo. Volta a dormir. — Tá bom. — Assim que ouviu isso, Patrícia fechou os olhos obedientemente. Karina se levantou, arrumou tudo com cuidado e saiu, pegando um carro até a Villa Verão. Quando chegou, Cecília foi quem abriu a porta. Sorrindo, disse: — O Catarino está se arrumando. De manhã, nem precisa chamá-lo, ele acorda sozinho. Ficou falando o tempo todo que a irmã vinha. Enquanto guiava Karina para dentro, acrescentou: — Senta um pouquinho. O café da manhã já está pronto, vou trazer agora. — Obrigada. — Não há de quê, é meu dever. Assim que o café da manhã foi servido, Catarino saiu do banheiro. — Irmã! — O garoto ficou radiante ao vê-la, os olhos brilhando de alegria. Correu até ela e se sentou ao seu lado.
— Obrigado. — De nada.Catarino olhou para a bandeja de frutas e apontou para um dos compartimentos: — Essa laranja é bem doce. — É mesmo? — Karina sorriu, sem dar muita importância. — Você já experimentou, Catarino? — Sim. — Catarino assentiu. — Foi o tio que trouxe. Karina ficou paralisada por um instante, e seu sorriso se congelou. Tio... O único "tio" ao qual Catarino poderia estar se referindo era Lucas. — Ele... — Karina umedeceu os lábios e hesitou antes de perguntar. — O tio veio te ver? — Sim. — Catarino assentiu de novo. — Ele veio ontem à tarde. Ontem... Ou seja, assim que recebeu alta, a primeira coisa que fez foi vir visitar Catarino. Estava apenas encenando ou realmente se preocupava? Karina franziu a testa, se sentindo dividida. — Irmã. — O que foi? — Karina ergueu o olhar. Catarino parecia um pouco envergonhado ao perguntar: — O tio está bem agora? O quê? O coração de Karina disparou. — Catarino, por que está perguntando isso? —
— Te deixar em paz? — Ademir riu, suas longas pestanas ocultando a expressão nos olhos. — Perseguir você significa que não vou te deixar em paz? Perseguir? De novo essa palavra! Karina realmente não entendia: — Por quê? — Por que o quê? Ela suspirou suavemente. A cabeça inteira estava envolta no cachecol que o homem havia enrolado nela, deixando apenas os olhos à mostra. Sua voz soou abafada: — Você já sabe, não sabe? Eu nunca gostei de você... Ou será que isso não faz a menor diferença para você e já esqueceu? Ademir abaixou o olhar para ela, soltando uma risada baixa e rouca: — Sei. E não, não esqueci. — Então o que você está fazendo? — Karina riu friamente. — Não foi exatamente por isso que nos separamos? Desde então, embora nunca tivessem dito claramente, o longo silêncio entre eles já era uma aceitação tácita do fim. Só por causa de Otávio ainda estavam esperando... Agora, até mesmo Otávio já havia concordado, e ele resolveu voltar atrás? Karina disse:
— Ademir! — Tá bom, eu já entendi. — Ademir suspirou, se rendendo sem escolha. — Espero você tomar banho e deitar, depois eu vou embora. O banheiro é escorregadio demais, prefiro ficar aqui para garantir. Que consideração, hein! Karina, irritada, jogou os cabelos para trás e entrou no quarto. Pouco tempo depois, ao sair do banho, viu Ademir já esperando com uma toalha seca nas mãos. Antes que ela pudesse explodir, ele se adiantou: — Só vou te ajudar a secar o cabelo e depois eu vou. Você cansa os braços se ficar levantando por muito tempo. Karina lançou um olhar frio para ele. — Sabia que você parece um chiclete? Por mais que tentasse se livrar dele, não conseguia. — Pois é. — Ademir não se ofendeu nem um pouco, pelo contrário, sorriu satisfeito. — Gosto desse tipo de elogio. Karina ficou sem palavras. Ela estava elogiando Ademir? — Vem cá, deixa eu secar seu cabelo. Assim você dorme mais confortável. Karina desistiu de responder. Apenas fechou os olhos e de
O homem era muito alto e magro, mas do tipo forte e bem definido. Por causa de Ademir, Karina supôs que ele deveria praticar exercícios físicos há muitos anos. Seu rosto tinha traços um pouco estrangeiros, com feições marcantes, especialmente os olhos grandes e expressivos. Talvez também vivesse bem, pois sua pele parecia muito bem cuidada, sem rugas aparentes. No entanto, pela aura que emanava, não era difícil perceber que ele já havia chegado à meia-idade. Karina ficou ouvindo por um momento e percebeu que ele falava em francês o tempo todo. — Bonjour. — Karina tentou se comunicar em francês. — Com licença, precisa de alguma coisa? O homem ficou surpreso, mas logo demonstrou grande alegria: — Você fala francês? — Um pouco. — Karina sorriu e assentiu. É claro que essa era apenas uma resposta modesta. No passado, ela chegou a se sustentar trabalhando como tradutora. — Que ótimo. — O homem apontou para cima e fez um gesto com a mão. — Eu gostaria de... — Certo. — K