Quando o dia mal havia amanhecido, Karina já estava de pé. Patrícia abriu os olhos, ainda sonolenta, e perguntou: — Que horas são? — Ainda é cedo. — Karina afagou o rosto de Patrícia. — Vou tomar café da manhã com o Catarino, por isso acordei mais cedo. Volta a dormir. — Tá bom. — Assim que ouviu isso, Patrícia fechou os olhos obedientemente. Karina se levantou, arrumou tudo com cuidado e saiu, pegando um carro até a Villa Verão. Quando chegou, Cecília foi quem abriu a porta. Sorrindo, disse: — O Catarino está se arrumando. De manhã, nem precisa chamá-lo, ele acorda sozinho. Ficou falando o tempo todo que a irmã vinha. Enquanto guiava Karina para dentro, acrescentou: — Senta um pouquinho. O café da manhã já está pronto, vou trazer agora. — Obrigada. — Não há de quê, é meu dever. Assim que o café da manhã foi servido, Catarino saiu do banheiro. — Irmã! — O garoto ficou radiante ao vê-la, os olhos brilhando de alegria. Correu até ela e se sentou ao seu lado.
— Obrigado. — De nada.Catarino olhou para a bandeja de frutas e apontou para um dos compartimentos: — Essa laranja é bem doce. — É mesmo? — Karina sorriu, sem dar muita importância. — Você já experimentou, Catarino? — Sim. — Catarino assentiu. — Foi o tio que trouxe. Karina ficou paralisada por um instante, e seu sorriso se congelou. Tio... O único "tio" ao qual Catarino poderia estar se referindo era Lucas. — Ele... — Karina umedeceu os lábios e hesitou antes de perguntar. — O tio veio te ver? — Sim. — Catarino assentiu de novo. — Ele veio ontem à tarde. Ontem... Ou seja, assim que recebeu alta, a primeira coisa que fez foi vir visitar Catarino. Estava apenas encenando ou realmente se preocupava? Karina franziu a testa, se sentindo dividida. — Irmã. — O que foi? — Karina ergueu o olhar. Catarino parecia um pouco envergonhado ao perguntar: — O tio está bem agora? O quê? O coração de Karina disparou. — Catarino, por que está perguntando isso? —
— Te deixar em paz? — Ademir riu, suas longas pestanas ocultando a expressão nos olhos. — Perseguir você significa que não vou te deixar em paz? Perseguir? De novo essa palavra! Karina realmente não entendia: — Por quê? — Por que o quê? Ela suspirou suavemente. A cabeça inteira estava envolta no cachecol que o homem havia enrolado nela, deixando apenas os olhos à mostra. Sua voz soou abafada: — Você já sabe, não sabe? Eu nunca gostei de você... Ou será que isso não faz a menor diferença para você e já esqueceu? Ademir abaixou o olhar para ela, soltando uma risada baixa e rouca: — Sei. E não, não esqueci. — Então o que você está fazendo? — Karina riu friamente. — Não foi exatamente por isso que nos separamos? Desde então, embora nunca tivessem dito claramente, o longo silêncio entre eles já era uma aceitação tácita do fim. Só por causa de Otávio ainda estavam esperando... Agora, até mesmo Otávio já havia concordado, e ele resolveu voltar atrás? Karina disse:
— Ademir! — Tá bom, eu já entendi. — Ademir suspirou, se rendendo sem escolha. — Espero você tomar banho e deitar, depois eu vou embora. O banheiro é escorregadio demais, prefiro ficar aqui para garantir. Que consideração, hein! Karina, irritada, jogou os cabelos para trás e entrou no quarto. Pouco tempo depois, ao sair do banho, viu Ademir já esperando com uma toalha seca nas mãos. Antes que ela pudesse explodir, ele se adiantou: — Só vou te ajudar a secar o cabelo e depois eu vou. Você cansa os braços se ficar levantando por muito tempo. Karina lançou um olhar frio para ele. — Sabia que você parece um chiclete? Por mais que tentasse se livrar dele, não conseguia. — Pois é. — Ademir não se ofendeu nem um pouco, pelo contrário, sorriu satisfeito. — Gosto desse tipo de elogio. Karina ficou sem palavras. Ela estava elogiando Ademir? — Vem cá, deixa eu secar seu cabelo. Assim você dorme mais confortável. Karina desistiu de responder. Apenas fechou os olhos e de
O homem era muito alto e magro, mas do tipo forte e bem definido. Por causa de Ademir, Karina supôs que ele deveria praticar exercícios físicos há muitos anos. Seu rosto tinha traços um pouco estrangeiros, com feições marcantes, especialmente os olhos grandes e expressivos. Talvez também vivesse bem, pois sua pele parecia muito bem cuidada, sem rugas aparentes. No entanto, pela aura que emanava, não era difícil perceber que ele já havia chegado à meia-idade. Karina ficou ouvindo por um momento e percebeu que ele falava em francês o tempo todo. — Bonjour. — Karina tentou se comunicar em francês. — Com licença, precisa de alguma coisa? O homem ficou surpreso, mas logo demonstrou grande alegria: — Você fala francês? — Um pouco. — Karina sorriu e assentiu. É claro que essa era apenas uma resposta modesta. No passado, ela chegou a se sustentar trabalhando como tradutora. — Que ótimo. — O homem apontou para cima e fez um gesto com a mão. — Eu gostaria de... — Certo. — K
— Obrigado. O garçom se aproximou para anotar os pedidos. — Deixe-me ver. — Lucas pegou o menu e escolheu vários pratos de acordo com o gosto de Karina. — Isso é suficiente? — Sim, é o bastante. — Tudo bem, se não for, pedimos mais. O fato de a filha ter tomado a iniciativa de chamá-lo para jantar o deixou surpreso e emocionado. Lucas não parava de perguntar: — Como você está ultimamente? E o bebê? — Estou bem. — Karina respondeu de forma indiferente, sem querer se alongar no assunto. Ouvindo ele insistir nas perguntas, Karina começou a sentir uma leve impaciência. De repente, ela disse: — Sobre a doação de fígado, eu falarei com o Catarino. Ao ouvir isso, Lucas ficou completamente chocado, seus olhos se arregalaram. — O que você disse? Karina não repetiu, pois sabia que ele tinha escutado perfeitamente. Ela continuou: — Mas eu quero que você me prometa uma coisa. — Karina... Karina não ousou hesitar; temia que, se parasse, mudaria de ideia. Fitand
Ademir franziu levemente a testa, um traço de inquietação passando por seu olhar. — Você não gosta de flores? Karina soltou uma risada leve, sem responder. De repente, ela disse: — Hoje, encontrei o Lucas. O rosto de Ademir mudou sutilmente. Seu olhar ficou pesado ao encará-la. — Prometi a ele que falaria com o Catarino sobre a doação do fígado. — Karina de repente sorriu. — Aquelas palavras que você sugeriu naquele dia... Por mais duras que tenham sido, até que tinham algum sentido. — Karina, eu... — Ademir subitamente se sentiu irritado. — Deixe-me terminar. — Karina sorriu, pressionando os lábios. — Mas impus uma condição: ele não pode tratar o Catarino como filho. E isso eu preciso deixar claro para você também. Vocês, a sua família, devem manter isso em segredo. Dizendo isso, ela inclinou ligeiramente o corpo. Era um gesto de despedida: — Já terminei. Durante esse tempo, você passou por muita coisa, mas agora seu objetivo foi alcançado. Pode ir... O ambient
Se os exames não mostrassem nenhum problema, então Karina poderia falar com Catarino sobre a doação de fígado. Caso contrário, não haveria necessidade de mencionar o assunto. Hoje, Karina tinha ido ao centro de exames para agendar a consulta. O que ela não esperava era que, ao chegar lá, Lucas já estivesse esperando por ela. E não era só Lucas. Até Eunice e Vitória tinham vindo. Surpresa? Um pouco. Mas, no fundo, nem tanto. — Karina. — Assim que ela se aproximou, Lucas se levantou primeiro, seguido por Eunice. Vitória, por estar em uma cadeira de rodas, não pôde fazer o mesmo, mas, ainda assim, todos eles olhavam para Karina com uma espécie de esforço deliberado para agradá-la. Karina estava bem consciente da situação. Eles não estavam tentando agradá-la. Estavam tentando agradar ao fígado de Catarino. — Karina. — Eunice sorriu, mas de maneira pouco natural. — Obrigada. — Certo. — Karina assentiu, fria, mas ainda assim educada. Vitória também expressou sua gratidã