— Sim, Ademir! A Rua de Francisco Antônio não estava muito distante da Rua Alameda, ambas localizadas perto do Hospital J. Lucas estacionou o carro no estacionamento do condomínio, embaixo do prédio. Pegou a bagagem e caminhou à frente: — Você trouxe a chave? Eu não tenho chave extra. — Eu trouxe. Os dois subiram as escadas, um na frente, o outro atrás. Karina abriu a porta e acendeu as luzes. Era a segunda vez dela ali, e tudo estava completamente diferente. Após a reforma, o lugar parecia novo, com uma aparência renovada. As instalações estavam todas completas. Lucas colocou a bagagem no quarto e saiu para perguntar: — Gostou? — Gostei. — Karina confirmou, acenando com a cabeça. — Que bom... — Lucas soltou um suspiro de alívio, mas logo franziu a testa e, com uma das mãos, pressionou suavemente o abdômen. Karina percebeu e notou que ele não estava com uma aparência muito boa. Ele já não estava com a saúde boa, e ainda havia ajudado a carregar as malas, o
— Eu te ajudo a levantar.— Tudo bem. — Karina ajudou Lucas, levantando-o lentamente.Ademir olhava cada vez mais irritado, sua raiva crescendo a ponto de já não conseguir mais controlá-la.— Karina, solte! Você solta ele! Não te permito que toque nele, ouviu?Seus olhos estavam incendiados, prestes a explodir a qualquer momento.— Você precisa ir embora! — Karina, com medo de Ademir bater em Lucas, não se atrevia a deixar ele ali e apressava-o. — Vai logo!— Mas, Karina... — Lucas hesitou um pouco, preocupado com a segurança dela.— Eu disse para você ir! — Karina franzia a testa, negando com a cabeça. — Não fale mais nada, eu vou resolver isso sozinha! Você quer ficar e ser agredido também?— Está bem.Sem alternativas, Lucas decidiu se afastar.— Quer ir embora? — Ademir estava tomado pela fúria, e quanto mais Karina tentava proteger Lucas, mais ele se enfurecia. Mas não era só raiva. — Vamos ver se você tem coragem de ir!— Ademir! — Karina se colocou na frente de Lucas. — Você não
Karina ficou paralisada, olhando fixamente para as costas de Ademir, sem saber o que fazer."Ele vai pensar? Como ele vai pensar?"...Depois daquele dia, Karina passou a morar na Rua de Francisco Antônio.Todos os dias, ela ia a pé para o Hospital J, vivendo de acordo com o plano que havia feito.E Ademir não voltou mais para perturbá-la.No entanto, não sabia por que, mas Karina sentia algo estranho, uma sensação de medo que a tomava sem explicação.Ela não conseguia identificar exatamente o que era.Naquela tarde, durante o intervalo, Karina decidiu pegar um táxi até as colinas verdes.Ao chegar, o segurança na porta a olhou, surpreso.— Irmã do Catarino, o que você está fazendo aqui?Karina, sem perceber nada estranho, ouviu o segurança continuar.— Será que o Catarino deixou algo por aqui? Você veio pegar?— O quê?A frase parecia completamente errada.Karina franziu a testa e perguntou:— O Catarino deixou alguma coisa aqui? Onde?— O quê? — O segurança estava tão confuso quanto
Karina estava parada na janela do corredor, preparada para esperar por um longo tempo.Mas, ao contrário do que imaginava, Ademir apareceu rapidamente, depois de acalmar Vitória.— Karina.Ela virou-se, encarando Ademir diretamente.Sem rodeios, perguntou:— Onde está o Catarino? O que você fez com ele?Embora sua expressão estivesse calma, as mãos apertadas de Karina denunciavam suas verdadeiras emoções.Ademir observou tudo, franzindo a testa, mas falou com uma suavidade impressionante:— Em Colinas Verdes não era o melhor lugar para o tratamento especializado do Catarino. Eu o transferi para uma clínica mais adequada. Não se preocupe, a Cecília e o Amílcar estão com ele. O Catarino está bem.As palavras de Ademir foram astutas, desviando completamente da pergunta de Karina.Karina, irritada, aumentou o tom de voz:— Eu perguntei onde está o Catarino! Eu quero vê-lo!Já esperando a reação de Karina, Ademir a observava com a serenidade de sempre, olhando profundamente em seu rosto lim
Catarino estava ali.Catarino foi colocado em um pátio separado, com um médico responsável exclusivamente por ele. Amílcar e Cecília também estavam presentes.Ao ver a irmã, Catarino ficou muito feliz.— Irmã!— Catarino, querido.— Marido da irmã mais velha!Catarino olhou para Ademir, que estava atrás da irmã, e sorriu:— Aqui é tão grande!— É, não é? — Ademir sorriu e assentiu. — O marido da irmã mais velha não te mentiu, né? Aqui é ainda maior e mais divertido!— Sim, é!Karina ficou surpresa:— Catarino, você gosta daqui?— Sim! Gosto!Vendo o entusiasmo de seu irmão, parecia que suas preocupações eram desnecessárias.Após confirmar que Catarino estava bem, emocionalmente estável, Karina finalmente relaxou.Ademir, discretamente, pegou sua mão:— Daqui a pouco, tenho uma reunião. Você prefere ficar com o Catarino ou vir comigo?— Vai lá, resolva suas coisas. — Karina não hesitou nem por um segundo, sem precisar pensar. — Quero passar mais tempo com o Catarino.— Certo. — Ademir l
Ademir segurava a colher e a aproximava dos lábios de Karina.Parecia tão atencioso.No entanto, Karina não conseguia evitar a lembrança de uma cena que presenciou mais cedo naquele dia, no quarto de hospital.Naquele momento, Ademir também alimentava Vitória dessa maneira...Seu coração se apertou com uma dor aguda, e Karina franziu ligeiramente a testa:— Não precisa...— Karina. — O homem apertou os olhos, visivelmente um pouco irritado.— Eu só quero dizer que posso fazer isso sozinha. — Temendo desagradar Ademir, Karina deixou a toalha de lado e pegou a tigela. — Já terminei de secar o cabelo, vou beber sozinha.Ela tinha mãos e pés, não era Vitória.Dito isso, ela deu um gole na sopa.Ao vê-la beber sozinha, a expressão de Ademir, que estava tensa, foi se suavizando lentamente.— Como está o sabor? Está bom?Karina respondeu com uma voz indiferente:— Está... Aceitável.Parecia que Karina não estava muito impressionada com a sopa.— Não gostou?— O sabor é aceitável. — Karina fez
— Está tudo bem...Mas Vitória não parava de gritar, em uma fúria desenfreada.— Srta. Vitória, por favor, se acalme!— Rápido, pegue a medicação!— Sim! — O médico e a enfermeira estavam claramente perdendo o controle sobre a situação. — Srta. Vitória, não se mexa tanto! Você pode se machucar!— É ela... — Vitória continuava a gritar descontrolada, apontando para Karina com uma acusação furiosa. — Foi ela! Foi ela quem me prejudicou!Ao ouvir isso, o médico olhou para Karina, franzindo a testa.— O que aconteceu aqui?— Eu... — Karina estava completamente confusa, sem saber o que responder.Ela não tinha ideia de por que Vitória estava agindo assim, nem por que estava a acusando de algo tão absurdo.— Ela disse que fui eu quem a prejudicou?— Expulsem ela! Expulsem ela daqui! — De repente, Vitória voltou a gritar, totalmente fora de si.— Dra. Costa, melhor sair. — O médico, percebendo que a situação estava fora de controle, pediu com urgência. — Com o estado emocional da paciente, vo
Karina chorou. Na memória de Ademir, Karina sempre foi uma pessoa muito forte, rara eram as vezes em que ela derramava lágrimas. Especialmente em questões de sentimentos, parecia que apenas Catarino tinha o poder de fazer Karina chorar. Mas agora, Karina chorava. E quem a fez chorar foi Ademir. Ele estava desajeitado e apavorado. — Karina, me perdoe... Levantou a mão, querendo enxugar as lágrimas de Karina, mas ela se afastou de seu toque e virou a cabeça. — Por favor, saia. Não quero te ver agora. Me deixe sozinha, tudo bem? Ademir queria dizer algo, mas não teve coragem. Não queria sair. Porém, a resistência de Karina o fez ceder... — Tá bom, eu saio. — Disse Ademir, com a voz rouca. E então saiu do escritório. Ficou parado na porta por um bom tempo, sem dizer uma palavra. Ademir sentia que havia causado sofrimento a Karina. Será que Ademir estava sendo injusto com Karina? Mas então, por que Karina tinha ido até Vitória? Ao pensar sobre isso, lembrou-se