Embora Karina falasse com calma, seu coração estava esmagado. A dor era intensa, ela sentia como se algo estivesse rasgando por dentro. Mas quanto mais doía, mais ela se mantinha lúcida. Empurrando Ademir gentilmente contra seu peito, ela começou a afastá-lo lentamente: — Vai embora, já está muito tarde, eu preciso dormir. Ela forçou um semblante cansado. Ademir resistiu por um momento, mas não teve escolha a não ser soltá-la. — Me deixe em paz, é melhor para nós dois. Ademir, viver com duas pessoas vai te cansar. — Karina disse isso e se virou, entrando para dentro da casa de repouso. Ademir ficou parado, observando o seu rosto com um olhar perdido, sem saber o que fazer. Deveria deixá-la ir? Ele já havia feito isso antes, mas agora... Agora ele não conseguia mais. Ele não conseguia deixá-la partir. Ele não conseguia abrir mão dela! No dia seguinte, Cecília chegou de manhã bem cedo, pegando o primeiro metrô. Ao chegar, viu o carro de luxo estacionado em frente à
A mala já estava arrumada. Embora, na verdade, não houvesse muito o que arrumar. Karina puxou a mala e a bolsa de viagem, colocando-as na porta. Ao levantar os olhos, viu Patrícia, que a observava com uma expressão triste. — Você realmente vai embora? — Sim. — Karina sorriu. — Não posso ficar aqui para sempre, é hora de partir. Daqui a alguns meses, o bebê vai nascer. A casa na Rua de Francisco Antônio foi onde encontraram um lugar para morar. Além disso, o dinheiro da conta bancária que Lucas lhe deu era suficiente para cobrir as despesas de Catarino com a viagem ao exterior. E ainda sobrava dinheiro, o que Karina poderia usar para contratar uma pessoa para cuidar do bebê. Quando ela tiver o filho e se recuperar do parto, vai continuar trabalhando, terá uma renda, e a vida não será um problema. Era impossível negar, o pai de Karina realmente ajudou quando ela estava em uma situação difícil. Patrícia entendia tudo isso. — Eu só... Vou sentir sua falta. — Não é
— Sim, Ademir! A Rua de Francisco Antônio não estava muito distante da Rua Alameda, ambas localizadas perto do Hospital J. Lucas estacionou o carro no estacionamento do condomínio, embaixo do prédio. Pegou a bagagem e caminhou à frente: — Você trouxe a chave? Eu não tenho chave extra. — Eu trouxe. Os dois subiram as escadas, um na frente, o outro atrás. Karina abriu a porta e acendeu as luzes. Era a segunda vez dela ali, e tudo estava completamente diferente. Após a reforma, o lugar parecia novo, com uma aparência renovada. As instalações estavam todas completas. Lucas colocou a bagagem no quarto e saiu para perguntar: — Gostou? — Gostei. — Karina confirmou, acenando com a cabeça. — Que bom... — Lucas soltou um suspiro de alívio, mas logo franziu a testa e, com uma das mãos, pressionou suavemente o abdômen. Karina percebeu e notou que ele não estava com uma aparência muito boa. Ele já não estava com a saúde boa, e ainda havia ajudado a carregar as malas, o
— Eu te ajudo a levantar.— Tudo bem. — Karina ajudou Lucas, levantando-o lentamente.Ademir olhava cada vez mais irritado, sua raiva crescendo a ponto de já não conseguir mais controlá-la.— Karina, solte! Você solta ele! Não te permito que toque nele, ouviu?Seus olhos estavam incendiados, prestes a explodir a qualquer momento.— Você precisa ir embora! — Karina, com medo de Ademir bater em Lucas, não se atrevia a deixar ele ali e apressava-o. — Vai logo!— Mas, Karina... — Lucas hesitou um pouco, preocupado com a segurança dela.— Eu disse para você ir! — Karina franzia a testa, negando com a cabeça. — Não fale mais nada, eu vou resolver isso sozinha! Você quer ficar e ser agredido também?— Está bem.Sem alternativas, Lucas decidiu se afastar.— Quer ir embora? — Ademir estava tomado pela fúria, e quanto mais Karina tentava proteger Lucas, mais ele se enfurecia. Mas não era só raiva. — Vamos ver se você tem coragem de ir!— Ademir! — Karina se colocou na frente de Lucas. — Você não
Karina ficou paralisada, olhando fixamente para as costas de Ademir, sem saber o que fazer."Ele vai pensar? Como ele vai pensar?"...Depois daquele dia, Karina passou a morar na Rua de Francisco Antônio.Todos os dias, ela ia a pé para o Hospital J, vivendo de acordo com o plano que havia feito.E Ademir não voltou mais para perturbá-la.No entanto, não sabia por que, mas Karina sentia algo estranho, uma sensação de medo que a tomava sem explicação.Ela não conseguia identificar exatamente o que era.Naquela tarde, durante o intervalo, Karina decidiu pegar um táxi até as colinas verdes.Ao chegar, o segurança na porta a olhou, surpreso.— Irmã do Catarino, o que você está fazendo aqui?Karina, sem perceber nada estranho, ouviu o segurança continuar.— Será que o Catarino deixou algo por aqui? Você veio pegar?— O quê?A frase parecia completamente errada.Karina franziu a testa e perguntou:— O Catarino deixou alguma coisa aqui? Onde?— O quê? — O segurança estava tão confuso quanto
Karina estava parada na janela do corredor, preparada para esperar por um longo tempo.Mas, ao contrário do que imaginava, Ademir apareceu rapidamente, depois de acalmar Vitória.— Karina.Ela virou-se, encarando Ademir diretamente.Sem rodeios, perguntou:— Onde está o Catarino? O que você fez com ele?Embora sua expressão estivesse calma, as mãos apertadas de Karina denunciavam suas verdadeiras emoções.Ademir observou tudo, franzindo a testa, mas falou com uma suavidade impressionante:— Em Colinas Verdes não era o melhor lugar para o tratamento especializado do Catarino. Eu o transferi para uma clínica mais adequada. Não se preocupe, a Cecília e o Amílcar estão com ele. O Catarino está bem.As palavras de Ademir foram astutas, desviando completamente da pergunta de Karina.Karina, irritada, aumentou o tom de voz:— Eu perguntei onde está o Catarino! Eu quero vê-lo!Já esperando a reação de Karina, Ademir a observava com a serenidade de sempre, olhando profundamente em seu rosto lim
Catarino estava ali.Catarino foi colocado em um pátio separado, com um médico responsável exclusivamente por ele. Amílcar e Cecília também estavam presentes.Ao ver a irmã, Catarino ficou muito feliz.— Irmã!— Catarino, querido.— Marido da irmã mais velha!Catarino olhou para Ademir, que estava atrás da irmã, e sorriu:— Aqui é tão grande!— É, não é? — Ademir sorriu e assentiu. — O marido da irmã mais velha não te mentiu, né? Aqui é ainda maior e mais divertido!— Sim, é!Karina ficou surpresa:— Catarino, você gosta daqui?— Sim! Gosto!Vendo o entusiasmo de seu irmão, parecia que suas preocupações eram desnecessárias.Após confirmar que Catarino estava bem, emocionalmente estável, Karina finalmente relaxou.Ademir, discretamente, pegou sua mão:— Daqui a pouco, tenho uma reunião. Você prefere ficar com o Catarino ou vir comigo?— Vai lá, resolva suas coisas. — Karina não hesitou nem por um segundo, sem precisar pensar. — Quero passar mais tempo com o Catarino.— Certo. — Ademir l
Ademir segurava a colher e a aproximava dos lábios de Karina.Parecia tão atencioso.No entanto, Karina não conseguia evitar a lembrança de uma cena que presenciou mais cedo naquele dia, no quarto de hospital.Naquele momento, Ademir também alimentava Vitória dessa maneira...Seu coração se apertou com uma dor aguda, e Karina franziu ligeiramente a testa:— Não precisa...— Karina. — O homem apertou os olhos, visivelmente um pouco irritado.— Eu só quero dizer que posso fazer isso sozinha. — Temendo desagradar Ademir, Karina deixou a toalha de lado e pegou a tigela. — Já terminei de secar o cabelo, vou beber sozinha.Ela tinha mãos e pés, não era Vitória.Dito isso, ela deu um gole na sopa.Ao vê-la beber sozinha, a expressão de Ademir, que estava tensa, foi se suavizando lentamente.— Como está o sabor? Está bom?Karina respondeu com uma voz indiferente:— Está... Aceitável.Parecia que Karina não estava muito impressionada com a sopa.— Não gostou?— O sabor é aceitável. — Karina fez