Sílvio, acreditando que Lúcia estava falando com ele, deixou que um sorriso discreto surgisse em seus lábios:— Eu sei.— Lúcia, sua coca-cola.A voz de Basílio trouxe Sílvio de volta à realidade, quando ele viu o homem se aproximar e entregar um copo de refrigerante e um pacote de pipoca a Lúcia.Ela aceitou com um sorriso suave, agradecendo de forma gentil.A cena feriu Sílvio profundamente. O que ele viu foi impossível de ignorar: Lúcia não era mais dele. Não era mais sua prioridade, seu porto seguro.Basílio parecia não notar a presença de Sílvio, ou talvez estivesse simplesmente ignorando-o. Toda a atenção dele estava voltada para Lúcia. Ela, por sua vez, entrelaçou o braço no de Basílio, fingindo uma intimidade que fez questão de demonstrar enquanto caminhavam em direção ao guichê de entrada.Basílio notou os delicados dedos brancos de Lúcia segurando a manga de sua camisa. Um sorriso quase imperceptível surgiu em seus lábios. Quando percebeu que ela estava prestes a soltar, ele
Ao voltar para casa, as luzes estavam todas acesas, iluminando cada canto. Lúcia subiu as escadas com sua bolsa na mão. O chão brilhava como se tivesse acabado de ser encerado, sem nenhum traço de poeira. As plantas mortas que antes ocupavam os cantos da sala haviam sido substituídas por vasos de suculentas. Ela não fazia ideia de quem tinha feito aquilo.Do lado de fora, no terraço, ouviu um barulho leve, como o som de passos ou algo sendo arrastado. Lúcia colocou a bolsa no sofá e se dirigiu até a varanda. Lá, avistou uma figura familiar, vestindo um avental, de costas para ela. Ele segurava um regador e, com cuidado, molhava as flores.A luz das estrelas caía sobre Sílvio, dando-lhe uma aura mais humana, mais simples. O Sílvio de antes jamais gastaria seu precioso tempo com algo tão trivial.Lúcia nunca tinha trocado a senha da casa desde que se separaram. Por isso, ele ainda conseguia entrar e sair como quisesse. Ela se lembrou de que, minutos atrás, Basílio a havia acompanhado até
Lúcia sentiu um frio na espinha.“Droga. Ontem à noite eu estraguei tudo por causa da bebida.”— O café da manhã está pronto. Fiz tudo do jeito que você gosta. — Disse Sílvio, com um sorriso servil no rosto.Lúcia lançou um olhar frio para ele:— Já acordou? Então pode ir embora.— Lúcia, você vai mesmo fingir que nada aconteceu? — O sorriso dele desapareceu no mesmo instante. Com o olhar perdido, ele mordeu os lábios, tentando disfarçar a decepção.Na mente de Lúcia, a resposta era clara:“Não tenha pena de homem. Isso nunca acaba bem.”Ela saiu da cama, pegou a camisola que estava jogada no chão e a vestiu de qualquer jeito:— Somos dois adultos, Sílvio. Uma noite juntos não deveria ser algo surpreendente, certo?— Ontem foi só uma noite qualquer para você? — Ele piscou, tentando conter as lágrimas que já começavam a se formar. Ele achava que aquilo significava que ela o tinha perdoado.Lúcia soltou uma risada seca:— E o que mais seria?Na hora de sair, Sílvio, em um tom quase humil
No consultório do médico.- Sra. Lúcia, suas células cancerígenas já se espalharam para o fígado. Não há mais o que fazer. Nos dias que lhe restam, coma o que quiser, faça o que desejar, sem arrependimentos.- Quanto tempo eu ainda tenho?- Um mês, no máximo.Lúcia Baptista saiu do hospital. Sem tristeza, sem alegria, pegou o celular e ligou para seu marido, Sílvio. Pensou que, apesar de não estarem mais apaixonados, era necessário contar a ele sobre sua condição terminal.O celular tocou algumas vezes e foi desligado.Ligou novamente, mas já estava na lista de bloqueio.Tentou pelo WhatsApp, mas também estava bloqueada.O amargor em seu coração aumentou. Chegar a esse ponto no casamento era triste e lamentável.Sem desistir, foi à loja e comprou um novo chip, ligando novamente para Sílvio.Desta vez, ele atendeu rapidamente: - Alô, quem fala?- Sou eu. - Lúcia segurava o celular, mordendo os lábios, enquanto o vento cortante batia em seu rosto, como lâminas geladas.A voz do homem no
Lúcia fixava intensamente a foto, com um olhar afiado e sereno, como se quisesse perfurá-la.Ela realmente se arrependia de não ter enxergado a verdadeira natureza das pessoas ao seu redor.Sílvio era seu marido, Giovana era sua melhor amiga, e ambos, que sempre diziam que a retribuiriam, agora a traíam pelas costas, causando-lhe uma dor atroz!A amante se sentia tão no direito de exibir sua conquista na frente da esposa legítima, era uma desfaçatez sem igual!Lúcia era orgulhosa. Mesmo que a família Baptista agora estivesse nas mãos de Sílvio, ela ainda era a única herdeira legítima da família.Giovana não passava de uma aduladora que sempre a seguia, bajulando e tentando agradar.Lúcia bloqueou todas as formas de comunicação com Giovana. Porque ela sabia que Giovana, sozinha, não teria coragem de agir. E Sílvio era a mão que impulsionava as ações de Giovana.Para esperar Sílvio, ela não jantou, apenas tomou o analgésico prescrito pelo médico.O relógio na parede marcava onze horas. L
- Eu vou soltar fogos de artifício por dias e noites no seu funeral para comemorar sua morte! - Disse Sílvio.Ao ouvir isso, o coração de Lúcia, que já estava pendurado por um fio, se despedaçou completamente. Cada pedaço, ensanguentado, parecia impossível de juntar novamente.Era difícil imaginar o quão frio Sílvio poderia ser. Ele desejava sua morte com tanta indiferença, falando com um sorriso sarcástico.- Sílvio, se quer casar com a Giovana, vai ter que esperar eu morrer.O homem que ela havia moldado com suas próprias mãos havia sido seduzido por uma mulher sem escrúpulos. Ela não podia suportar essa humilhação.Se estavam destinados ao inferno, que fossem os três juntos.- Lúcia, ainda vai chegar o dia em que você vai chorar e implorar de joelhos para se divorciar de mim!O olhar penetrante de Sílvio estava frio como gelo. Sem qualquer hesitação, ele bateu a porta ao sair.Aquela noite, ela não conseguiu dormir. Não era por falta de vontade, mas porque simplesmente não conseguia
- Pode ser parcelado? - Lúcia perguntou com a voz trêmula.A funcionária do caixa, com uma expressão fria e acostumada a esse tipo de situação, respondeu: - Somos um hospital particular, não fazemos parcelamento. Ou você transfere seu pai ou providencia o dinheiro.As pessoas na fila atrás dela começaram a revirar os olhos e a reclamar:- Você vai pagar ou não? Se não, sai da frente, estamos esperando.- Exato, está ocupando o lugar à toa.- Se não tem dinheiro, por que veio ao hospital? Vai para casa esperar a morte!Lúcia levantou os olhos levemente e, com um pedido de desculpas, saiu da fila.Ela tinha poucos amigos e pedir dinheiro emprestado era fora de questão.A única pessoa que poderia ajudá-la era Sílvio.Ela ligou, mas ele não atendeu.Mandou uma mensagem: [Assunto urgente, atenda, Presidente Sílvio.]Era a primeira vez que ela o chamava de Presidente Sílvio.Primeira ligação, sem resposta. Segunda, terceira, também não.Ela continuou insistindo, sem desistir, mesmo com o co
Lúcia ouviu um zumbido nos ouvidos e sua visão ficou turva por um momento. Antes que pudesse reagir, sentiu suor frio na testa.Sandra, ainda furiosa, deu mais um tapa na filha.Lúcia quase caiu, mas uma enfermeira bondosa a segurou.Com a visão gradualmente recuperada, ela viu a mãe, furiosa, olhando para ela e gritando:- Sua ingrata! Eu te avisei para não fazer isso, mas você insistiu! Eu sempre disse que Sílvio não era bom para você, que ele tinha segundas intenções! Eu escolhi para você um bom partido, alguém do nosso nível, mas você preferiu um órfão, um segurança! E agora? Como ele te trata? Como ele nos trata? A família Baptista, que sempre foi tão respeitada, está arruinada por sua causa, tudo por sua culpa!Sandra, com o rosto vermelho de raiva, levantou a mão para bater de novo, mas foi contida pelos profissionais de saúde.Lúcia, com o rosto dolorido, tentou falar, mas não conseguiu emitir uma palavra. Tudo o que podia fazer era chorar de arrependimento.Na maca, o pai come