As portas do elevador deslizaram para os lados. Lúcia correu em direção à entrada da sala de cirurgia. Sílvio estava deitado na maca, coberto de sangue. O vermelho intenso já havia desfigurado seu rosto, tornando-o irreconhecível, um retrato de desamparo e miséria.Ao ver a silhueta de Lúcia, ele curvou os lábios num sorriso fraco. Poder vê-la pela última vez era o suficiente; ele já podia morrer em paz. Mas, ao notar Basílio logo atrás dela, uma sombra de decepção passou por seus olhos. O sorriso que antes carregava se desfez.— Vocês já se casaram? — Perguntou Sílvio com a voz rouca.Ele sabia que não deveria fazer aquela pergunta. Sabia que a resposta o machucaria ainda mais. Mas não conseguiu se conter; precisava saber.O rosto de Basílio endureceu visivelmente.Lúcia lançou um olhar rápido para as pessoas ao redor e fixou os olhos em Bruno, que usava um jaleco branco.— Levem-no para a cirurgia. — Ordenou Lúcia.Sílvio foi levado para dentro da sala de operações sem resistir desta
Lúcia havia ido embora.Basílio chegou logo em seguida, trazendo o jantar que havia comprado. Sem perguntar nada, apenas abriu a porta do carro para ela entrar. O silêncio reinava enquanto ele dirigia, levando-a de volta à mansão da família Baptista.— A cirurgia do Sílvio foi um sucesso, mas ele não tem vontade de viver. Se não acordar nos próximos dias, não vai mais acordar. O Dr. Bruno pediu que eu ficasse ao lado dele, esperando que ele desperte. Disse que eu sou a pessoa mais importante para ele, que sou a esperança dele. Mas eu recusei.Lúcia encarava as luzes da rua, que iam se acendendo uma a uma, lançando um brilho amarelado e melancólico. Após um breve silêncio, continuou:— Minha cabeça está uma bagunça. Não sei o que fazer. No fundo, eu não quero que ele morra, mas também não quero que ele tenha paz. Por que eu deveria? Por que, sempre que ele precisa de mim, eu tenho que estar lá, perdoá-lo, cuidar dele? E quando eu precisei dele... ele nunca esteve lá. Sempre foi o Sr. Ba
Lúcia olhava para as estrelas dispersas no céu, tentando mudar de assunto: — Vamos registrar nosso casamento amanhã, Basílio. Você é um homem bom, e tenho certeza de que será um ótimo marido. Vai cuidar de mim para sempre, nunca me fará derramar uma lágrima. Eu também vou me esforçar para ser uma boa esposa, para te amar o mais rápido possível e retribuir todo o seu amor. Pode confiar, vou arrancar o Sílvio do meu coração pela raiz, o mais rápido que puder. Amá-lo e retribuir seu amor... Parecia tão bonito quando ela dizia. Basílio apertou os lábios, formando uma linha tensa. Se ele fosse egoísta, Lúcia realmente seria sua esposa. Mas ele não podia ser. Lúcia não seria feliz ao seu lado. Ela encararia o ato de amá-lo como uma tarefa, algo a cumprir. Durante o tempo que passaram juntos, ele já se sentia grato por ter sido, ao menos por um breve momento, seu namorado. — Basílio? Talvez por sua falta de resposta, Lúcia o olhou, confusa. Ele continuou caminhando, sentindo o pes
Lúcia caminhou até a cama. Sílvio estava deitado, vestindo o uniforme de paciente. Seu corpo estava conectado a diversos aparelhos que emitiam sons intermitentes. Ele tinha os olhos fechados, o rosto coberto pelo respirador. As largas mangas do uniforme revelavam duas mãos magras, repousando sob o cobertor branco. Ela puxou uma cadeira, colocou-a ao lado da cama e se sentou. Sílvio continuava imóvel, sem dar sinal de que despertaria. Um dia, Lúcia o odiara tanto que desejava vê-lo destruído. Mas agora, vendo-o assim, preso entre a vida e a morte, não sentia nem a mínima satisfação por sua desgraça. Seus sentimentos estavam confusos. Um nó apertado em sua garganta, um peso no peito. Era como se estivesse sufocando. — Sílvio, o que eu faço com você? — Murmurou Lúcia, encarando o rosto pálido dele. — Eu não consigo superar o passado, mas também não consigo simplesmente te ver morrer assim... Ela respirou fundo antes de continuar, num tom quase irônico: — Se você morrer, minha vi
Um beijo leve. A máscara do respirador ficou embaçada com uma fina camada de vapor.Lúcia, ainda irritada com tudo que ele havia feito, empurrou-o com força e, de punhos cerrados, deu um soco no peito dele, por cima do uniforme de paciente:— Você é doente, não é?Sílvio gemeu de dor, sugando o ar entre os dentes. Sua testa começou a suar frio.— Você está bem? Vou chamar o médico. — Lúcia, agora preocupada, apertou o botão de chamada ao lado da cama.Quando ninguém respondeu, ela saiu apressada do quarto em busca de ajuda.Sílvio, sozinho por um momento, inclinou levemente os lábios em um sorriso. O calor da preocupação de Lúcia era algo que ele não sentia há muito tempo. E era bom. Era muito bom.Pouco depois, Bruno entrou no quarto, trazido por Lúcia. Assim que viu Sílvio acordado, ele ficou visivelmente aliviado.— Sr. Sílvio, finalmente o senhor acordou!— Como está meu estado? — Sílvio perguntou em um tom fraco, mas autoritário.Bruno respondeu com cuidado:— O senhor ainda preci
Sílvio não tirava os olhos de Lúcia, com um olhar cheio de ternura e admiração, sem piscar por um instante sequer.Lúcia revirou os olhos, impaciente:— Tá olhando o quê?— Você é linda, não consigo evitar.— Quer perder os olhos? Olha de novo e eu arranco! — Respondeu Lúcia com uma firmeza típica dela, mas que ele sempre achava encantadora.Ainda assim, ele abriu um sorriso provocador:— Pode arrancar, mas mesmo sem olhos eu vou continuar te olhando. Enquanto eu tiver um sopro de vida, meus olhos vão estar em você.— Cala a boca! — Lúcia bufou, revirando os olhos. Era sempre assim, ele dizia algo que a deixava sem palavras.Sílvio fechou a boca, obediente, mas seus olhos continuaram fixos nela. Irritada, Lúcia virou as costas e saiu do quarto. Ele suspirou, pegou o celular e ligou para Leopoldo.Leopoldo atendeu sem suspeitar de nada:— Sr. Sílvio...— Traga os documentos que a Lúcia precisa resolver aqui para o hospital.— A senhora está internada?A ligação foi encerrada antes que L
O sol do início do verão ainda não era tão forte. Basílio estava parado na frente do Grupo Araújo, com um cigarro branco entre os dedos, tragando em silêncio. Ele pensava que Lúcia provavelmente já estaria cuidando de Sílvio. Não era difícil imaginar que, em breve, ele receberia o convite para o casamento deles. A garota que ele amava em segredo havia dez anos... Desta vez, ele tinha certeza, ela realmente não precisava mais dele. Basílio nunca foi de fumar, mas, desde que viu Lúcia dirigindo em direção ao hospital, ele não largava o cigarro. Não se arrependia, no entanto. Ele só queria que a mulher que amava fosse feliz, que tivesse alegria e que seu sorriso nunca desaparecesse. Enquanto tragava, com o olhar perdido, um impacto repentino no ombro o trouxe de volta à realidade. Um leve perfume feminino se espalhou ao seu redor. Ele deu um passo para trás, incomodado. Não era incomum que mulheres tentassem se aproximar dele, e ele desprezava esse tipo de comportamento. Levantou os
— Sílvio, você está passando dos limites! — Lúcia o advertiu, com os olhos semicerrados.Ele, no entanto, não se irritou. Pegou o recipiente de comida com um sorriso contido:— Tá bom.— Você tá empreendendo? — Lúcia sentou-se na cadeira ao lado da cama, olhando curiosa para ele.Ele assentiu com a cabeça:— Investi dez milhões.Lúcia franziu a testa ao ouvir o valor. Sabia que, na época, Sílvio havia transferido todo o dinheiro dele para ela. Sua primeira reação foi desconfiar:— Então você escondeu dinheiro de mim? Sílvio, você mentiu pra mim!— Tá brava? — Ele perguntou, ainda com aquele sorriso leve, enquanto comia.— O que você acha? — Lúcia respondeu, cruzando os braços.— A maior parte desse dinheiro é empréstimo. — Ele explicou, com um tom sério. — E outra parte é do Leopoldo. Ele investiu quase tudo o que tinha. A partir de agora, ele não é só meu funcionário, é meu sócio. Na verdade, eu queria esperar a empresa decolar para te contar. Mas como você já tá sabendo, vou explicar