Um beijo leve. A máscara do respirador ficou embaçada com uma fina camada de vapor.Lúcia, ainda irritada com tudo que ele havia feito, empurrou-o com força e, de punhos cerrados, deu um soco no peito dele, por cima do uniforme de paciente:— Você é doente, não é?Sílvio gemeu de dor, sugando o ar entre os dentes. Sua testa começou a suar frio.— Você está bem? Vou chamar o médico. — Lúcia, agora preocupada, apertou o botão de chamada ao lado da cama.Quando ninguém respondeu, ela saiu apressada do quarto em busca de ajuda.Sílvio, sozinho por um momento, inclinou levemente os lábios em um sorriso. O calor da preocupação de Lúcia era algo que ele não sentia há muito tempo. E era bom. Era muito bom.Pouco depois, Bruno entrou no quarto, trazido por Lúcia. Assim que viu Sílvio acordado, ele ficou visivelmente aliviado.— Sr. Sílvio, finalmente o senhor acordou!— Como está meu estado? — Sílvio perguntou em um tom fraco, mas autoritário.Bruno respondeu com cuidado:— O senhor ainda preci
Sílvio não tirava os olhos de Lúcia, com um olhar cheio de ternura e admiração, sem piscar por um instante sequer.Lúcia revirou os olhos, impaciente:— Tá olhando o quê?— Você é linda, não consigo evitar.— Quer perder os olhos? Olha de novo e eu arranco! — Respondeu Lúcia com uma firmeza típica dela, mas que ele sempre achava encantadora.Ainda assim, ele abriu um sorriso provocador:— Pode arrancar, mas mesmo sem olhos eu vou continuar te olhando. Enquanto eu tiver um sopro de vida, meus olhos vão estar em você.— Cala a boca! — Lúcia bufou, revirando os olhos. Era sempre assim, ele dizia algo que a deixava sem palavras.Sílvio fechou a boca, obediente, mas seus olhos continuaram fixos nela. Irritada, Lúcia virou as costas e saiu do quarto. Ele suspirou, pegou o celular e ligou para Leopoldo.Leopoldo atendeu sem suspeitar de nada:— Sr. Sílvio...— Traga os documentos que a Lúcia precisa resolver aqui para o hospital.— A senhora está internada?A ligação foi encerrada antes que L
O sol do início do verão ainda não era tão forte. Basílio estava parado na frente do Grupo Araújo, com um cigarro branco entre os dedos, tragando em silêncio. Ele pensava que Lúcia provavelmente já estaria cuidando de Sílvio. Não era difícil imaginar que, em breve, ele receberia o convite para o casamento deles. A garota que ele amava em segredo havia dez anos... Desta vez, ele tinha certeza, ela realmente não precisava mais dele. Basílio nunca foi de fumar, mas, desde que viu Lúcia dirigindo em direção ao hospital, ele não largava o cigarro. Não se arrependia, no entanto. Ele só queria que a mulher que amava fosse feliz, que tivesse alegria e que seu sorriso nunca desaparecesse. Enquanto tragava, com o olhar perdido, um impacto repentino no ombro o trouxe de volta à realidade. Um leve perfume feminino se espalhou ao seu redor. Ele deu um passo para trás, incomodado. Não era incomum que mulheres tentassem se aproximar dele, e ele desprezava esse tipo de comportamento. Levantou os
— Sílvio, você está passando dos limites! — Lúcia o advertiu, com os olhos semicerrados.Ele, no entanto, não se irritou. Pegou o recipiente de comida com um sorriso contido:— Tá bom.— Você tá empreendendo? — Lúcia sentou-se na cadeira ao lado da cama, olhando curiosa para ele.Ele assentiu com a cabeça:— Investi dez milhões.Lúcia franziu a testa ao ouvir o valor. Sabia que, na época, Sílvio havia transferido todo o dinheiro dele para ela. Sua primeira reação foi desconfiar:— Então você escondeu dinheiro de mim? Sílvio, você mentiu pra mim!— Tá brava? — Ele perguntou, ainda com aquele sorriso leve, enquanto comia.— O que você acha? — Lúcia respondeu, cruzando os braços.— A maior parte desse dinheiro é empréstimo. — Ele explicou, com um tom sério. — E outra parte é do Leopoldo. Ele investiu quase tudo o que tinha. A partir de agora, ele não é só meu funcionário, é meu sócio. Na verdade, eu queria esperar a empresa decolar para te contar. Mas como você já tá sabendo, vou explicar
Disserem que pessoas realmente capazes conseguem se reerguer, não importava quão adversas sejam as circunstâncias.Lúcia estava lendo as notícias de entretenimento quando viu uma matéria sobre Sílvio. Na foto, ele vestia um impecável terno preto, e, ao seu lado, uma atriz famosa parecia bem próxima, lançando olhares provocantes para ele.Aquilo deixou o coração de Lúcia apertado, como se algo estivesse preso em sua garganta.Enquanto processava o incômodo, uma mensagem de WhatsApp de Sílvio apareceu na tela. Ela pegou o celular, ainda com o semblante fechado, e leu:[Não leia essas notícias de entretenimento, são todas falsas. Essa atriz está em alta e foi escolhida como embaixadora da nossa marca. Mas eu sabia que você ia ficar com ciúmes, então já rescindi o contrato com ela.] Ao terminar a leitura, o humor de Lúcia melhorou um pouco. Aquela atriz era uma das suas favoritas, alguém que ela admirava pelo espírito resiliente e pela determinação. Mas foi um choque perceber que a mulher
A jovem sorriu de forma misteriosa, como se quisesse criar suspense:— Quando terminarmos o almoço, eu te conto. Estou no Grupo Araújo, não vou desaparecer, Sr. Basílio. Não precisa ter pressa.Basílio já tinha visto muitas tentativas de aproximação. Ele sabia como funcionava o jogo de sedução, mas nunca tinha encontrado alguém tão direta e ousada como ela.Ele levantou-se devagar, estreitando os olhos enquanto dava passos em direção à garota. Ela recuou instintivamente. Ele avançou. Passo a passo, até que ela se viu encurralada contra a borda da mesa.Com uma das mãos, Basílio apoiou-se sobre a mesa, bloqueando qualquer possibilidade de fuga. O rosto dele estava agora perigosamente próximo do dela.Era um rosto que ela já tinha visto tantas vezes em seus sonhos, mas agora ele estava ali, bem na sua frente, real demais para ser ignorado. A situação a deixou momentaneamente desnorteada.Ela engoliu em seco, tentando disfarçar o nervosismo. Seu coração batia como se quisesse sair do peit
— Não tenho pressa. Quero que ele me ame pelo que sou, não pelo meu status ou pelo que eu tenho. — A jovem disse, enquanto almoçava e respondia à mensagem.Era um almoço simples, talvez até modesto, comparado ao que ela estava acostumada. Mas, naquele dia, o sabor parecia diferente, especial.A noite caiu lentamente.Lúcia não fazia ideia das intenções de Sílvio. Queria evitar ir até lá, mas a curiosidade a consumia. Não conseguiu resistir e acabou pegando o carro, dirigindo até o apartamento dele.Os saltos altos de Lúcia ecoavam no piso da escada em caracol. Seus passos eram firmes, mas o som parecia bater diretamente em seu coração. As lembranças daquele lugar não eram nada agradáveis. Foi ali, naquele apartamento, que ela, com câncer de fígado em estágio terminal, havia sido obrigada a trabalhar como empregada. Foi ali que a forçaram a tomar remédios. Ali, ela dividiu a cama com Sílvio, servindo de entretenimento para ele.Naquele tempo, ela achava que já tinha enterrado essas memó
Sílvio ergueu a taça de vinho tinto, esperando brindar com ela. Lúcia também levantou a sua, batendo levemente contra a dele, mas respondeu com uma falsa indiferença:— Mais ou menos.— Então, eu continuo tentando melhorar.Se fosse no passado, uma resposta dessas o teria tirado do sério. Mas agora, Sílvio parecia outro homem. Ele havia aprendido a controlar suas emoções e, mais importante, a refletir sobre si mesmo.A brisa da noite era fresca, e o céu estava salpicado de estrelas.Eles puxaram duas cadeiras para a varanda. Lá, beberam vinho enquanto contemplavam as estrelas.O vento brincava com os cabelos de Lúcia, e Sílvio, por um momento, se perdeu naquele movimento.Lúcia ajeitou o fino xale sobre os ombros, sentindo o frio aumentar, e decidiu que era hora de entrar. Mas, antes que pudesse dar o primeiro passo, ouviu um som abafado atrás de si.Ela se virou.Sílvio estava ajoelhado em um dos joelhos, encarando-a com um olhar intenso e apaixonado. Em sua mão, segurava uma pequena