Na rua, as luzes de néon piscavam incessantemente, refletindo nos vidros das janelas e criando um brilho vibrante na noite.Lúcia e Basílio saíram do restaurante após o jantar. Sempre cavalheiro, Basílio segurou a porta de vidro para ela passar.Ela sorriu delicadamente, agradeceu e, com um leve toque de salto alto, desceu os degraus.— Vou te acompanhar até em casa. Vamos andando, é bom para espairecer. — Basílio carregava o paletó dobrado no braço, com o olhar firme e postura impecável. Um verdadeiro exemplo de elegância e profissionalismo.Enquanto falava, seus olhos ligeiramente estreitos e expressivos arquearam-se em um sorriso discreto.Lúcia estava prestes a recusar, mas Basílio, com um sorriso ainda mais marcado, continuou:— Além disso, quero aproveitar para conversar sobre os novos projetos do Grupo Baptista com a senhorita. Ou vai continuar me recusando?A brisa noturna soprou suavemente, tocando o rosto de Lúcia e levantando sutilmente a barra de sua saia.Basílio caminhava
Basílio curvou levemente os lábios, deixando escapar um sorriso involuntário. "Então quer dizer que talvez eu tenha uma chance?"— A senhorita é do tipo que gosta de nostalgia? Prefere comer as mesmas comidas, usar as mesmas coisas, sem vontade de experimentar o novo? — Perguntou Basílio.— Sim. — Lúcia assentiu com um movimento simples.— Então, meu conselho é: experimente coisas novas. Seja comida, seja... sentimentos. Quanto mais você vê, quanto mais experimenta, mais entende o que realmente importa. Só assim você descobre o que verdadeiramente precisa. É como gostar de bolo. Você pode jurar que ama bolo, até que um dia, sem querer, prova um pudim… e talvez se surpreenda.Lúcia não respondeu. Era impossível não entender as intenções nas entrelinhas das palavras dele.— Na minha opinião, Srta. Lúcia, o que você sente pelo Sílvio talvez seja apenas... hábito.— Hábito? — Lúcia virou o rosto em sua direção, com os olhos levemente curiosos.Basílio sorriu de novo, com aquele ar despreoc
— Hm? — Lúcia franziu as sobrancelhas, olhando para Basílio com um toque de dúvida.A voz dele era suave, com um brilho peculiar nos olhos, que pareciam refletir cada palavra:— Na verdade, conheço a Lúcia há mais tempo do que você conhece o Sílvio.Lúcia o encarou por alguns segundos, tentando buscar na memória algum vestígio, mas acabou franzindo os lábios em um gesto de desculpa:— Me desculpe, não consigo me lembrar.— Quando estávamos no ensino fundamental, eu sofria muito por ser um filho ilegítimo. Meus colegas me provocavam, me isolavam. Foi você quem se colocou no meu lugar. Você ficou na minha frente, enfrentou eles e disse que eu era seu amigo. Que quem mexesse comigo estaria mexendo com você, a herdeira da família Baptista.Basílio fez uma pausa antes de continuar:— Não fomos apenas colegas no ensino fundamental. Também estudamos juntos no ensino médio, na faculdade…O sorriso de Basílio tornou-se mais melancólico, quase amargo:— Lúcia, já nos conhecemos há mais de dez an
— Prometa para mim que vai pensar a respeito? Hm? — Basílio arrastou o tom, a voz misturando súplica e um toque quase manhoso.As palavras de recusa que já estavam na ponta da língua de Lúcia ficaram presas na garganta. Por tudo que Basílio já tinha feito por ela, sempre estendendo a mão nos momentos mais difíceis, ela não conseguia simplesmente rejeitá-lo. Além disso, ele guardou esse sentimento por dez anos. Como ela poderia ignorar isso?— Tudo bem. — Respondeu Lúcia.— Em dois meses, pode me dar uma resposta?— Tudo bem.De volta à mansão da família Baptista, Lúcia entrou em casa e tirou os sapatos de salto. Com os dedos, ligou o interruptor na parede, acendendo a luz amarelada que suavizou o ambiente frio e vazio do lugar.Carregando a bolsa, ela caminhou descalça sobre o chão de porcelanato gelado. A sensação fria subiu das solas dos pés até o resto do corpo.Deixou a bolsa no pequeno sofá e foi até a cafeteira. Ligou o aparelho, e em poucos minutos o cheiro de café quente já tom
Lúcia não conseguia acreditar. Ele havia passado por uma cirurgia há apenas dois meses e, considerando seu estado, deveria estar no hospital.Os lábios dela foram tomados de forma urgente, com beijos que misturavam mordidas e carícias. A respiração, o toque... tudo era tão familiar, tão incrivelmente igual ao homem que estava gravado em sua memória.— Lúcia, eu voltei. Estava com tanta saudade de você. Muita, muita saudade.Ele segurava o queixo dela, esfregando o rosto contra o dela. Lágrimas quentes e cristalinas escorriam pelos cantos de seus olhos, manchando a maquiagem que ela ainda não havia retirado.A voz dele tremia, rouca e carregada de emoção. Era uma voz embargada, cheia de um choro contido.Por um breve momento, Lúcia ficou paralisada, perdida. Mas então, a realidade a atingiu como um raio. Eles estavam divorciados. Não havia mais nenhum vínculo entre eles. E agora, aquele abraço, aquele contato, o que significava? Como poderiam se envolver novamente?Impulsivamente, Lúcia
— Se não quer me atrapalhar, fique longe de mim. — Lúcia lançou-lhe um olhar impaciente, cheia de irritação ao encarar aquele rosto pálido e abatido. — Sílvio, você agora não tem mais nada. Com que direito fala em se casar comigo de novo? Você acha que merece?Ele merece? Claro que não. Mas ele queria se redimir.Sílvio mexeu os lábios, como se buscasse forças para responder:— Quero te compensar. Com o resto da minha vida.Compensar? Ele mudava de atitude como quem troca de roupa. Para ele, parecia que Lúcia era apenas um objeto sem alma, sem pensamento próprio.Com os olhos marejados, ela gritou, com a voz embargada:— Não preciso disso! Sílvio, não dá mais! Não dá mais! Se você realmente quer me compensar, suma da minha vida! Porque só de olhar para sua cara, fico irritada. Só de te ver, eu perco a paciência!As palavras bateram em Sílvio como um balde de água fria, apagando qualquer faísca de coragem que ele havia reunido.Ele piscou os olhos secos, tentando processar o que tinha e
"Conversar?"Lúcia quase riu. Ela realmente não sabia o que Sílvio queria. Quando ela o amava com toda sua intensidade, ele a tratava com frieza e sarcasmo, afastando-a e deixando claro que não queria mais nada com ela. Ele fez questão de gravar na mente dela lembranças dolorosas.Agora que ela finalmente havia seguido em frente, sem nunca mais interferir na vida dele, ele reaparecia, fingindo ser o homem apaixonado."Um homem que vai e volta, sem saber o que quer."Lúcia percebeu, subitamente, que tudo aquilo que ela tanto desejou no passado, agora que o destino colocava em suas mãos, já não a fazia sentir absolutamente nada. Ela estava cansada. Cansada de Sílvio, cansada de suas idas e vindas, cansada de toda a dor e da sensação de estar sempre em dívida.— Srta. Lúcia, vou buscar o carro. — Basílio, sempre educado, percebeu a tensão no ar e, como o cavalheiro que era, preferiu se afastar, dando-lhes espaço para conversar.Mas Lúcia ergueu a mão, impedindo-o.Com irritação, começou a
Sílvio a encarou profundamente, com os olhos fixos nos dela:— Se você está dizendo essas palavras frias e mentirosas só para me fazer desistir, Lúcia, você é muito ingênua. Desta vez, não importa o que aconteça, eu não vou abrir mão de você. Vou mostrar meu coração, pouco a pouco, até que você me perdoe.Lúcia e Basílio saíram juntos, parecendo um casal apaixonado.Sílvio ficou parado, observando enquanto Basílio, com sua postura impecável, abria a porta do passageiro para ela. Lúcia entrou no carro com um sorriso tranquilo, e o veículo seguiu pela estrada, desaparecendo de vista.No restaurante japonês, o ambiente era decorado exatamente como Lúcia gostava. A mesa estava repleta de pratos, todos escolhidos cuidadosamente para agradar o paladar dela.— Você lembra do que eu gosto de comer? — Lúcia perguntou, segurando os hashis, claramente surpresa. Na mesa, não havia um único prato que ela não apreciasse.Do outro lado da mesa, Basílio ergueu a mão elegante, pegou o copo d’água e res