— Você ficou com ciúmes? Está bravo? — Giovana, sempre atenta aos detalhes, percebeu a mudança no humor de Sílvio e tentou mais uma vez se aproximar, com aquele tom meloso que ela sabia usar tão bem.Sílvio, com um gesto sutil, desviou-se:— Temos tempo para isso.Sim, tempo.Giovana adorava ouvir aquelas palavras. "Verdade, temos todo o tempo do mundo." Agora que havia assumido o lugar de Lúcia, ela acreditava que tinha o suficiente para conquistá-lo, para fazê-lo se apaixonar por ela. Com relutância, desceu do carro, mas não sem antes lançar um último olhar carregado de expectativa para ele. Sílvio observou em silêncio enquanto ela entrava na Mansão Baptista.No instante em que cruzou a porta, Giovana recebeu uma ligação de Arthur.— Você está dando o remédio para ele? — Perguntou Arthur.— Estou. — Respondeu Giovana com um suspiro, ainda tentando manter a sensação de felicidade que a envolvia momentos antes. Mas bastou ouvir a voz de Arthur para que se sentisse como um peixe fora d’
Quem seria o verdadeiro mentor por trás de tudo isso? Essa era a pergunta que martelava a mente de Sílvio. Para descobrir, ele sabia que precisava jogar o mesmo jogo e virar a mesa. A impostora, disfarçada e infiltrada em sua vida, tinha um objetivo, mas qual? Até agora, ele não fazia ideia.— Faça exatamente como eu pedi. Qualquer novidade, me informe imediatamente. — Disse Sílvio de forma indiferente, como se a questão não tivesse grande importância. Porém, sabia que quanto menos pessoas soubessem, menores seriam os riscos. Mais um segredo revelado, mais um perigo à espreita.Leopoldo saiu do carro em silêncio e chamou um táxi. Levava consigo tanto o relógio quanto o frasco de comprimidos que Sílvio havia entregue.Dentro do carro parado à beira da estrada, Sílvio não deu partida imediatamente. Ele baixou o vidro e tirou um cigarro do bolso, mordendo-o entre os lábios. Com o rosto impassível, acendeu o isqueiro. O brilho da chama iluminou por um momento sua feição cansada, antes que
O carro parou em frente à delegacia, e Sílvio estacionou cuidadosamente à beira da calçada. Ele abriu a porta e desceu. As elegantes botas de couro preto brilhante afundaram na camada espessa de neve que cobria o chão. As luzes amareladas dos postes de iluminação projetavam uma aura suave sobre as árvores ao redor, criando um contraste melancólico com a escuridão da noite.Sílvio vestia um sobretudo preto impecável, sobre uma camisa branca perfeitamente passada, adornada por uma gravata preta. A calça social no mesmo tom completava o conjunto. Todas aquelas roupas haviam sido escolhidas por Lúcia, em outra época, quando ainda estavam juntos. Mesmo durante as brigas, o pedido de divórcio e o distanciamento, ele nunca teve coragem de se desfazer delas.Desde que Lúcia partiu, ele quase não comprava roupas novas. Era como se a ausência dela tivesse levado com ela parte de sua própria essência. Agora, enquanto o vento gelado carregado de neve cortava seu rosto tenso, ele tirou um cigarro d
— É mesmo? — Basílio sorriu amargamente, sua voz carregando uma melancolia evidente. Ele conhecia bem aquele carro. Era de Sílvio. Lúcia também o reconheceu de imediato.Envolta no casaco verde militar de Basílio, Lúcia percorria as ruas movimentadas com o olhar inquieto, procurando algo ou alguém. De repente, avistou uma silhueta alta, vestindo um sobretudo preto.Com o coração acelerado e uma mistura de esperança e ansiedade, Lúcia correu em direção à figura.— Sílvio! — Gritou Sílvio, estendendo a mão para segurar o braço do homem.Ele virou o rosto, mas o que Lúcia viu foi um estranho com uma aparência robusta e impaciente. O homem, incomodado, afastou sua mão com um gesto brusco.— Quem é você? — Resmungou o homem, irritado.Não era Sílvio. Apenas um engano. A expressão de alegria que iluminava o rosto de Lúcia congelou no mesmo instante. Desconcertada, ela pediu desculpas:— Desculpe, confundi você com outra pessoa.O homem não disse mais nada e foi embora, deixando Lúcia parada
Até o momento em que chegaram ao carro de Basílio, ele foi rápido em abrir a porta traseira para Lúcia. — Quero sentar no banco da frente. — Disse Lúcia.Basílio ficou surpreso por um instante, mas logo entendeu. Ela estava tentando provocar uma reação de Sílvio. Com elegância, ele fechou a porta traseira e abriu a do passageiro para ela. A neve continuava a cair silenciosamente.Lúcia respirou fundo e ficou ali por alguns minutos, esperando. Mas ninguém apareceu. Sílvio não saiu correndo para detê-la. Ao seu redor, tudo o que ouvia era o som suave do vento brincando com os flocos de neve.Ela havia perdido a aposta. Seus olhos começaram a arder, e ela sentiu uma tristeza profunda. Virou-se para trás, olhando novamente ao redor. Ela sentia, com toda a certeza, que Sílvio estava por perto. Só não conseguia identificar exatamente onde.Lúcia teve a impressão de estar sendo observada, como se um olhar quente e intenso estivesse fixo nela. Virou-se mais uma vez. A rua deserta se estendia
Sílvio viu Lúcia e Basílio encostados um no outro. Eles estavam tão próximos. Flocos de neve caíam ao redor deles, compondo um quadro tão perfeito quanto uma pintura.Sílvio percebeu que, de certa forma, Lúcia e Basílio realmente combinavam. De pé, lado a lado, pareciam um casal perfeito.Ele franziu a testa involuntariamente. Seus lábios se comprimiram em uma linha fina. Suas mãos seguravam o frio das grades do portão com tanta força que pareciam querer esmagá-las.Embora ele não pudesse se revelar para Lúcia naquele momento, o seu único desejo naquela noite era vê-la, mesmo que de longe. Ele queria que Lúcia fosse a razão para continuar lutando. Mas, ao vê-la tão próxima de outro homem, não conseguiu evitar o ciúme. O desconforto o consumia. A raiva subia dentro dele, mesmo que ele tentasse reprimi-la.Sílvio sabia que não tinha o direito de culpá-la, mesmo que visse algo ainda mais doloroso.Com o coração apertado, ele se virou e foi embora.No pátio.Basílio permanecia parado, imóv
A temperatura na mansão era agradável, aquecida como uma tarde de primavera.Enzo, seguindo as instruções de Basílio, trouxe a caixa de primeiros socorros.Basílio pediu que uma das empregadas ajudasse Lúcia a tratar os ferimentos, mas Enzo explicou: as empregadas estavam todas de folga naquele dia. Olhando para Lúcia, ele acrescentou que o próprio Basílio sabia cuidar de ferimentos e fazia isso muito bem.Basílio, claro, entendeu imediatamente o que Enzo estava tentando fazer: criar uma oportunidade para ele estar a sós com Lúcia.Assim que Enzo foi dispensado, um silêncio desconfortável pairou no ar. Basílio olhou para Lúcia. Ela, em algum momento, havia tirado o casaco grosso de inverno. Agora, vestia apenas uma blusa preta de gola alta, justa ao corpo, com a barra enfiada na calça de alfaiataria de corte largo. Sua cintura fina e sua postura elegante realçavam o porte de uma verdadeira dama. Seu cabelo longo caía de forma descuidada sobre os ombros.Mesmo com um hematoma inchado e
Lúcia não esperava que seus ferimentos acabassem envolvendo a reputação de Basílio.Vendo que ela permanecia em silêncio, Basílio insistiu:— Você vai me contar agora ou eu mesmo vou investigar? Não seria nada difícil descobrir.Lúcia hesitou por um momento antes de responder:— Eu conto, mas você promete que não vai fazer nada contra o Sílvio?Basílio riu, incrédulo:— Foi o Sílvio quem te machucou assim?— Não foi ele, mas tem a ver com ele. Sr. Basílio, eu só te peço que, por mim, não vá atrás dele.Depois de alguns segundos de silêncio, Basílio, contrariado, acabou concordando com o pedido.Foi só então que Lúcia começou a relatar os acontecimentos da manhã, detalhando tudo.Quanto mais Basílio ouvia, mais a raiva crescia dentro dele:— Ele está tão cego assim, e você ainda o defende?— Foi você quem me disse que devemos ter fé nas pessoas que amamos. Esqueceu disso? — Lúcia rebateu, num tom inesperado.Basílio ficou surpreso. Ele realmente havia dito isso, mas sua intenção era mot