“Você, um bastardo, acha que é digno de ser meu marido? Acha que merece que eu tenha um filho seu?”Os olhos de Basílio ficaram ainda mais frios. Ele suspirou com impaciência e decretou: — Já terminou? Então volte e reflita sobre o que disse! Ivone soltou uma risada irônica:— Não tenho nada mais para refletir, Basílio. Nós dois acabamos. Desta vez, sou eu que não quero mais você. Eu, Ivone, por mais que esteja arruinada, por mais que ninguém mais me queira, nunca vou me rebaixar ao ponto de aceitar ser a substituta de alguém. Homens como você, desonestos, que brincam com os sentimentos dos outros, nunca terão um final feliz. — Você deveria se sentir grata por ter ao menos um pouco da semelhança com a Lúcia! Não abuse da sorte! — Ele rebateu com dureza, aumentando o tom de voz. As palavras dele fizeram Ivone explodir em uma gargalhada insana. Ela ria a ponto de as lágrimas escorrerem pelo rosto. Sua respiração ficava entrecortada de tanto rir. — Por que você está rindo? — Ele
Basílio desceu as escadas correndo atrás dela. A cabeça de Ivone bateu no chão do hall de entrada, e a pele de sua testa foi rasgada, deixando o sangue escorrer em fios grossos, manchando seu rosto. Por alguns segundos, tudo ficou completamente escuro. Ivone sentiu o desespero crescer dentro de si enquanto a dor em seu abdômen aumentava. Era uma dor cortante, como se uma lâmina afiada estivesse perfurando suas entranhas sem piedade. De repente, sua visão voltou aos poucos, como se uma rede embaçada de repente fosse rasgada, trazendo de volta a luz. Ivone levou a mão trêmula à testa e sentiu o sangue quente escorrendo. Quando olhou para baixo, viu que suas pernas estavam molhadas, cobertas por manchas de sangue. O vermelho intenso se espalhava em camadas, como ondas violentas invadindo uma praia, ou como as rosas desabrochadas nos jardins da propriedade da família Araújo. — Iva! — Basílio correu até ela, ajoelhando-se ao seu lado para segurá-la nos braços. Aquele nome falso, "
A mente de Basílio estava uma confusão completa. Ele não sabia se estava feliz ou incomodado. Seus sentimentos eram um misto de emoções conflitantes. Ele se perguntava como seria o filho que teria com Ivone. Será que a criança se pareceria mais com ele ou com Ivone? Mas, ao mesmo tempo, outro pensamento o atormentava: isso seria uma traição a Lúcia? Ele agora teria um filho com outra mulher. No meio da madrugada, Lúcia não conseguia dormir. Sílvio, sempre atencioso, a acompanhava em uma caminhada pelos corredores do hospital. De longe, os dois avistaram um homem sentado em um banco, com a cabeça baixa, parecendo abatido. Lúcia reconheceu Basílio imediatamente. — Volte para o quarto e descanse. — Sílvio sugeriu, notando a intenção dela de se aproximar. Mas Lúcia, ignorando o conselho, decidiu ir até o irmão. Ela caminhou até ele, sentando-se no banco à sua frente: — Mano, o que você está fazendo aqui tão tarde? Aconteceu alguma coisa? Basílio ergueu a cabeça lentamente. El
Basílio parou no meio do caminho, interrompendo o impulso de acompanhar Lúcia. As palavras de Sílvio o fizeram hesitar, e ele acabou ficando. Meia hora depois, a porta da sala de emergência finalmente se abriu. Ivone, inconsciente, foi levada para um quarto comum. Basílio se aproximou do médico, que tirava a máscara enquanto começava a falar: — Você é o responsável pela Srta. Iva, certo? Basílio assentiu com a cabeça. — Preciso que o senhor se prepare para o que vou dizer. — O médico o encarou com uma expressão séria e pesada. O coração de Basílio disparou.— O bebê... o bebê não sobreviveu? — Ele perguntou, com a voz tensa. — A saúde dela já era muito frágil. Durante a gravidez, ela esteve emocionalmente abalada... você provavelmente a ignorou, não foi? — O médico o olhou com reprovação. — Além disso, o tempo que demoraram para trazê-la ao hospital complicou tudo. Fizemos o possível, mas o bebê não resistiu. As palavras do médico atingiram Basílio como uma pedra pesada
Os olhos dela, que antes eram tão brilhantes, tão confiantes, tão cheios de vida, agora estavam apagados. Ivone, que era como um pequeno sol radiante, havia se transformado em alguém triste e melancólica. Quando isso aconteceu? Teria sido quando ele aprovou a carta de demissão dela e a manteve ao seu lado como uma amante, comprada com dinheiro? Ela se aproximou dele por amor, e isso estava tão claro. Era impossível não perceber. Ela era dez anos mais nova, estava em uma idade em que era impossível esconder sentimentos. Mas ele, cego por seus preconceitos, interpretou tudo errado. Achou que ela só quisesse dinheiro, que estivesse tentando encontrar um atalho. Talvez, para ela, o dinheiro nunca tivesse o mesmo peso que tinha para ele. — Vá embora. Me deixe sozinho. Quero pensar. — Basílio disse friamente. Enzo balançou a cabeça em silêncio e se retirou. Basílio soltou uma risada amarga. Ele se lembrava de como havia repreendido Sílvio por não saber lidar com seus relacionamentos,
— O jovem mestre é muito ingênuo. Desta vez, com certeza foi essa garota insignificante que o enganou. O senhor vai precisar intervir pessoalmente para resolver isso. — O assistente comentou, com um sorriso forçado. Otávio lançou um olhar frio para ele e soltou uma risada sarcástica: — O casamento de Basílio está diretamente ligado ao futuro da família Araújo. Não vou permitir que ele faça o que quiser. Essa tal de Iva... Eu mesmo vou conhecê-la. Quando Ivone acordou, já era tarde da tarde. A chuva caía suavemente do lado de fora, pingando nas folhas verdes escuras, criando um som constante e melancólico. A porta do quarto se abriu, e uma enfermeira de jaleco branco entrou. Ao vê-la acordada, a mulher pareceu surpresa. Quando percebeu que Ivone tentava se levantar, apressou-se a detê-la: — Srta. Iva, a senhora precisa descansar. Não pode sair da cama ainda. Ivone sentia o corpo inteiro dolorido. Ela observou a enfermeira pegar sua mão e, com habilidade, inserir uma agulha f
As lágrimas quentes escorriam descontroladamente pelo rosto de Ivone, deslizando até seus lábios ressecados. O gosto era salgado, amargo. Sua garganta estava seca, ardida, e cada respiração parecia um esforço doloroso. Era sufocante. Ivone mordeu os lábios com força, tentando conter os soluços, mas não conseguiu. Ela começou a chorar baixinho, em um desespero abafado. Suas mãos golpeavam o colchão repetidamente, como se punisse a si mesma. Ela sentia que não valia nada, que era inútil, que não merecia nada. — Por que, meu Deus?! Por que eu não consegui proteger o meu bebê?! — Ela murmurava entre lágrimas, enquanto continuava a se bater. Aquele era o único filho que ela teria. O único. E agora ele se fora para sempre. Ivone se perguntou quando foi que tudo começou a dar errado. Será que foi quando ela, tão ingênua e tola, acreditou que se aproximar de Basílio seria suficiente? Ela havia alimentado a ilusão de que, se ela fosse boa para ele, se ela o amasse de verdade, ele acabar
Ivone, tomada pela raiva, agarrou o cobertor e o jogou com força contra Basílio:— Não diga meu nome! Eu não deixo você dizer meu nome!O cobertor deslizou silenciosamente da cama para o chão. Basílio ficou paralisado, chocado com o olhar dela.Ele viu o sangue nas mãos dela, no dorso e nos dedos. Seus olhos estavam vermelhos, e as lágrimas escorriam sem parar.— Não me chame assim! Saia daqui! Saia agora! — Ivone gritou, cobrindo os ouvidos, enquanto as veias saltadas na testa e no pescoço mostravam o quanto ela estava à beira de um colapso. Ela puxava os cabelos e berrava com toda a força que tinha.Basílio tentou se aproximar.— Iva.— Saia! Vá embora! Saia daqui! — Ivone chorava, completamente descontrolada.Ele nunca tinha visto Ivone tão fora de si. Aquela explosão de emoções o deixou sem saber como agir.— Você está machucada.— Saia! Saia daqui! — Ivone gritou novamente, soluçando entre as palavras.Basílio percebeu que qualquer coisa que dissesse só pioraria a situação. Ele se