— E você ainda tem a cara de pau de dizer isso? Se não fosse por você, eu nunca teria ido trabalhar como faxineira no Grupo Baptista. Tudo isso é culpa sua! — Giovana protestou com um tom de falsa indignação, embora suas bochechas mostrassem um leve constrangimento.Sílvio estendeu a mão e acariciou os longos cabelos dela, com uma expressão que misturava ironia e leveza:— A culpa é minha?— E de quem mais seria? — Giovana respondeu, manhosa, cruzando os braços e fazendo beicinho. — Por isso, Sílvio, você não pode continuar me tratando mal como fazia antes.Sílvio baixou o vidro da janela do carro, apoiando o cotovelo no parapeito enquanto seus dedos tocavam o queixo. Parecia perdido em pensamentos distantes, como se revivesse algo do passado.— Lúcia, você se lembra da época em que estávamos na faculdade?— Ah, lembro sim. Por quê? — Giovana respondeu casualmente, sem perceber o tom nostálgico de Sílvio.Ele olhou para a neve que caía lá fora, cobrindo as ruas em um manto branco:— Um
— Você ficou com ciúmes? Está bravo? — Giovana, sempre atenta aos detalhes, percebeu a mudança no humor de Sílvio e tentou mais uma vez se aproximar, com aquele tom meloso que ela sabia usar tão bem.Sílvio, com um gesto sutil, desviou-se:— Temos tempo para isso.Sim, tempo.Giovana adorava ouvir aquelas palavras. "Verdade, temos todo o tempo do mundo." Agora que havia assumido o lugar de Lúcia, ela acreditava que tinha o suficiente para conquistá-lo, para fazê-lo se apaixonar por ela. Com relutância, desceu do carro, mas não sem antes lançar um último olhar carregado de expectativa para ele. Sílvio observou em silêncio enquanto ela entrava na Mansão Baptista.No instante em que cruzou a porta, Giovana recebeu uma ligação de Arthur.— Você está dando o remédio para ele? — Perguntou Arthur.— Estou. — Respondeu Giovana com um suspiro, ainda tentando manter a sensação de felicidade que a envolvia momentos antes. Mas bastou ouvir a voz de Arthur para que se sentisse como um peixe fora d’
No consultório do médico.- Sra. Lúcia, suas células cancerígenas já se espalharam para o fígado. Não há mais o que fazer. Nos dias que lhe restam, coma o que quiser, faça o que desejar, sem arrependimentos.- Quanto tempo eu ainda tenho?- Um mês, no máximo.Lúcia Baptista saiu do hospital. Sem tristeza, sem alegria, pegou o celular e ligou para seu marido, Sílvio. Pensou que, apesar de não estarem mais apaixonados, era necessário contar a ele sobre sua condição terminal.O celular tocou algumas vezes e foi desligado.Ligou novamente, mas já estava na lista de bloqueio.Tentou pelo WhatsApp, mas também estava bloqueada.O amargor em seu coração aumentou. Chegar a esse ponto no casamento era triste e lamentável.Sem desistir, foi à loja e comprou um novo chip, ligando novamente para Sílvio.Desta vez, ele atendeu rapidamente: - Alô, quem fala?- Sou eu. - Lúcia segurava o celular, mordendo os lábios, enquanto o vento cortante batia em seu rosto, como lâminas geladas.A voz do homem no
Lúcia fixava intensamente a foto, com um olhar afiado e sereno, como se quisesse perfurá-la.Ela realmente se arrependia de não ter enxergado a verdadeira natureza das pessoas ao seu redor.Sílvio era seu marido, Giovana era sua melhor amiga, e ambos, que sempre diziam que a retribuiriam, agora a traíam pelas costas, causando-lhe uma dor atroz!A amante se sentia tão no direito de exibir sua conquista na frente da esposa legítima, era uma desfaçatez sem igual!Lúcia era orgulhosa. Mesmo que a família Baptista agora estivesse nas mãos de Sílvio, ela ainda era a única herdeira legítima da família.Giovana não passava de uma aduladora que sempre a seguia, bajulando e tentando agradar.Lúcia bloqueou todas as formas de comunicação com Giovana. Porque ela sabia que Giovana, sozinha, não teria coragem de agir. E Sílvio era a mão que impulsionava as ações de Giovana.Para esperar Sílvio, ela não jantou, apenas tomou o analgésico prescrito pelo médico.O relógio na parede marcava onze horas. L
- Eu vou soltar fogos de artifício por dias e noites no seu funeral para comemorar sua morte! - Disse Sílvio.Ao ouvir isso, o coração de Lúcia, que já estava pendurado por um fio, se despedaçou completamente. Cada pedaço, ensanguentado, parecia impossível de juntar novamente.Era difícil imaginar o quão frio Sílvio poderia ser. Ele desejava sua morte com tanta indiferença, falando com um sorriso sarcástico.- Sílvio, se quer casar com a Giovana, vai ter que esperar eu morrer.O homem que ela havia moldado com suas próprias mãos havia sido seduzido por uma mulher sem escrúpulos. Ela não podia suportar essa humilhação.Se estavam destinados ao inferno, que fossem os três juntos.- Lúcia, ainda vai chegar o dia em que você vai chorar e implorar de joelhos para se divorciar de mim!O olhar penetrante de Sílvio estava frio como gelo. Sem qualquer hesitação, ele bateu a porta ao sair.Aquela noite, ela não conseguiu dormir. Não era por falta de vontade, mas porque simplesmente não conseguia
- Pode ser parcelado? - Lúcia perguntou com a voz trêmula.A funcionária do caixa, com uma expressão fria e acostumada a esse tipo de situação, respondeu: - Somos um hospital particular, não fazemos parcelamento. Ou você transfere seu pai ou providencia o dinheiro.As pessoas na fila atrás dela começaram a revirar os olhos e a reclamar:- Você vai pagar ou não? Se não, sai da frente, estamos esperando.- Exato, está ocupando o lugar à toa.- Se não tem dinheiro, por que veio ao hospital? Vai para casa esperar a morte!Lúcia levantou os olhos levemente e, com um pedido de desculpas, saiu da fila.Ela tinha poucos amigos e pedir dinheiro emprestado era fora de questão.A única pessoa que poderia ajudá-la era Sílvio.Ela ligou, mas ele não atendeu.Mandou uma mensagem: [Assunto urgente, atenda, Presidente Sílvio.]Era a primeira vez que ela o chamava de Presidente Sílvio.Primeira ligação, sem resposta. Segunda, terceira, também não.Ela continuou insistindo, sem desistir, mesmo com o co
Lúcia ouviu um zumbido nos ouvidos e sua visão ficou turva por um momento. Antes que pudesse reagir, sentiu suor frio na testa.Sandra, ainda furiosa, deu mais um tapa na filha.Lúcia quase caiu, mas uma enfermeira bondosa a segurou.Com a visão gradualmente recuperada, ela viu a mãe, furiosa, olhando para ela e gritando:- Sua ingrata! Eu te avisei para não fazer isso, mas você insistiu! Eu sempre disse que Sílvio não era bom para você, que ele tinha segundas intenções! Eu escolhi para você um bom partido, alguém do nosso nível, mas você preferiu um órfão, um segurança! E agora? Como ele te trata? Como ele nos trata? A família Baptista, que sempre foi tão respeitada, está arruinada por sua causa, tudo por sua culpa!Sandra, com o rosto vermelho de raiva, levantou a mão para bater de novo, mas foi contida pelos profissionais de saúde.Lúcia, com o rosto dolorido, tentou falar, mas não conseguiu emitir uma palavra. Tudo o que podia fazer era chorar de arrependimento.Na maca, o pai come
A enfermeira falava com um tom de ironia e desdém:- Se você não pretende fazer a cirurgia do seu pai, então leve-o daqui. Deixá-lo no hospital à toa é um desperdício de recursos públicos.Essa mesma enfermeira que, havia apenas quatro horas, tinha um sorriso largo no rosto enquanto recebia o pagamento, agora mostrava seu lado indiferente. A hipocrisia das pessoas era impressionante.No entanto, ela não tinha tempo para culpar ninguém. Sabia que ninguém ajudaria um estranho sem esperar algo em troca. Para evitar que sua mãe passasse por constrangimentos, ela mentiu com tranquilidade: - O dinheiro estará na conta antes da noite.- É mesmo? - A enfermeira parecia surpresa e esperançosa.- Espere até o dinheiro estar na conta. - Disse Lúcia.Desligando o telefone, ela ligou para Sílvio, pedindo que ele voltasse para casa para discutirem o divórcio. A única carta que ainda tinha na manga era negociar os termos do divórcio com Sílvio. O fato de cinco milhões de reais ser a última gota d