Lúcia baixou a cabeça, olhando para os dedos sobre os joelhos. Sua garganta estava apertada, dificultando a respiração. Arrepender-se? Claro que ela se arrependia, mas as pessoas eram assim, só aprendiam quando batiam de frente com a realidade. Lições de vida não eram ensinadas por palavras, mas por experiências duras. Agora, arrependida ou não, já era tarde demais, o que estava feito, estava feito. O que mais ela poderia fazer?Lúcia forçou as lágrimas de volta e levantou os olhos, sorrindo para a mãe:- Mãe, estou realmente bem. O médico disse que em uma semana estarei recuperada.Sandra foi até o armário e o abriu. Tirou sua bolsa, de onde pegou um pequeno amuleto quadrado. Ela entregou a Lúcia:- Isso aqui é um amuleto de proteção que eu e seu pai pedimos a uma famosa benzedeira. Com a correria do acidente do seu pai, acabei esquecendo de te dar. Cuide bem dele e use-o como um enfeite.- Mãe, você ainda acredita nessas coisas?Lúcia olhou para o amuleto na mão, pequeno, mas de
Lúcia sorriu de forma despreocupada, tentando parecer relaxada. Sandra, no entanto, ficou subitamente séria, interrompendo-a:- Que bobagem é essa? Como assim você não vai estar aqui? Filha, não fale coisas desagradáveis.- Mãe, não leve tão a sério. Estou só brincando. A gente nunca sabe o que pode acontecer amanhã. - Lúcia continuou sorrindo, mas ao ver os cabelos brancos que apareceram na cabeça de Sandra, sentiu uma dor no coração. - Mãe, eu só quero que, aconteça o que acontecer, você e papai vivam bem.- Minha filha, você está escondendo alguma coisa de mim?Sandra estreitou os olhos, examinando a filha na cadeira de rodas. De repente, ela cobriu a boca com a mão, e seus olhos se encheram de lágrimas. Virou o rosto, tentando secar as lágrimas, mas elas continuavam a cair.- O que eu poderia estar escondendo? - Lúcia sorria, mas estava exausta de tanto fingir. Diante da mãe, no entanto, só podia sorrir, para que ela se tranquilizasse.Sandra voltou a olhar para Lúcia, com o rost
Lúcia sorriu e disse:- Eu garanto que cumpro o que digo.Sandra finalmente sorriu entre lágrimas.- Mãe, você se arrepende de ter uma filha tão inútil como eu? Se não fosse por mim, você e papai não estariam assim...- Minha filha, não fale essas coisas tristes. Você é minha filha querida, quem mais eu iria amar? Você é maravilhosa, e nesta vida somos mãe e filha, e na próxima também seremos.Meia hora depois, Lúcia ligou para Marina pedindo que voltasse para levá-la para casa. Marina voltou com um copo de água e empurrou a cadeira de rodas de Lúcia para fora do hospital. Antes de irem embora, Sandra tentou dar dinheiro para Marina, pedindo que cuidasse bem de Lúcia. Marina recusou, dizendo que cuidar de Lúcia era seu trabalho e que não precisava de dinheiro extra.De volta à Mansão do Baptista, Lúcia pediu a Marina que encontrasse seu caderno de anotações e, em seguida, Marina foi para a cozinha preparar o jantar. Lúcia abriu o caderno e, com uma caneta na mão, escreveu com calig
Ela estava com a mente distante, e sempre que escrevia, era a mesma frase: [Lúcia gosta de Sílvio.]Lúcia gostava de Sílvio.Mas Sílvio a amaldiçoava, desejando sua morte, e não apenas uma vez.Ele até já tinha preparado a mortalha e o funeral dela.Um homem tão cruel e desumano, ela não queria e não podia mais gostar dele.Seu coração estava apertado e dolorido, como se estivesse sendo queimado por um fogo intenso, já sem nenhuma gota de água.Lúcia rasgou a folha de rosto com firmeza, amassou-a com uma expressão complexa e a jogou na lixeira aos seus pés.- Srta. Lúcia, me desculpe, não deveria ter falado nada, por favor, não fique brava.Marina, vendo a expressão dela, achou que Lúcia estava chateada e se apressou em pedir desculpas.Lúcia sorriu suavemente: - Não estou brava, me leve para jantar.- Certo.Com as mãos no guidão da cadeira de rodas, Marina a empurrou para fora do quarto, em direção à sala de jantar.…No escritório do presidente do Grupo Baptista.Sílvio estava con
- Não é à toa que? - Leopoldo perguntou.Marina desviou do assunto, comentando: - Leopoldo, a Srta. Lúcia vai a um funeral depois de amanhã. Eu queria acompanhá-la, mas ela insistiu em ir sozinha.- Entendi. O salário desses dias será transferido para sua conta em breve.Após desligar o telefone, Leopoldo se dirigiu ao escritório do presidente do Grupo Baptista. Bateu na porta da sala do presidente.- Entre. - Sílvio disse friamente, sem olhar para ele.O chefe estava ocupado, sem tempo para prestar atenção nele. Leopoldo mordeu os lábios, não conseguindo segurar a pergunta: - Presidente Sílvio, o senhor vai ao funeral depois de amanhã?- Funeral da Olga? - Sílvio levantou os olhos, olhando profundamente para Leopoldo. - Quem te contou isso? A Giovana?Leopoldo ficou confuso, depois negou: - Não, foi a cuidadora da Sra. Lúcia quem me disse. Ela mencionou que a senhora iria sozinha ao funeral.- Ela já está recuperada? - Sílvio perguntou impassível.Leopoldo assentiu: - Pelo que a M
Sílvio sorriu com frieza e, em tom sarcástico, disse: - Leopoldo, agora é hora de trabalho. Se você está tão preocupado com ela, pode pedir demissão e virar assistente pessoal da Lúcia.- Foi um erro meu falar demais. Não vai acontecer de novo.Leopoldo sabia que aquilo era um sinal da irritação do chefe. Ele pegou a versão final do contrato, verificou e saiu do escritório do presidente.Sílvio voltou ao trabalho, como se a segurança de Lúcia não valesse a interrupção.No dia seguinte, Lúcia, sem disposição de cozinhar, pediu comida delivery.Seu celular tocou com um número desconhecido.Sem pensar muito, Lúcia atendeu.- Lúcia, quanto tempo, hein?A voz debochada de Giovana soou no telefone.Lúcia segurou o celular, e a irritação e repulsa tomaram conta dela: - O que foi? Não bebeu água suficiente na piscina da última vez e quer mais?- Lúcia, eu estou só tentando ser legal contigo. Amanhã é o funeral da Olga. Você não vai dar o último adeus?Lúcia deu uma risada fria: - O que eu
O choque de Giovana do outro lado da linha era evidente.Sílvio olhou para a gravata e disse friamente: - É só um contrato. Nada é mais importante que você.- Sílvio, eu não sabia que você se importava tanto comigo. Estou emocionada. Você ser tão bom comigo de repente... Eu nem sei como reagir... - Giovana estava claramente descontrolada de emoção.Sílvio, no entanto, desligou o telefone e fechou a gaveta novamente.“Sílvio, esta é a última vez que você se preocupa com ela, que a protege. Ela é sua inimiga.”…Na Mansão do Baptista.O coração de Lúcia batia cada vez mais rápido, uma inquietação a dominava.Sua intuição lhe dizia que algo aconteceria no dia seguinte.Mas ela não sabia exatamente o quê.Esse sentimento de desequilíbrio, de não ter controle sobre a situação, a sufocava.Ela tentou se acalmar, dizendo a si mesma para não ter medo, que o destino era inevitável, fosse bom ou ruim.Ela saberia o que aconteceria em poucas horas.Esperar do anoitecer ao amanhecer drenou todas
A imagem e o sorriso de Olga não saíam da cabeça de Lúcia. No avião, Olga chorou incontrolavelmente, e no quarto do hotel, ajoelhou-se diante dela, agradecendo por ter reservado o quarto.“Srta. Lúcia, hoje à noite é meu aniversário. Por favor, venha. Não preciso de presente, sua presença é o melhor presente que poderia ter.”“Srta. Lúcia, o que você gosta? Tem algum desejo?”“Vou lhe dar um presente, mas só poderá recebê-lo daqui a meio mês. Por favor, tenha paciência, Srta. Lúcia.”“Srta. Lúcia, obrigada por vir ao meu aniversário. Não se esqueça de receber o presente que lhe darei.”Lúcia se lembrou das palavras de Olga. Ao pensar nisso, seu coração se encheu de emoções conflitantes, e seus olhos ficaram marejados, sentindo uma dor inexplicável.Talvez fosse um presságio. Daqui a um mês, ela poderia ter o mesmo destino, deitada em um caixão de cristal, recebendo as condolências de amigos e familiares.Ela viu algumas velas na mesa, com o papel de embrulho rasgado, espalhadas de for