A gerente caiu na gargalhada, uma risada que fazia ecoar pela montanha coberta de neve:— Mortos! Todos mortos! Todos eles! Que morram mesmo! Sob essa neve branca, limpos, sem deixar rastros! Não sobrou ninguém!Diziam que a alegria em excesso trazia desgraça. As pessoas que a feriram estavam mortas, e ela deveria estar feliz com isso.Mas, enquanto ria, uma tristeza profunda a tomou. Seu nariz, vermelho e ardido pelo frio, começou a escorrer, e lágrimas quentes encheram seus olhos. A dor na garganta explodiu, e as lágrimas desceram, desenhando caminhos molhados por suas bochechas congeladas.A gerente, derrotada, tombou sobre a neve. Suas mãos e pés estavam amarrados tão firmemente que ela mal conseguia se mover, muito menos levantar.O vento cortante era como lâminas afiadas. A neve caía pesada, como agulhas, ferindo seu rosto coberto de lágrimas.— Mortos. Todos mortos. Eu matei... Matei... Não vou escapar também... — Ela murmurou, com um sorriso vazio de desespero.Ela sabia que nã
Lúcia sentiu a barra de sua roupa ser levantada repentinamente pelo vento.Ela olhou para Sílvio. Ele ainda era o homem bonito que conheceu, só que agora sem a inocência de antes, mais maduro.Quem diria que ela morreria ao lado do homem que tantas vezes desejou sua morte?O vento da montanha soprava forte, e a sensação de sufocamento aumentava a cada segundo.De repente, Lúcia lembrou-se do dia em que, na faculdade, como presidente do grêmio estudantil, estava encarregada de receber os calouros. Sua amiga Giovana a havia levado, no meio de uma multidão de estudantes, até Sílvio.Ela ergueu os olhos e o viu vestindo uma jaqueta jeans desbotada, fina demais para o inverno rigoroso daquele dia. Estava nevando, e Lúcia, mesmo usando um casaco grosso, sentia frio. Mas ele, com aquela roupa leve, parecia não se importar.O olhar que trocaram não foi amistoso. Ele franziu a testa, sem demonstrar o menor interesse em agradá-la. Era a primeira vez que Lúcia via um homem agir assim com ela, e i
Assim que Lúcia caiu na água, Sílvio mergulhou logo atrás.As feridas em suas mãos mal tinham começado a cicatrizar, e a água gelada e cortante invadiu os cortes com a força de mil facas, fazendo Sílvio cerrar os dentes de dor.Ele nadou até Lúcia, cujos longos cabelos negros, como tinta espalhada, flutuavam na água profunda, lentamente se abrindo como algas misteriosas.Seus braços estavam soltos, como se ela estivesse esperando a chegada da morte.Antes que Lúcia pudesse reagir, sentiu seu braço ser puxado por uma mão firme, calejada. Seu corpo inteiro foi arrastado e pressionado contra um peito forte e quente, como uma parede de aço, encaixando-se perfeitamente.Ela tentou falar, mas a água gelada se infiltrou em sua boca, garganta e pulmões, fazendo-a engasgar violentamente.Seus olhos começaram a pesar, sua visão ficou turva e duplicada. Ela mal conseguia distinguir o homem à sua frente. Uma hora era o rosto de Sílvio, e na outra, parecia o jovem Abelardo.Ela piscou, tentando enx
Sílvio olhava ao redor, procurando os botes de resgate e Leopoldo. Seu celular já tinha se perdido, então ele não tinha como se comunicar com ninguém.Antes que pudesse reagir, Lúcia o esbofeteou. Isso mesmo, uma bofetada sonora.A dor queimou no lado de seu rosto, e por um momento ele sentiu uma leve tontura e um zumbido nos ouvidos.Sílvio franziu a testa e virou o rosto para olhar Lúcia. A primeira coisa que ela fez ao acordar foi lhe dar um tapa?— Você é um hipócrita, Sílvio! — Lúcia o encarava com um olhar de puro desprezo, enquanto tentava se desvencilhar de seus braços.Mas Sílvio a segurava firme, sem intenção de soltá-la.Hipócrita? Se não fosse por ele, ela já estaria morta.Quanto mais ela lutava, mais o rosto de Sílvio escurecia. Ele apertou os dentes e a advertiu:— Lúcia, vou dizer só uma vez. Agora não é hora para seus dramas. Se eu te soltar, você sabe nadar? Quer morrer?— Sílvio, eu já não quero mais viver.— Então, quer dizer que eu perdi meu tempo salvando você? —
Leopoldo não ficou nem um pouco surpreso com a decisão de Sílvio.Quem via de fora talvez pensasse que Sílvio era frio e cruel, que desprezava Lúcia. Mas Leopoldo enxergava a verdade com clareza. Ele sabia que Sílvio sempre se importou muito com Lúcia, mais do que com Giovana. O problema era que sempre faltou comunicação entre eles, uma oportunidade de colocar tudo às claras.Os salva-vidas profissionais puxaram Lúcia para dentro do bote de resgate. Logo depois, Sílvio também foi resgatado.O bote rapidamente chegou à margem. As mãos de Sílvio estavam inchadas pela exposição à água, mas ele insistiu em carregar Lúcia, ainda inconsciente, para fora do lago.Na margem, uma fileira de SUVs pretas aguardava. Leopoldo correu à frente, abriu a porta do carro, e Sílvio colocou Lúcia cuidadosamente no banco traseiro antes de entrar.Leopoldo fechou a porta e logo voltou para o volante, ligando o carro.— Vamos para o hospital mais próximo. — Disse Sílvio, olhando para o rosto pálido de Lúcia,
O olhar de Sílvio expressou surpresa. Ele rapidamente pegou um lenço com a mão que usava relógio e tentou limpar o sangue que escorria dos lábios de Lúcia.Mas não importava o quanto ele limpasse, o sangue continuava a fluir, e parecia que quanto mais ele limpava, mais sangue surgia.A temperatura de Lúcia, em seus braços, ficava cada vez mais fria.Sílvio se lembrou de Abelardo. Quando ele caiu da sacada, também não parava de cuspir sangue, até que o Dr. Arthur chegou, mas já era tarde demais. O corpo de Abelardo foi ficando cada vez mais gelado...Uma onda de pânico atravessou Sílvio. Ele engoliu em seco e gritou:— Ainda não chegamos ao hospital? Acelera!Leopoldo, que estava concentrado na direção, ficou alarmado ao ouvir o tom de voz trêmulo de Sílvio. Olhou pelo retrovisor e viu Lúcia nos braços dele, inconsciente, mas agora vomitando sangue.Isso não era um bom sinal! Leopoldo também ficou nervoso. Seus dedos longos apertaram o volante com mais força, e ele pisou fundo no aceler
O corredor estava vazio. Só restava Sílvio ali, parado, com uma sensação de angústia crescendo no peito. Seu coração batia descompassado, e suas pálpebras não paravam de tremer. Algo estava errado. Ele sentia isso.Sílvio usava o mesmo sobretudo preto de antes, com uma calça social igualmente preta, que ainda tinha algumas manchas de poeira nos joelhos. Ele sempre fora extremamente cuidadoso com a aparência, quase obcecado com limpeza. Mas, depois de ter sido jogado no lago, suas roupas estavam encharcadas, grudando no corpo, desconfortáveis.Leopoldo se aproximou e viu quando Sílvio tirou uma caixa de cigarros do bolso. Preocupado, sugeriu:— Sr. Sílvio, o senhor não prefere trocar de roupa? Apesar de já ser início de primavera, o clima ainda está frio. Se pegar um resfriado, pode ser pior.— Enquanto o relatório médico de Lúcia não sair, eu não vou a lugar nenhum. — Respondeu Sílvio, com o rosto sério, lançando um olhar afiado para Leopoldo. — Vá até o laboratório de exames e certifi
Naquela época, ele ainda era um funcionário de nível básico do Grupo Baptista. Além de ser, nominalmente, o genro de Abelardo, ele não tinha muito dinheiro. Não podia sequer comprar as bolsas e roupas de luxo que Lúcia gostava.No entanto, Lúcia insistiu em colocar o relógio em seu pulso. Com um sorriso tímido, ela disse:— O que é meu é seu, Silvio. Vamos nos casar, eu sou sua. O que é um relógio comparado a isso? Eu te dei esse presente com segundas intenções.— Segundas intenções? — Ele perguntou, curioso.— Desde que você entrou no Grupo Baptista, nunca mais teve tempo para mim. Você está sempre tão ocupado, mal consegue me acompanhar nas compras. Acorda cedo e volta tarde. Quando acordo, você já saiu. Quando volto a dormir, você ainda não voltou.— Está arrependida de ter pedido ao seu pai para me colocar no Grupo Baptista? — Sílvio brincou, com um sorriso.Lúcia, no entanto, respondeu com seriedade:— Claro que não. Eu sei que você tem grandes ambições, e eu te apoio em tudo. Tra