— Eu estou rindo porque sua punição está prestes a chegar. — Lúcia soltou uma risada sarcástica.O sorriso em seus lábios era de escárnio, de provocação, quase como se estivesse assistindo a um espetáculo de tragédia iminente.Sílvio observou as estrelas cintilando nos olhos dela. Desde o acidente de Abelardo, ele não a via assim, tão radiante. Será que a desgraça dele a fazia tão feliz?Com a taça de vinho na mão, Sílvio deu alguns passos em direção a Lúcia:— Amanhã no tribunal, é quando eu vou receber essa tal “punição”? — Sua voz estava cheia de ironia, um deboche leve, como se tivesse o controle da situação, sem qualquer sinal de preocupação.— Sílvio, a justiça pode demorar, mas nunca falha. Você não vai escapar dessa. — O tom de Lúcia era firme.— Vamos ver. — Sílvio respondeu, com um sorriso ao canto dos lábios. Ao notar que o cabelo dela estava um pouco desalinhado, ele estendeu a mão, instintivamente, para arrumá-lo.Lúcia se afastou bruscamente: — Não ouse me tocar com essa
Para dar a ele uma sensação de segurança, Lúcia parou de usar maquiagem e de se vestir com esmero.Mas hoje era diferente. Hoje, ela enfrentaria Sílvio no tribunal, e queria estar no seu melhor.Depois de aplicar a base, desenhar as sobrancelhas e passar o batom, Lúcia olhou no espelho. A mulher que ela via agora parecia ter recuperado o brilho de antes, a aparência de uma pessoa saudável. Só então ela se sentiu mais tranquila.Às nove e quarenta, Eduardo enviou uma mensagem dizendo que o carro já estava esperando por ela lá embaixo.Lúcia respondeu rapidamente. Pegou uma garrafinha de água, uma embalagem de analgésicos e colocou tudo na mochila. Ela vestiu um par de tênis confortáveis e, antes de sair, pegou uma foto de seu pai que estava sobre a mesa.Ela passou a mão pelo rosto gentil de seu pai.— Pai, estou indo buscar justiça por você. Me proteja, por favor.Quando Eduardo viu Lúcia entrar no carro, ficou surpreso com a mudança em seu visual.— O que foi? Estou estranha? — Lúcia
— Obrigada. — Lúcia, pensando que era Eduardo, agradeceu e saiu do carro pelo banco do passageiro.Ao levantar os olhos, viu Sílvio, com um longo casaco preto e óculos escuros, fechando a porta do carro para ela. Seu rosto não revelava nenhuma emoção.Assim que o reconheceu, a expressão de Lúcia desabou.Ao redor deles, uma multidão de jornalistas se aglomerava, fazendo perguntas a todo momento.— Com licença! — Lúcia falou em um tom ríspido.Os repórteres, vendo Lúcia e Sílvio juntos na entrada do tribunal, começaram a tirar fotos furiosamente, sentindo que estavam diante de uma grande manchete: [O CEO do Grupo Baptista e sua esposa, em um embate público na porta do tribunal.]Sílvio queria escoltar Lúcia até o tribunal, já que a multidão de jornalistas era implacável e penetrante. Porém, ao perceber que ela não parecia nem um pouco grata, ele sentiu um nó na garganta, e suas pernas pareceram pesadas, como se estivessem presas ao chão.Lúcia, impaciente, o empurrou para o lado, enqua
Recordar todas essas memórias trouxe uma dor insuportável ao coração de Lúcia. Ondas de sofrimento invadiam seu corpo, uma após a outra.Leopoldo, que estava ao lado de Sílvio, notou Lúcia parada na porta, apertando e soltando os punhos repetidamente. Ele exclamou, surpreso:— Sra. Lúcia!Assim que Sílvio ouviu Leopoldo chamar seu nome, ele despertou de seu devaneio e rapidamente empurrou Giovana para longe. Ele não esperava encontrar Giovana ali e ficou atordoado com o abraço repentino.Quando se virou, viu Lúcia entrar na sala com uma expressão indiferente e se sentar no banco do autor.Sílvio sentiu que Lúcia havia entendido tudo errado. Ela deve ter visto algo que a fez tirar conclusões precipitadas.— Lúcia... — Sílvio tentou falar.Mas antes que ela pudesse responder, Giovana novamente enlaçou o braço de Sílvio.— Sílvio, quando soube que você teria audiência hoje, decidi vir te fazer uma surpresa. Vou ficar com você até o final.Que cena ridícula! Lúcia estava incomodada com a d
Eduardo murmurou, um pouco envergonhado:— Ah, eram só vitaminas... Eu pensei que você estivesse com algum problema de saúde.Os cílios de Lúcia tremeram, e antes que pudesse dizer qualquer coisa, o rosto de Sílvio escureceu. Ele odiava ouvir qualquer sugestão de que Lúcia pudesse estar doente. Seus olhos lançaram um olhar cortante na direção de Eduardo.— Todos podem ter problemas de saúde, menos ela.Como Lúcia poderia estar doente? Ela sempre foi mimada e cuidada com todo o zelo. E agora, grávida, não deixava de fazer nenhum exame pré-natal. Sílvio simplesmente não aceitava que algo pudesse acontecer com ela. Por isso, as palavras de Eduardo o irritaram.Eduardo, percebendo o clima tenso, deu um sorriso sem graça e se calou.Giovana, tentando amenizar a situação, disse:— Sílvio, o Eduardo só estava falando por falar. Você não precisa levar tão a sério.— Nem "por falar" eu aceito. — Sílvio respondeu, virando-se para Giovana com um olhar impaciente.Giovana, sem querer dar o gostinh
Logo depois, o vídeo mostrou Lúcia e Sandra. Lúcia segurava uma caixa de doces recém-comprados — Os favoritos de Abelardo.— Sílvio, o que você pensa que está fazendo? — Gritou Lúcia para ele, que estava na varanda.No vídeo, Sílvio olhou para Lúcia. Naquele instante, a câmera captou com clareza o momento em que Abelardo soltou repentinamente o pulso de Sílvio.Com um estrondo, Abelardo caiu da varanda, despencando com força aos pés de Lúcia e Sandra.Os doces nas mãos de Lúcia caíram no chão.O sangue quente espirrou no rosto de Lúcia e manchou as botas brancas de couro de Sandra.O vídeo foi interrompido abruptamente.No tribunal, o silêncio era absoluto. A atmosfera pesada e solene.Sílvio olhou para Lúcia, que estava no banco do autor, visivelmente em choque. Ele falou, com calma:— Se isso ainda não for suficiente, eu posso fornecer o restante do vídeo para provar minha inocência. Mas você sabe o que vem depois, né?— Este vídeo demonstra claramente que o réu é inocente. — Disse o
Três a dez anos de prisão. Mas Lúcia sabia que não viveria tanto tempo assim.Quando a sessão foi encerrada e o juiz e os demais deixaram o tribunal, Lúcia se levantou, distraída. Pôs a mochila nas costas e saiu sem sequer olhar para Sílvio e Giovana.— Sílvio, você pode me levar ao hospital? — Giovana perguntou, com a voz manhosa. — O Dr. Arthur disse que tem uma solução para tratar meu rosto. Queria sua ajuda para escolher.Lúcia não suportava mais ouvir as demonstrações de afeto entre eles. Com a mochila nas costas, saiu rapidamente da sala do tribunal.Seu estômago embrulhou, e a náusea subiu pela garganta. Correndo, ela foi para o banheiro.Sílvio desviou-se do toque de Giovana e franziu o cenho:— Eu não sou médico, como vou saber qual tratamento escolher? Use o que achar melhor. Dinheiro não é problema.— Sílvio... — Giovana mordeu o lábio, desapontada.Sílvio olhou para o Dr. Arthur, que estava ao lado:— Acompanhe Giovana de volta ao hospital.— Sim, senhor. — Respondeu o dout
Sílvio originalmente queria apenas confortá-la. Ele realmente estava com boas intenções, tentando fazê-la enxergar a verdade para que ela parasse de remoer a morte do pai, e principalmente para que não o acusasse de ser um assassino.Mas as palavras saíram de sua boca como se estivessem fora de controle, afiadas como facas, indo direto ao coração de Lúcia.Impaciente, Sílvio puxou o pulso de Lúcia com força, e, desequilibrada, ela bateu a testa contra o peito dele.— Vou te levar para casa!Essas palavras, "te levar para casa", eram tão doces.No passado, quando discutiam, ele sempre mantinha uma postura fria e distante. Mesmo quando cedia, o fazia de maneira severa, como agora, impaciente, agarrando seu pulso e insistindo em levá-la para casa.Ao lembrar-se disso, Lúcia teve um breve momento de confusão.— Sílvio! — Uma voz feminina soou, clara e aguda.Lúcia levantou o olhar e viu Giovana, vestida com um casaco de pele rosa, correndo em direção a eles.Giovana, ao ver Sílvio segurand