— Amanhã é o julgamento, Lúcia. Não tem mais volta. Já pensou que, depois disso, você e o Sílvio nunca mais poderão se reconciliar? Essa ferida nunca vai cicatrizar.Lúcia respirou fundo, apertando as mãos com força.Voltar atrás? Eles já tinham passado do ponto de retorno há muito tempo.Desde que Sílvio começou a traí-la com Giovana. Desde que ela foi diagnosticada com câncer em estágio avançado.Desde que seu pai sofreu o acidente de carro e Sílvio zombou de sua mãe pelo telefone.Desde que seu pai morreu, e sua mãe faleceu no caminho do enterro.A relação deles estava completamente destruída. Eles haviam passado de amantes apaixonados, que juraram amor eterno, para inimigos que não suportavam estar no mesmo ambiente.Ela não queria voltar ao que tinham antes. Se voltasse, estaria traindo a memória de seus pais. Eles teriam morrido em vão, e ela não era tão tola a esse ponto.Lúcia olhou para suas unhas pálidas, sem vida, como se refletissem o estado de sua alma, que também estava
— Eu estou rindo porque sua punição está prestes a chegar. — Lúcia soltou uma risada sarcástica.O sorriso em seus lábios era de escárnio, de provocação, quase como se estivesse assistindo a um espetáculo de tragédia iminente.Sílvio observou as estrelas cintilando nos olhos dela. Desde o acidente de Abelardo, ele não a via assim, tão radiante. Será que a desgraça dele a fazia tão feliz?Com a taça de vinho na mão, Sílvio deu alguns passos em direção a Lúcia:— Amanhã no tribunal, é quando eu vou receber essa tal “punição”? — Sua voz estava cheia de ironia, um deboche leve, como se tivesse o controle da situação, sem qualquer sinal de preocupação.— Sílvio, a justiça pode demorar, mas nunca falha. Você não vai escapar dessa. — O tom de Lúcia era firme.— Vamos ver. — Sílvio respondeu, com um sorriso ao canto dos lábios. Ao notar que o cabelo dela estava um pouco desalinhado, ele estendeu a mão, instintivamente, para arrumá-lo.Lúcia se afastou bruscamente: — Não ouse me tocar com essa
Para dar a ele uma sensação de segurança, Lúcia parou de usar maquiagem e de se vestir com esmero.Mas hoje era diferente. Hoje, ela enfrentaria Sílvio no tribunal, e queria estar no seu melhor.Depois de aplicar a base, desenhar as sobrancelhas e passar o batom, Lúcia olhou no espelho. A mulher que ela via agora parecia ter recuperado o brilho de antes, a aparência de uma pessoa saudável. Só então ela se sentiu mais tranquila.Às nove e quarenta, Eduardo enviou uma mensagem dizendo que o carro já estava esperando por ela lá embaixo.Lúcia respondeu rapidamente. Pegou uma garrafinha de água, uma embalagem de analgésicos e colocou tudo na mochila. Ela vestiu um par de tênis confortáveis e, antes de sair, pegou uma foto de seu pai que estava sobre a mesa.Ela passou a mão pelo rosto gentil de seu pai.— Pai, estou indo buscar justiça por você. Me proteja, por favor.Quando Eduardo viu Lúcia entrar no carro, ficou surpreso com a mudança em seu visual.— O que foi? Estou estranha? — Lúcia
No consultório do médico.- Sra. Lúcia, suas células cancerígenas já se espalharam para o fígado. Não há mais o que fazer. Nos dias que lhe restam, coma o que quiser, faça o que desejar, sem arrependimentos.- Quanto tempo eu ainda tenho?- Um mês, no máximo.Lúcia Baptista saiu do hospital. Sem tristeza, sem alegria, pegou o celular e ligou para seu marido, Sílvio. Pensou que, apesar de não estarem mais apaixonados, era necessário contar a ele sobre sua condição terminal.O celular tocou algumas vezes e foi desligado.Ligou novamente, mas já estava na lista de bloqueio.Tentou pelo WhatsApp, mas também estava bloqueada.O amargor em seu coração aumentou. Chegar a esse ponto no casamento era triste e lamentável.Sem desistir, foi à loja e comprou um novo chip, ligando novamente para Sílvio.Desta vez, ele atendeu rapidamente: - Alô, quem fala?- Sou eu. - Lúcia segurava o celular, mordendo os lábios, enquanto o vento cortante batia em seu rosto, como lâminas geladas.A voz do homem no
Lúcia fixava intensamente a foto, com um olhar afiado e sereno, como se quisesse perfurá-la.Ela realmente se arrependia de não ter enxergado a verdadeira natureza das pessoas ao seu redor.Sílvio era seu marido, Giovana era sua melhor amiga, e ambos, que sempre diziam que a retribuiriam, agora a traíam pelas costas, causando-lhe uma dor atroz!A amante se sentia tão no direito de exibir sua conquista na frente da esposa legítima, era uma desfaçatez sem igual!Lúcia era orgulhosa. Mesmo que a família Baptista agora estivesse nas mãos de Sílvio, ela ainda era a única herdeira legítima da família.Giovana não passava de uma aduladora que sempre a seguia, bajulando e tentando agradar.Lúcia bloqueou todas as formas de comunicação com Giovana. Porque ela sabia que Giovana, sozinha, não teria coragem de agir. E Sílvio era a mão que impulsionava as ações de Giovana.Para esperar Sílvio, ela não jantou, apenas tomou o analgésico prescrito pelo médico.O relógio na parede marcava onze horas. L
- Eu vou soltar fogos de artifício por dias e noites no seu funeral para comemorar sua morte! - Disse Sílvio.Ao ouvir isso, o coração de Lúcia, que já estava pendurado por um fio, se despedaçou completamente. Cada pedaço, ensanguentado, parecia impossível de juntar novamente.Era difícil imaginar o quão frio Sílvio poderia ser. Ele desejava sua morte com tanta indiferença, falando com um sorriso sarcástico.- Sílvio, se quer casar com a Giovana, vai ter que esperar eu morrer.O homem que ela havia moldado com suas próprias mãos havia sido seduzido por uma mulher sem escrúpulos. Ela não podia suportar essa humilhação.Se estavam destinados ao inferno, que fossem os três juntos.- Lúcia, ainda vai chegar o dia em que você vai chorar e implorar de joelhos para se divorciar de mim!O olhar penetrante de Sílvio estava frio como gelo. Sem qualquer hesitação, ele bateu a porta ao sair.Aquela noite, ela não conseguiu dormir. Não era por falta de vontade, mas porque simplesmente não conseguia
- Pode ser parcelado? - Lúcia perguntou com a voz trêmula.A funcionária do caixa, com uma expressão fria e acostumada a esse tipo de situação, respondeu: - Somos um hospital particular, não fazemos parcelamento. Ou você transfere seu pai ou providencia o dinheiro.As pessoas na fila atrás dela começaram a revirar os olhos e a reclamar:- Você vai pagar ou não? Se não, sai da frente, estamos esperando.- Exato, está ocupando o lugar à toa.- Se não tem dinheiro, por que veio ao hospital? Vai para casa esperar a morte!Lúcia levantou os olhos levemente e, com um pedido de desculpas, saiu da fila.Ela tinha poucos amigos e pedir dinheiro emprestado era fora de questão.A única pessoa que poderia ajudá-la era Sílvio.Ela ligou, mas ele não atendeu.Mandou uma mensagem: [Assunto urgente, atenda, Presidente Sílvio.]Era a primeira vez que ela o chamava de Presidente Sílvio.Primeira ligação, sem resposta. Segunda, terceira, também não.Ela continuou insistindo, sem desistir, mesmo com o co
Lúcia ouviu um zumbido nos ouvidos e sua visão ficou turva por um momento. Antes que pudesse reagir, sentiu suor frio na testa.Sandra, ainda furiosa, deu mais um tapa na filha.Lúcia quase caiu, mas uma enfermeira bondosa a segurou.Com a visão gradualmente recuperada, ela viu a mãe, furiosa, olhando para ela e gritando:- Sua ingrata! Eu te avisei para não fazer isso, mas você insistiu! Eu sempre disse que Sílvio não era bom para você, que ele tinha segundas intenções! Eu escolhi para você um bom partido, alguém do nosso nível, mas você preferiu um órfão, um segurança! E agora? Como ele te trata? Como ele nos trata? A família Baptista, que sempre foi tão respeitada, está arruinada por sua causa, tudo por sua culpa!Sandra, com o rosto vermelho de raiva, levantou a mão para bater de novo, mas foi contida pelos profissionais de saúde.Lúcia, com o rosto dolorido, tentou falar, mas não conseguiu emitir uma palavra. Tudo o que podia fazer era chorar de arrependimento.Na maca, o pai come