Lúcia já não conseguia mais se levantar de tanta dor; restava apenas rastejar pelo chão coberto de neve. O frio cortante penetrava seus dedos, percorrendo seus membros com uma intensidade avassaladora. Ela mordeu os lábios, determinada a continuar, deixando um rastro de sangue pelo caminho.Finalmente, chegou à porta do apartamento. Com muito esforço, estendeu a mão para alcançar a campainha, pressionando-a repetidamente. Lágrimas escorriam pelo seu rosto.— Sílvio, por favor, abre a porta! — Murmurou com a voz entrecortada. — Sílvio, estou com muita dor, me leva ao hospital!Ela continuou pressionando a campainha até que seus dedos ficaram dormentes, mas a porta permanecia fechada.Na sua mente, as palavras cruéis de Sílvio ecoavam: "Lúcia, por que você ainda não morreu? Seu funeral será inesquecível! Vou decorar tudo com sua cor favorita: rosa. Até as flores e os fogos de artifício serão rosa! Desejo que você desça ao inferno!"As palavras de Giovana também não paravam de atormentá-l
Ao pensar na vida que outrora fora tão promissora, na juventude que florescia como uma bela flor, Lúcia não conseguia evitar a tristeza ao ver tudo se transformar em um caos absoluto. Ela tinha nas mãos um jogo vencedor, mas o jogou fora de maneira desastrosa.Lembrou-se do juramento que fez com Sílvio, de serem companheiros por toda a vida, mas agora, tudo o que restava era um ressentimento profundo. Uma lágrima deslizou pelo canto do seu olho, caindo na neve branca, onde desapareceu instantaneamente.“Adeus, Sílvio.” Lúcia sussurrou silenciosamente em sua mente.Dentro do apartamento, Sílvio ainda estava debaixo do chuveiro, tomando um banho frio. A água gelada escorria pelo seu corpo musculoso e definido, batendo com força contra sua pele. As gotas caíam pelo rosto, deslizando pelo nariz proeminente, até que ele mal conseguia manter os olhos abertos.Ele ficou ali, sob a água fria, por muito tempo, mas a raiva em seu coração não passava.Sílvio realmente não conseguia entender. A Lú
Ele nunca havia tomado a iniciativa de contatá-la, e ela também não o procurou. Aos olhos dele, Lúcia era orgulhosa demais.Mesmo com a família Baptista em decadência, ela jamais baixou a cabeça. Foi só quando Abelardo sofreu o acidente de carro que ela cedeu pela primeira vez. Na verdade, não se tratava de uma rendição, mas de uma submissão temporária.Depois de abotoar o paletó, ele escolheu um relógio e, ao colocá-lo no pulso, saiu do closet.Sílvio pegou o celular que estava em cima da mesa de centro. Na tela, apareciam várias notificações de chamadas bloqueadas.Ele abriu a lista de detalhes e deu uma rápida olhada. Seu olhar se tornou sombrio.Lúcia havia ligado trinta vezes, mas, por estar no banho, ele não atendeu. Embora, mesmo se não estivesse no banho, ele também não atenderia. Ele não se deixaria mais enganar por suas lágrimas ou ceder às suas manipulações!Sílvio colocou o celular de volta na mesa, pegou um charuto e começou a fumar.Se alguém não valoriza a chance que rec
A mulher, com o rosto pálido, estava deitada silenciosamente nos braços de Sílvio. Não importava o quanto ele a sacudisse ou gritasse de raiva, seus olhos continuavam fechados, sem sinal de que iriam se abrir.Sílvio estendeu a mão e, com cuidado, sentiu a respiração dela. Seu rosto mudou imediatamente de cor — a respiração de Lúcia estava tão fraca que era quase inexistente!O pânico tomou conta dele. Como isso podia estar acontecendo? Ele só queria puni-la um pouco, como as coisas tinham ficado tão graves? Como ela poderia estar quase sem respirar?Ele a pegou no colo, carregando-a como uma folha seca prestes a cair de uma árvore, tão leve que não parecia pesar como uma pessoa normal.Com Lúcia nos braços, Sílvio correu até a garagem, colocando-a no banco do passageiro. Rápido, ele afivelou o cinto de segurança nela, pisou fundo no acelerador e disparou em direção ao hospital.No caminho, Sílvio ligou para o Dr. Arthur. Ao ouvir a situação, o médico já esperava no hospital e alertou
Ao pensar nisso, Lúcia sentiu o estômago revirar. Sua cabeça pendeu e, de repente, ela cuspiu um jato de sangue vivo. O líquido vermelho brilhante manchou sua jaqueta branca de penas, sujando suas bochechas e os cantos da boca. O gosto metálico do sangue tomou conta de sua boca.— Lúcia! — Sílvio entrou em pânico. Ela tinha vomitado sangue bem na frente dele novamente!Ele girou o volante ao máximo, acelerando como nunca antes. Ele estava perdendo o controle, sentindo que Lúcia estava prestes a deixá-lo para sempre.Desesperado, Sílvio buscava uma forma de mantê-la viva. No fim, escolheu o que sabia fazer de melhor: ameaçá-la. Não tinha outra opção.— Aguenta firme! Pense na família Baptista! Pense na sua mãe, no seu pai! Lúcia, se você sobreviver, eu vou retomar o tratamento do Abelardo! Seus pais só têm você. Se você morrer, como eles vão seguir em frente? — Disse Sílvio, com a voz tomada pelo desespero.Lúcia esboçou um sorriso amargo. Se ele tivesse cedido antes, ela não teria fica
Lúcia abriu os olhos, grandes e cheios de raiva, sentindo o peito apertado, como se a ira estivesse presa e não conseguisse sair. Ela respirava com dificuldade, ofegante.Sílvio se aproximou, e ela, mesmo sem forças, tentou agarrar com dificuldade a camisa branca que ele usava por baixo do terno.Aquele canalha estava ameaçando-a com os pais dela de novo!— Então, se quer morrer, morra! Mas saiba que vai arcar com as consequências, e eu não me importo com isso! Abelardo já deveria ter morrido há tempos. Vocês três juntos no inferno, que lindo, né? Faço questão de encomendar um caixão enorme, para que possam ir de mãos dadas para o inferno. — Disse Sílvio, rindo.A mãe dela era sogra dele, o pai, sogro. Como ele podia falar essas barbaridades com tanta leveza e ainda por cima sorrindo?Lúcia não tinha mais forças nem para xingá-lo. Agarrava a camisa dele com força, amassando o tecido. As lágrimas nublaram novamente sua visão. Até o último momento, ela ainda tinha a ilusão de que ele cui
Ele e Lúcia sempre foram uma tragédia anunciada. A aproximação dele com ela nunca foi por amor, mas por vingança. Ele não deveria ter alimentado ilusões de cultivar um sentimento verdadeiro, de tentar reviver o passado.Sílvio observava a luz no horizonte se apagar lentamente, enquanto a lua e as estrelas subiam pelo céu. Mas a porta da sala de cirurgia continuava fechada.A ansiedade de Sílvio era palpável.Leopoldo, ao saber da notícia, também havia chegado. Trouxe uma refeição para Sílvio, que havia passado o dia inteiro sem comer. Com a perda do filho, Sílvio estava furioso e chocado. Ele sofria de problemas estomacais, e no início, o estômago doía, mas depois se tornou insensível.Sílvio lançou um olhar para a caixa de comida que Leopoldo havia lhe oferecido. Não tinha apetite. Na verdade, ele já havia passado da fome. Agora, só queria saber como Lúcia estava, se havia superado o perigo.— Presidente Sílvio, é melhor comer algo. O senhor já tem problemas no estômago. — Disse Leopo
A verdade era que Dr. Arthur havia administrado um medicamento a Lúcia para que ela morresse sem que ninguém percebessem, cumprindo assim as ordens de Giovana. Esse segredo ele jamais revelaria a Sílvio.— Presidente Sílvio, a Sra. Lúcia está grávida novamente, acabou de ser descoberto, está com duas semanas de gestação. Por favor, aceite minhas condolências. — Disse Dr. Arthur, sem mentir. O corpo de Lúcia realmente não estava em condições de suportar uma nova gravidez, mas mal havia sofrido um aborto e já estava grávida novamente.Giovana estava impaciente, então havia instruído Dr. Arthur a agir, da mesma forma que fez com Olga, para que Lúcia morresse na sala de cirurgia sem deixar rastros.O rosto de Sílvio mudou drasticamente. Grávida? O filho deles havia acabado de ser perdido e agora ela estava esperando outro? O filho deles estava voltando!Como poderia ela morrer agora? Ela não podia morrer, não podia!Sílvio entrou apressado na sala de cirurgia e foi até a mesa de operação.