Ele e Lúcia sempre foram uma tragédia anunciada. A aproximação dele com ela nunca foi por amor, mas por vingança. Ele não deveria ter alimentado ilusões de cultivar um sentimento verdadeiro, de tentar reviver o passado.Sílvio observava a luz no horizonte se apagar lentamente, enquanto a lua e as estrelas subiam pelo céu. Mas a porta da sala de cirurgia continuava fechada.A ansiedade de Sílvio era palpável.Leopoldo, ao saber da notícia, também havia chegado. Trouxe uma refeição para Sílvio, que havia passado o dia inteiro sem comer. Com a perda do filho, Sílvio estava furioso e chocado. Ele sofria de problemas estomacais, e no início, o estômago doía, mas depois se tornou insensível.Sílvio lançou um olhar para a caixa de comida que Leopoldo havia lhe oferecido. Não tinha apetite. Na verdade, ele já havia passado da fome. Agora, só queria saber como Lúcia estava, se havia superado o perigo.— Presidente Sílvio, é melhor comer algo. O senhor já tem problemas no estômago. — Disse Leopo
A verdade era que Dr. Arthur havia administrado um medicamento a Lúcia para que ela morresse sem que ninguém percebessem, cumprindo assim as ordens de Giovana. Esse segredo ele jamais revelaria a Sílvio.— Presidente Sílvio, a Sra. Lúcia está grávida novamente, acabou de ser descoberto, está com duas semanas de gestação. Por favor, aceite minhas condolências. — Disse Dr. Arthur, sem mentir. O corpo de Lúcia realmente não estava em condições de suportar uma nova gravidez, mas mal havia sofrido um aborto e já estava grávida novamente.Giovana estava impaciente, então havia instruído Dr. Arthur a agir, da mesma forma que fez com Olga, para que Lúcia morresse na sala de cirurgia sem deixar rastros.O rosto de Sílvio mudou drasticamente. Grávida? O filho deles havia acabado de ser perdido e agora ela estava esperando outro? O filho deles estava voltando!Como poderia ela morrer agora? Ela não podia morrer, não podia!Sílvio entrou apressado na sala de cirurgia e foi até a mesa de operação.
O que ele poderia fazer? Como poderia segurar a vida dela?Não importava o quanto Sílvio a ameaçasse ou a provocasse, nada parecia surtir efeito. Seus olhos estavam como que lacrados, incapazes de se abrir.Sílvio estava com os olhos vermelhos e lágrimas escorrendo. Aquela mulher era realmente insensível! Mesmo esperando um filho dele, ela ainda escolhia deixá-lo. Era o cúmulo do egoísmo. Nem mesmo a família Baptista ela parecia se importar mais, a vida de Abelardo não era mais uma preocupação. Seus pais realmente haviam perdido tempo com ela!Lembrou-se das vezes em que Lúcia lhe perguntava com um olhar triste: “Sílvio, se um dia você descobrir que eu desapareci para sempre, que não há mais como me encontrar, você ficaria triste? Você choraria?”Ele havia respondido na época: “Não. Eu faria uma grande queima de fogos em seu funeral, desejando que você vá direto para o inferno.”Mas como ele poderia não estar triste? Como poderia não chorar?Sílvio sentia um aperto profundo no peito, u
Sílvio já estava irritado, e ao ouvir Leopoldo falar, sua raiva só aumentou:— Cala a boca!— Presidente Sílvio, sei que é difícil para o senhor aceitar a partida da senhora Lúcia, mas ela se foi. Deixe-a partir com dignidade. Vamos levá-la ao crematório, arrumá-la, vesti-la. Ela sempre gostou de estar bonita, com certeza não gostaria de partir desarrumada. — Insistiu Leopoldo, apesar do risco.Lúcia havia sido bondosa com ele, afinal, fora ela quem o apresentara à sua esposa. Ele também não queria que Lúcia morresse. Ela era tão boa, e ainda assim teve esse destino cruel. Quem disse que o bem sempre vence? Leopoldo sentia um aperto crescente no peito.Sílvio levantou-se do chão, colocou Lúcia de lado e avançou sobre Leopoldo, agarrando-o pelo colarinho e gritando:— Quem disse que ela morreu? Ela não pode ter morrido!— Presidente Sílvio...Leopoldo não esperava que seu chefe fosse tão obstinado. Talvez ele amasse tanto Lúcia que não conseguia aceitar a realidade.Sílvio soltou o cola
Abelardo continuava em estado vegetativo, sem mostrar qualquer sinal de melhora. Os aparelhos e os frascos de soro que deveriam estar conectados a ele haviam desaparecido, deixando-o lá, deitado como um morto-vivo, totalmente inerte.Sandra tentava ligar para Lúcia, mas, após várias tentativas, ninguém atendia. Ela queria saber se Lúcia havia conseguido contatar Sílvio e quando Abelardo poderia voltar a receber os medicamentos. Do jeito que as coisas estavam, seria uma questão de tempo até que algo pior acontecesse.Mas Lúcia não atendia, e Sandra, já desesperada, sentia-se cada vez mais frustrada.— Lúcia, por que está agindo como uma criança agora? Por que não atende o telefone? Conseguiu falar com aquele desgraçado do Sílvio ou não? — Sandra murmurava, enxugando as lágrimas que escorriam pelo rosto.Mal sabia ela que Sílvio já estava atrás dela, observando-a sem qualquer expressão:— Está me procurando?A voz fria e repentina fez Sandra estremecer. Ela virou-se devagar e encontrou S
Sílvio ficou ainda mais irritado, apertando o pulso dela com força e soltando um riso frio:— Dona Sandra, se for inteligente, trate de fazer com que ela acorde! Caso contrário, você e seu marido vão pagar um preço alto!— Sílvio! — Sandra rosnou.Ele era seu genro, mas falava sem o menor respeito, como se não houvesse nenhuma hierarquia. Que outra palavra existiria para descrever um ingrato como ele? A raiva crescia dentro de Sandra.Sílvio soltou o pulso dela de repente, fazendo-a perder o equilíbrio e quase cair ao lado da mesa cirúrgica. Por pouco, não foi ao chão, sendo amparada rapidamente por Leopoldo.Sandra sabia que Leopoldo era subordinado de Sílvio, então não fez questão de esconder seu desdém, afastando-se dele com um movimento brusco para que não a tocasse.— Se Lúcia acordar, eu volto a tratar seu marido! Caso contrário, se prepare para organizar dois funerais! — Sílvio lançou um olhar gelado para Sandra antes de sair da sala de cirurgia.Leopoldo, visivelmente preocupad
— Lúcia, você está me ouvindo? Por favor, acorde. Não dorme mais. Não há problema na vida que não possa ser superado. Lúcia... — Sandra chorava tanto que quase perdeu a consciência.De repente, ela notou que os dedos de Lúcia começaram a tremer levemente!— Lúcia, você ouviu o que eu disse, né? Eu sabia que você podia me ouvir! Por favor, abra os olhos e olhe para mim! Vamos esperar seu pai acordar juntas, e voltaremos a ser uma família feliz, nós três! Minha querida filha, não se perca em pensamentos sombrios. Mesmo com todas as dificuldades que estamos enfrentando, ainda há pessoas que te amam muito. Eu te amo tanto, e seu pai e eu somos as pessoas que mais te amam neste mundo. Se alguém tem que morrer, eu preferia trocar a minha vida pela sua. Você ainda é jovem, tem apenas vinte e três anos. Se eu morrer, não faz mal, mas você não pode morrer. Lúcia, eu estou no meu limite... Se algo te acontecer, eu estou acabada. Você sabe que é minha razão de viver, e tudo que eu suportei até ho
Lúcia estava sendo apertada tão fortemente pela mãe que quase não conseguia respirar. Mesmo assim, ela também estendeu os braços para abraçá-la de volta. Ao seu redor, só se ouvia o choro emocionado de Sandra, que estava aliviada e eufórica por ver sua filha acordar.Ao levantar o olhar, Lúcia notou alguns fios prateados no cabelo preso de sua mãe. Ela se lembrou que, antes de se casar, o cabelo de Sandra era longo e negro, e naquela época, seu pai também estava cheio de vitalidade, sempre impecável.Mas foi por causa de uma escolha errada que, em pouco mais de um ano, a família Baptista desmoronou. Primeiro, seu pai caiu das escadas e desenvolveu Alzheimer. Depois, sofreu um acidente de carro, e o culpado nunca foi encontrado!Todo o peso das responsabilidades caiu então sobre Sandra, que envelheceu dez anos de uma hora para outra, ganhando cabelos brancos. O que deveria ter sido uma aposentadoria tranquila foi destruído pelas próprias mãos de Lúcia!Sua garganta parecia estar cortada