A mulher entrou na suíte presidencial e percebeu que o quarto onde Lúcia estava hospedada tinha a mesma categoria que o dela.Era evidente que Lúcia realmente queria ser generosa e ajudar.Agora, com sua filha Célia nas mãos de Giovana, ela não tinha mais como resistir ou lutar. Só podia sentir-se culpada em relação a Lúcia.Lúcia fechou a porta e perguntou: - Você quer beber alguma coisa?- Srta. Lúcia, não precisa se incomodar. Eu só vim dizer algumas coisas e já vou embora.A mulher ajustou a máscara e mordeu os lábios em voz baixa.Mesmo assim, Lúcia fez uma xícara de café e entregou-a com as duas mãos.Ela pegou o copo descartável, sentindo um calor reconfortante nas mãos.A mulher colocou o café na mesa e enfiou a mão no bolso do casaco. Dentro do bolso, estava a faca de mola, que ela segurava firmemente.Ela esperava que Lúcia baixasse a guarda para então golpeá-la fatalmente.Lúcia sentou-se na beirada da cama, cruzou as pernas e olhou para ela com preocupação: - Você está de
- Quem? Os olhos turvos da velha passearam pelo rosto de Lúcia, percebendo que ela não era moradora do Bairro das Árvores.Lúcia entendeu que a velha estava com a audição comprometida pela idade e, aproximando-se do ouvido dela, elevou a voz: - Sílvio! Sílvio!A velha ficou pensativa por um momento e, então, assentiu: - Conheço, conheço sim. Somos do mesmo vilarejo, como não iria conhecê-lo?Lúcia tirou uma nota da carteira e a estendeu para a velha: - Dona, a senhora pode me levar até a casa dele? Esses cem reais são para você.- Claro, claro.Os olhos apagados da velha brilharam instantaneamente.Neste vilarejo, a maioria dos moradores eram idosos. Os jovens saíam para trabalhar e raramente voltavam para casa. Os idosos, sem dinheiro e força para trabalhar, viviam com muitas dificuldades.A velha agarrou a nota da mão de Lúcia rapidamente, como se temesse que ela se arrependesse: - Filha, eu te levo lá.Seguiram por um caminho estreito entre os campos, onde Lúcia pisava nas folh
A velha balançou a cabeça: - Não, foi um terremoto há alguns anos que deixou a casa assim. Todo mundo no nosso vilarejo já reformou suas casas, só essa família ainda morava numa casa dos anos 80. Filha, a gente não pode ficar aqui dentro muito tempo. Essa casa está muito desgastada pelo vento e pela chuva, pode desabar e nos enterrar aqui.A velha entrou na casa, inquieta, seguindo Lúcia.O chão era de terra batida, irregular, com uma poça de cinzas. Havia um buraco no chão que Lúcia não conseguia entender para que servia.As vigas caídas no chão estavam queimadas, restando apenas pequenos pedaços. Havia também alguns pedaços curtos de madeira, que a velha disse serem da cama.Ao olhar em volta, tudo o que se via eram ruínas. As vigas queimadas estavam cobertas de mofo e algumas tinham até cogumelos crescendo nelas.O ar estava impregnado com o cheiro de umidade e mofo.- Aquele incêndio na casa do Sílvio foi criminoso? - Lúcia perguntou, mordendo os lábios enquanto saía da casa.Ao l
Lúcia pensou que, como seus sogros eram tão bem quistos no vilarejo, provavelmente algum bom samaritano os ajudou a reformar o túmulo. Na roça, as pessoas geralmente eram bondosas e simples.Mas a velha balançou a cabeça: - Não foi bem assim. Eles foram enterrados pelo pessoal do vilarejo, fizemos apenas um pequeno monte de terra e, nas festividades, levávamos flores para eles. Alguns anos depois, esse túmulo apareceu do nada. Perguntei ao pessoal do vilarejo, mas ninguém sabia quem tinha feito. Deve ter sido algum amigo do pai do Sílvio. Esse homem é misterioso, ninguém nunca o viu. As oferendas e as velas no túmulo nunca faltaram.Ao ouvir isso, Lúcia imediatamente deduziu que o homem misterioso era Sílvio.Sílvio devia visitar o túmulo dos pais durante a noite, por isso ninguém nunca o viu.Lúcia pediu um isqueiro emprestado à velha, rasgou a embalagem e acendeu as velas.As chamas alaranjadas tremulavam incessantemente, enquanto a fumaça subia e fazia seus olhos lacrimejarem. A v
Quando Lúcia se virou para olhar, só viu uma multidão de vendedores e compradores, vozes de barganha, e o som de buzinas de bondes. Não havia ninguém a seguindo.Será que sua mente estava pregando peças nela devido ao estresse recente?Na delegacia, após explicar o motivo de sua visita, os policiais, muito solícitos, trouxeram uma pilha de documentos para Lúcia.Ela pegou os papéis, agradeceu e começou a ler atentamente.Ao dar uma olhada rápida no relatório de encerramento do caso, ficou surpresa: - Incêndio causado por fiação elétrica antiga?- Sim, há fotos nos documentos posteriores, você pode conferir. A casa da família das vítimas foi construída há duas gerações. A fiação nunca foi trocada desde a construção. A vida útil dos fios geralmente é de vinte anos, e a fiação deles já tinha ultrapassado esse prazo, estava severamente deteriorada. Na noite do incidente, a fiação entrou em combustão espontânea, e ninguém percebeu a tempo. A casa de barro estava cheia de lenha para o inver
- Como você está aqui? - Lúcia perguntou, surpresa ao ver a mulher, e sorriu.Ao longo do caminho, ela sempre encontrava essa mulher, de um jeito ou de outro, coincidências demais para serem apenas coincidências. Será que essa mulher estava a seguindo?Olga sorriu e disse: - Tenho me sentido mal ultimamente, então estou andando por aí. Não esperava encontrar você aqui, é o destino.- O que você quer de presente de aniversário? - Perguntou Lúcia.Lúcia, ao ouvir isso, afastou suas suspeitas. Esta mulher tinha sido enganada por um cafajeste e estava apenas tentando espairecer. Como poderia desconfiar dela?Os olhos de Olga perderam o foco por um instante, mas logo voltou ao normal: - Sua presença é o maior presente. Posso perguntar o que você gostaria de ganhar?- Você vai me dar um presente? - Lúcia perguntou de volta.Olga não negou: - Sim, será algo que você goste. Mas vai demorar uns vinte dias para chegar.Lúcia ouviu isso e não reagiu, nem triste nem feliz, seus olhos permanecia
- Tenho, só um momento. - Lúcia tirou a mochila, abriu o zíper e retirou algumas notas antigas da carteira, entregando-as à diretora. - Isso é apenas uma parte, foi uma amiga que fez a doação por mim.A diretora pegou os recibos, digitou os números no computador, e sua expressão ficou ainda mais séria. Ela levantou os olhos, olhando atentamente para os papéis, e logo percebeu algo estranho: - Srta. Lúcia, parece que sua amiga te enganou. Não conseguimos encontrar esses números no nosso sistema, e esse carimbo não é nosso. É falso.Para provar, a diretora pegou o carimbo verdadeiro do orfanato Nossa Senhora e o mostrou a Lúcia.Lúcia rapidamente percebeu o problema. O carimbo nos recibos dizia “Orfanato Nossa Senhora do Bairro das Árvores”, enquanto o carimbo verdadeiro dizia “Orfanato Nossa Senhora da Rua das Árvores”.Os recibos eram falsos!- Pode verificar as doações feitas por Giovana Fonseca? Quero saber o que ela doou. - Lúcia mordeu os lábios.Os dedos da diretora dançaram habi
Nenhuma ligação, nenhuma mensagem.Ela abriu a janela de conversa no WhatsApp e então se lembrou de que Sílvio a tinha bloqueado.Clicou na foto de perfil dele. A imagem de capa era fria e resoluta, assim como ele.Din-don.Uma notificação apareceu no celular.Ela abriu a mensagem. O serviço meteorológico havia emitido um alerta laranja para neve e gelo.As estradas estavam cobertas de gelo, e o local chamado Ponte Quebrada foi especialmente mencionado nas notícias, aconselhando as pessoas a evitarem a área devido ao risco de avalanches.O serviço meteorológico dizia que essa poderia ser a maior nevasca dos últimos dez anos.Lúcia pensou em avisar a mulher para não ir à Ponte Quebrada, pois poderia ser perigoso.Fazer aniversário em outro lugar seria igualmente bom.Mas ela não tinha o número da mulher, nem qualquer outra forma de contato, elas eram apenas conhecidas casuais.Lúcia imaginou que a mulher provavelmente tinha visto o alerta do serviço meteorológico e não sairia de casa.D