Lúcia pensou que, como seus sogros eram tão bem quistos no vilarejo, provavelmente algum bom samaritano os ajudou a reformar o túmulo. Na roça, as pessoas geralmente eram bondosas e simples.Mas a velha balançou a cabeça: - Não foi bem assim. Eles foram enterrados pelo pessoal do vilarejo, fizemos apenas um pequeno monte de terra e, nas festividades, levávamos flores para eles. Alguns anos depois, esse túmulo apareceu do nada. Perguntei ao pessoal do vilarejo, mas ninguém sabia quem tinha feito. Deve ter sido algum amigo do pai do Sílvio. Esse homem é misterioso, ninguém nunca o viu. As oferendas e as velas no túmulo nunca faltaram.Ao ouvir isso, Lúcia imediatamente deduziu que o homem misterioso era Sílvio.Sílvio devia visitar o túmulo dos pais durante a noite, por isso ninguém nunca o viu.Lúcia pediu um isqueiro emprestado à velha, rasgou a embalagem e acendeu as velas.As chamas alaranjadas tremulavam incessantemente, enquanto a fumaça subia e fazia seus olhos lacrimejarem. A v
Quando Lúcia se virou para olhar, só viu uma multidão de vendedores e compradores, vozes de barganha, e o som de buzinas de bondes. Não havia ninguém a seguindo.Será que sua mente estava pregando peças nela devido ao estresse recente?Na delegacia, após explicar o motivo de sua visita, os policiais, muito solícitos, trouxeram uma pilha de documentos para Lúcia.Ela pegou os papéis, agradeceu e começou a ler atentamente.Ao dar uma olhada rápida no relatório de encerramento do caso, ficou surpresa: - Incêndio causado por fiação elétrica antiga?- Sim, há fotos nos documentos posteriores, você pode conferir. A casa da família das vítimas foi construída há duas gerações. A fiação nunca foi trocada desde a construção. A vida útil dos fios geralmente é de vinte anos, e a fiação deles já tinha ultrapassado esse prazo, estava severamente deteriorada. Na noite do incidente, a fiação entrou em combustão espontânea, e ninguém percebeu a tempo. A casa de barro estava cheia de lenha para o inver
- Como você está aqui? - Lúcia perguntou, surpresa ao ver a mulher, e sorriu.Ao longo do caminho, ela sempre encontrava essa mulher, de um jeito ou de outro, coincidências demais para serem apenas coincidências. Será que essa mulher estava a seguindo?Olga sorriu e disse: - Tenho me sentido mal ultimamente, então estou andando por aí. Não esperava encontrar você aqui, é o destino.- O que você quer de presente de aniversário? - Perguntou Lúcia.Lúcia, ao ouvir isso, afastou suas suspeitas. Esta mulher tinha sido enganada por um cafajeste e estava apenas tentando espairecer. Como poderia desconfiar dela?Os olhos de Olga perderam o foco por um instante, mas logo voltou ao normal: - Sua presença é o maior presente. Posso perguntar o que você gostaria de ganhar?- Você vai me dar um presente? - Lúcia perguntou de volta.Olga não negou: - Sim, será algo que você goste. Mas vai demorar uns vinte dias para chegar.Lúcia ouviu isso e não reagiu, nem triste nem feliz, seus olhos permanecia
- Tenho, só um momento. - Lúcia tirou a mochila, abriu o zíper e retirou algumas notas antigas da carteira, entregando-as à diretora. - Isso é apenas uma parte, foi uma amiga que fez a doação por mim.A diretora pegou os recibos, digitou os números no computador, e sua expressão ficou ainda mais séria. Ela levantou os olhos, olhando atentamente para os papéis, e logo percebeu algo estranho: - Srta. Lúcia, parece que sua amiga te enganou. Não conseguimos encontrar esses números no nosso sistema, e esse carimbo não é nosso. É falso.Para provar, a diretora pegou o carimbo verdadeiro do orfanato Nossa Senhora e o mostrou a Lúcia.Lúcia rapidamente percebeu o problema. O carimbo nos recibos dizia “Orfanato Nossa Senhora do Bairro das Árvores”, enquanto o carimbo verdadeiro dizia “Orfanato Nossa Senhora da Rua das Árvores”.Os recibos eram falsos!- Pode verificar as doações feitas por Giovana Fonseca? Quero saber o que ela doou. - Lúcia mordeu os lábios.Os dedos da diretora dançaram habi
Nenhuma ligação, nenhuma mensagem.Ela abriu a janela de conversa no WhatsApp e então se lembrou de que Sílvio a tinha bloqueado.Clicou na foto de perfil dele. A imagem de capa era fria e resoluta, assim como ele.Din-don.Uma notificação apareceu no celular.Ela abriu a mensagem. O serviço meteorológico havia emitido um alerta laranja para neve e gelo.As estradas estavam cobertas de gelo, e o local chamado Ponte Quebrada foi especialmente mencionado nas notícias, aconselhando as pessoas a evitarem a área devido ao risco de avalanches.O serviço meteorológico dizia que essa poderia ser a maior nevasca dos últimos dez anos.Lúcia pensou em avisar a mulher para não ir à Ponte Quebrada, pois poderia ser perigoso.Fazer aniversário em outro lugar seria igualmente bom.Mas ela não tinha o número da mulher, nem qualquer outra forma de contato, elas eram apenas conhecidas casuais.Lúcia imaginou que a mulher provavelmente tinha visto o alerta do serviço meteorológico e não sairia de casa.D
O vento frio cortava o rosto de Lúcia como lâminas afiadas, deixando-a entorpecida de dor. O vento forte dificultava sua respiração, tornando cada inspiração um desafio. Seus dedos longos e finos, segurando uma caixa de bolo bem decorada, já estavam dormentes.Lúcia caminhava devagar, afundando os pés na neve, que rangia a cada passo.Ela levou dez minutos para chegar à Ponte Quebrada. A ponte levava a uma pequena colina onde havia um templo famoso na região. O templo era conhecido por realizar pedidos de amor, atraindo muitos turistas.Mas agora, com a neve caindo intensamente, a ponte estava deserta, um contraste gritante com a habitual movimentação. Tudo ao redor era um mar de branco, criando uma atmosfera opressiva.Lúcia olhou ao redor, sem ver ninguém. A neve caía cada vez mais forte, acumulando-se em seus cílios.Perto dali, havia um carro abandonado, sem placa, coberto de neve. Apenas os limpadores de para-brisa funcionavam, limpando a neve do vidro da frente.Olga estava den
Lúcia tremeu e, seguindo o som, levantou a cabeça para olhar o céu.Fogos de artifício subiam continuamente, explodindo como flores no céu escuro, e depois desapareciam gradualmente. Logo em seguida, mais fogos explodiam no céu.Que fogos lindos.Lúcia olhou ao redor e viu que os fogos estavam sendo lançados de todos os lados.Aquela mulher veio!“Ela realmente veio, ainda bem que eu trouxe um bolo, senão seria muito constrangedor vir de mãos vazias.” Pensou Lúcia.O ar estava impregnado com o cheiro de pólvora.Não sabia por que, mas mesmo sendo aniversário de outra pessoa, Lúcia sentia uma vontade inexplicável de chorar, com os olhos piscando incessantemente.Lúcia lembrou-se dos aniversários antes de sua briga com Sílvio, quando seu pai ainda não sofria de demência. Todo ano, Sílvio comprava muitos fogos de artifício para serem lançados na praia.Seu aniversário era em abril, uma época de primavera vibrante.Já o aniversário de Sílvio, assim como o daquela mulher, era em pleno inver
O telefone tocava incessantemente, como uma pedra pressionando seu coração.Tocou por um minuto, sem resposta.Com os dedos trêmulos, Lúcia tentou ligar novamente, mas ninguém atendeu.Sem desistir, ela enviou uma mensagem para Sílvio usando o novo número: [Sílvio, atende o telefone, me salva.]Ela discou novamente para o número de Sílvio.No escritório da presidência do Grupo Baptista.Sentada no sofá, Giovana olhou ao redor para se certificar de que ninguém entraria no escritório. Então, tirou um pequeno pacote de dentro da bolsa, levantou-se e caminhou rapidamente até a mesa.Depois de tantos anos ao lado de Sílvio, ele nunca tinha se interessado por ela. Mas hoje ela estava determinada a passar a noite com ele.Giovana rasgou o pacote e despejou o pó branco no copo de água, mexendo até que se dissolvesse completamente.Era uma droga afrodisíaca especialmente formulada para o corpo de Sílvio. Uma vez que ele bebesse, não teria como resistir.O celular na mesa começou a vibrar novam