O vento frio cortava o rosto de Lúcia como lâminas afiadas, deixando-a entorpecida de dor. O vento forte dificultava sua respiração, tornando cada inspiração um desafio. Seus dedos longos e finos, segurando uma caixa de bolo bem decorada, já estavam dormentes.Lúcia caminhava devagar, afundando os pés na neve, que rangia a cada passo.Ela levou dez minutos para chegar à Ponte Quebrada. A ponte levava a uma pequena colina onde havia um templo famoso na região. O templo era conhecido por realizar pedidos de amor, atraindo muitos turistas.Mas agora, com a neve caindo intensamente, a ponte estava deserta, um contraste gritante com a habitual movimentação. Tudo ao redor era um mar de branco, criando uma atmosfera opressiva.Lúcia olhou ao redor, sem ver ninguém. A neve caía cada vez mais forte, acumulando-se em seus cílios.Perto dali, havia um carro abandonado, sem placa, coberto de neve. Apenas os limpadores de para-brisa funcionavam, limpando a neve do vidro da frente.Olga estava den
Lúcia tremeu e, seguindo o som, levantou a cabeça para olhar o céu.Fogos de artifício subiam continuamente, explodindo como flores no céu escuro, e depois desapareciam gradualmente. Logo em seguida, mais fogos explodiam no céu.Que fogos lindos.Lúcia olhou ao redor e viu que os fogos estavam sendo lançados de todos os lados.Aquela mulher veio!“Ela realmente veio, ainda bem que eu trouxe um bolo, senão seria muito constrangedor vir de mãos vazias.” Pensou Lúcia.O ar estava impregnado com o cheiro de pólvora.Não sabia por que, mas mesmo sendo aniversário de outra pessoa, Lúcia sentia uma vontade inexplicável de chorar, com os olhos piscando incessantemente.Lúcia lembrou-se dos aniversários antes de sua briga com Sílvio, quando seu pai ainda não sofria de demência. Todo ano, Sílvio comprava muitos fogos de artifício para serem lançados na praia.Seu aniversário era em abril, uma época de primavera vibrante.Já o aniversário de Sílvio, assim como o daquela mulher, era em pleno inver
O telefone tocava incessantemente, como uma pedra pressionando seu coração.Tocou por um minuto, sem resposta.Com os dedos trêmulos, Lúcia tentou ligar novamente, mas ninguém atendeu.Sem desistir, ela enviou uma mensagem para Sílvio usando o novo número: [Sílvio, atende o telefone, me salva.]Ela discou novamente para o número de Sílvio.No escritório da presidência do Grupo Baptista.Sentada no sofá, Giovana olhou ao redor para se certificar de que ninguém entraria no escritório. Então, tirou um pequeno pacote de dentro da bolsa, levantou-se e caminhou rapidamente até a mesa.Depois de tantos anos ao lado de Sílvio, ele nunca tinha se interessado por ela. Mas hoje ela estava determinada a passar a noite com ele.Giovana rasgou o pacote e despejou o pó branco no copo de água, mexendo até que se dissolvesse completamente.Era uma droga afrodisíaca especialmente formulada para o corpo de Sílvio. Uma vez que ele bebesse, não teria como resistir.O celular na mesa começou a vibrar novam
Lúcia tinha um sorriso amargo nos lábios, sabendo que sua morte era inevitável.Dessa vez, não havia como escapar das garras da morte.Amanhã de manhã, ou talvez assim que ela morresse, Sílvio já saberia pelas notícias.Ele não choraria em seu funeral, talvez nem aparecesse.As pessoas a quem mais devia desculpas eram seus pais.Será que seu pai já tinha acordado da cirurgia?Ela tinha cometido tantos erros na vida, tantos que não havia como reparar.Só podia esperar pela próxima vida, para retribuir aos pais pelo amor e cuidado e, na próxima, não encontrar Sílvio.Emoções complexas se entrelaçavam no coração de Lúcia.Bang! Um estrondo ensurdecedor rompeu a quietude da noite.Sem sentir a dor que esperava, Lúcia abriu os olhos de repente.O carro sucateado havia rompido a grade da ponte, disparando como uma flecha, e depois, como uma bola murcha, deslizou e rolou pela encosta íngreme, finalmente caindo inerte em um lago congelado.A superfície congelada do lago foi perfurada pelo carr
Seu olhar ficou fixo. O coração palpitante de Lúcia parecia congelado, parando de bater por um instante. Ela olhou novamente para o banco traseiro do carro, que estava completamente vazio.Nem sinal dele.- Sra. Lúcia, está tudo bem? - Leopoldo perguntou, vendo-a parada na porta do carro, sem se mover.Lúcia não respondeu, inclinou-se e entrou no carro. Leopoldo, atencioso, fechou a porta e voltou ao assento do motorista.- Leopoldo, não vá ainda. - Lúcia disse suavemente.Leopoldo assentiu.Lúcia mordeu os lábios, tentando manter a calma: - Onde está o Sílvio?- O Grupo Baptista está expandindo novos negócios e o Presidente Sílvio está muito ocupado, não pôde vir. - Leopoldo explicou, ligando o aquecedor do carro.Para Lúcia, isso soou extremamente sarcástico.- Ele está ocupado por causa da Giovana, né? - Lúcia riu friamente.- Sra. Lúcia, o Presidente Sílvio e a Srta. Giovana não têm o tipo de relação que a senhora imagina. - Leopoldo tentou explicar.Eles já tinham até tirado fo
No escritório do presidente do Grupo Baptista.- Como está indo a investigação que pedi? - Sílvio perguntou, sentado no sofá, segurando o celular. Seu olhar estava fixo na televisão na parede, onde a mulher aparecia sendo assediada pela mídia, visivelmente desamparada.Sua voz era suave, seu rosto inexpressivo. Vestia uma camisa branca e calças pretas, exalando uma elegância madura.Ao lado dele, Giovana assistia à cobertura midiática, furiosa. Olga, aquela desgraçada, tinha ousado desobedecê-la...Embora estivesse irritada, Giovana manteve um sorriso caloroso no rosto e entregou um copo de água para Sílvio.Sílvio pegou o copo e começou a brincar com ele nas mãos. Do outro lado da linha, a voz de Leopoldo soou, pedindo desculpas: - Não consegui descobrir quem avisou a mídia sobre a presença da senhora no Grupo Baptista.- Incompetente. - Sílvio resmungou friamente e desligou o telefone.Giovana olhou para ele, inquieta, e perguntou: - Sílvio, o que você está investigando?Sílvio l
Lúcia pensou que estava vendo coisas. Como ele estaria ali?Ele não estava ocupado tomando banho e passando uma noite romântica com sua querida amiga Giovana?Ela piscou os olhos secos.Mas aqueles sapatos realmente eram de Sílvio.Ele a traiu e ainda usava o presente de casamento que ela lhe deu, exibindo-se por aí.Será que ele achava mais excitante e satisfatório trair usando o presente dela?Lúcia tirou as botas de neve. Elas estavam encharcadas.Seus dedos claros e delicados estavam inchados como nozes.Ela caminhou pelo hall até a sala e viu o homem forte, vestindo colete, camisa branca e gravata preta, sentado preguiçosamente no sofá.Os dedos de Sílvio eram longos, mais bonitos do que os de muitas mulheres.Ele batia levemente no braço do sofá com os dedos, usando chinelos de algodão cinza fornecidos pelo hotel.Lúcia sorriu ironicamente e provocou: - Presidente Sílvio, você não estava ocupado expandindo novos negócios? Como arranjou tempo para me ver?Giovana tinha dito que e
Ele pegou o café, tomou um gole e, com um sorriso frio, disse: - Vim aqui para tratar de um projeto e, de quebra, ver se você ainda estava viva. Não pense que me importo com você.Uma onda de amargura avassaladora inundou o coração de Lúcia, dificultando sua respiração. Parecia que um martelo golpeava seu coração, fazendo seu corpo tremer de dor.Então, Sílvio havia deixado Giovana para vir aqui por causa de um projeto, por interesse. Não era por preocupação, carinho ou amor.Os cílios de Lúcia tremeram, as lágrimas se acumularam sem cair. A verdadeira tola era ela.Desabafar suas mágoas não adiantava nada. Oferecer seu coração dilacerado em suas mãos só resultaria em mais dor, com Sílvio pisoteando-o sem piedade.- Afinal, você ainda é minha esposa, ao menos no papel. Se você morrer, cuidar do seu corpo será minha responsabilidade.Cuidar do corpo dela era sua responsabilidade. Proteger e cuidar dela, não era sua responsabilidade...Lúcia pegou uma xícara, encheu-a com café e, com o