- Tenho, só um momento. - Lúcia tirou a mochila, abriu o zíper e retirou algumas notas antigas da carteira, entregando-as à diretora. - Isso é apenas uma parte, foi uma amiga que fez a doação por mim.A diretora pegou os recibos, digitou os números no computador, e sua expressão ficou ainda mais séria. Ela levantou os olhos, olhando atentamente para os papéis, e logo percebeu algo estranho: - Srta. Lúcia, parece que sua amiga te enganou. Não conseguimos encontrar esses números no nosso sistema, e esse carimbo não é nosso. É falso.Para provar, a diretora pegou o carimbo verdadeiro do orfanato Nossa Senhora e o mostrou a Lúcia.Lúcia rapidamente percebeu o problema. O carimbo nos recibos dizia “Orfanato Nossa Senhora do Bairro das Árvores”, enquanto o carimbo verdadeiro dizia “Orfanato Nossa Senhora da Rua das Árvores”.Os recibos eram falsos!- Pode verificar as doações feitas por Giovana Fonseca? Quero saber o que ela doou. - Lúcia mordeu os lábios.Os dedos da diretora dançaram habi
Nenhuma ligação, nenhuma mensagem.Ela abriu a janela de conversa no WhatsApp e então se lembrou de que Sílvio a tinha bloqueado.Clicou na foto de perfil dele. A imagem de capa era fria e resoluta, assim como ele.Din-don.Uma notificação apareceu no celular.Ela abriu a mensagem. O serviço meteorológico havia emitido um alerta laranja para neve e gelo.As estradas estavam cobertas de gelo, e o local chamado Ponte Quebrada foi especialmente mencionado nas notícias, aconselhando as pessoas a evitarem a área devido ao risco de avalanches.O serviço meteorológico dizia que essa poderia ser a maior nevasca dos últimos dez anos.Lúcia pensou em avisar a mulher para não ir à Ponte Quebrada, pois poderia ser perigoso.Fazer aniversário em outro lugar seria igualmente bom.Mas ela não tinha o número da mulher, nem qualquer outra forma de contato, elas eram apenas conhecidas casuais.Lúcia imaginou que a mulher provavelmente tinha visto o alerta do serviço meteorológico e não sairia de casa.D
O vento frio cortava o rosto de Lúcia como lâminas afiadas, deixando-a entorpecida de dor. O vento forte dificultava sua respiração, tornando cada inspiração um desafio. Seus dedos longos e finos, segurando uma caixa de bolo bem decorada, já estavam dormentes.Lúcia caminhava devagar, afundando os pés na neve, que rangia a cada passo.Ela levou dez minutos para chegar à Ponte Quebrada. A ponte levava a uma pequena colina onde havia um templo famoso na região. O templo era conhecido por realizar pedidos de amor, atraindo muitos turistas.Mas agora, com a neve caindo intensamente, a ponte estava deserta, um contraste gritante com a habitual movimentação. Tudo ao redor era um mar de branco, criando uma atmosfera opressiva.Lúcia olhou ao redor, sem ver ninguém. A neve caía cada vez mais forte, acumulando-se em seus cílios.Perto dali, havia um carro abandonado, sem placa, coberto de neve. Apenas os limpadores de para-brisa funcionavam, limpando a neve do vidro da frente.Olga estava den
Lúcia tremeu e, seguindo o som, levantou a cabeça para olhar o céu.Fogos de artifício subiam continuamente, explodindo como flores no céu escuro, e depois desapareciam gradualmente. Logo em seguida, mais fogos explodiam no céu.Que fogos lindos.Lúcia olhou ao redor e viu que os fogos estavam sendo lançados de todos os lados.Aquela mulher veio!“Ela realmente veio, ainda bem que eu trouxe um bolo, senão seria muito constrangedor vir de mãos vazias.” Pensou Lúcia.O ar estava impregnado com o cheiro de pólvora.Não sabia por que, mas mesmo sendo aniversário de outra pessoa, Lúcia sentia uma vontade inexplicável de chorar, com os olhos piscando incessantemente.Lúcia lembrou-se dos aniversários antes de sua briga com Sílvio, quando seu pai ainda não sofria de demência. Todo ano, Sílvio comprava muitos fogos de artifício para serem lançados na praia.Seu aniversário era em abril, uma época de primavera vibrante.Já o aniversário de Sílvio, assim como o daquela mulher, era em pleno inver
O telefone tocava incessantemente, como uma pedra pressionando seu coração.Tocou por um minuto, sem resposta.Com os dedos trêmulos, Lúcia tentou ligar novamente, mas ninguém atendeu.Sem desistir, ela enviou uma mensagem para Sílvio usando o novo número: [Sílvio, atende o telefone, me salva.]Ela discou novamente para o número de Sílvio.No escritório da presidência do Grupo Baptista.Sentada no sofá, Giovana olhou ao redor para se certificar de que ninguém entraria no escritório. Então, tirou um pequeno pacote de dentro da bolsa, levantou-se e caminhou rapidamente até a mesa.Depois de tantos anos ao lado de Sílvio, ele nunca tinha se interessado por ela. Mas hoje ela estava determinada a passar a noite com ele.Giovana rasgou o pacote e despejou o pó branco no copo de água, mexendo até que se dissolvesse completamente.Era uma droga afrodisíaca especialmente formulada para o corpo de Sílvio. Uma vez que ele bebesse, não teria como resistir.O celular na mesa começou a vibrar novam
Lúcia tinha um sorriso amargo nos lábios, sabendo que sua morte era inevitável.Dessa vez, não havia como escapar das garras da morte.Amanhã de manhã, ou talvez assim que ela morresse, Sílvio já saberia pelas notícias.Ele não choraria em seu funeral, talvez nem aparecesse.As pessoas a quem mais devia desculpas eram seus pais.Será que seu pai já tinha acordado da cirurgia?Ela tinha cometido tantos erros na vida, tantos que não havia como reparar.Só podia esperar pela próxima vida, para retribuir aos pais pelo amor e cuidado e, na próxima, não encontrar Sílvio.Emoções complexas se entrelaçavam no coração de Lúcia.Bang! Um estrondo ensurdecedor rompeu a quietude da noite.Sem sentir a dor que esperava, Lúcia abriu os olhos de repente.O carro sucateado havia rompido a grade da ponte, disparando como uma flecha, e depois, como uma bola murcha, deslizou e rolou pela encosta íngreme, finalmente caindo inerte em um lago congelado.A superfície congelada do lago foi perfurada pelo carr
Seu olhar ficou fixo. O coração palpitante de Lúcia parecia congelado, parando de bater por um instante. Ela olhou novamente para o banco traseiro do carro, que estava completamente vazio.Nem sinal dele.- Sra. Lúcia, está tudo bem? - Leopoldo perguntou, vendo-a parada na porta do carro, sem se mover.Lúcia não respondeu, inclinou-se e entrou no carro. Leopoldo, atencioso, fechou a porta e voltou ao assento do motorista.- Leopoldo, não vá ainda. - Lúcia disse suavemente.Leopoldo assentiu.Lúcia mordeu os lábios, tentando manter a calma: - Onde está o Sílvio?- O Grupo Baptista está expandindo novos negócios e o Presidente Sílvio está muito ocupado, não pôde vir. - Leopoldo explicou, ligando o aquecedor do carro.Para Lúcia, isso soou extremamente sarcástico.- Ele está ocupado por causa da Giovana, né? - Lúcia riu friamente.- Sra. Lúcia, o Presidente Sílvio e a Srta. Giovana não têm o tipo de relação que a senhora imagina. - Leopoldo tentou explicar.Eles já tinham até tirado fo
No escritório do presidente do Grupo Baptista.- Como está indo a investigação que pedi? - Sílvio perguntou, sentado no sofá, segurando o celular. Seu olhar estava fixo na televisão na parede, onde a mulher aparecia sendo assediada pela mídia, visivelmente desamparada.Sua voz era suave, seu rosto inexpressivo. Vestia uma camisa branca e calças pretas, exalando uma elegância madura.Ao lado dele, Giovana assistia à cobertura midiática, furiosa. Olga, aquela desgraçada, tinha ousado desobedecê-la...Embora estivesse irritada, Giovana manteve um sorriso caloroso no rosto e entregou um copo de água para Sílvio.Sílvio pegou o copo e começou a brincar com ele nas mãos. Do outro lado da linha, a voz de Leopoldo soou, pedindo desculpas: - Não consegui descobrir quem avisou a mídia sobre a presença da senhora no Grupo Baptista.- Incompetente. - Sílvio resmungou friamente e desligou o telefone.Giovana olhou para ele, inquieta, e perguntou: - Sílvio, o que você está investigando?Sílvio l