— Cala a boca! — Lúcia gritou, tomada pelo desespero, tentando novamente tapar os ouvidos. Ela não queria ouvir, não queria saber de nada. Mas as maldições venenosas de Sílvio, como serpentes, infiltravam-se em seus ouvidos, penetrando seu coração: — Meu pai era um homem honesto! Nunca fez nada de errado! E foi queimado vivo por ordem do seu pai! Ele não é um monstro? Ele não é um monstro?— Lúcia, desde o momento que te vi pela primeira vez, eu quis te estrangular com minhas próprias mãos, sabia? E eu ainda tinha que fingir que te amava, te beijar, dividir a cama com você! Todas as noites eu sonhava com a morte horrível da minha família! Sonhava com minha mãe me chamando de traidor, me dizendo que eu era um ingrato por não vingar a morte deles!— Esperei um ano inteiro por este dia! Nosso jogo está apenas começando! Lúcia, você não terá uma morte fácil! Aquele velho também não terá uma morte fácil! Sua família inteira não terá um bom fim!As palavras de Sílvio fizeram a garganta de
Ela olhou ao redor. A estrada asfaltada era estreita, com largura suficiente para apenas um carro passar.Ao lado da estrada, havia uma horta grande e ampla, envolta na escuridão densa da noite, transmitindo uma sensação de tranquilidade e desolação infinitas.Não havia uma alma viva, muito menos um carro.Lúcia tinha a palma da mão cheia de pequenos e finos cacos de vidro, e a dor fazia as lágrimas escorrerem dos seus olhos.Levantar-se do chão era difícil, especialmente com um braço deslocado. Ela precisava sair dali e ir para o hospital.Embora fosse início da primavera, a temperatura noturna ainda era gelada.Lúcia usava um par de tênis esportivos e caminhava com dificuldade.As solas dos tênis eram duras, e seus pés estavam dormentes, sem sensibilidade.O que fazer agora?Que lugar infernal era aquele...Lúcia deu um sorriso amargo. Sílvio realmente a odiava, caso contrário, por que a deixaria em um lugar tão deserto e isolado?Um carro preto voltou e parou em frente a ela.Não pr
Ao sair do hospital, Sílvio continuou a seguir em frente, em direção ao carro preto estacionado na rua.Sua postura era reta e ele vestia um belo terno preto.No entanto, havia algo nele que dava a sensação de que ele se sentia solitário e cansado, mas ainda assim se segurava. — Sílvio…Ele parou em seus passos.Ela o olhou fixamente pelas costas: — Obrigada por me revelar a verdade hoje. E ainda mais grata por me trazer ao hospital.Se não fosse por sua carona, ela ainda estaria presa lá. — Eu fiz isso apenas para te atormentar ainda mais, não se iluda. — Ele bufou e continuou a andar.Sílvio não saiu imediatamente de carro, mas ficou sentado no banco do passageiro, observando fixamente a figura de Lúcia enquanto ela atravessava a rua.Seu olhar era complexo, algo que os outros não poderiam entender.Pegou o ceular e ligou para Leopoldo: — Mande alguém vigiar Lúcia.— Sim, Presidente Sílvio.De volta à Mansão do Baptista.Lúcia se encolhia no canto da cama do quarto, com as luzes
Lúcia olhava a foto dos sogros no túmulo. O sogro tinha bochechas levemente cheias, parecia uma pessoa bondosa. A sogra tinha uma expressão severa, mas era bonita e elegante.— Sogro, sogra, não sei se vocês ainda se lembram de mim. Sou Lúcia, esposa do Sílvio, sua nora. Nos encontramos há uma semana.Lúcia mordeu os lábios e colocou as velas acesas ao redor do túmulo, com cuidado.Flocos de neve caíam sobre seus cabelos, cílios e bochechas, como pequenas lâminas afiadas.— Desculpe, realmente desculpe. Eu peço desculpas em nome do meu pai, em nome da família Baptista. Desculpe... — Lúcia começou a chorar novamente. — Para mim, meu pai sempre foi um filantropo, o homem mais bondoso do mundo. Mas eu não sabia que ele fugiu de um acidente e mandou matar vocês. Desculpe, eu sei que meu pai carrega pecados profundos. Paulo agora está na prisão, meu pai virou um vegetal por causa de um acidente de carro e sofre diariamente. E eu, como filha única de um assassino, fui diagnosticada com cânce
Lúcia estava ouvindo tranquilamente, e não sentia nem um pouco de raiva. Se fosse antes de saber a verdade, se ele dissesse essas palavras, ela ficaria furiosa, choraria e xingaria de volta com palavras ainda piores.Mas quando é que a vingança chegaria ao fim?Ele estava certo, a família Baptista realmente deveria desculpas a seus pais.Lúcia não esperava que ele soubesse tanto sobre seus passos, mas ela não o questionou, nem se importou. Lúcia e Sílvio já não eram mais os mesmos, ela tinha medo de que, se abrisse a boca, seria apenas mais uma troca de ofensas.Lúcia desligou o telefone em silêncio, comprou uma passagem de avião, voou de volta para Cidade A naquela mesma noite.Mal chegou em casa, com fome, pensando em ir à cozinha preparar algo para comer, seu fígado começou a doer incontrolavelmente, como se uma multidão de cupins estivesse rasgando aquele fígado cheio de feridas.Ela cambaleou até o armário, procurou pelos analgésicos, tremendo, jogou alguns comprimidos na boca, e
— Seu pai de tem custos médicos mensais de centenas de milhares, sem Sílvio não teremos como sustentar isso. Você é por causa da Giovana? Minha filha, eu sei como você se sente, ver o homem que você gosta com sua melhor amiga deve ser uma dor pior do que engolir agulhas. Mas quando você ficar mais velha vai entender que não existe homem fiel, você só tem que usar ele pra ganhar dinheiro e fingir que não vê. — Se você for divorciada, e ainda tiver um pai em estado vegetativo, será muito difícil arranjar outro homem. A alta sociedade nunca vai aceitar a gente. — Seu pai é um ótimo homem, consegue ganhar dinheiro e é um grande filantropo, ele já teve uma ou duas traições na juventude, que eu peguei. Eu também chorei e fiz escândalo pra me divorciar, mas depois vi que a atitude de arrependimento dele era sincera, e ele cortou o relacionamento com a outra mulher e tem sido cada vez melhor comigo e com você. Já estamos juntos há décadas, né? Quando a gente olha pra trás, todos aqueles peq
— Vim ver por que você ainda não morreu. — As palavras de Sílvio eram geladas e cortantes.Lúcia apertou os dedos sobre os joelhos com tanta força que as unhas se cravaram na carne, causando uma dor intensa. Ela pensava que, se sentisse dor física, talvez a dor no coração diminuísse.Ele realmente esperava que ela morresse? Quantas vezes ele já tinha questionado por que ela ainda não havia morrido, ela já tinha perdido a conta.Sílvio deu um sorriso despreocupado para ela: — Você não vive dizendo que quer morrer? Agora que a verdade veio à tona e você conhece seus pecados, por que ainda está viva? Não vai cumprir o que sempre disse? Ou suas palavras são só vento?Lúcia, com os lábios cerrados, olhou para ele sem expressão. Sabia que ele queria provocá-la, mas não podia se deixar levar. Ainda precisava do apoio de Sílvio para salvar a família Baptista.A família Baptista estava em declínio, e muitos estavam de olho, prontos para tirar proveito da queda. Seu corpo se enfraquecia a cad
Mas quando ela pediu que ele ajudasse a família Baptista, Sílvio foi tomado por lembranças dos ressentimentos passados.Sílvio se virou para sair.Lúcia, desesperada, frágil, bloqueou o caminho dele.Sob o olhar ligeiramente surpreso e perplexo de Sílvio, ela caiu de joelhos no chão. Caiu com determinação.Assim como naquela vez, em um dia de neve intensa, ajoelhada em frente ao prédio do Grupo Baptista. As pessoas só deixavam seu orgulho de lado quando eram empurradas ao limite, e isso era um sinal de amadurecimento.A única diferença era que, naquela ocasião, ele havia chamado uma porção de jornalistas para transmitir ao vivo e humilhá-la. Agora, apenas ele assistia à sua humilhação, sua dignidade em frangalhos.Para conseguir dinheiro para ajudar seu pai, Lúcia bateu a cabeça no chão três vezes, cada vez com mais força. O som ecoava pelo chão, e a testa de Lúcia começou a sangrar ao se chocar contra o chão, deixando uma mancha de sangue.Sua testa estava sangrando. Mas não importa