Ana aguardou a porta se abrir, o coração batendo forte no peito enquanto o silêncio do subsolo parecia amplificar o som de sua respiração. Depois de alguns segundos, ouviu um leve ranger da maçaneta. A porta se abriu lentamente, revelando Márcia, envolta por sombras que a faziam parecer ainda mais enigmática. Os olhos de Márcia brilhavam intensamente, refletindo uma mistura de urgência e dor.— O que aconteceu, Márcia? — Ana perguntou, sua voz baixa e tensa, enquanto tentava decifrar o motivo de ter sido chamada ali no meio da madrugada.Márcia fez um gesto com a mão, indicando para que Ana entrasse.— Entre, feche a porta e sente-se — a voz dela, fria e calculada, dava a sensação de que algo muito grave estava prestes a ser revelado.Ana hesitou por um momento, mas a curiosidade e o sentimento de desconfiança a impulsionaram. Ela entrou na sala pequena e desordenada, cheia de caixas de arquivos antigos. Havia apenas uma cadeira de metal, na qual Ana se sentou devagar. Márcia, em pé,
[…]Lucas acordou no meio daquela noite, a cama ao seu lado fria e vazia. Ele imediatamente soube que algo estava errado. Ana não era de sair sem avisá-lo, especialmente no meio da madrugada. Sua mente, sempre alerta, rapidamente começou a trabalhar. Sentou-se na cama, pegou o celular e verificou as mensagens, mas não havia nada dela. Algo definitivamente não estava certo.Levantou-se em um salto e começou a procurar pistas. Andou pelo apartamento silenciosamente, checando cada cômodo como se ela pudesse estar escondida em algum canto. Quando a realidade de sua ausência se consolidou, ele começou a sentir um aperto no peito. Onde ela poderia ter ido a essa hora?Sem perder tempo, Lucas se dirigiu ao computador que mantinha no escritório do apartamento. Ele sabia que Ana às vezes gostava de dirigir sozinha, algo que ele considerava perigoso, especialmente depois dos segredos que descobriu sobre seu próprio passado e o perigo que cercava ambos. Por isso, alguns meses atrás, Lucas instal
Ana suspirou profundamente, aliviada por ter se afastado de Lucas sem levantar suspeitas. Ele havia voltado para o apartamento, deixando-a sozinha no hospital, mas a conversa ainda ecoava em sua mente. Agora, com ele longe, ela tinha mais espaço para pensar e formular seu próximo passo. O colar. Enquanto andava pelos corredores, colocou o colar e o pingente pendurado em seu pescoço parecia pesar mais a cada minuto, carregado de segredos que ela ainda não havia desvendado. O presente que Márcia lhe deu não era um simples acessório, aquilo estava profundamente ligado ao passado de Lucas e, talvez, à morte do filho de Márcia. Ela sabia que precisava ser cautelosa. Lucas, embora obcecado por ela, era perspicaz e controlador. Qualquer movimento errado poderia causar uma reação imprevisível. Como ela poderia confrontá-lo sem levantar suspeitas? A pergunta rodava em sua mente como uma corrente de ansiedade. Ana entrou na sala de descanso do hospital, buscando um pouco de silêncio e solid
Ana estava exausta quando seu plantão finalmente acabou. O dia tinha sido longo, com emergências constantes e pacientes que exigiam sua total atenção. Apesar do cansaço físico, sua mente continuava a trabalhar incansavelmente, processando tudo o que havia acontecido nas últimas horas. O colar de Márcia, as revelações obscuras sobre Lucas e Nicolas, e a perigosa obsessão que Lucas nutria por ela. Tudo estava entrelaçado de uma forma que deixava Ana com uma sensação de que, a qualquer momento, algo poderia desmoronar. Ela deixou o hospital, e dirigiu até o apartamento. A noite estava fria, e o vento cortante a fez encolher-se dentro do casaco. Sabia que não podia confrontar Lucas ainda, mas precisava de mais pistas, de algo concreto. Talvez essa noite fosse sua chance. Quando chegou ao apartamento, encontrou Lucas sentado no sofá, relaxado, mas com aquele olhar sempre atento, que nunca deixava de monitorar seus movimentos. O apartamento estava aquecido e silencioso, um contraste confo
Após o jantar enigmático, Ana e Lucas retornaram ao apartamento em um silêncio pesado. O carro deslizava pelas ruas de Nova York, mas a mente de Ana estava em uma velocidade muito maior. Aquele objeto não era um simples acessório, e agora mais do que nunca, Ana tinha certeza de que ele escondia segredos perigosos.Assim que chegaram ao apartamento, Lucas a conduziu pela cintura, com um toque mais possessivo do que carinhoso. Ele não parecia nervoso, mas Ana podia sentir a tensão irradiando de seu corpo.— Vou tomar um banho, — ele disse, soltando-a suavemente. — Volto já. — Seus olhos demoraram-se em Ana por mais alguns segundos, antes de se afastar.Ela apenas assentiu, observando-o desaparecer pelo corredor em direção ao banheiro. 'Sua mente estava em turbilhão. Ela sabia que essa noite não terminaria assim, não com a reação contida de Lucas. Ele sabia algo, mas ainda estava jogando, tentando entender até onde ela havia chegado com suas investigações. O colar era uma peça-chave, m
Após a declaração de Lucas, o silêncio entre eles tornou-se ainda mais denso. Ana, com o copo de vinho na mão, permaneceu imóvel. A tensão que havia pairado no ar desde o momento em que entraram no apartamento parecia ter se solidificado em algo quase tangível. O colar em seu pescoço parecia pesar mais a cada segundo que passava.Ela tentava compreender o que Lucas queria dizer. Medo? Não era medo que a impedia de confiar nele — era a certeza de que algo muito maior estava acontecendo nos bastidores, algo que ela não conseguia ver completamente. E agora, mais do que nunca, sabia que Lucas estava no centro desse turbilhão.— Por que você acha que eu teria medo de você, Lucas? — Ana finalmente quebrou o silêncio, sua voz baixa, mas firme. Ela sentiu que precisava desafiá-lo, mesmo que por dentro estivesse nervosa.Lucas levantou os olhos para encontrá-la, e havia algo de diferente neles. Um brilho gélido, quase calculista, que fez o estômago de Ana revirar. Ele pousou sua taça sobre a m
O som insistente do telefone pareceu congelar o tempo. O nome de Márcia brilhava na tela, mas o olhar de Lucas era como uma corrente de gelo, puxando-a de volta para o momento presente. Ana hesitou, sentindo o coração disparar, como se o simples ato de atender ou ignorar aquela ligação pudesse decidir seu destino.— Ana, — Lucas repetiu, sua voz agora com uma intensidade controlada. — Não atenda.Ela podia sentir o poder por trás daquelas palavras, o comando implícito. Era como se, naquele segundo, todo o ar do apartamento tivesse sido sugado. Ela engoliu em seco, tentando disfarçar o nervosismo. Cada instinto em seu corpo gritava que algo estava terrivelmente errado.Mas Ana sabia que, se não atendesse a ligação, poderia perder uma oportunidade crucial de obter informações. Márcia tinha sido clara antes: aquele colar não era apenas um enfeite, e Lucas, apesar de todo o charme e da suposta proteção, escondia mais do que estava disposto a admitir. A tensão de Lucas era a prova viva de
Ana leu a mensagem com uma crescente sensação de desespero. Seu coração martelava no peito, como se estivesse prestes a explodir. Ela tinha que tomar uma decisão rápida, definitiva. As palavras de Márcia estavam gravadas em sua mente: "Ele não é quem você pensa que é." Mas Lucas... o Lucas que estava ali diante dela, com os olhos sombrios e a dor evidente, era realmente a ameaça que Márcia queria que ela acreditasse?Ana olhou para Lucas. Ele a observava, esperando, como se pudesse ler seus pensamentos, ou talvez temesse o que ela faria a seguir. Seus dedos apertaram o telefone com tanta força que as juntas ficaram brancas. A sala parecia ter encolhido, o ar pesado com o silêncio opressor.— O que ela disse? — Lucas perguntou, a voz baixa, mas com uma pontada de preocupação.Ana hesitou. Márcia havia jogado uma carta poderosa, e agora Lucas também. Ela estava presa entre as versões conflitantes de uma verdade que, por mais assustadora que fosse, precisava ser desvendada. Lucas não era