Capítulo 5

 O hospital estava em um estado de tensão após a invasão tumultuada na UTI. A equipe médica havia conseguido conter o homem que tentava retirar Lucas de sua cama. Embora o homem tenha sido sedado levemente e levado a um quarto supervisionado pela segurança, o clima na unidade era carregado com uma mistura de alívio e apreensão.

Dra. Ana, se encontrava na UTI com uma expressão de preocupação. Observava Lucas, deitado em sua cama, visivelmente abalado, sentia um pouco de dor. 

Aproximou-se de Lucas, que estava com seus olhos fixos no teto, puxou uma cadeira próxima, e se sentou ao lado da cama, com um olhar atencioso.

– Olá, Lucas. Como você está se sentindo? – perguntou Ana com uma voz suave.

Lucas virou lentamente a cabeça para encarar Ana. –  Doutora Steele... Eu... Eu não sei o que pensar. Tudo isso está sendo um pesadelo.

Ana sorriu com empatia, notando a forma como ele pronunciou seu nome. – Eu entendo. A situação foi realmente perturbadora. Mas estou aqui.

Lucas desviou o olhar, um pouco envergonhado. – Sinto que estou causando uma grande preocupação. Devia ter ficado em casa naquele dia do acidente, mas... não sei.  Não me sinto seguro, em nenhum lugar.

Ana inclinou-se um pouco mais perto, notando a tensão em seus ombros. 

– Eu entendo o seu medo, carteiro. Ter sido vítima de um tiroteio e agora enfrentar essa invasão deve ter sido aterrorizante. Mas posso assegurar-lhe que o hospital é seguro.

– Você realmente acredita nisso? – ele a olhou fixamente, capturando a sinceridade em seus olhos.

– Acredito. E, mais importante, acredito que você está em boas mãos. – Ana sentiu um leve rubor em suas bochechas. 

– E como a doutora pode garantir isso? O que a faz confiar tanto no sistema? – ele sorriu fracamente.

— Experiência e paixão. Tenho visto muitas coisas aqui carteiro. De casos críticos, a um tiroteio, por exemplo. – Deu uma gargalhada alta. – E, apesar das dificuldades, acredito firmemente na força da nossa equipe. – Ana inclinou a cabeça.

– A Dra. Steele parece realmente confiante. Isso me dá um pouco de esperança,  – o olhar de Lucas tornou-se mais suave.

Ana riu baixinho, um som que soava como uma melodia agradável. – É o mínimo que posso oferecer. A esperança é uma parte importante da cura, senhor Beck.

Lucas se inclinou em direção a Ana, quase sussurrando, – Às vezes, precisamos encontrar um equilíbrio fora do trabalho também. Não acha?

– Equilíbrio é importante, sem dúvida. – Ana sentiu um leve frio na barriga.

Lucas estendeu a mão e tocou levemente o braço de Ana, um gesto que a fez estremecer, disse – Às vezes, o que precisamos é de um pouco de apoio, alguém que entenda o que passamos aqui.

A sensação do toque de Lucas, embora sutil, foi suficiente para acender um calor que Ana não conseguia controlar. Ela olhou para ele, os olhos meio desconcertados. – Você está sugerindo que eu procure apoio fora do plantão, senhor Beck?

Lucas sorriu, sua expressão agora carregada de um charme quase palpável.

– Não só fora do plantão, Ana. Às vezes, a conexão entre as pessoas pode ser o melhor remédio. Quem sabe encontramos esse equilíbrio juntos?

Ana respirou fundo, lutando para manter o controle enquanto o desejo se entrelaçava em seu peito.

– Isso é um convite, Lucas? – ela disse.

– Pode ser, – respondeu Lucas, sua voz quente e envolvente. – Se você estiver disposta a aceitar.

O momento parecia congelar ao redor deles, a tensão no ar era quase tangível. Ana sabia que estava em um ponto de decisão, entre seguir a formalidade e explorar algo que poderia ser tanto excitante quanto arriscado.

– Eu... vou pensar sobre isso, – ela disse finalmente, sua voz um pouco mais baixa. – Agora, tenho muito trabalho a fazer, senhor Beck. – Sorriu.

– Claro, trabalho em primeiro lugar. Aliás, você está usando sutiã hoje? – Lucas assentiu, dando uma risada maliciosa.

Ana se afastou, dando risada e balançando a cabeça, sentindo uma mistura de emoções e uma nova dimensão de curiosidade. 

O plantão continuou, mas a mente de Ana estava cheia de pensamentos sobre o que poderia acontecer.

‘’E se… eu explorasse o convite de Lucas?’’ – Pensava Ana, dando suspiros.

[...]

Foi um período muito difícil na UTI para Lucas, e, após a invasão, antes de qualquer posição referente a segurança e ao invasor, a equipe médica decidiu que Lucas seria transferido para um quarto mais tranquilo, ideal para sua recuperação. O novo ambiente era confortável e equipado com os recursos necessários para continuar seu acompanhamento de saúde, mas com menos estresse. No quarto, Lucas pode receber mais visitas, o que oferece um grande apoio emocional para sua recuperação.

Lucas, era um homem forte e atraente, com um ar de mistério e um corpo marcado por cicatrizes, ouviu uma batida na porta de seu quarto: — [toc toc].

– Lucas?! Posso entrar? – disse Ana.

Lucas, com sua voz rouca, ecoou no banheiro. – Entre, doutora. A porta está destrancada.

A médica hesita por um instante, mas a curiosidade a impulsiona para frente. Ela abre a porta lentamente e encontra Lucas embaixo do chuveiro, a água morna escorrendo por seu corpo. A luz fraca realça os contornos musculosos, e as cicatrizes que marcam sua pele.

A voz de Ana, sai em um sussurro. – Lucas, o que está fazendo? Você deveria estar deitado.

Lucas, nada preocupado, responde: – A água quente me acalma. E a sua presença aqui, senhorita Steele, me acalma ainda mais… ou será que me excita?!

Dra. Ana sente um calor subir por seu corpo. Ela nunca havia se sentido assim por um paciente. Aproxima-se um pouco mais, seus olhos fixos nos dele.

Com a voz trêmula, diz – Lucas, isso é errado. Eu sou sua médica aqui.

– E você é a mulher mais bonita que já vi. E a mais inteligente. Vai me dizer que você não está com saudades?! – responde Lucas.

Ele desliga o chuveiro, se aproxima dela, a envolve em seus braços. Seus lábios se encontram em um beijo quente e intenso, cheio de desejo e proibido.

Entre beijos, Ana fala. – Nós não podemos fazer isso aqui.

– Por que não? Já fizemos antes, dentro do carro, a vida é curta demais para resistir aos nossos desejos, Ana.

A médica se entrega ao beijo, sentindo uma explosão de sensações que a deixam tonta, cheia de prazer. As mãos de Lucas deslizam por suas costas, explorando cada centímetro de seu corpo.

Ana fica ofegante – Lucas, pare… por favor. – Ana se afasta, e deixa o quarto de Lucas com o coração acelerado e a mente confusa, caminha sem rumo. Cada passo parecia mais pesado do que o anterior, e a realidade do que aconteceu começava a se instalar. O peso da transgressão e as possíveis consequências de suas ações a atormentavam.

Logo, a enfermeira Márcia terminava seu turno na UTI e estava a caminho de entregar alguns documentos no andar de recuperação, próximo ao quarto de Lucas. Enquanto caminhava, refletia sobre sua recente curiosidade em relação a Ana. Márcia sempre achou que Ana se destacava demais, e isso a incomodava. Ela estava determinada a encontrar algo que pudesse usar contra Ana, algo que mostrasse que a doutorazinha não era tão perfeita quanto parecia ser.

Ao se aproximar do quarto de Lucas, notou que a porta estava entreaberta. Com intenção de bisbilhotar, e movida por sua curiosidade e a busca incessante por alguma falha de Ana, Márcia decidiu espiar discretamente para verificar como ele estava.

Ao olhar pela fresta, seus olhos se arregalaram ao perceber a cena. Ana estava no quarto de Lucas, e ambos pareciam em uma conversa intensa. Márcia ficou imóvel, tentando entender o que estava acontecendo. O olhar de Ana estava fixo em Lucas, e a tensão no ar era palpável.

Márcia inclinou-se um pouco mais para observar melhor. Foi então que viu Lucas desligar o chuveiro, se aproximar de Ana e beijá-la apaixonadamente. Ana hesitou por um momento, mas logo se entregou ao beijo. Márcia sentiu seu coração acelerar com a descoberta, seus olhos vidrados na cena íntima.

Enquanto o beijo se intensificava, Márcia recuou um pouco, dividida entre a curiosidade e a consciência de que não deveria estar ali. Mas a intensidade do momento a impedia de se afastar. Ela observou as mãos de Lucas deslizando pelas costas de Ana, que, apesar de lutar com a razão, se entregava ao desejo.

Finalmente, quando Ana, ofegante, se afastou de Lucas, Márcia percebeu a expressão confusa e perturbada da médica. Ana murmurou algo para Lucas, que Márcia não conseguiu ouvir claramente, e rapidamente deixou o quarto, quase colidindo com a porta. Deu alguns passos para trás, esperando não ser vista, enquanto Ana passava por ela sem notar sua presença, perdida em seus próprios pensamentos.

Márcia, com o coração batendo acelerado, sabia que tinha encontrado algo valioso. Esta descoberta era exatamente o que ela estava procurando.

‘’Uma falha na fachada perfeita de Ana.’’ – pensou Marcia.

Sentiu uma mistura de excitação e determinação, consciente de que essa informação poderia ser uma arma poderosa.

Logo, Ana caminhava pelo corredor, tentando processar o que acabava de acontecer, Márcia a abordou com um sorriso malicioso.

— Dra. Ana, está com um aspecto perturbado. Algo aconteceu que você gostaria de compartilhar? — Márcia perguntou, com um tom curioso e ligeiramente suspeito.

Ana, sem energia para responder, apenas balançou a cabeça e tentou continuar seu caminho. Mas Márcia, intrigada e com um olhar que parecia misturar curiosidade e um toque de malícia, não se contentou com a resposta da médica.

— Está tudo bem, Dra. Ana? — insistiu Márcia, com uma voz que carregava uma nota de acusação velada.

Ana hesitou, o peso do segredo quase a sufocando. Ela sabia que a situação não era apenas um erro pessoal, mas algo que poderia ter sérias repercussões profissionais. Com um esforço, ela forçou um sorriso triste e respondeu:

— Não, Márcia, não está tudo bem. Eu… eu só preciso de um tempo sozinha.

Márcia, sentindo-se vitoriosa por ter obtido uma reação, respondeu com um sorriso enigmático:

— Claro, Dra. Ana. Só queria que soubesse que estou aqui se precisar de alguém para conversar.

Ana, lutando para manter a compostura, apenas acenou e se afastou, ciente de que Márcia estava observando cada um de seus passos. Ela sabia que precisava ser cuidadosa, pois se a enfermeira suspeitasse de algo, estaria determinada a usar qualquer deslize contra ela.

Lucas observou discretamente a conversa de Ana com a Márcia, e sua expressão era um pouco sombria, e calculista. Sabia que Márcia estava procurando uma brecha para causar problemas a Ana, e aquela seria a oportunidade perfeita para ela. 

Ana, imersa em seus próprios pensamentos, finalmente encontrou um canto isolado, se deixou cair contra a parede, a mente ainda fervendo com o peso das suas escolhas e principalmente o medo do que poderia acontecer.

Sussurrando para si mesma ‘’– O que eu fiz? Como pude ser tão imprudente?’’

Sobrecarregada pelo peso de suas ações e pela incerteza do futuro, Ana tentava se recompor enquanto Lucas a observava silenciosamente pela janela de seu quarto.

‘’Ah, Márcia, Márcia, onde você quer chegar, hein?’’ – pensava Lucas, com uma loucura fria.

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