Lucas ficou inconsciente por alguns dias, mas nesta manhã quando ele acordou com a luz suave do amanhecer filtrando-se pela janela no quarto de UTI, com tubos, e zumbido dos aparelhos ao seu redor, teve a certeza de que era um lembrete constante da cirurgia que havia salvado sua vida, e, foi ela, Dra. Ana Steele que estava ali para monitorar seu estado quando ele abriu os olhos.
– Você salvou a minha vida, não é? – perguntou Lucas com um sorriso irônico.
Ana olhando para ele, demorou alguns segundos para responder, se perguntando se Lucas estava realmente fazendo uma pergunta, ou se já havia ouvido a sua voz naqueles dias em que estava inconsciente.
– Eu diria que foi a equipe médica, sou apenas uma peça num jogo de xadrez. – ela sorriu ainda mais que ele, que relaxou a cabeça e colocou a mão de maneira suave sobre a dela.
– Posso dizer então, que sou um homem de sorte, doutora... – respondeu, Lucas.
– Ana, num susto, desvencilhou-se de Lucas, sentindo seu coração bater mais rápido, e quase ficando de costas, disfarçou mexendo na medicação.
– Eu faria isso por qualquer pessoa nesta posição – disse ela, tentando ser o mais profissional possível, mas não conseguindo esconder a cor que subia em suas bochechas.
Lucas, percebendo a reação dela, deu um sorriso que era metade charme, metade gratidão. – Tenho certeza que sim, doutora. Ainda assim, agradeço. – disse ele, sua voz rouca.
– Você ficará bem e logo logo entregará as correspondências do bairro novamente. – respondeu Ana, com um sorrisinho de canto, tentando parecer despreocupada, mas seus olhos mostravam um pouco a preocupação e o interesse que sentia.
– Você se lembra de quem eu sou?! – perguntou Lucas, meio grogue ainda.
– Me lembro sim, carteiro misterioso. Ainda estou me perguntando o que aconteceu naquele dia em que chegou a esse hospital... – Ana tinha um semblante curioso, seus olhos brilhando com uma mistura de preocupação e fascinação.
Lucas hesitou por um momento, seus olhos desviando para o teto antes de voltar a encontrar os dela.
– É, me parece que a sorte nem sempre quer me acompanhar, – disfarçou, tentando não revelar a vulnerabilidade que sentia.
Ana deu um passo em direção a ele, sua mão quase tocando a dele novamente antes de ela se controlar.
– Está vivo, senhor Beck. É sempre bom agradecer. – disse ela com um sorriso gentil, mas cheio de intensidade, antes de sair da UTI, deixando Lucas ainda mais intrigado e atraído por ela.
Enquanto Ana caminhava pelo corredor, ela não podia deixar de sentir o impacto daquela breve interação. Lucas era mais do que apenas um paciente, e havia algo nele que a atraía de uma maneira que não conseguia explicar. E enquanto ela se preparava para o próximo paciente, sabia que o carteiro misterioso não sairia de seus pensamentos tão cedo.
[...]
O corredor do hospital estava silencioso, apenas interrompido pelo ocasional som de passos apressados e os murmúrios de conversas abafadas. A UTI estava em sua rotina noturna, com enfermeiros e médicos atentos aos monitores e ao bem-estar dos pacientes.
Ana dedicava a sua vida aquele hospital, naquela noite, caminhava pelos corredores com uma prancheta em mãos, se sentia cansada, um pouco com sono devido ao horário, e em meio a essa tranquilidade que os plantões noturnos passavam, sabia que não haveria com o que se preocupar.
Até que então, um barulho muito alto, [CRASH, BAM!], ecoou.
A porta de vidro da UTI foi violentamente empurrada, fazendo com que ela batesse contra a parede com um estrondo, por pouco, não a quebrou. Ana ficou apavorada, seu coração batia tão forte e tão rápido como se fosse um tambor de guerra, se enchendo de medo. Deslocou-se depressa em direção a UTI, no caminho começou a escutar gritos que ecoavam naquele corredor.
Um homem alto e agitado, com cabelos desgrenhados e um olhar frenético teria invadido a UTI. Seus olhos percorriam o ambiente com desespero, fixando-se em um paciente específico deitado na cama próxima à janela, Lucas Beck.
O monitor que acompanhava Lucas, apitava suavemente, com os sinais vitais estabilizados, mas o homem não parecia se preocupar com isso.
Ele gritava, sua voz cortando o silêncio como uma lâmina afiada.
– EU QUERO TIRAR ELE DAQUI! – bradou o homem, a voz cheia de pânico e determinação. – NÃO É SEGURO PORRA! VOCÊS ESTÃO COLOCANDO A VIDA DELE EM RISCO!
As enfermeiras e médicos presentes se entreolharam, espantados. A chefe de enfermagem, Márcia, com uma expressão serena, mas firme, deu um passo à frente. Ela levantou as mãos, tentando acalmar a situação.
– Senhor, por favor, acalme-se. Qual é o seu nome? O que está acontecendo? – perguntou ela com calma, mas sua voz carregava um tom de autoridade.
O homem não parecia ouvir, sua atenção fixada em um monitor de leitura.
Ele se aproximou da cama onde Lucas estava, com as mãos trêmulas enquanto tentava desencaixar os fios e tubos que estavam conectados. Márcia correu até ele, tentando impedir que ele fizesse qualquer movimento brusco.
– O senhor precisa se acalmar, – insistiu Márcia, segurando gentilmente o braço do homem. – Este paciente está em cuidados intensivos e qualquer movimento abrupto pode piorar a situação dele.
O homem, com uma força inesperada, afastou Márcia de lado. Ele tinha uma expressão de pânico absoluto no rosto. Seus olhos estavam dilatados, e sua respiração era irregular.
– VOCÊS NÃO ENTENDEM! ELE ESTÁ EM PERIGO, NÃO HÁ SEGURANÇA AQUI! – gritou ele, olhando para o monitor com uma mistura de raiva e medo. – Eles estão mentindo para nós, não estão fazendo o que é necessário!
Lucas, ainda fraco na cama, tentou se erguer para acalmá-lo.
– Eu estou bem. Eles aumentaram a segurança. Não vai acontecer de novo, – disse Lucas, com sua voz suave e cansada.
O Dr. John, chefe da cirurgia e chefe da UTI, que estava monitorando outro paciente em um canto da sala, se aproximou com calma e firmeza. Ele tentou intervir de maneira mais tranquila, mas com a mesma determinação.
– Senhor, precisamos que o senhor explique exatamente o que está acontecendo – disse o Dr. John, mantendo uma distância segura. – Diga-nos o que lhe preocupa e nós faremos o nosso melhor para ajudá-lo.
O homem, finalmente percebendo a seriedade da situação, começou a falar com uma voz trêmula.
– Eu... eu não posso deixá-lo aqui, o tiroteio... e se invadem aqui de novo?! Eu não posso arriscar a vida dele. Ele não pode ficar aqui!
Márcia, sentindo a urgência, olhou para o Dr. John e então para o monitor. Ela sabia que as preocupações dele, embora inflacionadas pelo medo, tinham que ser levadas a sério.
– Vamos verificar todas as câmeras do hospital, reforçar a segurança, e monitorar todos os equipamentos imediatamente, – disse Márcia, dirigindo-se aos técnicos
que estavam na sala. – Por favor, senhor, nos dê um momento para fazer uma revisão completa.
Mas, aquele homem estava além do alcance das palavras calmas. A visão que ele tinha daquela noite infernal em que ele poderia ter perdido alguém tão próximo a ele, ainda ecoava em sua mente, um trauma que ele não conseguia superar. Ele continuava a gritar, a raiva e o medo se misturando em um turbilhão de emoções.
– TEMOS QUE TIRÁ-LO DAQUI! AGORA! – Ele insistia, tentando pegar Lucas pelas mãos.
Enquanto a equipe técnica realizava uma revisão detalhada dos equipamentos, e conversava com a segurança do hospital, Márcia e o Dr. John, conversavam com o homem, tentando tranquilizá-lo e explicar a complexidade da situação.
Dra. Ana ficou completamente pasma, chocada com o que ela via, realmente a cena era inacreditável, porém, precisava intervir de alguma forma. Fez um gesto para que as enfermeiras afastassem o homem dos pacientes, dando a ele um sedativo leve para acalmá-lo. Depois de alguns minutos, o homem começou a relaxar, suas palavras começaram a se transformar em murmúrios incoerentes.
– Não é... segu..ro... – dizia o homem.
Ana, respondeu: – É seguro sim. Vamos deixar você dormir um pouquinho pra gente tentar conversar com mais calma quando acordar.
Ele foi levado a uma sala tranquila, onde poderia descansar.
O hospital estava em um estado de tensão após a invasão tumultuada na UTI. A equipe médica havia conseguido conter o homem que tentava retirar Lucas de sua cama. Embora o homem tenha sido sedado levemente e levado a um quarto supervisionado pela segurança, o clima na unidade era carregado com uma mistura de alívio e apreensão.Dra. Ana, se encontrava na UTI com uma expressão de preocupação. Observava Lucas, deitado em sua cama, visivelmente abalado, sentia um pouco de dor. Aproximou-se de Lucas, que estava com seus olhos fixos no teto, puxou uma cadeira próxima, e se sentou ao lado da cama, com um olhar atencioso.– Olá, Lucas. Como você está se sentindo? – perguntou Ana com uma voz suave.Lucas virou lentamente a cabeça para encarar Ana. – Doutora Steele... Eu... Eu não sei o que pensar. Tudo isso está sendo um pesadelo.Ana sorriu com empatia, notando a forma como ele pronunciou seu nome. – Eu entendo. A situação foi realmente perturbadora. Mas estou aqui.Lucas desviou o olhar, um
De volta ao seu apartamento, Ana estava um caco. Sentada no sofá, com uma xícara de café e um cobertor naquele dia frio que fazia em Nova York, onde ficou revivendo todos os momentos várias vezes em sua mente, lutando para entender como havia perdido o controle de si mesma , com a culpa e a vergonha a consumindo. Seu celular começou a vibrar com mensagens de suas amigas, que haviam visto as notícias sobre o tiroteio no hospital. Gabriele: Oi, Ana! Vi as notícias sobre o tiroteio. Você está bem? Me avisa. Renata: Ana, que susto! Você está segura? Por favor, me diga que está tudo bem. Elen: Ana, não consigo parar de pensar em você desde que vi as notícias. Como você está? Ana suspirou, sentindo o carinho e a preocupação das amigas. Sabia que precisava responder, mas as emoções ainda estavam muito intensas. ‘’Ai, Ai, se elas soubessem que não foi só o tiroteio’’ – suspirava Ana, chorando. Mesmo assim, Ana pegou o celular e começou a digitar, com as lágrimas caindo sobre a tela.
Em meio ao caos que estava acontecendo, era necessário que a equipe médica e de enfermagem, se reunissem para uma reunião, e assim fizeram. Estavam todos reunidos na sala de descanso dentro da UTI, uma pequena e discreta sala onde os momentos de tranquilidade eram raros, o silêncio era quebrado apenas pelo sutil zumbido dos aparelhos, e única iluminação que tinha, vinha da lâmpada fraca sobre a mesa, que lançava sombras discretas nos rostos cansados.Dr. James, diretor do hospital, ajeitou o jaleco, abaixou os óculos sobre o nariz, tomou seu lugar na mesa, olhou para todos presentes e começou a falar.– Prezados, – começou James, com uma voz firme. – Vamos dar início à reunião. Como vocês sabem, a situação de segurança do nosso hospital está se deteriorando e precisamos encontrar uma solução imediatamente.– Deteriorando? Isso é um eufemismo! – interrompeu Dr. John, com um tom ácido. – Já tivemos dois grandes incidentes graves. E quem vocês acham que ficará lidando com essas crises
Era de manhã e a sala de recuperação estava tranquila. O homem que invadiu a UTI estava sedado, imobilizado e monitorado. Ele começava a despertar, confuso. Dra. Ana, acompanhada por Dr. John entraram na sala com uma expressão de profissionalismo e empatia, prontos para uma conversa delicada. Nicolas Beck, irmão gêmeo de Lucas, despertou na sala de recuperação, perdido e com a voz rouca. — Onde estou? O que aconteceu? — perguntou ele. A Dra. Ana, com um sorriso tranquilizador, respondeu: — Você está na sala de recuperação. Tivemos que sedá-lo após um episódio intenso para garantir sua segurança e a dos outros. Nicolas tentou se sentar, mas sentiu a restrição das faixas e recuou, frustrado. — Eu… Eu não lembro de nada. O que eu fiz? Dr. John, com um tom calmo, explicou: — Você teve um surto devido ao estresse e invadiu a UTI atrás do seu irmão Lucas. Precisamos entender o que aconteceu para ajudá-lo. Como você se chama? — Nicolas Beck. Sim, somos irmãos gêmeos — respondeu ele
Ana se sentia um lixo, literalmente, já não bastava o terror nos dias que estava vivendo, agora teria que lidar com as ameaças de Márcia. Ela se sentia exausta e desanimada, trabalhou muito nesses dias, e ainda teria que cobrir Márcia nos turnos da noite, e ficar disponível caso ela resolvesse precisar dela. ''Lamentável essa minha situação, viu! Praticamente um mês de residência, e a minha vida se encontra de ponta cabeça. Fala sério. – Ana pensava absurdamente, com sentimento de raiva. Durante o dia, Ana enviou mensagens para suas amigas, avisando que não poderiam se encontrar por alguns longos dias pela frente, pois estaria de plantão cobrindo Márcia. No entanto, ao entrar na sala dos residentes, encontra suas amigas. Sabiam que Ana era forte e não diria logo de cara que precisaria de ajuda, então, elas haviam antecipado o encontro, indo até o hospital, já que Ana não poderia sair. Estavam visivelmente preocupadas e não concordavam com as desculpas de Ana. — Ana, você está bem?
Ana precisava falar com Lucas sobre o beijo, mas a coragem parecia lhe escapar. Cada segundo que passava parecia arrastar-se por uma eternidade. Sua mente estava um caos, mas ela sabia que não podia adiar essa conversa. Ana parou diante da porta do quarto de Lucas, sentindo o coração bater mais rápido do que gostaria de admitir. ‘’Como eu vim parar aqui? Como deixei isso acontecer?’’ – Pensou, tentando controlar a corrente de emoções que a dominava. Ela sabia que precisava ser firme, manter a postura, mas as palavras que tinha ensaiado pareciam escapar por entre os dedos. Respirou fundo, tentando acalmar-se antes de entrar, mas a sua respiração era irregular. ‘’Você consegue, Ana. É só um paciente. Só um paciente que… ‘’ Mas a mentira que tentava contar a si mesma não parecia convencer nem sua mente mais racional. Atravessou a porta, sentindo um peso no peito. — Lucas, podemos conversar? — Sua voz saiu mais fraca do que esperava, traindo a confiança que tentava emular. Lucas, de
Enquanto Ana pensava em Lucas após a conversa tensa que tiveram, ela ouviu passos firmes se aproximando. Ao levantar os olhos, avistou o Dr. John ao final do corredor. Seu sorriso habitual se ampliou, tornando-se quase predatório, quando seus olhos pousaram em Ana. Dr. John era conhecido no hospital não apenas por suas habilidades médicas, mas também por sua reputação duvidosa entre as mulheres. Ele era o típico médico assanhado, sempre à espreita de qualquer oportunidade para dar em cima das jovens e belas funcionárias do hospital. Suas investidas eram frequentes e, muitas vezes, indesejadas. Ana sabia disso, assim como todas as outras mulheres que tentavam evitá-lo. Sua presença costumava despertar desconforto e até mesmo repulsa. — Dra. Ana! — chamou ele, sua voz carregada com um tom de falsa doçura, enquanto seus olhos percorriam o corpo dela de maneira nada sutil. — Que bom encontrar você por aqui. Preciso dizer, você está especialmente encantadora hoje. ''Ele nunca perde uma
O laço de cetim rosa pink no cabelo de Ana, parecia um toque de cor em um dia que já começava sombrio. Sua mente estava mergulhada em pensamentos enquanto trabalhava. A conversa com Lucas ainda pairava em sua memória, e a tensão entre eles parecia aumentar a cada encontro. Quando ela passou em frente ao quarto de Lucas, ele estava sentado, com uma expressão que parecia calma, mas havia algo em seus olhos que sugeria o contrário. Ao vê-la, Lucas levantou o olhar, mas tentou esconder a tensão em seus olhos, como se não quisesse que ela percebesse o tumulto interno que o dominava. Ana hesitou por um segundo antes de decidir entrar. O coração batia forte em seu peito, mas ela sabia que precisava manter a compostura. — Bom dia, Lucas, — disse ela, forçando um sorriso que mal disfarçava sua inquietação. Sua voz soou tranquila, mas por dentro, ela estava nervosa, o ar ao redor deles estava carregado, quase palpável. Lucas olhou para ela, tentando esconder a verdadeira intensidade de se