Era hoje, a sua segunda semana de residência no Hospital Geral de Nova York, onde aconteceu um tumulto incomum naquela noite, ocorreu um acidente violento envolvendo moto, vários carros e um caminhão, onde encheu a emergência de pacientes em estado crítico.
O som das sirenes de ambulâncias se misturava ao clamor das pessoas, criando um cenário caótico.
Ana, uma jovem médica residente, pele clara, cabelos castanhos, preso em um rabo de cavalo com um laço de cetim rosa pink, mal conseguia parar para respirar.
Ela corria de um paciente a outro, suas mãos hábeis se movendo rapidamente para suturar ferimentos, aplicar medicações e acalmar aqueles em pânico.
Entre os muitos rostos que atendia, um em especial se destacava.
– Dra. Ana! Dra. Ana! Preciso de ajuda aqui! – gritou a enfermeira chefe Márcia, apontando para um paciente masculino, que estava sendo trazido em uma maca.
Sangue escorria de um ferimento profundo em seu abdômen.
– Estou indo! – respondeu Ana, aproximando-se rapidamente. – Precisamos estabilizá-lo e levá-lo para a cirurgia imediatamente. – Acrescentou.
Enquanto Dra. Ana trabalhava incansavelmente para salvar o paciente, ela não pôde deixar de notar o quão familiar ele parecia.
Durante um breve momento em que seus olhos se encontraram, viu que seu paciente era Lucas, e, naquele instante, eles sentiram uma conexão instantânea.
Horas depois, com Lucas finalmente estabilizado e na sala de cirurgia, Ana saiu pelos corredores, exausta.
Ela encostou-se na parede, tentando processar os eventos da noite, mas a calmaria durou pouco. De repente, uma série de tiros ecoou pelo hospital, e os alarmes de segurança dispararam.
- O que está acontecendo? - perguntou Ana para Márcia, uma colega enfermeira, que parecia tão assustada quanto ela.
- São tiros. Parece que um grupo armado invadiu o hospital, - respondeu Márcia, a enfermeira.
- Eles estão procurando por alguém. - acrescentou.
Ana sentiu um frio na espinha. Imediatamente, pensou em Lucas, por seu comportamento ser estranho. Se caso aqueles homens estivessem atrás dele, ele estaria em grave perigo.
Sem hesitar, correu em direção à sala de cirurgia e encontrou um cenário de caos. Os invasores estavam tentando entrar, e o cirurgião-chefe, Dr. Eron, fazia o possível para mantê-los afastados.
– Ana, precisamos tirá-lo daqui! – gritou Dr. Eron, referindo-se a Lucas.
Ana sentiu o seu coração batendo forte.
– Vamos usar a saída de emergência, é nossa única chance. – Sugeriu ela, tremendo e com as suas pernas bambas.
Com a ajuda do Dr. Eron e de alguns enfermeiros, eles conseguiram mover Lucas para uma maca móvel. Os invasores, percebendo a movimentação, começaram a atirar.
Ana pegou uma bandeja de metal e a usou como escudo improvisado, enquanto empurrava a maca em direção à saída. A tensão estava no auge. Os corredores, que antes eram refúgios de cura, agora eram campos de batalha.
Ana sentiu uma bala passar raspando por seu braço, mas ela não parou. A determinação para salvar Lucas, era maior que o seu medo. Finalmente, eles chegaram à saída de emergência. Do lado de fora, a polícia havia chegado e começava a cercar o hospital.
Ana e Dr. Eron empurrava a maca com Lucas para fora, onde os paramédicos os aguardavam.
– Levem-no para um lugar seguro e continuem a cirurgia, – disse Ana, com a sua voz firme apesar do caos ao seu redor.
Enquanto Lucas era levado para uma ambulância, Ana sentiu as pernas fraquejarem, mas manteve-se de pé, olhou ao seu redor, viu que os invasores haviam fugido e não foram detidos pela polícia, sentiu raiva, mas se manteve firme, respirou profundamente, se levantou e voltou para o hospital para ajudar organizar o caos que havia sido criado.
Dias depois, o hospital voltava ao seu ritmo normal, mas as marcas do incidente ainda estavam frescas, as memórias apareciam a todo momento gerando incertezas e muito medo.
– E agora, o que será deste lugar?! Devemos Trabalhar com medo?! – dizia Ana, para a enfermeira Márcia.
– Um dia de cada vez Dra. Ana. Um dia de cada vez! – Respondeu Márcia.
Ana visitava Lucas regularmente, agora em um quarto seguro e protegido. Mas Ana, cheia de perguntas em sua mente, se interessou em saber mais sobre Lucas.
''Porque estavam atrás dele no hospital? - Porque ele parece misterioso? Intenso?! Me intimida.'' – pensava Ana, a todo momento.
[...]
Era mais uma noite comum, e Ana, como de costume, foi visitar Lucas e avaliar seu estado antes de ir para casa.
Ele ainda estava sedado e monitorado por um monitor multiparâmetros, sua respiração lenta e constante, sendo a única companhia no quarto escuro.
Ana se aproximou da cama, ajustando o lençol ao redor dele, o olhar perdido em pensamentos sobre o que ele poderia estar escondendo. Mas naquela noite, algo estava diferente, sentia uma sensação desconfortável se instalando, um pressentimento que ela não conseguia ignorar.
Enquanto fazia suas checagens finais como de costume, algo no corredor chamou sua atenção. Uma sombra se movia lentamente. Ana parou, seu corpo ficou tenso, e, observou que alguém estava ali, e ela sabia que não era outro médico ou enfermeiro pela forma como se movia. Ela podia sentir o perigo no ar.
Ana voltou rapidamente para o quarto de Lucas, fechando a porta suavemente, o silêncio era pesado e sufocante. Seu coração batia mais rápido quando ela ouviu passos suaves se aproximando, logo, a maçaneta da porta girou lentamente, e o pânico tomou conta dela.
A porta se abriu, revelando uma figura sombria. O homem entrou, se movia como a calma de um predador. Vestido de preto, parecia se fundir com as sombras do quarto. Em sua mão, segurava uma seringa, Ana se escondeu atrás da cortina, mal conseguindo respirar, seus olhos arregalados, apavorada, com medo.
‘’Ai meu Deus’’ – pensava Ana.
O homem se aproximou de Lucas, a seringa pronta para ser injetada. Ele sussurrou, sua voz fria e sem emoção nenhuma.
— Você nunca deveria ter voltado, Lucas. Isso termina aqui.
Ana sentiu o pavor apertar seu peito. Ela sabia que tinha que agir, mas o medo a paralisava. Reunindo toda a coragem que conseguiu, ela derrubou uma prateleira próxima, fazendo um barulho alto pelo quarto. O homem parou abruptamente, seus olhos varrendo a sala em busca da origem do som.
— Quem está aí? — ele rosnou.
Ana, com o coração batendo descontroladamente, sabia que tinha apenas segundos para fazer algo. Olhava ao seu redor procurando por alguma coisa que pudesse usar como arma, e seus olhos se fixaram em um suporte de soro fisiológico.
Sem pensar duas vezes, ela o agarrou e, com toda a força que tinha, bateu o suporte na cabeça do homem. O impacto o fez cambalear, surpreso e momentaneamente atordoado, ele se levantou rapidamente, seus olhos brilharam sentindo uma raiva mortal, ficou muito furioso.
— Você vai pagar por isso, — ele disse, sua voz carregada de ameaça — Vai se arrepender. — dizia com olhar de ódio.
Desesperada, Ana correu em direção à porta, mas ele a alcançou antes que ela pudesse sair, empurrando-a contra a parede, tirou uma faca que estava fixa no sinto de sua calça, e, colocou perto de seu rosto, perigosamente e disse: — Ninguém interfere nos meus negócios, — disse, com seus olhos brilhando de loucura fria.
‘’Ele sabe muito bem o que quer, não tem preocupação ou medo algum!‘’ – pensou Ana.
Ana lutou e, desesperada, mordeu a mão dele, conseguindo se libertar por um breve instante. Foi o suficiente para destrancar a porta e correr para o corredor, seus passos ecoando enquanto o pânico a impulsionava.
O homem a seguiu por um tempo, mas parou abruptamente, percebendo que continuar poderia atrair atenção indesejada. Então, ele a observou por um momento e saiu pela saída de emergência sem ser detectado.
Ana, ofegante e totalmente em choque, observou quando ele sumiu na escuridão. Ela tremia, não sabia se chamava alguém, ou se seria melhor manter segredo, mas se confortava ao saber que Lucas estava vivo. Mesmo assim, perguntas sombrias assombravam sua mente.
‘’Quem era aquele homem? Por que queria matar Lucas? E o que Lucas estava escondendo?’’ – pensava Ana.
Lucas ficou inconsciente por alguns dias, mas nesta manhã quando ele acordou com a luz suave do amanhecer filtrando-se pela janela no quarto de UTI, com tubos, e zumbido dos aparelhos ao seu redor, teve a certeza de que era um lembrete constante da cirurgia que havia salvado sua vida, e, foi ela, Dra. Ana Steele que estava ali para monitorar seu estado quando ele abriu os olhos.– Você salvou a minha vida, não é? – perguntou Lucas com um sorriso irônico.Ana olhando para ele, demorou alguns segundos para responder, se perguntando se Lucas estava realmente fazendo uma pergunta, ou se já havia ouvido a sua voz naqueles dias em que estava inconsciente.– Eu diria que foi a equipe médica, sou apenas uma peça num jogo de xadrez. – ela sorriu ainda mais que ele, que relaxou a cabeça e colocou a mão de maneira suave sobre a dela.– Posso dizer então, que sou um homem de sorte, doutora... – respondeu, Lucas.– Ana, num susto, desvencilhou-se de Lucas, sentindo seu coração bater mais rápido,
O hospital estava em um estado de tensão após a invasão tumultuada na UTI. A equipe médica havia conseguido conter o homem que tentava retirar Lucas de sua cama. Embora o homem tenha sido sedado levemente e levado a um quarto supervisionado pela segurança, o clima na unidade era carregado com uma mistura de alívio e apreensão.Dra. Ana, se encontrava na UTI com uma expressão de preocupação. Observava Lucas, deitado em sua cama, visivelmente abalado, sentia um pouco de dor. Aproximou-se de Lucas, que estava com seus olhos fixos no teto, puxou uma cadeira próxima, e se sentou ao lado da cama, com um olhar atencioso.– Olá, Lucas. Como você está se sentindo? – perguntou Ana com uma voz suave.Lucas virou lentamente a cabeça para encarar Ana. – Doutora Steele... Eu... Eu não sei o que pensar. Tudo isso está sendo um pesadelo.Ana sorriu com empatia, notando a forma como ele pronunciou seu nome. – Eu entendo. A situação foi realmente perturbadora. Mas estou aqui.Lucas desviou o olhar, um
De volta ao seu apartamento, Ana estava um caco. Sentada no sofá, com uma xícara de café e um cobertor naquele dia frio que fazia em Nova York, onde ficou revivendo todos os momentos várias vezes em sua mente, lutando para entender como havia perdido o controle de si mesma , com a culpa e a vergonha a consumindo. Seu celular começou a vibrar com mensagens de suas amigas, que haviam visto as notícias sobre o tiroteio no hospital. Gabriele: Oi, Ana! Vi as notícias sobre o tiroteio. Você está bem? Me avisa. Renata: Ana, que susto! Você está segura? Por favor, me diga que está tudo bem. Elen: Ana, não consigo parar de pensar em você desde que vi as notícias. Como você está? Ana suspirou, sentindo o carinho e a preocupação das amigas. Sabia que precisava responder, mas as emoções ainda estavam muito intensas. ‘’Ai, Ai, se elas soubessem que não foi só o tiroteio’’ – suspirava Ana, chorando. Mesmo assim, Ana pegou o celular e começou a digitar, com as lágrimas caindo sobre a tela.
Em meio ao caos que estava acontecendo, era necessário que a equipe médica e de enfermagem, se reunissem para uma reunião, e assim fizeram. Estavam todos reunidos na sala de descanso dentro da UTI, uma pequena e discreta sala onde os momentos de tranquilidade eram raros, o silêncio era quebrado apenas pelo sutil zumbido dos aparelhos, e única iluminação que tinha, vinha da lâmpada fraca sobre a mesa, que lançava sombras discretas nos rostos cansados.Dr. James, diretor do hospital, ajeitou o jaleco, abaixou os óculos sobre o nariz, tomou seu lugar na mesa, olhou para todos presentes e começou a falar.– Prezados, – começou James, com uma voz firme. – Vamos dar início à reunião. Como vocês sabem, a situação de segurança do nosso hospital está se deteriorando e precisamos encontrar uma solução imediatamente.– Deteriorando? Isso é um eufemismo! – interrompeu Dr. John, com um tom ácido. – Já tivemos dois grandes incidentes graves. E quem vocês acham que ficará lidando com essas crises
Era de manhã e a sala de recuperação estava tranquila. O homem que invadiu a UTI estava sedado, imobilizado e monitorado. Ele começava a despertar, confuso. Dra. Ana, acompanhada por Dr. John entraram na sala com uma expressão de profissionalismo e empatia, prontos para uma conversa delicada. Nicolas Beck, irmão gêmeo de Lucas, despertou na sala de recuperação, perdido e com a voz rouca. — Onde estou? O que aconteceu? — perguntou ele. A Dra. Ana, com um sorriso tranquilizador, respondeu: — Você está na sala de recuperação. Tivemos que sedá-lo após um episódio intenso para garantir sua segurança e a dos outros. Nicolas tentou se sentar, mas sentiu a restrição das faixas e recuou, frustrado. — Eu… Eu não lembro de nada. O que eu fiz? Dr. John, com um tom calmo, explicou: — Você teve um surto devido ao estresse e invadiu a UTI atrás do seu irmão Lucas. Precisamos entender o que aconteceu para ajudá-lo. Como você se chama? — Nicolas Beck. Sim, somos irmãos gêmeos — respondeu ele
Ana se sentia um lixo, literalmente, já não bastava o terror nos dias que estava vivendo, agora teria que lidar com as ameaças de Márcia. Ela se sentia exausta e desanimada, trabalhou muito nesses dias, e ainda teria que cobrir Márcia nos turnos da noite, e ficar disponível caso ela resolvesse precisar dela. ''Lamentável essa minha situação, viu! Praticamente um mês de residência, e a minha vida se encontra de ponta cabeça. Fala sério. – Ana pensava absurdamente, com sentimento de raiva. Durante o dia, Ana enviou mensagens para suas amigas, avisando que não poderiam se encontrar por alguns longos dias pela frente, pois estaria de plantão cobrindo Márcia. No entanto, ao entrar na sala dos residentes, encontra suas amigas. Sabiam que Ana era forte e não diria logo de cara que precisaria de ajuda, então, elas haviam antecipado o encontro, indo até o hospital, já que Ana não poderia sair. Estavam visivelmente preocupadas e não concordavam com as desculpas de Ana. — Ana, você está bem?
Ana precisava falar com Lucas sobre o beijo, mas a coragem parecia lhe escapar. Cada segundo que passava parecia arrastar-se por uma eternidade. Sua mente estava um caos, mas ela sabia que não podia adiar essa conversa. Ana parou diante da porta do quarto de Lucas, sentindo o coração bater mais rápido do que gostaria de admitir. ‘’Como eu vim parar aqui? Como deixei isso acontecer?’’ – Pensou, tentando controlar a corrente de emoções que a dominava. Ela sabia que precisava ser firme, manter a postura, mas as palavras que tinha ensaiado pareciam escapar por entre os dedos. Respirou fundo, tentando acalmar-se antes de entrar, mas a sua respiração era irregular. ‘’Você consegue, Ana. É só um paciente. Só um paciente que… ‘’ Mas a mentira que tentava contar a si mesma não parecia convencer nem sua mente mais racional. Atravessou a porta, sentindo um peso no peito. — Lucas, podemos conversar? — Sua voz saiu mais fraca do que esperava, traindo a confiança que tentava emular. Lucas, de
Enquanto Ana pensava em Lucas após a conversa tensa que tiveram, ela ouviu passos firmes se aproximando. Ao levantar os olhos, avistou o Dr. John ao final do corredor. Seu sorriso habitual se ampliou, tornando-se quase predatório, quando seus olhos pousaram em Ana. Dr. John era conhecido no hospital não apenas por suas habilidades médicas, mas também por sua reputação duvidosa entre as mulheres. Ele era o típico médico assanhado, sempre à espreita de qualquer oportunidade para dar em cima das jovens e belas funcionárias do hospital. Suas investidas eram frequentes e, muitas vezes, indesejadas. Ana sabia disso, assim como todas as outras mulheres que tentavam evitá-lo. Sua presença costumava despertar desconforto e até mesmo repulsa. — Dra. Ana! — chamou ele, sua voz carregada com um tom de falsa doçura, enquanto seus olhos percorriam o corpo dela de maneira nada sutil. — Que bom encontrar você por aqui. Preciso dizer, você está especialmente encantadora hoje. ''Ele nunca perde uma