Por um breve instante, o silêncio ensurdecedor pairou entre nós.
O senhor Cooper não desviou o olhar, e eu senti um frio na barriga que chegava a doer. Não pelo medo, mas pela imponência que ele exalava. Seu olhar era avaliador, frio, calculista, como se estivesse determinando se eu era digna de ocupar aquele cargo.
— Seja bem-vinda, senhorita Clarke — disse ele, finalmente, com uma voz grave e firme.
Sua entonação carregava um tom de autoridade natural, daquele tipo de homem que está acostumado a comandar tudo e a todos com pulso firme. Ele estendeu a mão, e eu a apertei com profissionalismo, embora sentisse o calor e a força de seu aperto e o frio que antes sentia na barriga subir para a coluna.
— Obrigada, senhor — respondi, mantendo a voz firme, tentando disfarçar o nervosismo.
Ele soltou minha mão e virou-se para a loira que o acompanhava.
— Alguma pendência para hoje? — perguntou sem rodeios.
— Sua agenda está na sua mesa, junto com os contratos para análise — informou ela, mantendo a compostura impecável.
Ele assentiu e, sem mais palavras, seguiu em direção ao corredor privativo que levava ao seu escritório.
Soltei o ar que nem percebi estar prendendo.
— Ele sempre é assim? — perguntei em um sussurro para a loira.
Ela sorriu de canto.
— Você se acostuma — disse, antes de se afastar.
Fiquei ali, sentada atrás do balcão de granito, processando tudo. Meu primeiro dia mal havia começado, e eu já sentia que trabalhar para Anthony Cooper seria um verdadeiro desafio.
Mas um desafio que eu estava disposta a encarar.
Os minutos seguintes foram dedicados totalmente a me ambientar. Conferi os e-mails, organizei algumas anotações e revisei a agenda da semana do senhor Cooper. Tudo parecia em ordem, e eu queria garantir que meu primeiro dia transcorresse sem falhas. Eu tinha que ser perfeita.
Mas, no fundo, ainda sentia a intensidade daquele olhar azul sobre mim, como se a marca dele ainda estivesse ali me analisando meticulosamente.
O telefone tocou, tirando-me dos devaneios. Atendi no segundo toque.
— Escritório do senhor Cooper, bom dia. — Minha voz soou firme, profissional como eu havia ensaiado várias e várias veze na frente do espelho.
— Senhorita Clarke, na minha sala. Agora.
A linha foi cortada antes que eu pudesse responder.
Meu estômago revirou e eu poderia jurar que vomitaria o meu café da manhã ali mesmo.
Respirei fundo, levantei-me e ajeitei o vestido antes de seguir pelo corredor privativo. As paredes eram de vidro fumê, dando um ar moderno e intimidador ao ambiente assim como o seu dono. Ao fundo, uma porta imponente me aguardava.
Bati duas vezes antes de ouvir sua voz fria novamente:
— Entre.
Abri a porta e me deparei com um escritório espaçoso, de decoração minimalista, mas sofisticada. Ele estava de pé, próximo à uma enorme janela de vidro que oferecia uma vista impressionante da cidade. A luz da manhã iluminava seu rosto, destacando ainda mais sua mandíbula definida e a expressão séria.
— Feche a porta.
Engoli em seco e obedeci sentindo uma linha fina de suor correr entre meus seios. Merda, eu tinha que suar bem ali?
Ele se virou devagar, cruzando os braços sobre o peito deixando-o ainda mais intimidador.
— Me diga, senhorita Clarke… — sua voz era calma, mas carregada de autoridade. — Por que decidiu trabalhar aqui?
A pergunta me pegou desprevenida como tudo naquele dia.
— Eu… — Umedeço os lábios antes de continuar. — Vi a oportunidade e me preparei para ela. Sempre quis trabalhar em uma grande empresa, e sei que posso contribuir.
Ele me analisou por um momento, como se pesasse cada palavra minha.
— Muitos querem trabalhar aqui. Mas poucos conseguem. Compreende?
Aquilo não era apenas um simples aviso. Era um teste.
Ergui o queixo, mantendo meu olhar firme no dele.
— Eu não sou como os outros, senhor. — Afirmei.
O canto de sua boca se ergueu levemente, quase imperceptível.
— Vamos ver.
Então ele se virou, pegou alguns documentos na mesa e os estendeu para mim.
— Organize isso e traga de volta em meia hora. Sem erros.
Peguei os papéis, sentindo o peso da responsabilidade e do desafio que ele acabara de me lançar.
Sem hesitar, assenti.
— Considere feito.
Saí da sala com o coração acelerado. Meu primeiro dia estava apenas começando, mas uma coisa era certa: Anthony Cooper não seria um chefe nada fácil.
Mas eu nunca gostei de caminhos fáceis.
Voltei para minha mesa, segurando os documentos contra o meu peito com firmeza. Minha mente trabalhava rápido, eu não podia errar. Organizei cada papel, revisei os dados e, antes que o tempo acabasse, me levantei e caminhei de volta até a sala dele.
Bati duas vezes.
— Entre.
Empurrei a porta e me deparei com meu chefe novamente de pé, desta vez com o paletó jogado sobre a cadeira, as mangas da camisa branca dobradas até os cotovelos, revelando antebraços fortes e uma tatuagem que parecia ser um dragão. Ele olhava para a tela do computador, mas assim que me aproximei, desviou o olhar para mim.
— Aqui estão os documentos organizados, senhor. — Minha voz soou firme, sem hesitação.
Ele pegou as folhas, examinando rapidamente. O silêncio que se seguiu foi insuportável. Nenhum o som de uma misera mosca havia naquele lugar. Se eu quisesse poderia ouvir o batimento do coração de quem passasse do outro lado daquela porta.
Então, sem erguer a cabeça, ele comentou:
— Rápido. E sem erros.
Um elogio?
— Bom trabalho, senhorita Clarke.
Definitivamente, era um elogio.
Tentei conter o sorriso, mas o olhar dele voltou para mim, analisando cada mínima reação minha.
— Pode voltar ao seu posto.
Assenti e me virei, mas quando cheguei à porta, sua voz grave soou novamente:
— E, senhorita Clarke…
Virei o rosto para ele.
— Não me decepcione.
A intensidade do olhar dele me fez engolir em seco. Algo me dizia que trabalhar para ele seria um verdadeiro jogo de poder.
E eu estava pronta para jogar.
Voltei para minha mesa sentindo o peso daquelas últimas palavras: “Não me decepcione.” Não sei por que aquilo mexeu tanto comigo, mas a verdade é que Anthony Cooper não era um homem fácil de ignorar. Ele exalava autoridade, controle e… algo mais. Algo que fazia minha pele arrepiar sempre que seus olhos se fixavam nos meus. Era como se ele pudesse me decifrar, despir com aqueles olhos profundos como o mar.Respirei fundo tentando esquecer o que sua presença me causava, eu não podia me distrair. Tentei focar no trabalho. Passei as horas seguintes organizando reuniões, atendendo ligações e respondendo mais e-mails. Queria mostrar que estava à altura do cargo, que merecia estar ali porque eu era a melhor.O relógio marcava quase meio-dia quando a porta do escritório dele se abriu. Meu coração acelerou, outra vez, mas mantive a postura profissional.Anthony saiu da sala ajustando os punhos da camisa, agora com o paletó novamente no lugar. Seu olhar encontrou o meu por um breve momento ante
O silêncio que pairava entre nós era carregado de algo que eu não queria nomear porque sabia que era mais que errado.Sentada à frente do meu chefe, em um restaurante luxuoso no coração de Nova Iorque, eu sentia o peso da sua presença como uma tempestade prestes a se formar no horizonte vindo na minha direção. Ele me observava com aquele olhar afiado, desafiador como se pudesse me dissecar e descobrir cada segredo meu. Mas eu não cederia. Não ao jogo dele.O garçom serviu a taça de vinho à minha frente, e eu a girei entre os dedos, observando o líquido escarlate deslizar pelas laterais do cristal.— Você não bebe? — Anthony perguntou, erguendo uma sobrancelha. Seu tom era neutro, mas havia um interesse sutil em sua voz. Era perceptível.— Prefiro manter a cabeça clara no trabalho, senhor. — Respondi, antes de levar a taça aos lábios e dar um pequeno gole. Ele sorriu de canto, como se achasse graça da minha resposta.— Inteligente. Gosto disso.Fingi não perceber o elogio velado e foqu
O dia no escritório foi intenso. Depois do almoço tenso como o meu chefe, mergulhei de cabeça nas tarefas. Meu trabalho consistia em organizar sua agenda, filtrar ligações, responder a inúmeros e-mails e lidar com contratos e documentos importantes. A pressão era enorme, mas eu gostava de desafios, era uma maneira de provar a mim mesma que eu podia fazer aquilo. Me mantive ocupada, evitando pensar nos olhares prolongados do meu chefe e na energia carregada que pairava entre nós antes, durante e depois daquele estranho almoço. Onde é que eu estava com a cabeça quando aceitar almoçar com ele?Quando o expediente chegou ao fim, senti um alívio enorme percorrer meu corpo. Era como se um peso saísse das minhas costas me fazendo respirar outra vez. Peguei minha bolsa e saí do imponente prédio, respirando o ar frio da cidade. Caminhei até o ponto de ônibus e esperei pacientemente pela minha condução que estava atrasada.O trajeto de volta para casa foi longo. O ônibus estava lotado, como sem
O telefone em minha mão ainda vibrava, mas minha atenção estava longe da chamada. Meus olhos ficaram presos na porta por onde Emma havia saído. Era estranho como ela conseguia entrar e sair de um ambiente, deixando uma presença quase palpável, mesmo na ausência. Respondi ao telefonema com brevidade e voltei para minha sala, mas minha mente insistia em voltar àquela troca.De volta à segurança da minha mesa, tentei me concentrar nos relatórios do dia, mas cada linha lida parecia ser interrompida por flashes dela: o jeito que sustentava o olhar, o tom direto e profissional, aquele meio sorriso desafiador. Eu me irritava comigo mesmo por estar tão distraído, mas, ao mesmo tempo, não conseguia evitar.Algumas horas depois, enquanto o escritório começava a esvaziar, notei a luz acesa na sala de conferências. A curiosidade me venceu, e fui até lá. Emma estava sentada, o blazer pendurado na cadeira ao lado, os cabelos soltos agora, caindo em ondas suaves sobre os ombros. Ela estava absorta,
Os dias que se seguiram foram marcados por uma constante inquietação. Eu me pegava atento demais à presença de Emma no escritório, observando-a nos momentos mais banais: a forma como organizava seus papéis, a maneira precisa com que digitava e até mesmo o modo como tomava seu café sem qualquer adição de açúcar. Detalhes que, até então, eu jamais havia reparado em outra pessoa.O mais irritante nisso tudo era que eu não conseguia controlar essa curiosidade. Era como se ela tivesse se instalado em minha mente de forma involuntária e, a cada dia, tornava-se mais difícil ignorá-la.Certa tarde, durante uma reunião, notei como ela mantinha a postura impecável enquanto apresentava um relatório. Sua confiança era inabalável, e o modo como falava tornava impossível desviar a atenção. Eu deveria est
Finalmente o fim de semana havia chegado, eu precisar relaxar, aproveitei o tempo longe do escritório para visitar minha melhor amiga, Olivia. A casa dela era acolhedora, repleta de tons neutros e detalhes minimalistas, um refúgio perfeito para conversas sinceras e desabafos sem julgamentos.— Você está estranhamente pensativa hoje — comentou Olivia, servindo-me uma taça de vinho enquanto nos acomodávamos no sofá.Suspirei, girando o líquido na taça antes de responder:— É sobre o trabalho. Sobre o meu chefe, na verdade.Olivia arqueou uma sobrancelha, interessada.— Anthony? O poderoso e intocável Anthony?— Esse mesmo. — Tomei um gole de vinho antes de continuar. — Ele me intriga de um jeito que não deveria.Olivia sorriu de lado.— Isso parece interessante.— Não é — retruquei rapidamente. — Sei que é errado. Sei que jamais vou cair na lábia dele. Mas ele... mexe comigo. E eu odeio admitir isso em voz alta.— T
Anos atrásEu tinha medo de permanecer ali. Tinha medo do que ele poderia me fazer caso perdesse a cabeça como das outras vezes. Sabia que Ethan não mudaria, já havia anos que ele mantinha aquela postura autoritária, como se tivesse algum domínio sobre mim. E, de certa forma, ele tinha.Sentada na cama velha do meu quarto, encarei a parede cinza à minha frente, onde a tinta descascava em pequenas lascas. O teto exibia manchas de infiltração, e o chão de madeira rangia a cada movimento. A casa inteira precisava de reparos urgentes, mas nunca houve interesse em consertá-la. O cheiro de mofo impregnava o ambiente, tornando tudo ainda mais sufocante.Pensei em como minha vida poderia ser diferente se meus pais nunca tivessem me abandonado. Talvez, agora, eu estaria cursando uma faculdade, teria amigos que frequentariam minha casa e, quem sabe, um namorado. Nossa casa seria espaçosa, com quartos grandes e uma piscina nos fundos, onde passaríamos os finais de semana reunidos em família. Sim