Capítulo 2

Por um breve instante, o silêncio ensurdecedor pairou entre nós.

O senhor Cooper não desviou o olhar, e eu senti um frio na barriga que chegava a doer. Não pelo medo, mas pela imponência que ele exalava. Seu olhar era avaliador, frio, calculista, como se estivesse determinando se eu era digna de ocupar aquele cargo.

— Seja bem-vinda, senhorita Clarke — disse ele, finalmente, com uma voz grave e firme.

Sua entonação carregava um tom de autoridade natural, daquele tipo de homem que está acostumado a comandar tudo e a todos com pulso firme. Ele estendeu a mão, e eu a apertei com profissionalismo, embora sentisse o calor e a força de seu aperto e o frio que antes sentia na barriga subir para a coluna.

— Obrigada, senhor — respondi, mantendo a voz firme, tentando disfarçar o nervosismo.

Ele soltou minha mão e virou-se para a loira que o acompanhava.

— Alguma pendência para hoje? — perguntou sem rodeios.

— Sua agenda está na sua mesa, junto com os contratos para análise — informou ela, mantendo a compostura impecável.

Ele assentiu e, sem mais palavras, seguiu em direção ao corredor privativo que levava ao seu escritório.

Soltei o ar que nem percebi estar prendendo.

— Ele sempre é assim? — perguntei em um sussurro para a loira.

Ela sorriu de canto.

— Você se acostuma — disse, antes de se afastar.

Fiquei ali, sentada atrás do balcão de granito, processando tudo. Meu primeiro dia mal havia começado, e eu já sentia que trabalhar para Anthony Cooper seria um verdadeiro desafio.

Mas um desafio que eu estava disposta a encarar.

Os minutos seguintes foram dedicados totalmente a me ambientar. Conferi os e-mails, organizei algumas anotações e revisei a agenda da semana do senhor Cooper. Tudo parecia em ordem, e eu queria garantir que meu primeiro dia transcorresse sem falhas. Eu tinha que ser perfeita.

Mas, no fundo, ainda sentia a intensidade daquele olhar azul sobre mim, como se a marca dele ainda estivesse ali me analisando meticulosamente.

O telefone tocou, tirando-me dos devaneios. Atendi no segundo toque.

— Escritório do senhor Cooper, bom dia. — Minha voz soou firme, profissional como eu havia ensaiado várias e várias veze na frente do espelho.

— Senhorita Clarke, na minha sala. Agora.

A linha foi cortada antes que eu pudesse responder.

Meu estômago revirou e eu poderia jurar que vomitaria o meu café da manhã ali mesmo.

Respirei fundo, levantei-me e ajeitei o vestido antes de seguir pelo corredor privativo. As paredes eram de vidro fumê, dando um ar moderno e intimidador ao ambiente assim como o seu dono. Ao fundo, uma porta imponente me aguardava.

Bati duas vezes antes de ouvir sua voz fria novamente:

— Entre.

Abri a porta e me deparei com um escritório espaçoso, de decoração minimalista, mas sofisticada. Ele estava de pé, próximo à uma enorme janela de vidro que oferecia uma vista impressionante da cidade. A luz da manhã iluminava seu rosto, destacando ainda mais sua mandíbula definida e a expressão séria.

— Feche a porta.

Engoli em seco e obedeci sentindo uma linha fina de suor correr entre meus seios. Merda, eu tinha que suar bem ali?

Ele se virou devagar, cruzando os braços sobre o peito deixando-o ainda mais intimidador.

— Me diga, senhorita Clarke… — sua voz era calma, mas carregada de autoridade. — Por que decidiu trabalhar aqui?

A pergunta me pegou desprevenida como tudo naquele dia.

— Eu… — Umedeço os lábios antes de continuar. — Vi a oportunidade e me preparei para ela. Sempre quis trabalhar em uma grande empresa, e sei que posso contribuir.

Ele me analisou por um momento, como se pesasse cada palavra minha.

— Muitos querem trabalhar aqui. Mas poucos conseguem. Compreende?

Aquilo não era apenas um simples aviso. Era um teste.

Ergui o queixo, mantendo meu olhar firme no dele.

— Eu não sou como os outros, senhor. — Afirmei.

O canto de sua boca se ergueu levemente, quase imperceptível.

— Vamos ver.

Então ele se virou, pegou alguns documentos na mesa e os estendeu para mim.

— Organize isso e traga de volta em meia hora. Sem erros.

Peguei os papéis, sentindo o peso da responsabilidade e do desafio que ele acabara de me lançar.

Sem hesitar, assenti.

— Considere feito.

Saí da sala com o coração acelerado. Meu primeiro dia estava apenas começando, mas uma coisa era certa: Anthony Cooper não seria um chefe nada fácil.

Mas eu nunca gostei de caminhos fáceis.

Voltei para minha mesa, segurando os documentos contra o meu peito com firmeza. Minha mente trabalhava rápido, eu não podia errar. Organizei cada papel, revisei os dados e, antes que o tempo acabasse, me levantei e caminhei de volta até a sala dele.

Bati duas vezes.

— Entre.

Empurrei a porta e me deparei com meu chefe novamente de pé, desta vez com o paletó jogado sobre a cadeira, as mangas da camisa branca dobradas até os cotovelos, revelando antebraços fortes e uma tatuagem que parecia ser um dragão. Ele olhava para a tela do computador, mas assim que me aproximei, desviou o olhar para mim.

— Aqui estão os documentos organizados, senhor. — Minha voz soou firme, sem hesitação.

Ele pegou as folhas, examinando rapidamente. O silêncio que se seguiu foi insuportável. Nenhum o som de uma misera mosca havia naquele lugar. Se eu quisesse poderia ouvir o batimento do coração de quem passasse do outro lado daquela porta.

Então, sem erguer a cabeça, ele comentou:

— Rápido. E sem erros.

Um elogio?

— Bom trabalho, senhorita Clarke.

Definitivamente, era um elogio.

Tentei conter o sorriso, mas o olhar dele voltou para mim, analisando cada mínima reação minha.

— Pode voltar ao seu posto.

Assenti e me virei, mas quando cheguei à porta, sua voz grave soou novamente:

— E, senhorita Clarke…

Virei o rosto para ele.

— Não me decepcione.

A intensidade do olhar dele me fez engolir em seco. Algo me dizia que trabalhar para ele seria um verdadeiro jogo de poder.

E eu estava pronta para jogar.

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