Capítulo 3

Voltei para minha mesa sentindo o peso daquelas últimas palavras: “Não me decepcione.” Não sei por que aquilo mexeu tanto comigo, mas a verdade é que Anthony Cooper não era um homem fácil de ignorar. Ele exalava autoridade, controle e… algo mais. Algo que fazia minha pele arrepiar sempre que seus olhos se fixavam nos meus. Era como se ele pudesse me decifrar, despir com aqueles olhos profundos como o mar.

Respirei fundo tentando esquecer o que sua presença me causava, eu não podia me distrair. Tentei focar no trabalho. Passei as horas seguintes organizando reuniões, atendendo ligações e respondendo mais e-mails. Queria mostrar que estava à altura do cargo, que merecia estar ali porque eu era a melhor.

O relógio marcava quase meio-dia quando a porta do escritório dele se abriu. Meu coração acelerou, outra vez, mas mantive a postura profissional.

Anthony saiu da sala ajustando os punhos da camisa, agora com o paletó novamente no lugar. Seu olhar encontrou o meu por um breve momento antes de ele falar:

— Senhorita Clarke, venha comigo.

Engoli em seco, aquilo já estava se tornando uma mania.

— Agora?

— Algum problema?

— Não, senhor.

Peguei meu bloco de notas e me apressei para acompanhá-lo. Suas passadas eram firmes, seguras, e eu quase tive que correr para acompanhá-lo pelo longo corredor. Aquele salto não estava me ajudando. Ele não me deu nenhuma explicação até chegarmos ao elevador privativo.

Quando as portas se fecharam, senti a energia ao nosso redor mudar. O espaço pequeno fazia parecer que o ar entre nós ficava mais denso, quente.

— Vamos almoçar. — Ele finalmente quebrou o silêncio.

Arqueei as sobrancelhas.

— Almoçar?

Ele virou a cabeça para mim, analisando minha reação com um olhar indecifrável.

— Sim. Preciso discutir alguns assuntos do trabalho, e você precisa se inteirar melhor sobre a empresa. Achei que seria mais produtivo do que simplesmente enviar um e-mail. Creio que já deva ter visto muitos deles até agora.

Assenti, mantendo a compostura, mas meu coração batia descompassadamente. Esse convite parecia mais do que um simples almoço de trabalho.

As portas do elevador se abriram e, sem esperar minha resposta, ele seguiu em frente.

Eu o segui, me perguntando se realmente estava preparada para esse jogo que ele parecia estar disposto a jogar.

Anthony caminhava à frente, sem se preocupar se eu o seguia quase correndo. Sua presença era forte, quase magnética, e eu me perguntava como alguém podia exalar tanta confiança sem sequer tentar. Com certeza isso já era de berço.

O carro já esperava do lado de fora, um sedã preto impecável com vidros escuros. O motorista abriu a porta para ele primeiro e, em seguida, para mim.

— Entre, senhorita Clarke.

Havia algo em sua voz, uma mistura de comando e provocação, que me fazia querer testá-lo. Mas, sem opção, entrei.

O interior do carro cheirava a couro e algo amadeirado, talvez o perfume dele. Me acomodei no banco, tentando manter uma distância respeitável, mas o espaço reduzido tornava isso uma tarefa quese impossível.

— Você parece nervosa. — Ele comentou, olhando de relance para mim.

— Só estou surpresa com o convite, senhor.

— Chame-me de Anthony. Não estamos no escritório.

— Prefiro manter a formalidade, senhor Cooper. Quero evitar fofocas com o meu nome.

Um sorriso surgiu em seus lábios, rápido, quase não dava para notar, mas estava lá. Como se minha resposta tivesse o divertido de alguma forma.

— Como quiser, senhorita Clarke.

A forma como ele disse meu nome me fez sentir exposta, como se soubesse exatamente o que eu estava pensando.

O carro seguiu até um restaurante sofisticado no centro de Nova Iorque. Assim que entramos, a recepcionista nos cumprimentou com um sorriso educado e nos levou a uma mesa reservada. O ambiente era elegante, de tons neutros e iluminação baixa.

Ele puxou a cadeira para mim, um gesto inesperadamente cavalheiro, mas que também parecia uma demonstração de controle e poder.

— Obrigada. — Murmurei, sentando-me.

Ele se acomodou à minha frente, cruzando os dedos sobre a mesa enquanto me observava.

— Diga-me, senhorita Clarke, por que aceitou este trabalho mesmo?

A pergunta me pegou de surpresa.

— Porque era uma oportunidade única.

— Existem muitas oportunidades no mercado. Por que esta?

Inclinei-me levemente para frente.

— Porque quero crescer. Quero algo melhor. Passei anos trabalhando em empregos medíocres e sei que sou capaz de mais.

O silêncio que se seguiu foi quase intimidador. Anthony segurou o olhar nos meus, avaliando minhas palavras como se tentasse enxergar além delas.

— Gosto de pessoas ambiciosas. Mas ambição sem controle pode ser algo perigoso, não acha?

— E controle sem ambição pode ser estagnação. — Retruquei sem pensar.

Por um instante, vi algo diferente em sua expressão. Um brilho de desafio.

— Você aprende rápido. Isso é bom.

A tensão entre nós se tornava palpável, mas era diferente. Não era medo, nem hostilidade. Era algo novo, um jogo de palavras e olhares que me fazia querer entender mais sobre ele. Que me fazia querer jogar mesmo sabendo que era errado.

O garçom chegou, interrompendo o momento, mas eu sabia que aquilo estava longe de terminar.

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