Voltei para minha mesa sentindo o peso daquelas últimas palavras: “Não me decepcione.” Não sei por que aquilo mexeu tanto comigo, mas a verdade é que Anthony Cooper não era um homem fácil de ignorar. Ele exalava autoridade, controle e… algo mais. Algo que fazia minha pele arrepiar sempre que seus olhos se fixavam nos meus. Era como se ele pudesse me decifrar, despir com aqueles olhos profundos como o mar.
Respirei fundo tentando esquecer o que sua presença me causava, eu não podia me distrair. Tentei focar no trabalho. Passei as horas seguintes organizando reuniões, atendendo ligações e respondendo mais e-mails. Queria mostrar que estava à altura do cargo, que merecia estar ali porque eu era a melhor.
O relógio marcava quase meio-dia quando a porta do escritório dele se abriu. Meu coração acelerou, outra vez, mas mantive a postura profissional.
Anthony saiu da sala ajustando os punhos da camisa, agora com o paletó novamente no lugar. Seu olhar encontrou o meu por um breve momento antes de ele falar:
— Senhorita Clarke, venha comigo.
Engoli em seco, aquilo já estava se tornando uma mania.
— Agora?
— Algum problema?
— Não, senhor.
Peguei meu bloco de notas e me apressei para acompanhá-lo. Suas passadas eram firmes, seguras, e eu quase tive que correr para acompanhá-lo pelo longo corredor. Aquele salto não estava me ajudando. Ele não me deu nenhuma explicação até chegarmos ao elevador privativo.
Quando as portas se fecharam, senti a energia ao nosso redor mudar. O espaço pequeno fazia parecer que o ar entre nós ficava mais denso, quente.
— Vamos almoçar. — Ele finalmente quebrou o silêncio.
Arqueei as sobrancelhas.
— Almoçar?
Ele virou a cabeça para mim, analisando minha reação com um olhar indecifrável.
— Sim. Preciso discutir alguns assuntos do trabalho, e você precisa se inteirar melhor sobre a empresa. Achei que seria mais produtivo do que simplesmente enviar um e-mail. Creio que já deva ter visto muitos deles até agora.
Assenti, mantendo a compostura, mas meu coração batia descompassadamente. Esse convite parecia mais do que um simples almoço de trabalho.
As portas do elevador se abriram e, sem esperar minha resposta, ele seguiu em frente.
Eu o segui, me perguntando se realmente estava preparada para esse jogo que ele parecia estar disposto a jogar.
Anthony caminhava à frente, sem se preocupar se eu o seguia quase correndo. Sua presença era forte, quase magnética, e eu me perguntava como alguém podia exalar tanta confiança sem sequer tentar. Com certeza isso já era de berço.
O carro já esperava do lado de fora, um sedã preto impecável com vidros escuros. O motorista abriu a porta para ele primeiro e, em seguida, para mim.
— Entre, senhorita Clarke.
Havia algo em sua voz, uma mistura de comando e provocação, que me fazia querer testá-lo. Mas, sem opção, entrei.
O interior do carro cheirava a couro e algo amadeirado, talvez o perfume dele. Me acomodei no banco, tentando manter uma distância respeitável, mas o espaço reduzido tornava isso uma tarefa quese impossível.
— Você parece nervosa. — Ele comentou, olhando de relance para mim.
— Só estou surpresa com o convite, senhor.
— Chame-me de Anthony. Não estamos no escritório.
— Prefiro manter a formalidade, senhor Cooper. Quero evitar fofocas com o meu nome.
Um sorriso surgiu em seus lábios, rápido, quase não dava para notar, mas estava lá. Como se minha resposta tivesse o divertido de alguma forma.
— Como quiser, senhorita Clarke.
A forma como ele disse meu nome me fez sentir exposta, como se soubesse exatamente o que eu estava pensando.
O carro seguiu até um restaurante sofisticado no centro de Nova Iorque. Assim que entramos, a recepcionista nos cumprimentou com um sorriso educado e nos levou a uma mesa reservada. O ambiente era elegante, de tons neutros e iluminação baixa.
Ele puxou a cadeira para mim, um gesto inesperadamente cavalheiro, mas que também parecia uma demonstração de controle e poder.
— Obrigada. — Murmurei, sentando-me.
Ele se acomodou à minha frente, cruzando os dedos sobre a mesa enquanto me observava.
— Diga-me, senhorita Clarke, por que aceitou este trabalho mesmo?
A pergunta me pegou de surpresa.
— Porque era uma oportunidade única.
— Existem muitas oportunidades no mercado. Por que esta?
Inclinei-me levemente para frente.
— Porque quero crescer. Quero algo melhor. Passei anos trabalhando em empregos medíocres e sei que sou capaz de mais.
O silêncio que se seguiu foi quase intimidador. Anthony segurou o olhar nos meus, avaliando minhas palavras como se tentasse enxergar além delas.
— Gosto de pessoas ambiciosas. Mas ambição sem controle pode ser algo perigoso, não acha?
— E controle sem ambição pode ser estagnação. — Retruquei sem pensar.
Por um instante, vi algo diferente em sua expressão. Um brilho de desafio.
— Você aprende rápido. Isso é bom.
A tensão entre nós se tornava palpável, mas era diferente. Não era medo, nem hostilidade. Era algo novo, um jogo de palavras e olhares que me fazia querer entender mais sobre ele. Que me fazia querer jogar mesmo sabendo que era errado.
O garçom chegou, interrompendo o momento, mas eu sabia que aquilo estava longe de terminar.
O silêncio que pairava entre nós era carregado de algo que eu não queria nomear porque sabia que era mais que errado.Sentada à frente do meu chefe, em um restaurante luxuoso no coração de Nova Iorque, eu sentia o peso da sua presença como uma tempestade prestes a se formar no horizonte vindo na minha direção. Ele me observava com aquele olhar afiado, desafiador como se pudesse me dissecar e descobrir cada segredo meu. Mas eu não cederia. Não ao jogo dele.O garçom serviu a taça de vinho à minha frente, e eu a girei entre os dedos, observando o líquido escarlate deslizar pelas laterais do cristal.— Você não bebe? — Anthony perguntou, erguendo uma sobrancelha. Seu tom era neutro, mas havia um interesse sutil em sua voz. Era perceptível.— Prefiro manter a cabeça clara no trabalho, senhor. — Respondi, antes de levar a taça aos lábios e dar um pequeno gole. Ele sorriu de canto, como se achasse graça da minha resposta.— Inteligente. Gosto disso.Fingi não perceber o elogio velado e foqu
O dia no escritório foi intenso. Depois do almoço tenso como o meu chefe, mergulhei de cabeça nas tarefas. Meu trabalho consistia em organizar sua agenda, filtrar ligações, responder a inúmeros e-mails e lidar com contratos e documentos importantes. A pressão era enorme, mas eu gostava de desafios, era uma maneira de provar a mim mesma que eu podia fazer aquilo. Me mantive ocupada, evitando pensar nos olhares prolongados do meu chefe e na energia carregada que pairava entre nós antes, durante e depois daquele estranho almoço. Onde é que eu estava com a cabeça quando aceitar almoçar com ele?Quando o expediente chegou ao fim, senti um alívio enorme percorrer meu corpo. Era como se um peso saísse das minhas costas me fazendo respirar outra vez. Peguei minha bolsa e saí do imponente prédio, respirando o ar frio da cidade. Caminhei até o ponto de ônibus e esperei pacientemente pela minha condução que estava atrasada.O trajeto de volta para casa foi longo. O ônibus estava lotado, como sem
O telefone em minha mão ainda vibrava, mas minha atenção estava longe da chamada. Meus olhos ficaram presos na porta por onde Emma havia saído. Era estranho como ela conseguia entrar e sair de um ambiente, deixando uma presença quase palpável, mesmo na ausência. Respondi ao telefonema com brevidade e voltei para minha sala, mas minha mente insistia em voltar àquela troca.De volta à segurança da minha mesa, tentei me concentrar nos relatórios do dia, mas cada linha lida parecia ser interrompida por flashes dela: o jeito que sustentava o olhar, o tom direto e profissional, aquele meio sorriso desafiador. Eu me irritava comigo mesmo por estar tão distraído, mas, ao mesmo tempo, não conseguia evitar.Algumas horas depois, enquanto o escritório começava a esvaziar, notei a luz acesa na sala de conferências. A curiosidade me venceu, e fui até lá. Emma estava sentada, o blazer pendurado na cadeira ao lado, os cabelos soltos agora, caindo em ondas suaves sobre os ombros. Ela estava absorta,
Os dias que se seguiram foram marcados por uma constante inquietação. Eu me pegava atento demais à presença de Emma no escritório, observando-a nos momentos mais banais: a forma como organizava seus papéis, a maneira precisa com que digitava e até mesmo o modo como tomava seu café sem qualquer adição de açúcar. Detalhes que, até então, eu jamais havia reparado em outra pessoa.O mais irritante nisso tudo era que eu não conseguia controlar essa curiosidade. Era como se ela tivesse se instalado em minha mente de forma involuntária e, a cada dia, tornava-se mais difícil ignorá-la.Certa tarde, durante uma reunião, notei como ela mantinha a postura impecável enquanto apresentava um relatório. Sua confiança era inabalável, e o modo como falava tornava impossível desviar a atenção. Eu deveria est
Finalmente o fim de semana havia chegado, eu precisar relaxar, aproveitei o tempo longe do escritório para visitar minha melhor amiga, Olivia. A casa dela era acolhedora, repleta de tons neutros e detalhes minimalistas, um refúgio perfeito para conversas sinceras e desabafos sem julgamentos.— Você está estranhamente pensativa hoje — comentou Olivia, servindo-me uma taça de vinho enquanto nos acomodávamos no sofá.Suspirei, girando o líquido na taça antes de responder:— É sobre o trabalho. Sobre o meu chefe, na verdade.Olivia arqueou uma sobrancelha, interessada.— Anthony? O poderoso e intocável Anthony?— Esse mesmo. — Tomei um gole de vinho antes de continuar. — Ele me intriga de um jeito que não deveria.Olivia sorriu de lado.— Isso parece interessante.— Não é — retruquei rapidamente. — Sei que é errado. Sei que jamais vou cair na lábia dele. Mas ele... mexe comigo. E eu odeio admitir isso em voz alta.— T
Anos atrásEu tinha medo de permanecer ali. Tinha medo do que ele poderia me fazer caso perdesse a cabeça como das outras vezes. Sabia que Ethan não mudaria, já havia anos que ele mantinha aquela postura autoritária, como se tivesse algum domínio sobre mim. E, de certa forma, ele tinha.Sentada na cama velha do meu quarto, encarei a parede cinza à minha frente, onde a tinta descascava em pequenas lascas. O teto exibia manchas de infiltração, e o chão de madeira rangia a cada movimento. A casa inteira precisava de reparos urgentes, mas nunca houve interesse em consertá-la. O cheiro de mofo impregnava o ambiente, tornando tudo ainda mais sufocante.Pensei em como minha vida poderia ser diferente se meus pais nunca tivessem me abandonado. Talvez, agora, eu estaria cursando uma faculdade, teria amigos que frequentariam minha casa e, quem sabe, um namorado. Nossa casa seria espaçosa, com quartos grandes e uma piscina nos fundos, onde passaríamos os finais de semana reunidos em família. Sim
Por um breve instante, o silêncio ensurdecedor pairou entre nós.O senhor Cooper não desviou o olhar, e eu senti um frio na barriga que chegava a doer. Não pelo medo, mas pela imponência que ele exalava. Seu olhar era avaliador, frio, calculista, como se estivesse determinando se eu era digna de ocupar aquele cargo.— Seja bem-vinda, senhorita Clarke — disse ele, finalmente, com uma voz grave e firme.Sua entonação carregava um tom de autoridade natural, daquele tipo de homem que está acostumado a comandar tudo e a todos com pulso firme. Ele estendeu a mão, e eu a apertei com profissionalismo, embora sentisse o calor e a força de seu aperto e o frio que antes sentia na barriga subir para a coluna.— Obrigada, senhor — respondi, mantendo a voz firme, tentando disfarçar o nervosismo.Ele soltou minha mão e virou-se para a loira que o acompanhava.— Alguma pendência para hoje? — perguntou sem rodeios.— Sua agenda está na sua mesa, junto com os contratos para análise — informou ela, mant