Capítulo 5

O dia no escritório foi intenso. Depois do almoço tenso como o meu chefe, mergulhei de cabeça nas tarefas. Meu trabalho consistia em organizar sua agenda, filtrar ligações, responder a inúmeros e-mails e lidar com contratos e documentos importantes. A pressão era enorme, mas eu gostava de desafios, era uma maneira de provar a mim mesma que eu podia fazer aquilo. Me mantive ocupada, evitando pensar nos olhares prolongados do meu chefe e na energia carregada que pairava entre nós antes, durante e depois daquele estranho almoço. Onde é que eu estava com a cabeça quando aceitar almoçar com ele?

Quando o expediente chegou ao fim, senti um alívio enorme percorrer meu corpo. Era como se um peso saísse das minhas costas me fazendo respirar outra vez. Peguei minha bolsa e saí do imponente prédio, respirando o ar frio da cidade. Caminhei até o ponto de ônibus e esperei pacientemente pela minha condução que estava atrasada.

O trajeto de volta para casa foi longo. O ônibus estava lotado, como sempre naquele horário, o balanço do veículo e o falatório me deixou ainda mais cansada. Encostei a cabeça na janela e deixei meus pensamentos vagarem.

Assim que cheguei ao meu pequeno apartamento, tirei os sapatos e me joguei no sofá-cama, pegando o celular para ligar para Olivia.

— Amiga, como foi o primeiro dia? — Ela atendeu animada no primeiro toque.

— Intenso. — Suspirei. — O trabalho é mais desafiador que pensei que seria, mas meu chefe… bom, ele é exatamente como imaginei. Um homem que gosta de testar os outros.

— Ah, já começou a te provocar? — Olivia riu. — Cuidado, Emma. Homens poderosos adoram um desafio.

— Ele pode adorar o quanto quiser, não estou interessada. — Respondi, determinada.

— Assim que se fala! — Ela comemorou. — Mas me conta tudo, preciso de detalhes!

Sorri e comecei a narrar meu dia, me sentindo mais leve. Eu sabia que os desafios estavam apenas começando, mas uma coisa era certa: eu não seria mais uma peça no jogo de Anthony Cooper.

— Emma, ​​ouça. — A voz de Olivia ficou seria. — Homens como eles podem ser complicados. O importante é você não perder o foco que realmente importa sua carreira, sua independência, sua paz. Não deixe o jeito dele mexer com sua cabeça, mesmo que ele pareça… intrigante.

— Intrigante? — Franzi o cenho. — Ele é mais irritante do que qualquer outra coisa que você possa imaginar.

— Ainda assim, você está pensando nisso. — Olivia descontou com um tom provocativo. — Só tome cuidado, tá? Confie em você mesmo e não o que você quer. Ninguém pode te derrubar se você não permitir.

— Posso deixar, Liv. — Respondi com um sorriso fraco. — Obrigada por sempre saber o que dizer.

— Sempre, amiga. E agora vai descansar! Amanhã é outro dia e, pelo jeito, cheio de desafios com o Sr. Cooper.

Rimos juntas, e então encerrei a ligação. Coloquei o celular de lado e respirei fundo. Olivia tinha certeza. Eu preciso descansar.

Levantei do sofá e fui até o banheiro. Tomei um banho quente, deixando a água levar embora o peso do dia. Depois, vesti meu pijama velho de flanela e o sofá o transformando em um uma cama.

O som distante da cidade me fazia companhia enquanto me deitava. Fechei os olhos, tentando apagar da mente a figura de Anthony Cooper, meu chefe, e sua presença esmagadora.

***

Eu estava no escritório, na minha sala com vista para a cidade iluminada pelo vidro, e o dia parecia interminável. Entre reuniões e decisões críticas, a tensão se acumulou nos meus ombros, e a minha mente começou a divagar. Foi então que, de forma inesperada, pensei em Emma.

Não consegui identificar o motivo exato pelo qual ela me despertou tanto interesse. Talvez fosse o jeito dela, sempre tão eficiente e, ao mesmo tempo, repleto de um mistério sutil que me deixou intrigado, mas eu não sabia ao certo o que exatamente me atraía nela. Era como se algo indefinido, quase imperceptível, se tornasse irresistível.

Soltei um suspiro, passei a mão pelos cabelos e fechei o laptop, decidindo que, por hoje, o trabalho já tinha se estendido demais. Peguei meu paletó e saí do escritório, deixando uma noite fria me envolvendo enquanto o motorista me esperava do lado de fora.

No silêncio do carro, enquanto eu observava meu reflexo no vidro, a sensação de que Emma era um enigma persistente. "Ela é um mistério que eu nem sei explicar", pensei, deixando um leve sorriso escapar dos meus lábios. E, sem entender completamente o porquê, aceitei o desafio de tentar desvendar esse sentimento inexplicável.

***

Era uma terça-feira chuvosa e fria, o tipo de dia que fazia a cidade parecer cinza e abafada. Mas dentro da empresa, as luzes estavam brilhando implacáveis, e tudo seguia seu ritmo usual. Minha agenda, como sempre, estava apertada, mas assim que entrei na sala de reuniões, meus olhos buscaram automaticamente por Emma.

Ela estava ali, ao lado do projetor, organizando os papéis para a apresentação. Tão impecável, tão composta. Seus cabelos estavam presos em um coque baixo, com alguns fios suavemente caindo ao redor do rosto, o que apenas acrescentava à sua postura de seriedade. Ela usava uma blusa de seda branca, que se ajustava perfeitamente ao seu corpo, com mangas compridas e discretas abotoaduras de prata que brilhavam sutilmente sob a luz. A saia lápis preta caía perfeitamente, terminando logo acima dos joelhos, ajustada e sem excessos. O blazer cinza escuro sobre os ombros completava o conjunto, estruturado de forma a acentuar sua postura ereta e confiante. Nos pés, sapatos de salto médio, discretos, mas elegantes.

Ela parecia ter um controle absoluto de tudo à sua volta, e algo sobre isso me fazia querer testar seus limites. Me aproximei lentamente, deixando meu tom carregado de autoridade.

— Espero que esteja tudo pronto, Emma. Não gosto de surpresas, a menos que sejam boas.

Ela ergueu os olhos para mim, sem vacilar, inabalável como sempre.

— Claro, senhor Anthony. Nada foi deixado ao acaso.

Havia algo quase irritante naquela confiança dela. Era como se minha presença não a abalasse nem um pouco, e isso, de alguma forma, me incomodava. Inclinei-me um pouco, observando os papéis que ela segurava, mas, na verdade, era só uma maneira de provocar.

— Ótimo. Espero que dessa vez você realmente tenha pensado em tudo. Não seria a primeira vez que alguém subestima o que precisa para me impressionar.

Vi o leve sorriso que surgiu em seus lábios, mas foi tão sutil que poderia ter sido apenas uma ilusão.

— Eu não subestimo nada, senhor. Nem ninguém.

O desafio estava ali, visível nos olhos dela, e eu sentia a mistura de irritação e fascínio que sempre me acompanhava quando estava perto de Emma. Endireitei a postura, cruzei os braços e mantive o olhar fixo no dela.

— Vamos ver, então. Não me decepcione.

Ela apenas assentiu e voltou ao que estava fazendo, e, de algum modo, fiquei com a sensação de que era ela quem, na verdade, tinha vencido aquela rodada.

O silêncio que se seguiu foi desconfortável de uma maneira inesperada que eu sequer já havia experimentado antes em meus 30 anos. A tensão estava no ar, mas ao mesmo tempo, Emma continuava seu trabalho com uma calma quase imperturbável que me deixava ainda mais irritado, mas também um pouco fascinado. Não era fácil encontrar alguém que não se deixasse intimidar por minha presença, e, de certa forma, isso tornava o desafio mais interessante de se jogar.

Fiquei observando atentamente por alguns segundos, tentando perceber se ela estava realmente tão absorvida nas anotações ou se havia algo mais que eu ainda não conseguia ler em seu rosto. O fato de ela não ter sequer olhado para mim de novo, nem feito um comentário, só aumentava minha frustração e irritação. Isso nunca tinha acontecido antes. Havia uma maneira de agir dela que era mais forte do que qualquer palavra. Como se ela soubesse que não precisava se justificar, e essa convicção me incomodava mais do que eu queria.

Eu estava prestes a interromper aquele maldito momento silencioso quando a porta se abriu, e o resto da equipe entrou na sala, trazendo com eles uma onda de energia e atividade. Emma continuou concentrada em seus afazeres, sua postura nunca alterada, e eu, ainda em pé, me vi forçado a assumir meu papel de líder. Dei as instruções de forma direta, sem perder a postura, mas meu olhar ainda estava em Emma. Havia algo ali que eu não podia mais ignorar. Algo que me intrigava e encantava ao mesmo tempo.

A reunião transcorreu de forma rápida e eficiente, mas com um subtexto que eu mal podia disfarçar. Quando terminou, todos se levantaram, mas, ao contrário do resto, Emma se demorou um pouco mais, organizando suas coisas de maneira calma e meticulosa envolvida em seu próprio mundinho. Aproveitei o momento e me aproximei, sem pressa, mas com um objetivo claro.

— Parabéns, a senhorita me impressionou. Não me desapontou. — comentei, mais como uma provocação do que uma observação genuína.

Ela me olhou por um momento, como se pensasse bem o que responder, antes de simplesmente falar:

— Não era meu objetivo te impressionar, senhor. Mas fico feliz que tenha ficado satisfeito.

Senti um desconforto crescente com a maneira como ela se mantinha distante, como se tivesse a confiança suficiente para saber que nada do que eu dissesse realmente importava ou a abalasse. Não gostei disso, porém ao mesmo tempo, algo dentro de mim me dizia que era exatamente isso o que me atraía nela.

Fui interrompido por um telefonema urgente, e Emma aproveitou a oportunidade para sair da sala sem mais palavras e nem troca de olhares. Quando a porta se fechou atrás dela, percebi que o desafio tinha apenas começado. E de alguma forma, eu sabia que seria mais complicado do que eu imaginava.

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