Os dias que se seguiram foram marcados por uma constante inquietação. Eu me pegava atento demais à presença de Emma no escritório, observando-a nos momentos mais banais: a forma como organizava seus papéis, a maneira precisa com que digitava e até mesmo o modo como tomava seu café sem qualquer adição de açúcar. Detalhes que, até então, eu jamais havia reparado em outra pessoa.O mais irritante nisso tudo era que eu não conseguia controlar essa curiosidade. Era como se ela tivesse se instalado em minha mente de forma involuntária e, a cada dia, tornava-se mais difícil ignorá-la.Certa tarde, durante uma reunião, notei como ela mantinha a postura impecável enquanto apresentava um relatório. Sua confiança era inabalável, e o modo como falava tornava impossível desviar a atenção. Eu deveria est
Finalmente o fim de semana havia chegado, eu precisar relaxar, aproveitei o tempo longe do escritório para visitar minha melhor amiga, Olivia. A casa dela era acolhedora, repleta de tons neutros e detalhes minimalistas, um refúgio perfeito para conversas sinceras e desabafos sem julgamentos.— Você está estranhamente pensativa hoje — comentou Olivia, servindo-me uma taça de vinho enquanto nos acomodávamos no sofá.Suspirei, girando o líquido na taça antes de responder:— É sobre o trabalho. Sobre o meu chefe, na verdade.Olivia arqueou uma sobrancelha, interessada.— Anthony? O poderoso e intocável Anthony?— Esse mesmo. — Tomei um gole de vinho antes de continuar. — Ele me intriga de um jeito que não deveria.Olivia sorriu de lado.— Isso parece interessante.— Não é — retruquei rapidamente. — Sei que é errado. Sei que jamais vou cair na lábia dele. Mas ele... mexe comigo. E eu odeio admitir isso em voz alta.— T
Ver Emma daquela forma, jogada no chão com a amiga, rindo descontroladamente, foi... inesperado. E, por mais que eu tentasse conter a expressão, sei que um sorriso surgiu no canto da minha boca. Ela sempre se esforçava para manter a postura profissional no escritório, mas ali, no parque, tropeçando em raízes e tentando se esconder de mim, era um lado dela que eu nunca tinha visto antes.Eu poderia ter seguido meu caminho, ignorado o que vi, mas minha curiosidade falou mais alto. Aproximei-me com as mãos nos bolsos, observando-a se atrapalhar para se recompor.— Emma? Você está bem? — perguntei, mantendo minha voz o mais neutra possível, embora minha diversão fosse evidente.Ela pareceu congelar por um segundo antes de levantar o olhar para mim. Havia um misto de surpresa e irritação em seus olhos, o que me divertiu ainda mais. Emma não era uma mulher que gostava de ser pega desprevenida, e eu estava começando a perceber que fazê-la perder o controle era uma expe
Os dias passaram rapidamente até a chegada do grande evento. O baile de aniversário da empresa. Aquilo era muito mais do que uma simples celebração, representava quatro décadas de conquistas, desafios e crescimento. Como CEO, minha responsabilidade era garantir que a noite fosse memorável para todos. Assim, na manhã da segunda-feira anterior ao evento, reuni os funcionários no auditório principal para fazer o comunicado oficial.— Boa tarde a todos. Esta semana marca um momento especial para nossa empresa. Quarenta anos de história, e nada disso teria sido possível sem o empenho de cada um de vocês. Na sexta-feira, celebraremos essa trajetória com um baile à altura da nossa equipe. Espero ver todos lá para brindarmos juntos a mais anos de sucesso.Houve um murmúrio animado entre os funcionários, especialmente entre aqueles que adoravam eventos soc
Eu saí do baile com uma sensação de peso no peito, mas uma leveza insuportável no corpo. Minha mente estava um caos, cheia de flashes da noite, da proximidade de Anthony, da forma como seus olhos se escureceram ao me encararem, da tensão que havia entre nós, como se o ar tivesse ficado denso e carregado de algo mais. Algo que eu não podia nomear, mas que me consumia, me engolia.Quando entrei em meu apartamento, joguei os sapatos para longe e caí no sofá-cama. O corpo estava quente, mas uma inquietação tomou conta de mim. Fechei os olhos, tentando processar tudo o que havia acontecido, mas foi inútil. A lembrança da sua pele tão próxima à minha, do toque dele, o calor que senti vindo dele e de mim, tudo isso me envolvia de novo.Senti meus dedos tremendo ao deslizar por minha própria pele, buscando algo que eu sabia que só poderia vir dele. Cada
Observei Emma sair do baile, e algo dentro de mim se contraiu, uma mistura de frustração e desejo reprimido. Meus olhos a seguiram até a porta, mesmo quando minha mente gritava para que eu ficasse onde estava. Ela não olhou para trás. Mas eu sabia, eu sentia, que ela estava tão inquieta quanto eu.Eu não deveria querer tanto. Não deveria desejar daquele jeito quase doentio, como se meu corpo reconhecesse o dela antes mesmo de minha consciência entender. Mas era tarde demais. Emma já estava em mim, debaixo da minha pele, queimando como álcool em um corte aberto.Assim que cheguei em casa, bati a porta com força e joguei o paletó em qualquer canto. Meus dedos foram ao pescoço, afrouxando a gravata, mas não era isso que me sufocava. Era ela. O gosto da tensão entre nós ainda estava na minha língua, o cheiro dela ainda grudado em minha roupa, um lembrete torturante do que eu queria, do que quase aconteceu. Passei a mão pelo rosto e soltei um riso baixo, rouco. Maldição. Emma estava me mat
Sábado. Para a maioria das pessoas, um dia de descanso. Para mim, um dia de conquista.Acordei antes do sol nascer, minha mente já girando com os compromissos do dia. Londres me esperava. Um jantar de negócios importante, um contrato bilionário a ser fechado. Mas, antes disso, eu tinha algo mais urgente a resolver.Emma.Saí para minha corrida matinal, tentando dissipar o peso no peito, mas cada passo só me lembrava da noite passada. Do jeito que ela me olhava. Da tensão ardente entre nós, algo tão denso que chegava a sufocar.Quando voltei para casa, tomei um banho frio e arrumei minha mala com eficiência. Roupas impecáveis, pastas organizadas. Tudo no lugar. Exceto ela.Deslizei o dedo pela tela do celular e enviei uma mensagem para o motorista.Mudança de rota. Vamos passar na casa de Emma primeiro.Eu tinha um plano.
O som insistente da campainha me arrancou do torpor do sono. Meu corpo ainda estava pesado, e por um segundo, acreditei que tinha sonhado. Mas então, o toque soou novamente, mais firme, mais exigente.Franzi o cenho, me arrastando até a porta com passos preguiçosos. Quem diabos aparecia na minha casa tão cedo?Quando abri a porta, meu coração quase parou.Anthony.Meu chefe.Alto, impecável como sempre, com aquele terno perfeitamente alinhado e um olhar que me prendeu no lugar. Ele me olhava como se já soubesse o que ia acontecer. Como se já tivesse decidido.— Senhor Anthony? — Minha voz saiu rouca, surpresa.Apoiando-se no batente da porta, ele inclinou a cabeça, um meio sorriso brincando em seus lábios.— Faça as malas, Emma. Vamos para Londres.Meu cérebro travou. O sono evaporou instantaneamente.&mdas