Capítulo 4

O silêncio que pairava entre nós era carregado de algo que eu não queria nomear porque sabia que era mais que errado.

Sentada à frente do meu chefe, em um restaurante luxuoso no coração de Nova Iorque, eu sentia o peso da sua presença como uma tempestade prestes a se formar no horizonte vindo na minha direção. Ele me observava com aquele olhar afiado, desafiador como se pudesse me dissecar e descobrir cada segredo meu. Mas eu não cederia. Não ao jogo dele.

O garçom serviu a taça de vinho à minha frente, e eu a girei entre os dedos, observando o líquido escarlate deslizar pelas laterais do cristal.

— Você não bebe? — Anthony perguntou, erguendo uma sobrancelha. Seu tom era neutro, mas havia um interesse sutil em sua voz. Era perceptível.

— Prefiro manter a cabeça clara no trabalho, senhor. — Respondi, antes de levar a taça aos lábios e dar um pequeno gole. Ele sorriu de canto, como se achasse graça da minha resposta.

— Inteligente. Gosto disso.

Fingi não perceber o elogio velado e foquei no prato à minha frente. O jantar estava delicioso, mas meu apetite havia diminuído drasticamente. Não era apenas pelo ambiente intimidador ou pela forma como ele me estudava com um certo interesse calculado. Era porque eu sabia o que esse almoço significava.

Ele estava testando minhas reações. Medindo meus limites e talvez, os deles também.

— Você me surpreendeu hoje. — Ele continuou, repousando os talheres ao lado do prato. — Poucos conseguem manter a postura ao meu lado.

— Talvez porque não sou como os outros como já disse ao senhor. — Retruquei, sem desviar o olhar. Se ele queria um jogo de poder, eu estava disposta a jogá-lo.

Anthony inclinou-se ligeiramente para frente, apoiando os antebraços na mesa. O movimento fez com que o perfume amadeirado e sofisticado dele me envolvesse como uma nevoa. Era uma fragrância marcante, como o próprio homem à minha frente.

— Não, você definitivamente não é. — Murmurou, seus olhos azuis faiscando com algo que eu não queria reconhecer. — E por isso mesmo, sou um homem curioso.

Mantive a expressão firme tentando esconder o que sua voz e aproximação me causavam. Eu sabia onde esse tipo de conversa levava, e não cairia nessa armadilha. Já vi esse jogo ser jogado antes. Homens poderosos, acostumados a conseguirem tudo o que querem, testando até onde podem ir. Mas Anthony Cooper não conseguiria o que queria de mim. Não mesmo!

— Imagino que haja muitas outras coisas para discutir além da minha personalidade, senhor Cooper. — Minha voz soou firme, sem hesitação. — Não é mesmo?

Ele sorriu, e dessa vez havia algo perigoso naquele sorriso.

— Certamente. Mas não confunda curiosidade com intenções erradas, senhorita. Eu valorizo pessoas que sabem o que querem, Emma. Pessoas que sabem se colocar. — Ele tomou um gole do seu próprio vinho e voltou a me encarar. — O problema é que a maioria desiste fácil quando percebe que o caminho é difícil.

Cruzei os braços sobre a mesa, sustentando seu olhar sem medo.

— Não sou do tipo que desiste. Passei por muita coisa para estar aqui. A palavra desistir não existe no meu vocabulário.

O seu olhar brilhou com algo indecifrável. Era como se ele estivesse diante de um desafio, um quebra-cabeças, e eu soubesse que ele gostava de desafios. Mas não importava. Eu não estava ali para ser conquistada. Eu estava ali porque lutei por esse emprego. Porque trabalhei duro. E eu não deixaria que ele transformasse isso em outra coisa.

— Bom. — Ele disse, finalmente se recostando na cadeira com uma naturalidade fora do normal. — Gosto de saber que minha nova secretária tem fibra. Mas saiba de uma coisa, Emma Clarke…

Minha respiração ficou suspensa por um breve segundo.

— Trabalho com pessoas que entendem a dinâmica do meu mundo. Pessoas que sabem jogar. Se for esse o caso, acho que terá uma trajetória interessante aqui. Se não for… bom, as portas estão sempre abertas para quem quiser sair.

Segurei a vontade de revirar os olhos.

— Com todo respeito, senhor Cooper, eu não sou uma peça nesse jogo. Estou aqui para trabalhar e farei isso.

Ele sorriu, e dessa vez foi um sorriso cheio de admiração e algo mais. Algo que eu não queria decifrar.

— Veremos. — Foi tudo o que disse.

Respirei fundo.

A partir daquele momento, eu sabia que minha jornada ali não seria apenas profissional.

Seria um duelo de vontades.

E eu não estava disposta a perder.

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