A semana passou rapidamente e eu escolhi um vestido que minha mãe disse ser perfeito. Não vi muita diferença. Tiraram quinhentas fotos minhas, e lá fui eu a caminho da festa.
Eu pedi um Uber e esperei, dentro de dez minutos o motorista parou a minha frente. Quando eu entrei notei que algo estava estranho. Dei boa noite; eram apenas sete horas, me sentei no banco do passageiro atrás do motorista. Segui olhando pela janela esperando o meu destino, a faculdade ficava um pouquinho distante da minha casa e eu não quis pegar ônibus. Notei que o motorista seguia por uma rua deserta e aquilo estava me deixando nervosa. Abri minha bolsa discretamente onde eu carregava um spray de pimenta e um estilete.
— Eu acredito que o Senhor esteja seguindo o caminho errado. — Falei, observando sua expressão pelo espelho da frente.
— Estou no caminho certo. Allyssa Garcia, não é? — Ele ergueu os olhos e me olhou pelo mesmo espelho. Meu coração entrou em choque, ele tinha a íris de seus olhos na cor branca, como o gelo.
— Como sabe meu nome? Preciso que pare o carro, pois eu quero descer. — Falei sem me importar se a rua estava deserta, eu só queria sair daquele carro e correr.
— Não precisa ter medo. Você é a escolhida, vai dar tudo certo! — Ele abriu um sorriso que mais parecia frio. Minha mente começou a zunir e eu fiquei me perguntando para que eu era a escolhida.
Não pensei em mais nada, engoli em seco e esperei pensando no que iria fazer, ele diminuiu a velocidade para passar numa esquina e então eu abri a porta com tudo e me joguei. Cai embolando e fui parar ao lado do asfalto, me levantei sem me preocupar com os machucados e sai correndo, ainda bem que estava de sapato. A rua era realmente deserta, não tinha para quem eu pedir ajuda, não passava carros e nem pessoas! Continuei correndo e quando olhei para trás o carro estava fazendo a volta, então tentei correr o mais rápido que um vestido me permitia, eu havia escolhido um vestido solto, florido. Nossa, eu tinha bom gosto...
Quando pensei que estava ganhando o mesmo carro passou por mim me fechando, dei meia volto e corri para o outro lado, o cara desceu abruptamente.
— Eu estou segurando uma arma, pare ou irei atirar. — O cara falou me fazendo tremer ainda mais.
Eu continuei correndo até que ele atirou para cima me fazendo congelar no lugar, eu me virei.
— O que você quer de mim? — Gritei, tentando controlar ao máximo o pavor.
— Quero que venha comigo, por bem ou por mal. — Ele foi claro e objetivo.
— Tudo bem. — Não adiantaria perguntar o porquê nem nada do tipo, ele não tinha cara de quem iria me explicar. Eu entrei no carro agora sentando no banco do carona, ele travou a porta do carro e seguiu fazendo novamente a meia volta.Eu não iria com ele para onde ele queria, não sabia o que ele iria fazer. Ele seguiu caminho entrando e saindo em ruas de São Paulo, pelo menos eu sabia onde estava. Segurei minha bolsa com firmeza, peguei meu celular que estava dentro e desligado.
— Não adianta ligar para ninguém Allyssa, só vai colocar mais pessoas em perigo. — Ele disse dando de ombros.
— Eu não vou ligar. — Falei respirando fundo.
Eu estava concentrada em bolar um plano para me livrar daquela situação quando uma BMW deu cavalo de pau no meio da rua em que estávamos ficando na frente do nosso carro e bloqueando a passagem para seguir adiante. O meu sequestrador tentou dar a ré e já estava conseguindo quando um homem saiu do carro a nossa frente. Ele parecia ter um metro e setenta, era moreno e tinha um rosto duro, impassível. Ele levantou a arma e mirou nos pneus dianteiros, furando os dois.
— Saia do carro. — Ele falou para mim, segurando pelo meu braço enquanto destravava a porta. Eu saí com ele me segurando e ele saiu pela mesma porta que eu.
— Preciso que solte a garota. — O cara a nossa frente gritou, impaciente.
— Sabe que não vou fazer isso. — Ele deu de ombros. — Seria mais fácil você nos acompanhar. — Ele estava com a mão em meu pescoço e segurando a arma sobre a minha cabeça ao mesmo tempo em que me usava de escudo.
— Você não vai atirar nela, sabe que não vai. Vocês precisam dela viva, mas eu posso atirar. — O cara que falou, mirando em mim.
— Você não vai fazer isso, é um bunda mole, então posso usá-la como escudo. — Ele gritou. — Anda logo, segue seu caminho e aceita que não consegue mudar mais nada. Já está tudo pronto, e vai acontecer.
— Não posso. — O outro falou. A minha cabeça estava girando e a única coisa que eu entendi com aquilo é que alguém morreria ali. E isso me fazia perceber que seria eu, que meus pais me encontrariam morta naquela noite. Eu não consegui pensar mais em nada além da defesa pessoal.
Antes que um dos dois pudessem atirar, eu apoiei todo o peso do meu corpo no joelho e desci com força ao mesmo tempo em que segurei a mão dele que estava com a arma, girando o corpo ficando de frente com ele e torcendo o seu braço para que ele pudesse largar. Ele segurou no braço com o outro braço e entramos em luta corporal, até que eu finalmente consegui fazê-lo jogar a arma longe e o imobilizei no chão, o enchendo de soco até que ele desmaiasse. Eu estava com tanta raiva, por todo pavor que havia sofrido que nem vi quando o outro cara se aproximou. Ele tocou em meu ombro e aquilo me causou uma onda de choque, no reflexo eu segurei sua mão me levantando no impulso e o empurrei, ele caiu no chão e eu me sentei em cima dele forçando seu pescoço.
— O que vocês querem comigo? — Perguntei o olhando nos olhos. Se olhassem de longe veriam olhos num tom azul ciano, olhando de tão perto o quanto eu estava, dava para ver toques brancos iguais aos do sequestrador.
— Você lutou muito bem, mas preciso que venha comigo. — Ele falou em tom mínimo por conta do sufocamento.
— Eu não vou com ninguém. — Falei cerrando o maxilar para o ódio que estava sentindo.
— Seus pais estão em casa agora, lhe esperando. Suas amigas: Luísa e Lorena, estão na festa que está sendo dada na faculdade em que você faz administração, também lhe esperando. Eu sei onde você mora e estuda, e eles também. Eu não vou lhe machucar, mas eles vão. E tem mais vindo aí. Ou você me solta e seguimos adiante ou volta para casa ou para a festa e causa uma chacina com todos que você ama. Eles não vão parar. — Ele disse após reverter à situação e me prender ao chão enquanto segurava as minhas mãos e ficava por cima.
— Como sei que também não vai me machucar? — Eu falei sabendo que dali eu não conseguiria sair, eu realmente estava imobilizada.
— Eu sei que é pedir muito, mas preciso que confie em mim. Ally. Estou tentando proteger você. — Ele falou respirando fundo e soltando minhas mãos. — Se eu quisesse lhe matar já tinha metido uma bala em sua cabeça.
— Tá. — Recuperei o fôlego enquanto o encarava, Ele havia me chamado pelo nome íntimo, nome que só a minha família chamava e aquilo havia me causado algo estranho. Ele havia vencido e eu não sei o porquê mas parecia estar sendo sincero, era lógico que ele já teria me matado se quisesse. — Pode sair de cima de mim agora.
— Me desculpe. — Ele falou se levantando e me dando a mão para levantar.
Assim que nos levantamos do chão percebemos um carro ao longe na velocidade da luz, corremos até o carro dele, entramos e ele deu a partida, seguimos caminho entrando e saindo de ruas até despistar o carro que nos seguia. Além do pavor de tudo que estava acontecendo, uma ironia rodava em minha cabeça... "Não morri com malucos e sequestradores para morrer por entrar em uma rua errada dessas e ser alvejada de tiros" Ainda estávamos no Brasil.
— Por que tudo isso está acontecendo? O que eu fiz? Quem é você? — Perguntei tentando controlar todo o desespero que surgia em minha mente.
— Gael. Não é o que você fez. — Ele falou com a voz mais tranquila. —É o que você pode fazer. Eu não tenho como lhe dar as respostas que você quer agora. Mas, darei quando estivermos num lugar seguro. Ok?
— Ok. Gael. — Falei me conformando por hora. Aquelas palavras estavam rodeando minha mente.
Meus pais ficariam preocupados quando percebessem que eu não voltei para casa e aquilo estava me matando.
— Meus pais vão ficar preocupados. – Eu falei.
— Você vai ligar para eles e vai dizer que vai dormir na casa de uma das suas amigas, a Luísa. Os pais dela estão viajando e os celulares estão fora de área então não terá como eles conferirem, sua amiga perdeu o celular hoje. — Ele deu de ombros.
— Como você sabe de tudo isso? — Perguntei confusa.
Ele me encarou novamente e voltou a olhar para a pista, acredito que aquilo tenha sido a resposta.
— Meus pais vão viajar amanhã, vão desconfiar de eu não estar lá para me despedir. — Falei tentando mais uma vez.
— Não vão; você vai tentar ir, mas vai ter um engarrafamento num dos caminhos para a sua casa e você não vai chegar a tempo para se despedir.
— Você vai criar um engarrafamento? — Falei ironizando.
Ele me olhou novamente com um sorriso no canto dos lábios. Eu suspirei. Ficamos na estrada por uns vinte minutos e eu percebi que havíamos saído da cidade.
— Para onde estamos indo? — Perguntei olhando o nada adiante.
— Normalmente, você costuma fazer tantas perguntas assim? — Ele falou estreitando os olhos para a estrada.
— Não, só quando sou sequestrada por um louco de olhos brancos, e entro em um carro com outro para um lugar que eu nem sei onde. — Ironizei enquanto olhava pela janela.
Ele abriu um sorriso que parecia ser sarcasticamente descontraído. Não era nada engraçado, mas ele estava achando!
A semana passou rapidamente e eu escolhi um vestido que minha mãe disse ser perfeito. Não vi muita diferença. Tiraram quinhentas fotos minhas, e lá fui eu a caminho da festa. Eu pedi um Uber e esperei, dentro de dez minutos o motorista parou a minha frente. Quando eu entrei notei que algo estava estranho. Dei boa noite; eram apenas 19hrs, me sentei no banco do passageiro atrás do motorista. Segui olhando pela janela esperando o meu destino, a faculdade ficava um pouquinho distante da minha casa e eu não quis pegar ônibus. Notei que o motorista seguia por uma rua deserta e aquilo estava me deixando nervosa. Abri minha bolsa discretamente onde eu carregava um spray de pimenta e um estilete. — Eu acredito que o Senhor esteja seguindo o caminho errado. — Falei, observando sua expressão pelo espelho da frente. — Estou no caminho certo. Allyssa Garcia, não é? — Ele ergueu os olhos e me olhou pelo mesmo espelho. Meu coração entrou em choque, ele tinha a íris de seus olhos na cor branca, co
— Seus pais estão em casa agora, lhe esperando. Suas amigas: Luísa e Lorena, estão na festa que está sendo dada na faculdade em que você faz administração, também lhe esperando. Eu sei onde você mora e estuda, e eles também. Eu não vou lhe machucar, mas eles vão. E tem mais vindo aí. Ou você me solta e seguimos adiante ou volta para casa ou para a festa e causa uma chacina com todos que você ama. Eles não vão parar. — Ele disse após reverter à situação e me prender ao chão enquanto segurava as minhas mãos e ficava por cima. — Como sei que também não vai me machucar? — Eu falei sabendo que dali eu não conseguiria sair, eu realmente estava imobilizada. — Eu sei que é pedir muito, mas preciso que confie em mim. Ally. Estou tentando proteger você. — Ele falou respirando fundo e soltando minhas mãos. — Se eu quisesse lhe matar já tinha metido uma bala em sua cabeça. — Tá. — Recuperei o fôlego enquanto o encarava, Ele havia me chamado pelo nome íntimo, nome que só a minha família chamava
Olhei para a tela do celular por um segundo e depois disquei o número de minha mãe na tela. Meus olhos encheram de lagrimas ao ouvir o Alô descontraído no outro lado da linha. — Mãe... — Falei tentando segurar as lágrimas, tudo que eu queria era gritar socorro! Mas, se tudo que aquele cara havia dito fosse verdade eu não poderia pôr minha família e amigos em perigo. — Oi meu bem, já está vindo? — Ela falou, deu para escutar a voz do meu pai atrás avisando que já estava bem tarde. — Eu vou dormir na casa da Lu hoje! — Falei. — Mas meu amor, eu e seu pai vamos viajar pela manhã, não queremos ir sem falar com você! — Ela falou com um tom triste na voz. — Eu sei mãe, é que ela levou um fora e sabe como é né, amigos são para essas baboseiras. — Falei com um sorriso magoado no rosto. — Tá bom, mas promete que vai chegar antes de irmos? — Ela falou. — Claro que vou, para vocês me apertarem quase me esmagando antes de ir. — Falei triste. — Ah meu amor, te amamos e por isso queremos te
Enquanto ele foi até o balcão, eu disquei o número de minha mãe na tela e esperei até que ela atendesse. — Oi mãe. — Falei. — Bom dia. — Oi meu amor, como está a Lu? — Minha mãe perguntou. — Está bem, eu acho. Não vou conseguir chegar aí a tempo. — Falei pensando na desculpa do engarrafamento que provavelmente não colaria. — Eu sei meu bem, estou vendo aqui o acidente que está gerando um engarrafamento terrível, eu sinto muito! Mas não vamos poder esperar que acabe. — Ela falou com um tom preocupado. — É, pois é. — Falei confusa por não saber como um acidente de grande repercussão poderia estar acontecendo naquele momento e como o Gael sabia disso. — Mas, te amamos meu amor e vamos morrer de saudades. Logo vamos estar de volta com nossas explosões de abraços. — Minha mãe falou. — Seu pai está mandando um beijo. — Manda outro para ele. Amo muito mesmo vocês. Se divirtam muito nessa viagem tá bom? — Falei sentindo a voz embargar ao pensar que talvez eu nunca mais fosse ver meus pa
Fechei a porta do banheiro e respirei fundo tentando não sorrir ao vê-lo falar daquela maneira. Vesti a calcinha que ainda estava na etiqueta e me dei conta de que não tinha sutiã porque o vestido não precisava. Coloquei a camisa que ele havia me dado, “será só por uma noite, tudo bem. ” Tentei me convencer de que não tinha problema dormir de calcinha e camisa masculina com um desconhecido, se ele não havia me estuprado até aquele momento não iria fazer isso agora, e eu estava completamente ridícula naquela roupa. — Peguei algo para a gente comer. — Ele falou quando eu sai do banheiro. — Legal... — Falei indo de braços cruzados até a cama. — Tá, quer assistir alguma coisa? — Ele falou me olhando de baixo para cima e desviando o olhar para a TV. Sua voz estava mais tranquila agora. — Pode ser. — Falei tentando me distrair em meio ao constrangimento. Ele ligou a tevê e estava passando FRIENDS, ficamos sentados na cama comendo e assistindo e por um momento eu me esqueci o que estava
Quando chegamos mais perto da casa, uma mulher de olhos brancos desceu para nos atender. Ela tinha uma altura mediana, era morena e de cabelos cacheados, os olhos pareciam se infiltrar dentro de mim de tão penetrantes e por um momento eu senti medo. Será que ele havia me levado para o mestre dos meus sequestradores? — Olá, seja bem-vinda Ally. — Ela abriu um sorriso gentil me mostrando o caminho para dentro da casa. — Como sabe meu nome? — Perguntei confusa, só podia ser um sonho maluco, não era possível. — Me chamo Jane, eu te conheço há muito tempo, mas você não deve se lembrar de mim. Ela continuou sorrindo, era uma mulher quase perfeita, seus cabelos batiam na cintura e ela usava um vestido longo branco. Aquilo era assustador. — Tá, não lembro mesmo. — Falei entrando. — Vou lhe mostrar o seu quarto e amanhã conversaremos mais, deve estar muito cansada. Tudo bem? — Ela falou. — Tá. — Dei de ombros. A segui passando por uma sala enorme e subindo uma escadaria que dava para doi
— Eu sei que agora essa história não faz sentido, mas você vai entender um dia. Infelizmente esse plano foi à frente e você foi criada de um ventre materno, porém foi modificada pela ciência e deu certo. Você já ficou doente alguma vez em sua vida? — Não pode ser. Por que isso aconteceu só agora? — Perguntei confusa. — Porque você já está com quase vinte anos, e eles estão ficando loucos pela nova geração. Um grupo de rebeldes cientistas se juntou com alguns Eléctrons, e resolvemos que seqüestraríamos as crianças da sociedade para que eles não continuassem com os experimentos. Mas; eles não param, continuam tentando e tentando incansavelmente, por isso estão lhe caçando agora. — Ela pegou os temperos e colocou numa panela ficando de costas para mim. — Mas, todos os Eléctrons têm os mesmos olhos que os seus? Por que eu não tenho? — Perguntei sentindo minha cabeça dá um nó. — Sim, somente você e uma outra pessoa não tem. Esses olhos são provenientes da mutação genética que sofrem, po
Eu peguei o prato e comecei a comer na esperança de terminar logo para poder conversar, garfada depois de garfada fui descobrindo que estava morta de fome. Esqueci que Gael estava ali me olhando e devorei o prato em poucos minutos, finalizando com o copo de suco que estava também na bandeja. Respirei fundo e o encarei. — Podemos conversar agora? — Falei esperando a resposta. — Claro. — Ele falou com um sorriso descontraído. — Como você se sentiu quando descobriu que era apenas parte de um experimento macabro? — Perguntei curiosa para saber a resposta. — Eu já sabia desde o começo, fui criado com os líderes. Éramos como... uma família! Eles nos diziam que fazíamos parte de um plano maior, que iríamos salvar o mundo. Eram bem convincentes, mas eu não sou parte de um experimento! Eu sou mais do que isso, eu sou um ser humano só que criado de uma forma diferente. Fui contra o plano deles, vivia fugindo ou burlando os testes até que ouvi atrás da porta o plano dos rebeldes, fui o primei