Capítulo 02

A semana passou rapidamente e eu escolhi um vestido que minha mãe disse ser perfeito. Não vi muita diferença. Tiraram quinhentas fotos minhas, e lá fui eu a caminho da festa.

Eu pedi um Uber e esperei, dentro de dez minutos o motorista parou a minha frente. Quando eu entrei notei que algo estava estranho. Dei boa noite; eram apenas 19hrs, me sentei no banco do passageiro atrás do motorista. Segui olhando pela janela esperando o meu destino, a faculdade ficava um pouquinho distante da minha casa e eu não quis pegar ônibus. Notei que o motorista seguia por uma rua deserta e aquilo estava me deixando nervosa. Abri minha bolsa discretamente onde eu carregava um spray de pimenta e um estilete.

— Eu acredito que o Senhor esteja seguindo o caminho errado. — Falei, observando sua expressão pelo espelho da frente.

— Estou no caminho certo. Allyssa Garcia, não é? — Ele ergueu os olhos e me olhou pelo mesmo espelho. Meu coração entrou em choque, ele tinha a íris de seus olhos na cor branca, como o gelo.

—  Como sabe meu nome? Preciso que pare o carro, pois eu quero descer. —  Falei sem me importar se a rua estava deserta, eu só queria sair daquele carro e correr.

— Não precisa ter medo. Você é a escolhida, vai dar tudo certo! —  Ele abriu um sorriso que mais parecia frio. Minha mente começou a zunir e eu fiquei me perguntando para que eu era a escolhida.

Não pensei em mais nada, engoli em seco e esperei pensando no que iria fazer, ele diminuiu a velocidade para passar numa esquina e então eu abri a porta com tudo e me joguei. Cai embolando e fui parar ao lado do asfalto, me levantei sem me preocupar com os machucados e sai correndo, ainda bem que estava de sapato. A rua era realmente deserta, não tinha para quem eu pedir ajuda, não passava carros e nem pessoas! Continuei correndo e quando olhei para trás o carro estava fazendo a volta, então tentei correr o mais rápido que um vestido me permitia, eu havia escolhido um vestido solto, florido. Nossa, eu tinha bom gosto...

Quando pensei que estava ganhando o mesmo carro passou por mim me fechando, dei meia volto e corri para o outro lado, o cara desceu abruptamente.

— Eu estou segurando uma arma, pare ou irei atirar. —  O cara falou me fazendo tremer ainda mais.

Eu continuei correndo até que ele atirou para cima me fazendo congelar no lugar, eu me virei.

— O que você quer de mim? — Gritei, tentando controlar ao máximo o pavor.

— Quero que venha comigo, por bem ou por mal. — Ele foi claro e objetivo.

— Tudo bem. — Não adiantaria perguntar o porquê nem nada do tipo, ele não tinha cara de quem iria me explicar. Eu entrei no carro agora sentando no banco do carona, ele travou a porta do carro e seguiu fazendo novamente a meia volta.

Eu não iria com ele para onde ele queria, não sabia o que ele iria fazer. Ele seguiu caminho entrando e saindo em ruas de São Paulo, pelo menos eu sabia onde estava. Segurei minha bolsa com firmeza, peguei meu celular que estava dentro e desligado.

— Não adianta ligar para ninguém Allyssa, só vai colocar mais pessoas em perigo. — Ele disse dando de ombros.

— Eu não vou ligar. — Falei respirando fundo.

Eu estava concentrada em bolar um plano para me livrar daquela situação quando uma BMW deu cavalo de pau no meio da rua em que estávamos ficando na frente do nosso carro e bloqueando a passagem para seguir adiante. O meu sequestrador tentou dar a ré e já estava conseguindo quando um homem saiu do carro a nossa frente. Ele parecia ter um metro e setenta, era moreno e tinha um rosto duro, impassível. Ele levantou a arma e mirou nos pneus dianteiros, furando os dois.

— Saia do carro. —  Ele falou para mim, segurando pelo meu braço enquanto destravava a porta. Eu saí com ele me segurando e ele saiu pela mesma porta que eu.

— Preciso que solte a garota. — O cara a nossa frente gritou, impaciente.

— Sabe que não vou fazer isso. —  Ele deu de ombros. — Seria mais fácil você nos acompanhar. — Ele estava com a mão em meu pescoço e segurando a arma sobre a minha cabeça ao mesmo tempo em que me usava de escudo.

— Você não vai atirar nela, sabe que não vai. Vocês precisam dela viva, mas eu posso atirar. —  O cara que falou, mirando em mim.

— Você não vai fazer isso, é um bunda mole, então posso usá-la como escudo. — Ele gritou. — Anda logo, segue seu caminho e aceita que não consegue mudar mais nada. Já está tudo pronto, e vai acontecer.

— Não posso. — O outro falou. A minha cabeça estava girando e a única coisa que eu entendi com aquilo é que alguém morreria ali. E isso me fazia perceber que seria eu, que meus pais me encontrariam morta naquela noite. Eu não consegui pensar mais em nada além da defesa pessoal.

Antes que um dos dois pudesse atirar, eu apoiei todo o peso do meu corpo no joelho e desci com força ao mesmo tempo em que segurei a mão dele que estava com a arma, girando o corpo ficando de frente com ele e torcendo o seu braço para que ele pudesse largar. Ele segurou no braço com o outro braço e entramos em luta corporal, até que eu finalmente consegui fazê-lo jogar a arma longe e o imobilizei no chão, o enchendo de soco até que ele desmaiasse. Eu estava com tanta raiva, por todo pavor que havia sofrido que nem vi quando o outro cara se aproximou. Ele tocou em meu ombro e aquilo me causou uma onda de choque, no reflexo eu segurei sua mão me levantando no impulso e o empurrei, ele caiu no chão e eu me sentei em cima dele forçando seu pescoço.

— O que vocês querem comigo? — Perguntei o olhando nos olhos. Se olhassem de longe veriam olhos num tom azul ciano, olhando de tão perto o quanto eu estava, dava para ver toques brancos iguais aos do sequestrador.

— Você lutou muito bem, mas preciso que venha comigo. — Ele falou em tom mínimo por conta do sufocamento.

— Eu não vou com ninguém. — Falei cerrando o maxilar para o ódio que estava sentindo.

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