— Seus pais estão em casa agora, lhe esperando. Suas amigas: Luísa e Lorena, estão na festa que está sendo dada na faculdade em que você faz administração, também lhe esperando. Eu sei onde você mora e estuda, e eles também. Eu não vou lhe machucar, mas eles vão. E tem mais vindo aí. Ou você me solta e seguimos adiante ou volta para casa ou para a festa e causa uma chacina com todos que você ama. Eles não vão parar. — Ele disse após reverter à situação e me prender ao chão enquanto segurava as minhas mãos e ficava por cima.
— Como sei que também não vai me machucar? — Eu falei sabendo que dali eu não conseguiria sair, eu realmente estava imobilizada.
— Eu sei que é pedir muito, mas preciso que confie em mim. Ally. Estou tentando proteger você. — Ele falou respirando fundo e soltando minhas mãos. — Se eu quisesse lhe matar já tinha metido uma bala em sua cabeça.
— Tá. — Recuperei o fôlego enquanto o encarava, Ele havia me chamado pelo nome íntimo, nome que só a minha família chamava e aquilo havia me causado algo estranho. Ele havia vencido e eu não sei o porquê mas parecia estar sendo sincero, era lógico que ele já teria me matado se quisesse. — Pode sair de cima de mim agora.
— Me desculpe. — Ele falou se levantando e me dando a mão para levantar.
Assim que nos levantamos do chão percebemos um carro ao longe na velocidade da luz, corremos até o carro dele, entramos e ele deu a partida, seguimos caminho entrando e saindo de ruas até despistar o carro que nos seguia. Além do pavor de tudo que estava acontecendo, uma ironia rodava em minha cabeça... "Não morri com malucos e sequestradores para morrer por entrar em uma rua errada dessas e ser alvejada de tiros" Ainda estávamos no Brasil.
— Por que tudo isso está acontecendo? O que eu fiz? Quem é você? — Perguntei tentando controlar todo o desespero que surgia em minha mente.
— Gael. Não é o que você fez. — Ele falou com a voz mais tranquila. —É o que você pode fazer. Eu não tenho como lhe dar as respostas que você quer agora. Mas, darei quando estivermos num lugar seguro. Ok?
— Ok. Gael. — Falei me conformando por hora. Aquelas palavras estavam rodeando minha mente.
Meus pais ficariam preocupados quando percebessem que eu não voltei para casa e aquilo estava me matando.
— Meus pais vão ficar preocupados. – Eu falei.
— Você vai ligar para eles e vai dizer que vai dormir na casa de uma das suas amigas, a Luísa. Os pais dela estão viajando e os celulares estão fora de área então não terá como eles conferirem, sua amiga perdeu o celular hoje. — Ele deu de ombros.
— Como você sabe de tudo isso? — Perguntei confusa.
Ele me encarou novamente e voltou a olhar para a pista, acredito que aquilo tenha sido a resposta.
— Meus pais vão viajar amanhã, vão desconfiar de eu não estar lá para me despedir. — Falei tentando mais uma vez.
— Não vão; você vai tentar ir, mas vai ter um engarrafamento num dos caminhos para a sua casa e você não vai chegar a tempo para se despedir.
— Você vai criar um engarrafamento? — Falei ironizando.
Ele me olhou novamente com um sorriso no canto dos lábios. Eu suspirei. Ficamos na estrada por uns vinte minutos e eu percebi que havíamos saído da cidade.
— Para onde estamos indo? — Perguntei olhando o nada adiante.
— Normalmente, você costuma fazer tantas perguntas assim? — Ele falou estreitando os olhos para a estrada.
— Não, só quando sou sequestrada por um louco de olhos brancos, e entro em um carro com outro para um lugar que eu nem sei onde. — Ironizei enquanto olhava pela janela.
Ele abriu um sorriso que parecia ser sarcasticamente descontraído. Não era nada engraçado, mas ele estava achando! Eu fiquei olhando pela janela a nossa rota pelo nada até que apareceu uma casa, e dez minutos depois apareceu outra, até que ele parou o carro no fundo de uma das casas do caminho.
— Fique em silêncio. — Ele sussurrou.
Descemos do carro com o mínimo de barulho possível e caminhamos pelo escuro até a janela dos fundos da casa. Ele encarou o lado de dentro percebendo que não havia ninguém no andar debaixo, então nos afastamos um pouco para que ele pudesse observar o andar de cima, estava tudo apagado. Ou não tinha ninguém, ou estavam todos dormindo. Um pouco afastado da casa havia um local fechado que parecia ser uma garagem com fechadura normal. Ele tirou um grampo do bolso e abriu a fechadura me dando espaço para que eu pudesse entrar.
— Aos dezenove anos vou presa por invadir propriedades. Isso é ótimo. — Ironizei.
— Só se você for pega. — Ele deu de ombros entrando depois de mim.
No lugar havia um carro, um balcão com ferramentas e atrás desse balcão um espaço vazio que dava para uma janela.
— Fique aqui que eu já volto. — Ele falou voltando por onde entrou.
— Vai me deixar... — Antes que eu pudesse terminar de falar ele saiu. Suspirei.
Parecia um filme de terror onde eu era deixada para trás num lugar desconhecido para ser morta, tentei tirar aquele pensamento da minha cabeça e fiquei olhando pela janela do fundo para o nada. Senti a porta ser trancada atrás de mim, depois ouvi o barulho do carro e quando meu coração vi que ele estava estacionando o carro atrás da garagem, então pulou a janela entrando novamente.
— Achou que eu ia lhe largar aqui né? — Ele falou com um sorriso debochado no rosto.
— Claro que não. — Dei de ombros, nem eu acreditei naquela mentira.
Gael pegou dois cobertores que estavam no carro dele, forrou o chão atrás do balcão com um e me deu o outro para que eu pudesse se enrolar.
— Que confortável. — Ironizei.
— Se quiser deitar na grama lá fora é mais confortável. — Ele falou se sentando ao meu lado e se apoiando no balcão.
— Haha. Preciso ligar para os meus pais. — Falei.
— Tudo bem. — Ele disse me dando o celular.
Olhei para a tela do celular por um segundo e depois disquei o número de minha mãe na tela. Meus olhos encheram de lagrimas ao ouvir o Alô descontraído no outro lado da linha. — Mãe... — Falei tentando segurar as lágrimas, tudo que eu queria era gritar socorro! Mas, se tudo que aquele cara havia dito fosse verdade eu não poderia pôr minha família e amigos em perigo. — Oi meu bem, já está vindo? — Ela falou, deu para escutar a voz do meu pai atrás avisando que já estava bem tarde. — Eu vou dormir na casa da Lu hoje! — Falei. — Mas meu amor, eu e seu pai vamos viajar pela manhã, não queremos ir sem falar com você! — Ela falou com um tom triste na voz. — Eu sei mãe, é que ela levou um fora e sabe como é né, amigos são para essas baboseiras. — Falei com um sorriso magoado no rosto. — Tá bom, mas promete que vai chegar antes de irmos? — Ela falou. — Claro que vou, para vocês me apertarem quase me esmagando antes de ir. — Falei triste. — Ah meu amor, te amamos e por isso queremos te
Enquanto ele foi até o balcão, eu disquei o número de minha mãe na tela e esperei até que ela atendesse. — Oi mãe. — Falei. — Bom dia. — Oi meu amor, como está a Lu? — Minha mãe perguntou. — Está bem, eu acho. Não vou conseguir chegar aí a tempo. — Falei pensando na desculpa do engarrafamento que provavelmente não colaria. — Eu sei meu bem, estou vendo aqui o acidente que está gerando um engarrafamento terrível, eu sinto muito! Mas não vamos poder esperar que acabe. — Ela falou com um tom preocupado. — É, pois é. — Falei confusa por não saber como um acidente de grande repercussão poderia estar acontecendo naquele momento e como o Gael sabia disso. — Mas, te amamos meu amor e vamos morrer de saudades. Logo vamos estar de volta com nossas explosões de abraços. — Minha mãe falou. — Seu pai está mandando um beijo. — Manda outro para ele. Amo muito mesmo vocês. Se divirtam muito nessa viagem tá bom? — Falei sentindo a voz embargar ao pensar que talvez eu nunca mais fosse ver meus pa
Fechei a porta do banheiro e respirei fundo tentando não sorrir ao vê-lo falar daquela maneira. Vesti a calcinha que ainda estava na etiqueta e me dei conta de que não tinha sutiã porque o vestido não precisava. Coloquei a camisa que ele havia me dado, “será só por uma noite, tudo bem. ” Tentei me convencer de que não tinha problema dormir de calcinha e camisa masculina com um desconhecido, se ele não havia me estuprado até aquele momento não iria fazer isso agora, e eu estava completamente ridícula naquela roupa. — Peguei algo para a gente comer. — Ele falou quando eu sai do banheiro. — Legal... — Falei indo de braços cruzados até a cama. — Tá, quer assistir alguma coisa? — Ele falou me olhando de baixo para cima e desviando o olhar para a TV. Sua voz estava mais tranquila agora. — Pode ser. — Falei tentando me distrair em meio ao constrangimento. Ele ligou a tevê e estava passando FRIENDS, ficamos sentados na cama comendo e assistindo e por um momento eu me esqueci o que estava
Quando chegamos mais perto da casa, uma mulher de olhos brancos desceu para nos atender. Ela tinha uma altura mediana, era morena e de cabelos cacheados, os olhos pareciam se infiltrar dentro de mim de tão penetrantes e por um momento eu senti medo. Será que ele havia me levado para o mestre dos meus sequestradores? — Olá, seja bem-vinda Ally. — Ela abriu um sorriso gentil me mostrando o caminho para dentro da casa. — Como sabe meu nome? — Perguntei confusa, só podia ser um sonho maluco, não era possível. — Me chamo Jane, eu te conheço há muito tempo, mas você não deve se lembrar de mim. Ela continuou sorrindo, era uma mulher quase perfeita, seus cabelos batiam na cintura e ela usava um vestido longo branco. Aquilo era assustador. — Tá, não lembro mesmo. — Falei entrando. — Vou lhe mostrar o seu quarto e amanhã conversaremos mais, deve estar muito cansada. Tudo bem? — Ela falou. — Tá. — Dei de ombros. A segui passando por uma sala enorme e subindo uma escadaria que dava para doi
— Eu sei que agora essa história não faz sentido, mas você vai entender um dia. Infelizmente esse plano foi à frente e você foi criada de um ventre materno, porém foi modificada pela ciência e deu certo. Você já ficou doente alguma vez em sua vida? — Não pode ser. Por que isso aconteceu só agora? — Perguntei confusa. — Porque você já está com quase vinte anos, e eles estão ficando loucos pela nova geração. Um grupo de rebeldes cientistas se juntou com alguns Eléctrons, e resolvemos que seqüestraríamos as crianças da sociedade para que eles não continuassem com os experimentos. Mas; eles não param, continuam tentando e tentando incansavelmente, por isso estão lhe caçando agora. — Ela pegou os temperos e colocou numa panela ficando de costas para mim. — Mas, todos os Eléctrons têm os mesmos olhos que os seus? Por que eu não tenho? — Perguntei sentindo minha cabeça dá um nó. — Sim, somente você e uma outra pessoa não tem. Esses olhos são provenientes da mutação genética que sofrem, po
Eu peguei o prato e comecei a comer na esperança de terminar logo para poder conversar, garfada depois de garfada fui descobrindo que estava morta de fome. Esqueci que Gael estava ali me olhando e devorei o prato em poucos minutos, finalizando com o copo de suco que estava também na bandeja. Respirei fundo e o encarei. — Podemos conversar agora? — Falei esperando a resposta. — Claro. — Ele falou com um sorriso descontraído. — Como você se sentiu quando descobriu que era apenas parte de um experimento macabro? — Perguntei curiosa para saber a resposta. — Eu já sabia desde o começo, fui criado com os líderes. Éramos como... uma família! Eles nos diziam que fazíamos parte de um plano maior, que iríamos salvar o mundo. Eram bem convincentes, mas eu não sou parte de um experimento! Eu sou mais do que isso, eu sou um ser humano só que criado de uma forma diferente. Fui contra o plano deles, vivia fugindo ou burlando os testes até que ouvi atrás da porta o plano dos rebeldes, fui o primei
Depois de algum tempo deitada na cama pensando se ia ou não ia enquanto encarava os acessórios, decidi que iria. Tomei um banho e coloquei o vestido florido, depois coloquei um brinquinho de florzinha e um colar com o pingente de uma orquídea, soltei os cabelos e coloquei a presilhinha no formato de flor ao lado. Eu estava me achando praiana o suficiente, então finalizei com um batom rosinha que encontrei. Mas, eu não tinha nenhuma sandália. Fiquei sentada na cama esperando que alguém notasse que eu não apareci para que eu pudesse pedir uma sandália, até que eu lembrei que a sandália que usei no baile era até bonitinha. Então calcei e sai do quarto um pouco ansiosa. “O que será que ela queria falar com ele? ”Me peguei pensando algumas vezes enquanto descia as escadas da casa em direção ao lado de fora, não havia encontrado ninguém então fui até o fundo para ver, mas nada estava acontecendo. Me sentei na bancada da porta da frente e fiquei esperando que alguém viesse me buscar. “Será
As arvores e flores já enfeitavam naturalmente o lugar, havia rochas com pessoas encostadas e tinham acrescentado alguns panos no chão com algumas almofadas para que as pessoas sentassem. E debaixo de uma arvore imensa havia uma mesa com várias frutas e petiscos para que pudéssemos nos servir, tinha vinhos que pareciam caros, uísque e refrigerantes. Fiquei me perguntando quantas vezes eles viajavam para comprar tudo àquilo porque era impossível que surgisse um mercado do outro lado da mata. Quer dizer; eu não sabia, até porque nada mais parecia impossível! — O lugar ficou muito bonito! — Falei para Gael que se sentou num dos panos ao meu lado. — Sim, o pessoal se dedica muito para os luais que temos. É uma forma de diversão e tanto para as pessoas que não podem visitar a cidade de vez em quando. — As pessoas daqui vão até a cidade? — Perguntei, a gente praticamente viajou para estar lá. — Claro que vão. Ninguém aqui é prisioneiro, exceto que somos caçados, mas isso dá para disfarça