No amplo quarto infantil, com desenhos decorando as paredes, mesmo faltando dois dias para a visita de Maximilian junto a Anya, antecipando os preparativos da estadia dele longe do lar dos Hoffmann, Carla Silva, babá do menino, juntava peças de roupas e outros itens que poderiam ser úteis, como solicitados pelos avós dele.Sentado de pernas abertas em um felpudo tapete, Max se distraia com seus brinquedos, fazendo corrida com dois carrinhos que ganhou da mãe, até ela trair sua atenção.— Maximilian, precisa de algo especial para o fim de semana com a Anya? Um lanche ou brinquedo?Max inclinou a cabeça pensativamente, depois se voltou para a babá com um brilho de expectativa nos olhos azulados.— Pasta pra cabelo.Carla parou por um momento, a irritação presente em cada traço.— O gel foi à primeira coisa que coloquei na bolsa, como sempre.Max sacudiu a cabeça vigorosamente.— Não, gel não. Quero pasta. Nik usa e eu quero usar também.Carla ficou intrigada com a menção de Nikolas. Não
Sentada no pequeno sofá da sala da casa de hóspedes, Anya degustava os bombons com licor devagar. Desde que anunciou que se divorciaria, nunca mais pode comprar um daqueles, aproveitaria ao máximo.Acompanhou o movimento da cortina de linho, esvoaçando levemente com a brisa da noite, os pensamentos perdidos em lembranças e esperanças que começavam e terminavam em Nikolas.Planejava usar a atração de Nikolas por ela a seu favor, porém, refletindo sua minúscula lista de relacionamento amoroso, e o quanto o desejava temia sucumbir igual o chocolate derretendo no calor de sua boca.Seu primeiro namorado e contato sexual foi um rapaz do colegial, que a atraiu mais pela ideia de rebeldia do que por amor verdadeiro. Tinha sido uma tola e desesperada tentativa de ser dona do meu destino. Naquela época, queria se libertar das correntes impostas por seu pai, que insistia que ela se casasse com um primo distante de sua mãe. A relação foi breve e insípida, sem verdadeira conexão e Anya não se imp
A luz suave da lua entrava pelas frestas da cortina, iluminando o quarto com um brilho prateado. Deitados lado a lado na cama, Anya e Nikolas estavam aconchegados um no outro.Com a cabeça apoiada no tórax dele, Anya sentia a respiração tranquila de Nikolas e ouvia o batimento constante de seu coração. Admitia que sentiu falta do calor e das carícias suaves dele.Ergueu o rosto, se encantando ao ver o cabelo de Nikolas ligeiramente desarrumado, os cachos caindo displicentemente sobre a testa. Era terrível, doloroso, mas o amava, nunca deixou de amar um dia sequer.Se não fosse Laura... Ah, o “e se...” vindo outra vez.— Nikolas, você é próximo de Laura?Nikolas a fitou por um momento, sem entender o motivo da pergunta. Imaginou que pudesse ter algo a ver com o processo de guarda, uma vez que seu sócio agora era advogado dela.— Ela é esposa do Ricardo, então temos contato frequente e nos damos bem.Mordeu o lábio inferior, hesitando, mas a curiosidade era forte demais para ignorar.—
A atitude despreocupada e confiante de Liam sofreu um baque ao analisar o comportamento de Maximilian com a chegada do advogado na sexta á noite.A princípio, de pé, próximo à fonte central, observou com desdém o carro de Nikolas Oliveira passar pelo portão principal. No entanto, quando o advogado estacionou, o pequeno e introvertido herdeiro dos Hoffmann, até então parado ao lado de Carla, correu animadamente em direção ao carro.— Nik, Nik! Você veio me buscar! — gritou ele, radiante, quando o advogado saiu do carro.Nikolas abriu um sorriso caloroso e abaixou-se para abraçar o garoto. Ele trocou um olhar rápido com Liam antes de se concentrar novamente em Max.— Claro, Max! Pronto para encontrar sua mãe?Liam apertou os punhos, a irritação com o comportamento incomum se intensificando. Carla, notando a tensão do amante, aproximou-se.— Eu disse. Max gosta demais desse homem e das visitas a Anya — ela alertou baixinho. — É perigoso se ele preferir a mãe em vez de você.Liam lançou u
A tarde estava ensolarada e uma brisa suave passava pelo pátio ao redor da área da piscina da mansão dos Oliveira, balançando levemente as árvores ao redor. Cumprindo o que foi dito para Max na noite anterior, Nikolas, com a ajuda empolgada de sua mãe, montou um piquenique improvisado. Uma variedade de comidas e bebidas foi colocada em uma grande toalha de mesa estendida na grama ao lado da piscina.Clara estava mais animada do que nunca, correndo de um lado para o outro, dando indicações e ajeitando as coisas do seu jeito, certificando-se de que tudo estava perfeito. Nikolas observava a cena com divertimento, apreciando a alegria de sua mãe e o brilho de felicidade nos olhos de Max.— Mãe, acho que já está tudo perfeito. Não precisa se preocupar tanto — disse quando ela mudou pela quinta vez a posição de elementos que nem deveriam estar ali, na opinião de Nikolas.— Eu sei, Nikolas, mas quero que tudo esteja impecável. É importante para mim que ele se divirta.— Não acho que ele se i
Logo os O’Connor chegaram para se juntar ao piquinique. Ricardo, Laura e Benjamin foram recebidos com abraços e sorrisos calorosos pelos Oliveira. Anya aguardou sua vez de cumprimenta-los, as mãos pousadas protetoramente nos ombros do filho, pronta para o momento em que fosse a vez das crianças se cumprimentarem.Levando o filho para perto de Max, Ricardo os apresentou.— Benjamin, quero que conheça o Maximilian.— Oi, eu sou Benjamin, mas todo mundo me chama de Benji — disse o garotinho de cabelo castanho acobreado sorrindo.Tímido, Max olhou receoso para a mãe, em busca de uma resposta do que fazer. Anya não sabia bem como reagir à ideia das crianças interagirem, e ficou em silêncio, atraindo olhares questionadores de parte dos adultos. Apenas Laura compartilhava e compreendia sua hesitação.Recordando a primeira vez que conversou com Max, do modo retraído da criança diante de sua presença no início, Nikolas se aproximou para incentivá-lo.— Convidei meu amigo Benji para se divertir
De volta à área da piscina, onde o piquenique improvisado estava em pleno andamento, Anya passou um tempo no canto, um prato de salgadinhos na mão, apenas observando.Quando não estavam no filho, seus olhos se voltavam para o grupo dos adultos, constatando que Nikolas e Laura conversavam animadamente, sem sinal da tensão que ela e a O`Connor tinham compartilhado minutos antes.Mordendo o lábio inferior, um hábito nervoso que não conseguia controlar, confirmou que era a única afetada e presa pelo passado que compartilhavam. Obviamente, Nikolas não tinha motivos para agir de outro modo. No entanto, não esperava a mesma descontração e naturalidade vindo de Laura.— Mamãe, olha o que eu fiz — Max gritou. Sentado na grama, acompanhado por Benji e Clara, ele apontava para o que Anya imaginava ser um castelo de blocos de montar.— Está lindo filho! — incentivou antes de largar o prato para se juntar aos três. Tinha de aproveitar esse tempo com o filho e para de remoer o passado, assim como o
Vencido pelo cansaço do dia agitado, Max finalmente adormeceu em meio à história contada por Nikolas. Com cuidado, Nikolas e Anya certificaram-se de que estava confortável antes de, em silêncio, saírem do quarto, deixando a porta entreaberta para que qualquer ruído pudesse ser ouvido.— Você tem um jeito especial de prender a atenção dele — Anya comentou ao sentarem no sofá da sala.— É fácil com um bom ouvinte. — Envolveu os ombros dela com o braço, a proximidade entre eles sendo natural e reconfortante. — Ele gosta de histórias tanto quanto eu gostava quando era criança.Baixando o olhar, ela deslizou os dedos pela barra da camisa.— Obrigada por hoje. Você e sua família são bons comigo e com Max, serei eternamente grata por isso.— Não foi nada demais — ele indicou girando no dedo uma mecha do cabelo dela, seus olhos escuros capturando cada detalhe dela. — Gosto de estar com ele... e com você.Ela respirou fundo, hesitando antes de continuar, escolhendo com cuidado o caminho para