Volto ao cômodo dos fundos e procuro o quadro de energia. Consigo religá-lo, e a luz da casa volta ao normal. Retorno para a cozinha para ver se minha família deixou algum recado.
Assim que entro, noto alguns copos quebrados perto do corredor e quadros caídos no chão. Não tinha reparado nisso antes, por causa da escuridão. Meu coração dispara. Algo está errado. Objetos quebrados, fora do lugar… Minha cabeça está a mil com as informações sobre meus pais, e o fato de ninguém dar sinal de vida só aumenta minha ansiedade e medo. Me aproximo devagar do corredor, cada passo fazendo o chão ranger. Quando chego à sala de jantar, tudo parece fora do lugar, como se o tempo tivesse parado. Então, vejo o horror. Meu coração para por um instante. Ali, ao redor da mesa, estão todos — minha mãe, meu pai, meus irmãos e até meus sobrinhos. Estão imóveis, silenciosos, com os rostos pálidos e os olhos fechados. Todos mortos. Meu corpo se recusa a se mover. É como se minhas pernas tivessem sido arrancadas. Sinto um grito se formar na minha garganta, mas não consigo soltar. O ar parece desaparecer da sala, e um vazio toma conta de mim, tão profundo que dói. O silêncio é insuportável, pesado demais para ser real. Minhas mãos tremem quando me aproximo lentamente, o coração batendo como um tambor ensurdecedor. A cena é brutal, mas também meticulosamente arranjada. É como se alguém tivesse feito questão de organizar tudo dessa forma, de forma cruel e fria. Os olhos de minha mãe ainda parecem abertos, mas sem brilho algum. Minha mente quer encontrar uma explicação, qualquer coisa que me tire desse pesadelo, mas a realidade é dura demais. Eu encosto na mesa, tentando me segurar, sentindo meu estômago revirar. Uma onda de náusea sobe, mas eu luto contra ela. Não posso desmoronar agora, não ainda. Enquanto olho ao redor, detalhes começam a saltar à vista — as mãos de minha irmã segurando um guardanapo, ainda enlaçadas como se tentasse proteger seu filho, o rosto de meu pai marcado pela expressão de quem sofreu. Tento afastar essas imagens da minha mente, mas elas ficam. Uma ideia terrível surge em minha mente: será que isso tem a ver com o segredo que Josh me revelou? A dúvida corrói o pouco que resta da minha sanidade. Esse massacre... foi um acerto de contas? Eles morreram por isso? Minhas pernas perdem a força e caio de joelhos, incapaz de suportar a dor e a culpa. Lágrimas quentes deslizam pelo meu rosto, enquanto um grito de agonia, finalmente, escapa. É um som que parece vir das profundezas da minha alma, uma dor crua que nunca imaginei sentir. Olho para eles pela última vez, sabendo que essa imagem estará comigo para sempre. Fecho os olhos, tentando absorver toda a dor, e juro, naquele instante, que vou descobrir quem fez isso. Não importa o que aconteça comigo, vou atrás da verdade. E não vai restar piedade para aqueles que tiraram minha família de mim. Ainda de joelhos no chão, meu corpo treme incontrolavelmente. A dor e o choque me deixam paralisada, mas então um som distante me faz despertar — passos. Rápidos, firmes, aproximando-se da entrada. Olho ao redor, desesperada, e percebo que não estou sozinha. Eles voltaram. Minha mente grita para correr, mas meu corpo ainda está congelado pelo pavor. O som dos passos se intensifica, agora acompanhados de sussurros e risadas baixas, frias e cortantes. De algum modo, me forço a levantar. Minhas pernas estão trêmulas, mas o instinto de sobrevivência fala mais alto. Preciso sair daqui. Agora. Com o coração disparado, me afasto lentamente da cena, tentando não fazer barulho, indo em direção à porta dos fundos por onde entrei. Seguro a respiração ao ouvir a porta da frente se abrir, vozes masculinas invadindo a casa. Não posso hesitar. Lanço um último olhar para minha família, o peito apertado de dor e raiva, e corro para fora. Assim que saio, sinto o vento frio da noite na pele. A floresta me chama, uma massa densa de árvores e sombras. Sem pensar, me lanço para dentro dela, correndo entre as árvores, com galhos arranhando meus braços e pernas. A escuridão é quase total, mas a adrenalina me guia, fazendo meus sentidos se aguçarem. Ouço gritos atrás de mim — eles perceberam que estou fugindo. Meus pés batem pesados contra o solo coberto de folhas secas e galhos quebradiços, cada passo uma luta contra o medo e o desespero. A floresta parece se fechar ao meu redor, mas continuo, com as pernas queimando pelo esforço e os pulmões em chamas. O som de passos atrás de mim aumenta, e percebo que eles estão se aproximando. Em meio à corrida, ouço o som de água corrente. Um fio de esperança me atravessa. O rio. Se eu conseguir atravessá-lo, posso despistá-los, mas para isso preciso correr ainda mais rápido. Ignoro a dor e empurro meu corpo ao limite, cada músculo vibrando em protesto. Quando finalmente vejo o rio à frente, sinto um misto de alívio e medo — a correnteza está forte, e o rio é mais fundo e largo do que me lembro. Olho para trás e vejo lanternas se aproximando, a luz oscilando entre as árvores enquanto os homens se movem rapidamente, me caçando. Não tenho escolha. Corro até a margem e me jogo na água gelada, o choque me tirando o fôlego. A correnteza me envolve, arrastando-me com uma força esmagadora. Tento manter a cabeça acima da água, mas a força da correnteza é implacável, puxando-me para o fundo. Meu corpo é lançado de um lado para o outro, enquanto eu luto para nadar e atravessar. A água gelada queima minha pele, e sinto pedras rasparem contra meus braços e pernas, mas continuo me debatendo, determinada a chegar à outra margem. Cada segundo parece uma eternidade. Meu corpo está exausto, e o frio começa a dominar meus sentidos, mas então, finalmente, sinto o solo sob os pés. Com dificuldade, me agarro à margem e me arrasto para fora, respirando ofegante. Olho para trás e vejo as lanternas dos homens ainda do outro lado do rio. Eles gritam ordens uns para os outros, mas hesitam em me seguir. A correnteza é forte demais, e por enquanto estou segura. Mas sei que não vão desistir facilmente. Tremendo de frio e medo, levanto-me, respirando profundamente e lançando um último olhar para a outra margem, onde eles ainda me observam, impotentes. Mas minha luta está apenas começando. Com o corpo encharcado e a mente repleta de dor e ódio, me afasto do rio, entrando novamente na escuridão da floresta. Eles tiraram tudo de mim. E, um dia, eu vou voltar para acertar as contas.Cada passo é uma luta. Minhas roupas molhadas e pesadas grudam no corpo, e o frio da noite parece se infiltrar em meus ossos. Meus pés afundam na terra molhada enquanto continuo a caminhada, com o corpo exausto, mas a mente em alerta. A floresta, embora quieta, ainda guarda ecos dos gritos dos homens que deixei para trás. Não consigo evitar olhar por cima do ombro, sentindo que eles poderiam aparecer a qualquer momento. Depois de caminhar por quilômetros, vejo um brilho fraco no horizonte. Uma estrada. É uma visão surreal, quase inacreditável, e sinto uma pequena onda de alívio ao saber que estou perto de alguma forma de civilização. Me aproximo rapidamente e avisto, na beira da estrada, um telefone público. Sem hesitar, corro até ele e, com as mãos trêmulas, coloco algumas moedas que encontrei no bolso. Disco o número de Josh, e, após alguns segundos, ele atende. “Alô?” A voz dele soa cansada, mas familiar. Um alívio imediato me invade. “Josh… sou eu. Alex.” Minha voz sai quase co
Olho em volta, tentando localizar algum ponto de referência na escuridão. A floresta à minha volta é um labirinto de sombras, mas sei que preciso continuar. Josh pode estar por perto, ou pelo menos é o que eu espero. A ideia de perdê-lo também, depois de tudo, é insuportável.Caminho lentamente, com os músculos tensos e os sentidos em alerta. Cada folha que se move com o vento parece um sussurro ameaçador. Minha mão instintivamente vai até a faca presa ao meu cinto – é tudo o que tenho para me defender.“Josh!” chamo, minha voz saindo mais alta do que eu pretendia, cortando o silêncio da noite. Nada. Nem um eco. Apenas o farfalhar das árvores e o som distante de um riacho. Tento de novo, dessa vez mais hesitante: “Josh, sou eu... Alex.”Por um momento, penso ter ouvido algo. Um estalo, como um galho se partindo. Congelo no lugar, segurando o cabo da faca com força.“Alex?” A voz é baixa, quase um sussurro, mas reconheço na hora. Meu coração dispara, e viro na direção do som.“Josh!” c
Às vezes me pergunto como eu, uma pessoa tão ambiciosa, ainda moro em Vermont. A cidade é bela, a natureza salva minha alma, mas aqui nada é diferente, é sempre a mesma coisa. Sou dançarina e estudo na Escola de Artes de Stowe. Quando não estou em aula, vou para o bar do Tobias, onde trabalho. Passo poucas horas em casa e, para ser honesta, prefiro assim. São tantas pessoas morando lá que me pergunto se é possível manter a sanidade mental com meus sobrinhos chorando o dia todo. A casa onde moro tem cheiro de madeira antiga e, ao mesmo tempo, de terra molhada — deve ser porque fica em frente ao Lago Richard. O lago é patrimônio da cidade, e é incrível a vibe que traz morar em frente a ele e viver praticamente dentro da maior floresta de Vermont. A casa tem dois andares, dez cômodos, e nela vivem nove pessoas, com nenhum espaço pessoal. Essa é a minha vida. Moro com meus pais, meus irmãos, meus sobrinhos e, de brinde, meu tio recém-divorciado. São seis adultos, três crianças e outros
Assim que me visto, desço para o andar de baixo e pego as chaves do meu carro. Me despeço da minha família e, antes de abrir a porta da frente para ir trabalhar, escuto minha mãe falando: — Alex, a reserva do restaurante é às 21 horas. Não se atrase! — Okay, mãe, eu não vou me atrasar. Encontro vocês lá. Tchau, te amo. Só de pensar que terei que ficar devendo horas no meu trabalho para poder ir às bodas de casamento dos meus pais me dá uma raiva. Toda vez que eles resolvem comemorar à noite, acaba em conflito, porque nesta família a gente não sabe ser adulto o suficiente para se comportar em público. Mas, de toda forma, é tradição, então não posso fazer nada para mudar. Assim que chego perto do centro da cidade, vejo bastante movimento. Hoje tem a feira da cidade, então há muitos shows ao vivo e comida de graça. Uma pena eu ter que ir para o bar nessa hora; eu adoraria ficar aqui e comer tudo sem precisar pagar nada.Chego na rua de trás do bar e estaciono meu carro ali mesmo.
— Não... não pode ser — murmuro, quase para mim mesma. — Meus pais sempre foram pessoas boas. Trabalhavam duro. Tudo o que temos é por causa disso... Josh me encara, e vejo um lampejo de compaixão em seus olhos. — Eu não estou dizendo que foi fácil pra eles — ele diz, lentamente. — Mas, Alex, às vezes as pessoas que mais amamos têm lados que nunca imaginamos. Fecho os olhos, sentindo as lágrimas começarem a se formar. — O que eu devo fazer agora, Josh? — minha voz sai fraca, quase quebrada. Ele se aproxima, colocando uma mão em meu ombro. — Precisamos descobrir o que realmente aconteceu, Alex. E a única maneira de fazer isso é encontrar as respostas que eles esconderam. Se você estiver disposta a me ajudar... talvez possamos descobrir toda a verdade.Eu sai rapidamente do bar em direção à floresta O céu estava nublado naquela tarde, e uma fina neblina cobria o ar enquanto eu me enfiava na floresta atrás de respostas. Cada passo no caminho coberto de folhas secas parecia