Capítulo 0003
“No Dia Seguinte.”

A elite da Cidade A começava a se reunir para o tão aguardado aniversário de Michel Costa.

Faltavam apenas três horas para o início da festa, mas muitos convidados já chegavam, desfilando em carros luxuosos com motoristas uniformizados.

No entanto, uma chegada se destacou.

Uma simples viagem de aplicativo chamou a atenção de todos, especialmente quando Juliana desceu do veículo.

Os murmúrios começaram instantaneamente:

— O que está acontecendo? Juliana agora depende de carro de aplicativo? O Gustavo não mandou ninguém a buscar?

— Parece que ela está em uma situação difícil. Dizem que foi expulsa da família Rodrigues, e com 25 anos, ainda não se casou com o Gustavo. Essa união provavelmente já era.

Entre olhares de pena e malícia, Juliana manteve a postura.

Não reagiu aos comentários, nem deixou que qualquer emoção transparecesse em seu rosto.

Seguiu diretamente para o escritório de Michel, parando na porta.

Quando levantou a mão para bater, ouviu a conversa que acontecia do outro lado.

— Gustavo, você já é praticamente um homem casado. É bom que se comporte como tal, especialmente em público! — A voz grave e autoritária de Michel exalava desaprovação.

Gustavo estava de pé, com a cabeça levemente inclinada, os olhos baixos, ocultando seus pensamentos.

— Eu e a Vivi somos apenas amigos, vô.

O olhar severo do avô quase o perfurava.

— Amigos? Amigos? Até os melhores amigos precisam de limites! E você, me diga, o que estava fazendo com a Viviane agora há pouco? — A paciência de Michel parecia estar por um fio.

— O cabelo dela estava bagunçado, só quis ajudar. Você sabe que quem eu amo é a Ju. — Gustavo tentou justificar. Para ele, não havia nada de errado em seu comportamento.Sem hesitar, o velho levantou sua bengala e a golpeou contra o braço do neto, com força o suficiente para causar um estalo audível.

— Se você realmente ama a Ju, case com ela de uma vez! Antes que outro a leve e você fique aí choramingando como um idiota.

Juliana, do lado de fora, não esperou para ouvir a reação de Gustavo.

Decidida, bateu na porta, interrompendo a conversa.

— Sr. Michel.

— Ah, Ju, você chegou! — Ao vê-la entrar, o semblante do patriarca se suavizou instantaneamente. Um sorriso caloroso apareceu em seu rosto e ele a chamou para perto. — Venha, querida.

Juliana atravessou a sala com passos firmes, ignorando completamente Gustavo, sem sequer olhar para ele.

— Essa roupa ficou maravilhosa em você! Foi o Gustavo quem escolheu, não foi? Ele tem um ótimo gosto, especialmente para você, Ju.

Os elogios de Michel eram genuínos, mas ele não percebeu o olhar sombrio que imediatamente surgiu no rosto do neto.

Juliana tinha 1,65m de altura, o que a tornava bastante alta para uma mulher, e sua presença sempre foi marcante.

Naquela noite, ela estava ainda mais deslumbrante. Usava um vestido minimalista, mas de altíssimo requinte, com um corte ombro a ombro que destacava seu pescoço alongado e suas delicadas clavículas.

No pescoço, uma elegante gargantilha de diamantes brilhava, completando perfeitamente o visual.

Seu cabelo negro estava preso em um coque impecável, com algumas mechas soltas caindo suavemente ao redor das orelhas, suavizando a expressão.

A maquiagem fria e meticulosamente feita destacava a beleza serena e quase inatingível que Juliana emanava.

A mulher que Gustavo conhecia há sete anos parecia outra pessoa naquela noite. Era como se Juliana tivesse se transformado em algo que ele não podia mais tocar.

Ele apertou os punhos, lutando contra a raiva e uma irritação inexplicável.

Quando Juliana mencionou casualmente que o colar e o vestido eram presentes de um amigo, Gustavo sentiu um aperto estranho no peito. Mas, para evitar que o avô fizesse mais perguntas, ela rapidamente mudou de assunto, demonstrando sua habitual habilidade em controlar situações delicadas.

No entanto, Michel trouxe à tona um tema que Juliana queria evitar:

— Ju, você e o Gustavo já têm idade para isso. Quando vão marcar o casamento?

Juliana abriu a boca para responder, mas hesitou. Quando finalmente estava pronta para dizer que eles haviam terminado, Gustavo a interrompeu antes que pudesse pronunciar as palavras:

— Vô, a mamãe acabou de chegar. Vou levar a Ju para cumprimentá-la.

Sem dar a Juliana a chance de protestar, ele segurou seu pulso e a guiou para fora da sala.

Michel, contente com o que viu, acenou para que eles seguissem.

Assim que estavam no corredor, longe dos olhares curiosos, Juliana puxou o braço com força, libertando-se do aperto.

— Gustavo, você pretende continuar escondendo isso? — Questionou, com a voz firme e fria.

Gustavo cruzou os braços, os olhos estreitando-se enquanto analisava a mulher à sua frente. Sua irritação era evidente.

— Juliana, já te disse: o vovô acabou de sair de uma cirurgia. Ele não pode lidar com esse tipo de notícia agora. — Ele desviou o olhar para o vestido que ela usava. Após alguns segundos de silêncio pesado, sua voz soou cortante, como um açoite: — Por que você não usou o vestido que eu te mandei?

A roupa de Juliana parecia simples à primeira vista, mas a qualidade era impecável, e o trabalho artesanal era tão refinado que um preço de sete dígitos não seria suficiente para adquiri-la.

Mas, pelo que ele sabia, Juliana definitivamente não tinha esse tipo de poder aquisitivo.

A família Rodrigues nunca se importou com ela, e o dinheiro que ele a oferecia nunca aceitava.

Com o salário que ela recebia?

Talvez mal conseguisse comprar um pedaço de tecido.

A verdade era óbvia: aquele vestido não era dela. Alguém o havia dado a Juliana.

A expressão de Gustavo estava tão fria que dava medo. Os dois estavam diante um do outro, tensos, como se estivessem prestes a se enfrentar em um confronto.

— Gustavo, nós já terminamos. — Juliana repetiu calmamente, suas palavras firmes, sem um traço de hesitação.

Seus olhos, que antes transbordavam amor, agora eram como um lago congelado: serenos e impenetráveis.

Por um breve momento, Gustavo sentiu uma pontada no coração. Mas ele a ignorou, apertando os punhos para sufocar o desconforto inexplicável. Seus olhos escuros a encaravam intensamente.

— Você está tão ansiosa para declarar isso só por causa daquele cachorro que te deu o vestido, não é? — Sua voz saiu dura, carregada de acusação, como se Juliana fosse a traidora.

O impacto veio antes que ele pudesse reagir.

Um som claro e seco ecoou pelo corredor. A bochecha de Gustavo ficou marcada pela mão de Juliana.

Ele a encarou, surpreso e furioso, enquanto emoções conflitantes se misturavam em sua expressão. Uma tempestade parecia se formar em seus olhos, mas ele permaneceu em silêncio, tentando processar o que havia acabado de acontecer.

Juliana tremia de raiva.

Sua palma doía, e a pele avermelhada refletia a força do golpe. Seus olhos faiscavam, como se uma chama interna tivesse finalmente explodido.

— Gustavo, o único que deve desculpas nesta relação é você! — A voz dela era cortante, cheia de amargura contida.

As lembranças daquela noite invadiram sua mente. O casaco, os acessórios no bolso, a pérola perdida que pertencera a Viviane... Tudo.

Ela engoliu em seco, sentindo o estômago revirar. Sua expressão endureceu, mas o branco em seu rosto a denunciava.

— Hoje é o aniversário de seu avô, e eu não quero estragar a noite dele. Mas, Gustavo, não me teste.

Nesta relação, Juliana sempre foi a parte mais vulnerável.

Todos sabiam que ela amava Gustavo, e esse amor era evidente para todos ao seu redor.

Gustavo, que sempre acreditou que Juliana fosse incapaz de se afastar, sentiu o peso da realidade se abater sobre ele.

A mulher à sua frente era irreconhecível, e isso o deixava desconcertado.

Ela virou as costas e foi embora sem olhar para trás.

Poucos passos depois, ao virar um corredor, ela deu de cara com Viviane.

A escolha de roupa de Viviane, similar ao estilo de Juliana, apenas destacou o contraste entre as duas. Embora elegante, faltava à Viviane a presença natural e a graça que Juliana carregava. A comparação era inevitável e implacável: Viviane parecia uma tentativa frustrada de imitar algo que jamais poderia ser.

Viviane tentou esconder o brilho de inveja em seus olhos, preparando-se para dizer algo. Mas Juliana simplesmente passou por ela sem sequer um olhar.

A indiferença foi um golpe mais cruel do que qualquer palavra poderia ser.

Viviane ficou estática, o rosto endurecido pela raiva e humilhação.

Juliana, porém, não deu importância ao encontro. Seguiu em frente, concentrando-se na noite que ainda estava por vir.

Logo, o salão se encheu de convidados, e o aniversário de 70 anos de Michel Costa começou oficialmente. O ambiente era luxuoso, repleto de grandes nomes da alta sociedade da Cidade A.

Juliana estava sozinha em um canto discreto, tentando evitar os olhares alheios. Gustavo, representando a família, subiu ao palco para fazer um discurso antes de dar lugar ao verdadeiro protagonista, Michel Costa.

O senhor, que ainda se recuperava de uma grave doença, aparentava estar um pouco debilitado, mas mantinha a postura digna de anfitrião.

Após algumas palavras de cortesia, ele começou a procurar algo, ou melhor, alguém entre os convidados. Não demorou muito para que encontrasse o que buscava.

— Ju, por que está tão longe? Venha até aqui, querida. — Chamou Michel, com um sorriso afetuoso.

Ser chamada em público deixou Juliana desconfortável por um momento.

Todos os olhares se voltaram para ela.

Os membros da família Costa tinham expressões variadas, enquanto os da família Rodrigues... Bem, suas caras estavam tão sombrias que poderiam pingar tinta.

Juliana ajustou levemente o vestido e começou a caminhar. Mas, de repente, sentiu algo puxando a barra de sua roupa. Um som de tecido rasgando ecoou pelo salão.
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