A floresta parecia tensa, como se aguardasse o desenrolar de algo que transcendia o tempo, conforme Tupã movia-se com precisão, os olhos fixos nos sinais de fumaça que dançavam no céu distante, conforme os decifrava como se fossem palavras escritas em um antigo idioma, cada curva e ondulação contando uma história.As informações transmitidas por Yara o levaram a uma clareira isolada, onde ele se ajoelhou para criar um novo mapa. Usando papel artesanal e carvão improvisado, o jovem guardião recriou os detalhes simbólicos que Yara havia passado. As linhas tomavam forma, cada traço uma promessa de que estavam mais próximos do coração dos planos de Donaldo.Mas Tupã sabia que mapas eram apenas guias. O verdadeiro desafio seria atravessar o território hostil, onde caçadores e sombras aguardavam.Enquanto isso, Yara enfrentava seus próprios perigos. Movendo-se com a graça de uma Iara, ela explorava uma trilha próxima a um rio, verificando se os caçadores de Donaldo haviam se aproximado mais
O silêncio do esconderijo subterrâneo envolvia Hei e Kaena como um manto. As tochas projetavam sombras suaves nas paredes de pedra, e o calor dos corpos deles parecia ser a única coisa viva naquele momento de tranquilidade roubada. Hei acariciava o rosto de Kaena com delicadeza, como se temesse que ela pudesse desaparecer como um sonho ao amanhecer.Conforme a observava, os pensamentos de Hei começaram a se afastar, mergulhando nas águas turvas de sua memória. Ele fechou os olhos por um instante, permitindo que as lembranças o levassem de volta a um tempo distante, a uma terra onde o céu sempre parecia em guerra com a terra.A terra natal de Hei era um lugar de vastas planícies e montanhas altivas, onde o vento carregava o cheiro das flores de cerejeira misturado com a poeira da batalha. A guerra parecia uma constante, uma sombra que se recusava a dissipar-se, movendo-se de um vilarejo para o próximo, como um incêndio insaciável.Hei, mesmo jovem, fora reconhecido por sua mente afiada.
A noite havia caído como um manto espesso, cobrindo a terra em sombras profundas. O vento sussurrava segredos antigos pelas árvores, e as estrelas cintilavam como olhos curiosos, observando o destino de todos que caminhavam sob seu tênue brilho.Em um esconderijo subterrâneo próximo às minas, Kaena e Hei flagravam-se juntos. O abrigo era rudimentar, feito de pedras e vigas improvisadas, mas proporcionava o mínimo de segurança contra os homens de Donaldo.Hei, um jovem de olhos puxados e pele dourada como o trigo ao sol, ajeitava cuidadosamente a cama feita de folhas e tecidos desgastados. Ele era ágil e astuto, um estrategista por natureza, sempre pensando alguns passos à frente. Kaena, com seu olhar intenso e presença magnética, observava-o conforme retirava o capuz que lhe cobria os cabelos negros.— Hei, você nunca para de pensar, não é? — Kaena sorriu, sentando-se ao lado dele. — Mesmo aqui, você parece estar montando um plano.Ele sorriu de volta, embora houvesse algo pensativo e
O ar carregava um silêncio inquietante. Tupã avançava pela trilha estreita, cercado por pedras que pareciam mais vivas do que nunca, como se sussurrassem entre si. O peso do ambiente pressionava seus ombros, não de cansaço, mas de uma certeza: algo medonho o aguardava, algo que mudaria o curso da sua jornada.Ele havia sentido a mudança desde que cruzara a passagem. Os espíritos estavam inquietos, como se advertissem sobre um perigo iminente. Seus instintos confirmavam isso, cada som amplificado, cada sombra mais ameaçadora...Tupã chegou a uma alcova, onde parou para observar. Dali, podia ver mercenários de Donaldo e figuras encapuzadas, envoltas em uma aura quase sobrenatural.Essas figuras chamaram sua atenção imediatamente. Vestiam mantos escuros que se misturavam com as sombras, e seus movimentos eram lentos, quase ritualísticos. Era evidente que não eram apenas guardas; eram ocultistas da seita do bruxo que Tumbleweed mencionara.Tupã abaixou-se, analisando o território.Pelos es
Ele mapeava mentalmente o local, observando a disposição das pedras, padrões de patrulha e pontos vulneráveis.As passagens escuras pareciam se estreitar a cada passo de Tupã, como se o próprio caminho conspirasse para prendê-lo. As paredes de pedra bruta, úmidas e irregulares, exalavam um cheiro de terra velha e mofo, enquanto os ecos de seus passos, mesmo tão leves quanto podia fazê-los, ricocheteavam pelo labirinto.Ele ajustou a aljava nas costas e apertou o arco com mais força. Algo o incomodava, uma sensação persistente de que estava sendo guiado — não pelo destino, mas por algo ou alguém que o observava de longe.— Nada aqui é por acaso — murmurou para si mesmo, atento a cada sombra que parecia se mover ao seu redor.Seu instinto não estava errado.Ao dobrar um corredor, Tupã ouviu um som pesado, como uma rocha sendo empurrada. Ele congelou, os sentidos aguçados, e então percebeu: não estava sozinho.Emergindo da escuridão, um homem enorme surgiu. Ele tinha a postura de um tour
A floresta ainda dormia sob o manto da madrugada. A névoa rasteira dançava sobre o solo úmido, enquanto as folhas, orvalhadas pelo frescor da noite, sussurravam segredos ancestrais ao vento. Lá, no coração desse silêncio antigo, duas sombras se moviam com a suavidade de predadores. Yara, de olhos afiados como a lâmina da sua adaga, conduzia seus passos firmes sobre as raízes da terra que tanto conhecia. Ao seu lado, Tupã, o caçador cuja respiração compassada seguia o ritmo da floresta, mantinha os sentidos em alerta, pronto para proteger a mulher que amava. Juntos, formavam um só espírito, mas agora eram também um casal foragido.A alvorada não tardaria a banhar os céus de laranja e ouro, mas aquela manhã não seria como as outras. Desta vez, a luz do sol traria consigo caçadores — não de presas, mas de almas humanas.Yara olhou de relance para Tupã, os olhos expressando a certeza e a preocupação que tentava esconder. Ele não precisava de palavras para entender. Um simples olhar bastav
A noite desceu sobre a floresta como um manto de veludo negro, ocultando os segredos e os medos que cresciam sob as copas altas das árvores. O vento murmurava canções antigas, que só aqueles de coração selvagem podiam compreender. Yara e Tupã caminhavam entre essas sombras, suas respirações sincronizadas com o pulsar da floresta viva, sentindo em cada passo o peso da perseguição que os rondava, como lobos famintos à espreita.A escuridão era um refúgio e um perigo. Ali, onde os raios da lua mal atravessavam o denso dossel de folhas, o casal sabia que a floresta poderia ser sua aliada ou sua ruína. As árvores, testemunhas silenciosas de séculos de histórias, pareciam abrigar segredos, oferecendo-lhes proteção, mas também alertando sobre o que viria.Tupã, com seus sentidos afiados, par
O sol nascente despontava no horizonte, tingindo de dourado as copas das árvores, mas a luz que quebrava a escuridão não trazia consolo. Pelo contrário, o amanhecer revelava o início de um novo desafio, e Yara e Tupã sabiam que a perseguição havia apenas começado.As marcas no solo eram inconfundíveis. Tupã, agachado junto a uma trilha de folhas amassadas, examinava os rastros com olhos atentos. Havia pegadas largas, impressas profundamente na terra úmida, pesadas como as intenções daqueles que as deixaram. Ele passou os dedos pelos sulcos no chão e estreitou os olhos.— Não são guerreiros comuns — murmurou Tupã, a voz grave cortando o silêncio da floresta. — São homens brancos, caçadores de recompensas. A paga deles é o peso de nossas cabeças.Yara se a