A noite havia caído como um manto espesso, cobrindo a terra em sombras profundas. O vento sussurrava segredos antigos pelas árvores, e as estrelas cintilavam como olhos curiosos, observando o destino de todos que caminhavam sob seu tênue brilho.Em um esconderijo subterrâneo próximo às minas, Kaena e Hei flagravam-se juntos. O abrigo era rudimentar, feito de pedras e vigas improvisadas, mas proporcionava o mínimo de segurança contra os homens de Donaldo.Hei, um jovem de olhos puxados e pele dourada como o trigo ao sol, ajeitava cuidadosamente a cama feita de folhas e tecidos desgastados. Ele era ágil e astuto, um estrategista por natureza, sempre pensando alguns passos à frente. Kaena, com seu olhar intenso e presença magnética, observava-o conforme retirava o capuz que lhe cobria os cabelos negros.— Hei, você nunca para de pensar, não é? — Kaena sorriu, sentando-se ao lado dele. — Mesmo aqui, você parece estar montando um plano.Ele sorriu de volta, embora houvesse algo pensativo e
O ar carregava um silêncio inquietante. Tupã avançava pela trilha estreita, cercado por pedras que pareciam mais vivas do que nunca, como se sussurrassem entre si. O peso do ambiente pressionava seus ombros, não de cansaço, mas de uma certeza: algo medonho o aguardava, algo que mudaria o curso da sua jornada.Ele havia sentido a mudança desde que cruzara a passagem. Os espíritos estavam inquietos, como se advertissem sobre um perigo iminente. Seus instintos confirmavam isso, cada som amplificado, cada sombra mais ameaçadora...Tupã chegou a uma alcova, onde parou para observar. Dali, podia ver mercenários de Donaldo e figuras encapuzadas, envoltas em uma aura quase sobrenatural.Essas figuras chamaram sua atenção imediatamente. Vestiam mantos escuros que se misturavam com as sombras, e seus movimentos eram lentos, quase ritualísticos. Era evidente que não eram apenas guardas; eram ocultistas da seita do bruxo que Tumbleweed mencionara.Tupã abaixou-se, analisando o território.Pelos es
Ele mapeava mentalmente o local, observando a disposição das pedras, padrões de patrulha e pontos vulneráveis.As passagens escuras pareciam se estreitar a cada passo de Tupã, como se o próprio caminho conspirasse para prendê-lo. As paredes de pedra bruta, úmidas e irregulares, exalavam um cheiro de terra velha e mofo, enquanto os ecos de seus passos, mesmo tão leves quanto podia fazê-los, ricocheteavam pelo labirinto.Ele ajustou a aljava nas costas e apertou o arco com mais força. Algo o incomodava, uma sensação persistente de que estava sendo guiado — não pelo destino, mas por algo ou alguém que o observava de longe.— Nada aqui é por acaso — murmurou para si mesmo, atento a cada sombra que parecia se mover ao seu redor.Seu instinto não estava errado.Ao dobrar um corredor, Tupã ouviu um som pesado, como uma rocha sendo empurrada. Ele congelou, os sentidos aguçados, e então percebeu: não estava sozinho.Emergindo da escuridão, um homem enorme surgiu. Ele tinha a postura de um tour
A floresta ainda dormia sob o manto da madrugada. A névoa rasteira dançava sobre o solo úmido, enquanto as folhas, orvalhadas pelo frescor da noite, sussurravam segredos ancestrais ao vento. Lá, no coração desse silêncio antigo, duas sombras se moviam com a suavidade de predadores. Yara, de olhos afiados como a lâmina da sua adaga, conduzia seus passos firmes sobre as raízes da terra que tanto conhecia. Ao seu lado, Tupã, o caçador cuja respiração compassada seguia o ritmo da floresta, mantinha os sentidos em alerta, pronto para proteger a mulher que amava. Juntos, formavam um só espírito, mas agora eram também um casal foragido.A alvorada não tardaria a banhar os céus de laranja e ouro, mas aquela manhã não seria como as outras. Desta vez, a luz do sol traria consigo caçadores — não de presas, mas de almas humanas.Yara olhou de relance para Tupã, os olhos expressando a certeza e a preocupação que tentava esconder. Ele não precisava de palavras para entender. Um simples olhar bastav
A noite desceu sobre a floresta como um manto de veludo negro, ocultando os segredos e os medos que cresciam sob as copas altas das árvores. O vento murmurava canções antigas, que só aqueles de coração selvagem podiam compreender. Yara e Tupã caminhavam entre essas sombras, suas respirações sincronizadas com o pulsar da floresta viva, sentindo em cada passo o peso da perseguição que os rondava, como lobos famintos à espreita.A escuridão era um refúgio e um perigo. Ali, onde os raios da lua mal atravessavam o denso dossel de folhas, o casal sabia que a floresta poderia ser sua aliada ou sua ruína. As árvores, testemunhas silenciosas de séculos de histórias, pareciam abrigar segredos, oferecendo-lhes proteção, mas também alertando sobre o que viria.Tupã, com seus sentidos afiados, par
O sol nascente despontava no horizonte, tingindo de dourado as copas das árvores, mas a luz que quebrava a escuridão não trazia consolo. Pelo contrário, o amanhecer revelava o início de um novo desafio, e Yara e Tupã sabiam que a perseguição havia apenas começado.As marcas no solo eram inconfundíveis. Tupã, agachado junto a uma trilha de folhas amassadas, examinava os rastros com olhos atentos. Havia pegadas largas, impressas profundamente na terra úmida, pesadas como as intenções daqueles que as deixaram. Ele passou os dedos pelos sulcos no chão e estreitou os olhos.— Não são guerreiros comuns — murmurou Tupã, a voz grave cortando o silêncio da floresta. — São homens brancos, caçadores de recompensas. A paga deles é o peso de nossas cabeças.Yara se a
A floresta, com suas sombras ancestrais, parecia envolvê-los em um abraço silencioso. Os sons da perseguição haviam se afastado momentaneamente, e o manto da noite se estendia mais uma vez, trazendo consigo a sensação de um passado que nunca fora completamente deixado para trás. Yara e Tupã, ali, em meio ao silêncio perturbador da selva, sentiam o peso invisível de suas histórias.Sentados sob uma árvore gigantesca, cujas raízes emergiam da terra como braços de gigantes adormecidos, ambos pareciam ser tragados pelos seus próprios pensamentos, como se os ecos de tempos antigos viessem à tona. A quietude ao redor trazia memórias, como ventos que sopram de longe, carregados de cicatrizes antigas.Yara apertou a mão contra o peito, sentindo o coração bater com a mesma intensidade de quando fugira de sua aldeia. Os olhos, que agora fitavam as estrelas por entre os galhos das árvores, não enxergavam apenas o presente, mas também a imagem nítida de seu passado.Ela era jovem, cheia de sonhos
A floresta, até então cúmplice silenciosa de Yara e Tupã, parecia respirar com um peso diferente naquela manhã. O ar, carregado de umidade e segredos, não trazia o frescor habitual. O vento que costumava sussurrar suas canções ancestrais agora se calava, como se os espíritos da selva pressentissem o que estava por vir.Yara e Tupã haviam fugido por tempo suficiente para conhecer o gosto amargo da liberdade. Mas, naquele momento, sob o céu cinzento que mal deixava o sol atravessar as nuvens, eles sabiam que não poderiam correr para sempre. A escolha que se aproximava era inevitável, como a maré que lentamente engole a areia da praia.— Tupã, — Yara começou, seus olhos fixos no horizonte incerto, — até quando poderemos escapar? Até onde podemos ir sem nos perder de nós mes