Depois de dias avançando, Tupã começou a farejar sinais de presença humana. Primeiramente, eram pegadas mal apagadas na lama, acompanhadas por cinzas de fogueiras antigas. Mais adiante, encontrou galhos quebrados em ângulos que não eram naturais — marcas claras de atividades recentes.Finalmente, ao cair da noite, ele percebeu uma luz fraca piscando ao longe. Era um acampamento, escondido parcialmente entre as árvores mais ralas do norte. A fumaça de uma fogueira subia em espirais finas, misturando-se ao céu escuro e estrelado.Tupã respirou fundo, ajustou a aljava de flechas em suas costas, então começou a se aproximar. Seus passos eram leves, e ele se movia com a fluidez de um rio calmo, evitando galhos secos que poderiam traí-lo. Não podia ser visto nem ouvido.Quando finalmente chegou a uma distância segura, Tupã se abaixou, escondendo-se atrás de uma árvore gro
O silêncio da floresta era enganoso. Tupã movia-se com a destreza de um espírito Asanbosam, os olhos atentos aos menores detalhes. Cada folha amassada, cada galho partido era uma pista deixada pelos caçadores. A floresta contava histórias para aqueles que sabiam escutá-la, e Tupã era um mestre em decifrar seus sussurros.Os planos de Donaldo não saíam de sua mente. O desejo de vingança daquele homem e sua insistência em explorar o desconhecido representavam um perigo para tudo que Tupã defendia. Se Donaldo realmente tinha caçadores em campo para buscar "esquisitices", o tempo era inimigo dos guardiões, e Tupã precisava entender o terreno antes que fosse tarde demais.Os primeiros sinais não demoraram a surgir. Pegadas na terra, com sulcos profundos, indicavam botas pesadas. Um galho quebrado revelava que pelo menos um dos homens carregava uma arma longa, talvez um rifle. Tupã seguiu esses rastros com paciência, como uma sombra que observa sem ser vista.O caminho o levou a um trecho d
O ar na base das montanhas parecia mais denso, a floresta, com sua habitual vitalidade, agora carregando uma estranha tensão, como se ela mesma estivesse prendendo o fôlego. Yara movia-se com prudência, cada passo silencioso, mas repleto de propósito. Estava reunindo provisões: raízes comestíveis, pequenas frutas, e analisando o terreno para futuras necessidades da tribo.Mas havia algo diferente naquele dia.Conforme examinava um arbusto de folhas largas, sentiu uma presença. Não era um som ou um movimento perceptível, mas algo mais sutil, uma sensação de que os olhos da própria floresta grudavam-se sobre si. O vento parecia mudar de direção, sussurrando advertências que ela não conseguia compreender.Endireitando-se devagar, Yara olhou em volta, seus olhos compenetrados vasculhando as sombras. O silêncio era profundo, porém não reconfortante.— Quem está aí? — perguntou ela em voz baixa, a mão já tocando seu arco.Nenhuma resposta veio, mas as folhas de um galho próximo tremularam, e
A floresta parecia tensa, como se aguardasse o desenrolar de algo que transcendia o tempo, conforme Tupã movia-se com precisão, os olhos fixos nos sinais de fumaça que dançavam no céu distante, conforme os decifrava como se fossem palavras escritas em um antigo idioma, cada curva e ondulação contando uma história.As informações transmitidas por Yara o levaram a uma clareira isolada, onde ele se ajoelhou para criar um novo mapa. Usando papel artesanal e carvão improvisado, o jovem guardião recriou os detalhes simbólicos que Yara havia passado. As linhas tomavam forma, cada traço uma promessa de que estavam mais próximos do coração dos planos de Donaldo.Mas Tupã sabia que mapas eram apenas guias. O verdadeiro desafio seria atravessar o território hostil, onde caçadores e sombras aguardavam.Enquanto isso, Yara enfrentava seus próprios perigos. Movendo-se com a graça de uma Iara, ela explorava uma trilha próxima a um rio, verificando se os caçadores de Donaldo haviam se aproximado mais
O silêncio do esconderijo subterrâneo envolvia Hei e Kaena como um manto. As tochas projetavam sombras suaves nas paredes de pedra, e o calor dos corpos deles parecia ser a única coisa viva naquele momento de tranquilidade roubada. Hei acariciava o rosto de Kaena com delicadeza, como se temesse que ela pudesse desaparecer como um sonho ao amanhecer.Conforme a observava, os pensamentos de Hei começaram a se afastar, mergulhando nas águas turvas de sua memória. Ele fechou os olhos por um instante, permitindo que as lembranças o levassem de volta a um tempo distante, a uma terra onde o céu sempre parecia em guerra com a terra.A terra natal de Hei era um lugar de vastas planícies e montanhas altivas, onde o vento carregava o cheiro das flores de cerejeira misturado com a poeira da batalha. A guerra parecia uma constante, uma sombra que se recusava a dissipar-se, movendo-se de um vilarejo para o próximo, como um incêndio insaciável.Hei, mesmo jovem, fora reconhecido por sua mente afiada.
A noite havia caído como um manto espesso, cobrindo a terra em sombras profundas. O vento sussurrava segredos antigos pelas árvores, e as estrelas cintilavam como olhos curiosos, observando o destino de todos que caminhavam sob seu tênue brilho.Em um esconderijo subterrâneo próximo às minas, Kaena e Hei flagravam-se juntos. O abrigo era rudimentar, feito de pedras e vigas improvisadas, mas proporcionava o mínimo de segurança contra os homens de Donaldo.Hei, um jovem de olhos puxados e pele dourada como o trigo ao sol, ajeitava cuidadosamente a cama feita de folhas e tecidos desgastados. Ele era ágil e astuto, um estrategista por natureza, sempre pensando alguns passos à frente. Kaena, com seu olhar intenso e presença magnética, observava-o conforme retirava o capuz que lhe cobria os cabelos negros.— Hei, você nunca para de pensar, não é? — Kaena sorriu, sentando-se ao lado dele. — Mesmo aqui, você parece estar montando um plano.Ele sorriu de volta, embora houvesse algo pensativo e
O silêncio em volta parecia uma entidade própria, pairando pesado e carregado. O ar, denso como névoa oculta, sussurrava segredos incompreensíveis. As pedras ao longo da trilha pareciam mais vivas do que nunca, observando-o, conforme seus próprios passos ecoavam como uma batida solitária em um tambor ancestral.Algo o aguardava adiante. Ele sabia disso. Sentia nos ossos. Uma presença que ameaçava mudar tudo.Desde que cruzara a última passagem, a mudança no ambiente era inegável. Os espíritos da floresta estavam inquietos, sussurrando advertências em uma língua que só o coração de Tupã conseguia ouvir. Cada som à sua volta parecia amplificado, cada sombra mais densa, como se escondesse olhos atentos.Então, ele chegou à alcova.Agachando-se, Tupã observou com cuidado. A visão diante dele era tão surreal quanto ameaçadora: mercenários de Donaldo, rudes e armados, estavam postados em vigilância, conforme figuras encapuzadas se moviam como sombras vivas ao redor de um altar improvisado.E
As passagens escuras pareciam se fechar em volta de Tupã, como se as paredes pulsassem ao ritmo de uma vontade oculta, conspirando para prendê-lo. O cheiro de terra úmida e mofo enchia o ar, e cada passo, por mais leve que fosse, reverberava como um sussurro traidor pelo labirinto de pedra.O jovem mapeava o local mentalmente, os olhos analisando cada detalhe — a disposição das pedras, os padrões sutis das sombras e as irregularidades nas paredes. Tudo podia ser uma pista. Tudo podia ser uma ameaça.Ajustou a aljava nas costas e firmou a mão no arco, os músculos tensos. Uma sensação persistente o acompanhava, como o peso de olhos invisíveis fixos em suas costas.— Nada aqui é por acaso — murmurou, a voz baixa como o vento entre as árvores.E ele estava certo.Um som pesado, como pedra sendo arrastada, ecoou à sua frente. Tupã parou imediatamente, o coração pulsando com força, os sentidos em alerta máximo. De dentro da escuridão, surgiu uma figura colossal, um homem cuja presença pareci