Capítulo 01

Lindsey Morgan

Desço da aeronave sentindo um peso no estômago. Não posso nem culpar a gravidez, já que morro de medo de voar e como se fosse pouco, ainda tenho a perspectiva de encarar toda família de Levi.

Saber que sua avó e irmã estarão lá não alivia o peso.

Apesar de ter conhecido os membros mais importantes, sei que agora estarão todos reunidos e pelo que ele contou, são muitos.

Segundo Levi, culturalmente, os italianos dão muito valor aos laços de família. Grandes núcleos frequentemente moram juntos, o que é o caso deles, já que a propriedade é imensa, cada um construiu seu lar em redor da casa grande, onde vive sua nonna, como ele chama. Ela é respeitada como provedora e matriarca, já que seu avô é falecido.

O irmão e a cunhada, tias, tios, primos e claro, a tal Kiara, a prima prometida nos aguardam. Ele me falou da história da tradição familiar, nunca imaginei que os pais dele eram primos, e seus avós, seus bisavós, e os que vieram antes deles. Que coisa mais bizarra.

Agora entendo porque a bruxa napolitana me abomina, além de me casar com o filhinho querido dela, ainda o farei quebrar uma tradição de séculos. Apelidei-a assim desde que soube que ela nasceu na região de Nápoles e que só foi para Florença após o casamento com o Sr. Joseph Martinelli.

“Minha nossa senhora das noivas destruidoras de tradições familiares, me ajude a passar por mais essa...” — penso.

Fecho os olhos e respiro fundo.

Saio dos meus pensamentos quando ouço Levi falar comigo.

— Oi?

— Perguntei se está sentindo alguma coisa...

— Só vontade de voltar para minha casa — se Tay, minha amiga com quem divido a casa, me ouvisse falar isso, ficaria muito brava.

Quando liguei falando da viagem e do casamento, ela quase me deixou surda de tanto que gritou do outro lado da linha. Ela tinha conhecido Levi em uma manhã depois de ele ter passado a noite em nossa casa e desde então o chama de pão italiano.

Olho para ele que ainda me observa, então, ele sorri e com um olhar divertido diz.

— Isso tudo é medo de encarar minha família? Onde está àquela mulher destemida e de língua solta?

— Não estou com medo. Só não queria ter que encarar a bru... — paro o que ia dizer antes de insultar sua mãe.

— Não queria encarar quem? — franze o cenho, enrugando sua testa com o gesto.

— Bruscamente... Encarar bruscamente isso tudo. É isso. Não sei como vão me receber sabendo que sou aquela que fez você quebrar toda uma tradição. Não quero desencadear uma guerra familiar.

— Não foi você e sim eu mesmo, e não se preocupe, está comigo, ninguém vai lhe destratar. Agora vamos! Estão nos esperando para o almoço.

Fecho o casaco e caminho para o carro, Levi disse que essa época aqui é inverno, com as temperaturas variando de 2°C a 14°C, mas como estou acostumada com o frio do Canadá, não sinto tanta diferença.

Enquanto ele coloca as malas no carro, observo ao redor, onde estamos, por ser um local alto, é possível ver ao longe os vales, alguns vinhedos e muitas paisagens naturais. É um lugar muito bonito.

O trajeto foi tranquilo, apesar do tempo chuvoso do inverno. As estradinhas eram em sua maioria contornadas por parreirais, que se fazem presentes ao longo do caminho e às vezes era possível ver alguns barris de carvalho decorados com flores e uma placa indicativa mostrava que estávamos próximos do vinhedo. Eu olhava tudo muito curiosa. Vez ou outra, Levi apontava um local e me dava uma rápida explicação, eu prestava a atenção em tudo, ele conhecia cada pequeno trecho dessa terra, estava fascinada.

Um tempo depois, passamos por uma propriedade muito bonita, ele disse que se tratava da vinícola Fontaleoni, uma das mais tradicionais e conceituadas da região, assim como a de sua família.

Quando passamos por uma área mais íngreme, com o chão de terra, Levi reduziu a velocidade, de repente um cachorro surgiu ao lado do carro, e mesmo o veículo estando a certa velocidade, o animal tentava acompanhar. Olhando mais atentamente, percebi algo estranho nele.

— PARA O CARRO! — gritei.

O susto que Levi tomou foi tão grande, que ele puxou a direção para a direita e freou bruscamente lançando nossos corpos para frente. Ainda bem que estávamos de cinto.

— O que foi? Está passando mal?

— Tem um cachorro, ele parece ferido.

— Está louca, quase me mata de susto por causa de um cão — não respondo e desço ouvindo Levi me chamar. — Lindsey, volte aqui, não pode pegar nele — diz enquanto desce do carro. — Não o conhece, não sabe se é bravo ou se está doente.

— Vamos descobrir — digo.

— Lindsey... — adverte. Não ligo.

— Vem aqui cãozinho, vem...

Bato as mãos o chamando, não entendo nada de animais, mais imagino que ele vir por vontade própria diminui a chance de ele me atacar. Ele abana o rabo e vem com passos cautelosos, vejo que ele manca um pouco. Levi apenas observa sem dizer nada. Ainda abanando sua cauda, o cachorro lambe minha mão.

— Oi, você é garoto ou garota? Não precisa responder ou saio correndo viu...

— Lindsey...

— Xiu... Vai assustá-lo — digo.

— Temos que ir.

— Não podemos deixá-lo aqui, olhe em volta, não tem nada, não vê que ele está machucado?

— Ele deve ter um dono, não parece maltratado.

— Mesmo assim, que tipo de dono é esse? Vamos ficar com ele — digo taxativa, fiquei maluca de vez. — Enquanto estivermos aqui, esperamos o dono aparecer — afago o pelo do animal. — Se não, ele vai conosco para casa, eu estava mesmo pensando em ter um bichinho, não é meu amor?

Levi solta um suspiro resignado e vai até a porta de trás do passageiro, abre e olha para o animal.

— Não faça eu me arrepender — diz para o cão. — Vamos, entre!

Como se entendesse o que foi ordenado, o cãozinho vai até lá e salta para dentro do carro e Levi fecha a porta.

— Obrigada — digo quando chego perto dele. Ele sorri e eu entro, enquanto ele fecha a porta, eu penso que essa é mais uma loucura para minha lista, só espero que a bruxa napolitana não implique com o bichinho.

Um tempo depois, quando o carro finalmente para e Levi abre a porta para mim, eu não consigo me mover. Em parte, porque estou impressionada com a construção à minha frente e a outra parte, mais importante, é que chegou o grande momento e eu tremia de nervoso. Como faria para descer sem causar nenhum desastre?

“A quem eu quero enganar? Sou um desastre ambulante!” — penso com desgosto.

A vontade de dar meia volta e sumir daqui se intensifica, mas não tem outro jeito. Vou ter que encarar cada um deles.

Aprendi que na vida, cada pessoa tem um jeito único de ser, às vezes uns se assemelham conosco e outros não, mas independente disso, temos que saber conviver com todos, mesmo que seja com uma bruxa horrorosa e uma quase noiva ressentida. E se eles não gostarem de mim, azar o deles.

— Lindsey! — Levi chama pela segunda vez. Respiro fundo e aceito sua mão. — Estou aqui, não vou sair de perto de você — diz e instantaneamente me sinto segura e de alguma forma, protegida.

— Vamos!

Quando dou o primeiro passo ouço um latido e lembro-me do cachorro, minha nossa senhora, nem bem peguei o bicho e já estou me esquecendo dele, tomara que ele seja resistente e consiga sobreviver a mim, sou um desastre com animais.

Levi volta e abre à porta, ele desce e salta a nossa volta.

Levi chama um rapaz que vai passando, o orienta a cerca do cãozinho, que o pega e sai, em seguida segura minha mão e juntos andamos por um caminho de pedras até a entrada principal.

 

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