Lindsey Morgan
Desço da aeronave sentindo um peso no estômago. Não posso nem culpar a gravidez, já que morro de medo de voar e como se fosse pouco, ainda tenho a perspectiva de encarar toda família de Levi.
Saber que sua avó e irmã estarão lá não alivia o peso.
Apesar de ter conhecido os membros mais importantes, sei que agora estarão todos reunidos e pelo que ele contou, são muitos.
Segundo Levi, culturalmente, os italianos dão muito valor aos laços de família. Grandes núcleos frequentemente moram juntos, o que é o caso deles, já que a propriedade é imensa, cada um construiu seu lar em redor da casa grande, onde vive sua nonna, como ele chama. Ela é respeitada como provedora e matriarca, já que seu avô é falecido.
O irmão e a cunhada, tias, tios, primos e claro, a tal Kiara, a prima prometida nos aguardam. Ele me falou da história da tradição familiar, nunca imaginei que os pais dele eram primos, e seus avós, seus bisavós, e os que vieram antes deles. Que coisa mais bizarra.
Agora entendo porque a bruxa napolitana me abomina, além de me casar com o filhinho querido dela, ainda o farei quebrar uma tradição de séculos. Apelidei-a assim desde que soube que ela nasceu na região de Nápoles e que só foi para Florença após o casamento com o Sr. Joseph Martinelli.
“Minha nossa senhora das noivas destruidoras de tradições familiares, me ajude a passar por mais essa...” — penso.
Fecho os olhos e respiro fundo.
Saio dos meus pensamentos quando ouço Levi falar comigo.
— Oi?
— Perguntei se está sentindo alguma coisa...
— Só vontade de voltar para minha casa — se Tay, minha amiga com quem divido a casa, me ouvisse falar isso, ficaria muito brava.
Quando liguei falando da viagem e do casamento, ela quase me deixou surda de tanto que gritou do outro lado da linha. Ela tinha conhecido Levi em uma manhã depois de ele ter passado a noite em nossa casa e desde então o chama de pão italiano.
Olho para ele que ainda me observa, então, ele sorri e com um olhar divertido diz.
— Isso tudo é medo de encarar minha família? Onde está àquela mulher destemida e de língua solta?
— Não estou com medo. Só não queria ter que encarar a bru... — paro o que ia dizer antes de insultar sua mãe.
— Não queria encarar quem? — franze o cenho, enrugando sua testa com o gesto.
— Bruscamente... Encarar bruscamente isso tudo. É isso. Não sei como vão me receber sabendo que sou aquela que fez você quebrar toda uma tradição. Não quero desencadear uma guerra familiar.
— Não foi você e sim eu mesmo, e não se preocupe, está comigo, ninguém vai lhe destratar. Agora vamos! Estão nos esperando para o almoço.
Fecho o casaco e caminho para o carro, Levi disse que essa época aqui é inverno, com as temperaturas variando de 2°C a 14°C, mas como estou acostumada com o frio do Canadá, não sinto tanta diferença.
Enquanto ele coloca as malas no carro, observo ao redor, onde estamos, por ser um local alto, é possível ver ao longe os vales, alguns vinhedos e muitas paisagens naturais. É um lugar muito bonito.
O trajeto foi tranquilo, apesar do tempo chuvoso do inverno. As estradinhas eram em sua maioria contornadas por parreirais, que se fazem presentes ao longo do caminho e às vezes era possível ver alguns barris de carvalho decorados com flores e uma placa indicativa mostrava que estávamos próximos do vinhedo. Eu olhava tudo muito curiosa. Vez ou outra, Levi apontava um local e me dava uma rápida explicação, eu prestava a atenção em tudo, ele conhecia cada pequeno trecho dessa terra, estava fascinada.
Um tempo depois, passamos por uma propriedade muito bonita, ele disse que se tratava da vinícola Fontaleoni, uma das mais tradicionais e conceituadas da região, assim como a de sua família.
Quando passamos por uma área mais íngreme, com o chão de terra, Levi reduziu a velocidade, de repente um cachorro surgiu ao lado do carro, e mesmo o veículo estando a certa velocidade, o animal tentava acompanhar. Olhando mais atentamente, percebi algo estranho nele.
— PARA O CARRO! — gritei.
O susto que Levi tomou foi tão grande, que ele puxou a direção para a direita e freou bruscamente lançando nossos corpos para frente. Ainda bem que estávamos de cinto.
— O que foi? Está passando mal?
— Tem um cachorro, ele parece ferido.
— Está louca, quase me mata de susto por causa de um cão — não respondo e desço ouvindo Levi me chamar. — Lindsey, volte aqui, não pode pegar nele — diz enquanto desce do carro. — Não o conhece, não sabe se é bravo ou se está doente.
— Vamos descobrir — digo.
— Lindsey... — adverte. Não ligo.
— Vem aqui cãozinho, vem...
Bato as mãos o chamando, não entendo nada de animais, mais imagino que ele vir por vontade própria diminui a chance de ele me atacar. Ele abana o rabo e vem com passos cautelosos, vejo que ele manca um pouco. Levi apenas observa sem dizer nada. Ainda abanando sua cauda, o cachorro lambe minha mão.
— Oi, você é garoto ou garota? Não precisa responder ou saio correndo viu...
— Lindsey...
— Xiu... Vai assustá-lo — digo.
— Temos que ir.
— Não podemos deixá-lo aqui, olhe em volta, não tem nada, não vê que ele está machucado?
— Ele deve ter um dono, não parece maltratado.
— Mesmo assim, que tipo de dono é esse? Vamos ficar com ele — digo taxativa, fiquei maluca de vez. — Enquanto estivermos aqui, esperamos o dono aparecer — afago o pelo do animal. — Se não, ele vai conosco para casa, eu estava mesmo pensando em ter um bichinho, não é meu amor?
Levi solta um suspiro resignado e vai até a porta de trás do passageiro, abre e olha para o animal.
— Não faça eu me arrepender — diz para o cão. — Vamos, entre!
Como se entendesse o que foi ordenado, o cãozinho vai até lá e salta para dentro do carro e Levi fecha a porta.
— Obrigada — digo quando chego perto dele. Ele sorri e eu entro, enquanto ele fecha a porta, eu penso que essa é mais uma loucura para minha lista, só espero que a bruxa napolitana não implique com o bichinho.
Um tempo depois, quando o carro finalmente para e Levi abre a porta para mim, eu não consigo me mover. Em parte, porque estou impressionada com a construção à minha frente e a outra parte, mais importante, é que chegou o grande momento e eu tremia de nervoso. Como faria para descer sem causar nenhum desastre?
“A quem eu quero enganar? Sou um desastre ambulante!” — penso com desgosto.
A vontade de dar meia volta e sumir daqui se intensifica, mas não tem outro jeito. Vou ter que encarar cada um deles.
Aprendi que na vida, cada pessoa tem um jeito único de ser, às vezes uns se assemelham conosco e outros não, mas independente disso, temos que saber conviver com todos, mesmo que seja com uma bruxa horrorosa e uma quase noiva ressentida. E se eles não gostarem de mim, azar o deles.
— Lindsey! — Levi chama pela segunda vez. Respiro fundo e aceito sua mão. — Estou aqui, não vou sair de perto de você — diz e instantaneamente me sinto segura e de alguma forma, protegida.
— Vamos!
Quando dou o primeiro passo ouço um latido e lembro-me do cachorro, minha nossa senhora, nem bem peguei o bicho e já estou me esquecendo dele, tomara que ele seja resistente e consiga sobreviver a mim, sou um desastre com animais.
Levi volta e abre à porta, ele desce e salta a nossa volta.
Levi chama um rapaz que vai passando, o orienta a cerca do cãozinho, que o pega e sai, em seguida segura minha mão e juntos andamos por um caminho de pedras até a entrada principal.
Lindsey MorganAssim que entramos, observo todos na sala, alguns rostos já conhecidos por mim. Porém outros, completamente estranhos, eles me observavam calados, eu me sinto como uma ameba em um microscópio.— Madonna mia, mio bambino! Lindsey mio caro — a avó de Levi vem em nossa direção, seu gesto faz com que eu me sinta menos desconfortável. — Benvenuto (bem-vinda). Fizeram uma boa viagem?— Sim, nonna — Levi abraça e beija sua avó e em seguida ela faz o mesmo comigo.— Venha querida — diz em inglês. — Venha conhecer sua nova família.Olho para Levi que apenas sorri. Ela passa seu braço pelo meu e vai me apresentando um a um. Primeiro um senhor muito distinto, ele me olhou com um ar superior, diferente da mulher ao seu lado que tinha um sorriso aberto e me cumprimentou com beijos calorosos na bochecha, ao seu lado um casal jovem que deduzi logo ser Lorenzo e sua esposa, ambos muito simpáticos, também me trataram muito bem.Observei algumas crianças correndo pelo ambiente, pareciam
Lindsey MorganTempos mais tarde, eu tinha comido muito pouco e estava feliz que o quê havia comido permaneceu em meu estômago, mas as horas de voo e toda agitação do almoço, que entrou pela tarde, estava cobrando seu preço. Eu me sentia exausta.— Você precisa descansar. Vou te levar para a cama — Levi diz e o duplo sentido de suas palavras me deixa dividida entre descansar e... Bem, ele está muito gostoso ultimamente.Depois de nos despedir dizendo que vamos nos recolher, Levi me leva a um quarto lindo, resolvo tomar um banho, enquanto ele vai buscar as malas no carro. Logo ouço o vidro do box se abrir e suas mãos frias tocam meu corpo que está quente devido à temperatura da água.Ele me abraça por trás, viro-me e enlaço seu pescoço.— Não foi tão ruim assim, foi?— Na verdade, não! — eu digo beijando seu queixo e movo minhas mãos do seu pescoço para os seus braços, faço o caminho de volta, agora com as unhas, enquanto ele me toma em um beijo ainda mais quente que a água que escorre
Levi MartinelliUma hora depois, levo meus olhos em direção à janela, já é noite, contudo, ainda tenho um tempinho. Começo a ler o contrato de fusão com a companhia Ferrell, além da minha, tem duas outras empresas no mesmo processo. Com isso, vamos nos tornar um complexo capaz de atender o mais variado público, atuando desde a área alimentícia, têxtil, tecnológica e até hotelaria. Algo muito vantajoso para todos. Depois de ver que está tudo ok, envio um e-mail concordando e peço para dar continuidade, porém, acho que ainda levará algumas semanas para que tudo seja concretizado.Encerro o trabalho por hoje, Lindsey ainda dorme, resolvo deixá-la dormir e após o jantar, trago algo para ela se alimentar.Como tinha tomado banho há pouco tempo, troco de roupa e desço.A sala não está cheia, mas conta com cerca de dez pessoas presentes, vou cumprimentando um e outro, até que ouço.— Figlio, onde está sua noiva? — minha nonna pergunta assim que me vê. Vou até onde está sentada, me abaixo e b
Levi MartinelliLindsey se levantou, pedindo para ir ao toalete, acabei indo com ela.— O que foi, está enjoada?— Sim. Um pouco, você não precisa ir comigo, mas se for, vamos logo ou mostro o conteúdo do estômago aqui na frente de todo mundo.Assim que entramos, ela foi logo se abaixando no vaso e eu segurei seus cabelos, enquanto ela colocava todo jantar para fora com um espasmo atrás do outro, quando terminou, a ajudei a ir até a pia para lavar a boca e o rosto.— Isso é normal? Você está assim há muitos dias.— É normal sim, ainda mais no início. Não vejo a hora de essa fase passar, mas não estou reclamando, esse bebê é o meu milagre e passo por tudo isso feliz.Quando ela termina, a viro para mim e coloco uma mecha de cabelo atrás da sua orelha e olhando em seus olhos, sei bem o que ela está falando. Quando a questionei sobre ter afirmado não poder ter filhos, ela me explicou a situação e depois quando fomos ao médico, ela explicou que de fato foi um caso raro, pois sofria de um
Francesca MartinelliUm tempo depois, ela sobe e disfarçadamente eu olho para Kiara, que entende imediatamente o que deve fazer.Vou até meu filho e o convido para um passeio no jardim.— Quero ver a Lindsey, ela não estava muito bem, a nonna disse que um chá de gengibre com biscoitos de canela seria bom.— Esse chá é ótimo, tomei muitas vezes quando estava grávida de você e de seus irmãos. Mas, não vai demorar querido, logo o libero para cuidar de sua noiva.Ele concorda, entrelaço meu braço ao dele e caminhamos para fora. Como está frio, ficamos na varanda, o convido para sentar na beirada de um batente a assim ele faz. Instantes depois, eu começo a falar.— Levi, eu sei que começamos com o pé esquerdo, toda essa situação, a tradição...— Mamma...— Por favor, deixe-me falar — peço. Ele acena e eu continuo. — Sou uma mulher à moda antiga, ligada a certas coisas que para vocês, jovens, não tem valor. Mas por amor a um filho, uma mãe é capaz de rever seus conceitos e com isso, eu quer
Lindsey MorganÉ fácil entender o porquê de Levi gostar tanto de sua família, eles demonstram serem muito unidos, tudo parece perfeito, penso enquanto os vejo sorrindo e conversando com seus gestos efusivos, mas, ao olhar para o lado e ver aquelas duas, volto atrás, todos são maravilhosos, exceto pela bruxa napolitana e a noiva largada, essas vieram com defeito de fábrica.“Talvez sejam resultado dessa mistura maluca entre primos — penso. — Não, não, Levi é perfeito. — olho para ele sorrindo, enquanto conversa com o irmão. Perfeito demais para a sanidade que não tenho.”Volto minha atenção para essa coisinha fofa ao meu lado, que também tem um defeito, pelo que está me contando, adora monstrinhos e eu tenho pavor deles.Aos poucos percebo a sala ficando vazia, como também estou cansada, me despeço da Giulia no exato momento que sua mãe vem chamá-la. Vou até Levi e digo que vou subir, ele promete ir em seguida. Ao me virar e dar de cara com a prima dele nos olhando, volto e deixo um av
Levi MartinelliObservo Lindsey tomando seu chá, sua mão ainda trêmula.— Quando ouvi seu grito, imaginei que alguém estivesse atacando você — Julianna fala olhando para ela enquanto estende um pote com biscoitos de canela. — Coma um pouco.— E estavam! Os meliantes queriam me matar, ainda vieram em bando, não viu? Eles me olhavam como se dissessem: “Viemos te pegar” — faz uma voz engraçada.Acabo sorrindo com seu exagero e Lorenzo também. Ele ainda não tinha chegado a casa e voltou no meio do caminho assim que ligamos, apesar de sua residência ficar aqui na Quinta, a propriedade é grande e tem certa distância entre as casas, conferindo privacidade aos moradores.Outra coisa que ajudou, é que ele sempre anda com sua maleta médica no carro, assim pôde fazer uma avaliação preliminar, constatando que foi apenas um susto, graças a Deus.— Ainda bem que eram sapinhos pequenos... — digo.— PEQUENOS? — ela arregala seus enormes olhos verdes para mim. — Eles eram enormes... — faz um gesto com
Lindsey MorganAbro um olho e depois o outro, a luminosidade me incomoda um pouco, eu ainda estou com muito sono, porém, não posso me dar ao luxo de ficar mais tempo na cama, ou Julianna cumpre a ameaça de vir me buscar, ao menos foi o que ela falou quando me viu retornando do passeio com Levi, cedinho.“— Pela cara de vocês dois, imagino que andaram aprontando e a senhorita não deve ter descansado nada, não é? Pois, aproveite o restante da manhã que quando estiver perto do horário, vou buscá-la.” — dissera.Eu tinha certeza de que faria isso. Contudo, por nada deste mundo eu trocaria o passeio que fiz com Levi mais cedo. Depois de termos feito amor boa parte da noite, acabei adormecendo, por pouco tempo, logo percebi uma movimentação no quarto; era ele.“— Eu preciso dar uma saída, vou com meu pai, olhar uma praga que surgiu em uma parte das parreiras” — disse assim que me viu acordada. — “E você, volte a dormir, não descansou nada”.Às vezes eu tinha vontade de lhe dar uma resposta