- Claro. – Ele foi em direção ao telefone.- Irei junto.- Se não se importa... Eu gostaria de fazer isto sozinha. – Pedi – Podemos combinar de irmos juntas amanhã. O que acha?- Claro... Pode ser. Mas você acabou de chegar. E já vai sair?- Preciso ir, mãe. Voltarei melhor, acredite.Ela me deu um beijo na testa e fomos para a frente da casa esperar o táxi, que chegou em menos de cinco minutos.Enquanto eu me dirigia para o lugar onde reclamei a vida toda de morar e nunca fiz nada para mudar o que tanto me incomodava, pensei em Pedro e no nosso encontro no aeroporto.Por mais que eu quisesse pensar que pudesse ter visto errado, que ele naquela fila fosse somente uma imagem projetada da minha cabeça, sabia que era verdade. Pedro sequer olhou nos meus olhos. Fingiu que eu não existia, que nunca me viu em toda sua vida.Como eu conseguiria fazê-lo me ouvir?Sim, eu tinha muito a lhe dizer, porém não poderia obrigá-lo a me escutar. Já havia mandado uma mensagem com boa parte do que queri
- Pai? – Ouvi a voz infantil e o menino abrindo a porta do quarto, deparando-se com dois marmanjos chorando.Renan levantou-se e pegou a mão do filho, orgulhoso:- Clara, quero que conheça Junior, seu sobrinho. Filho, esta é a minha irmã Clara, da qual lhe falei.Observei o menino de cabelos castanho-claro e olhos azuis. Tinha o sorriso do pai, assim como o formato dos olhos e corte de cabelos. Era bem alto para a idade.- Oi, Junior. É um prazer conhecê-lo! Eu acho que sou... Sua tia. – Limpei uma lágrima boba que fugiu dos meus olhos.O menino me deu um abraço, sem que eu pedisse. Alisei seus cabelos fininhos e macios e senti o cheiro adocicado que me remeteu à infância.Meu irmão havia engravidado Flora no passado e ela, por sua vez, fez um aborto sem consultá-lo. Ele havia mencionado que mesmo que ela tivesse pedido sua opinião, teria concordado com a ação da garota. Mas não tinha como saber se Renan realmente aceitaria caso os dois tivessem sentado e conversado sobre o assunto. E
- Vi um vídeo no YouTube dia destes, de propaganda enquanto assistia o seu canal.- Eu aposto que este LP era algo de valor inestimável.- Certo que sim... – Sorri, acariciando as bochechas quentes do garoto.Junior desligou o celular e deitou virado para mim:- Boa noite, tia Clara.- Boa noite, Junior.- Boa noite, papai.- Boa noite, meu anjo. – Renan deu um beijo na testa dele e deitou-se ao seu lado, pondo o braço sobre seu corpinho.- Vocês sempre dormem juntos? – Perguntei baixinho, para não quebrar o clima de sono.- Sim... Sempre! – O menino sorriu.Na manhã seguinte, assim que levantamos, organizamos nossas coisas, pegamos alguns itens que gostaríamos de guardar de recordação e Renan nos deixou na casa de minha mãe. Quando vi que ele sairia com o carro novamente, perguntei:- Onde vai?- Vou buscar um pote de sorvetes. Junior adora comer de sobremesa.- Acho que ele puxou a tia. – Brinquei.- Quer ir junto?- Não! Quero evitar um encontro... Sem planejar. Acho que eu não agu
Senti o rosto queimar e um frio espalhar por minha espinha, parando no estômago. Meu corpo ficou completamente travado, como de costume.Flora certamente percebeu o pânico nos meus olhos:- Clara, está tudo bem?- Não... Não está... – Certamente pelo nervosismo, deixei o celular cair de minhas mãos, espatifando no chão – Eu... Preciso de ajuda.A mulher riu, de forma sarcástica:- Mais uma vez? Voltamos no tempo?Não falei nada. Parecia que o destino queria me pregar uma peça. A vida inteira Flora me ajudou e justo quando me pedia um favor, por mais absurdo que fosse, eu lhe negava. Eis que novamente precisava desesperadamente de socorro. E não havia a quem recorrer... A não ser ela e Pedro.- Preciso de você! – Implorei, jogando fora toda soberba e orgulho que tive um dia.Na verdade, nem era ela em si que poderia me ajudar. E sim Pedro, que eu sabia que era bem conhecido no ramo jurídico em Noriah Norte.- Eu ajudo! Em troca, você fará o que pedi. Dormirá com ele.- Será só uma vez?
Aquilo me doeu como se ela tivesse cravado uma faca no coração. Eu tentava não ser uma filha da puta desde o dia que parti de Laranjeiras, no início do ano 2000. Mas naquele momento senti meu sangue ferver:- Renan tem um filho, que se chama Junior. O menino tem 9 anos. É um fofo.- Ele... Casou? – Foi nítida a dor nos olhos dela.- Ele é feliz... Muito feliz. – Devolvi a frase.- E você é feliz, Clara?Eu ri:- Felicidade? Defina felicidade, por favor... Esta palavra não existe mais no meu dicionário.- Eu serei feliz se quando me for, Pedro ficar com você.- Está louca?- Não acho que ele tenha me amado algum dia. Quero que Pedro se sinta livre e com meu consentimento para que fiquem juntos.- Não... Precisamos do seu consentimento... – Fiquei confusa e tentei me defender.- Pedro não ficaria com você em hipótese alguma se eu não permitisse.O que ela queria? Me destruir definitivamente? Eu não tinha como sofrer ainda mais. Foram 19 incontáveis anos vivendo de passado e tentando seg
POV PEDROEu queria me mover, afinal estava na minha casa. Mas não conseguia. Era como se eu tivesse de volta em 31 de dezembro de 1999, quando Clara virou as costas e foi embora, nunca mais voltando. E o pior, casando com outro homem.Era possível que alguém não mudasse absolutamente nada em 19 anos? Para Clara pelo visto sim. Embora um pouco mais magra, seu rosto não havia mudado absolutamente nada. Os cabelos estavam um pouco mais curtos e pareciam mais volumosos. Também os seios estavam notavelmente mais crescidos, pois se sobressaíam ao restante do corpo. Porém naquele azul de seus olhos eu não conseguia ver nenhum tipo de alegria. Era como se a “minha querida” estivesse completamente morta por dentro.Ainda assim... Eu tinha necessidade de pisar ainda mais sobre seu corpo já praticamente sem vida, para que ela entendesse o quanto sofri, desesperadamente... Por 19 anos longe dela.- Achei que “conhecidos” marcavam antes de aparecer. – Falei, desviando os olhos dela e mirando em F
- Ela jogou a pedra nele para defender Artemis. – Flora foi quem me explicou, levantando-se e indo em direção à cozinha.Ficamos nos olhando, sem dizermos uma palavra. Ela passou a palma das mãos no rosto, tentando limpar as lágrimas. Parte da maquiagem borrou, deixando sua pele com manchas pretas. Mordi o lábio, sentindo tantas coisas dentro de mim que que tinha medo de não me conter.A vida toda esperei por aquele momento. Mas nunca pensei que reagiria daquela forma... Tendo força para maltratá-la e querendo feri-la ainda mais, mesmo sabendo que já estava destruída.Será que eu definitivamente odiava Clara?Mas e a parte em que tinha vontade de abrir os braços e apertá-la entre meu corpo e dizer que estava tudo bem e que ela estava protegida e que nada nem ninguém a machucaria de novo?O desgraçado do Patrick Huxley a tirou de mim para maltratá-la?Clara abriu mão de todo nosso amor e planos para viver uma vida desgraçada como a da mãe?Ela umedeceu os lábios e desviou o olhar do me
POV CLARANão tenho certeza de quanto tempo ficamos ali, sem dizermos nada, cada um com seus mil pensamentos passando pela cabeça. Eu tinha muito a falar, mas parecia que bastava ficar ali, ao lado dele, até o dia amanhecer. E quando Flora chegasse, eu sorria e diria que a amava e explicaria que agi sem pensar há anos atrás e queria ficar ao seu lado, se me permitisse. E que se não aceitasse, eu entenderia e não ficaria chateada.- Ele bateu em você? – Pedro me surpreendeu com a pergunta.Demorei um tempo a responder:- Doeu mais o que ele fez com a minha mente... E a alma. – Abaixei a cabeça.- Por que permitiu?- Porque desde que nasci eu vivi criticando a minha mãe. Então o destino talvez tenha decidido que eu tinha que estar no lugar dela um pouco... Para que entendesse que há coisas que não tem explicação.- Por que nunca me deu uma explicação? Por que virou as costas e foi embora como se eu não significasse nada para você? Me traía com ele?- Eu lhe dei uma explicação, embora nã