- Ela jogou a pedra nele para defender Artemis. – Flora foi quem me explicou, levantando-se e indo em direção à cozinha.Ficamos nos olhando, sem dizermos uma palavra. Ela passou a palma das mãos no rosto, tentando limpar as lágrimas. Parte da maquiagem borrou, deixando sua pele com manchas pretas. Mordi o lábio, sentindo tantas coisas dentro de mim que que tinha medo de não me conter.A vida toda esperei por aquele momento. Mas nunca pensei que reagiria daquela forma... Tendo força para maltratá-la e querendo feri-la ainda mais, mesmo sabendo que já estava destruída.Será que eu definitivamente odiava Clara?Mas e a parte em que tinha vontade de abrir os braços e apertá-la entre meu corpo e dizer que estava tudo bem e que ela estava protegida e que nada nem ninguém a machucaria de novo?O desgraçado do Patrick Huxley a tirou de mim para maltratá-la?Clara abriu mão de todo nosso amor e planos para viver uma vida desgraçada como a da mãe?Ela umedeceu os lábios e desviou o olhar do me
POV CLARANão tenho certeza de quanto tempo ficamos ali, sem dizermos nada, cada um com seus mil pensamentos passando pela cabeça. Eu tinha muito a falar, mas parecia que bastava ficar ali, ao lado dele, até o dia amanhecer. E quando Flora chegasse, eu sorria e diria que a amava e explicaria que agi sem pensar há anos atrás e queria ficar ao seu lado, se me permitisse. E que se não aceitasse, eu entenderia e não ficaria chateada.- Ele bateu em você? – Pedro me surpreendeu com a pergunta.Demorei um tempo a responder:- Doeu mais o que ele fez com a minha mente... E a alma. – Abaixei a cabeça.- Por que permitiu?- Porque desde que nasci eu vivi criticando a minha mãe. Então o destino talvez tenha decidido que eu tinha que estar no lugar dela um pouco... Para que entendesse que há coisas que não tem explicação.- Por que nunca me deu uma explicação? Por que virou as costas e foi embora como se eu não significasse nada para você? Me traía com ele?- Eu lhe dei uma explicação, embora nã
- Não quero que fuja novamente, Clara. Arranjarei uma forma de livrá-la disto tudo. Vamos ter que alegar legítima defesa e terá que falar tudo que Patrick fez. Precisa denunciá-lo.Eu ri:- Isso vai contra seus princípios... E não quero mudar isso, Pedro. Me indique um bom advogado. Eu fugiria, como sempre... Mas fico em dúvida entre ir e cuidar de Flora.- Eu cuidarei de Flora.- Isso significa que quer que eu vá?- Não... Não quero que fuja. Pela primeira vez na vida, lute pelo que acredita.- E acha que acredito que alguma coisa acontecerá com Patrick? – eu ri – Ele é intocável.- Não em Noriah Norte. Não comigo como juiz.Levantei e peguei minha bolsa. Retirei de dentro da carteira a foto dele, que eu carregava desde que a resgatei da lareira de Patrick, quando morava ainda num morro que pertencia a Gold Coast, na Austrália.A imagem impressa estava gasta e manchada das vezes que Patrick jogava combustível sobre minhas lembranças, ameaçando queimá-las.Entreguei-lhe a foto.- A fo
- Por Deus, Clara... Acorde! – Ouvi a voz ao longe me chamando, enquanto alguém balançava minha cabeça.Tentei falar, mas minha voz não saía e eu não conseguia abrir os olhos. Minha respiração estava acelerada e parecia que o coração batia a ponto de saltar para fora do peito.Senti meu corpo ser erguido, ainda dolorido. Abri os olhos e deparei-me com Patrick. O som estridente dos fogos de artifício coloridos iluminavam o céu.- Não... Não pode ser. Viemos juntos para o inferno? Eu nem fui tão ruim assim. E se eu fui, você deveria estar abaixo do inferno... – A dor não era nada em meio à tantas coisas que eu tinha para dizer a Patrick.- Inferno? – Ele ficou confuso.- Para onde está me levando, seu psicopata?- Psicopata? – Parou de andar comigo ainda em seus braços.Olhei para o lado e vi o mar.- Você... Me trouxe para Gold Coast? – Balancei a cabeça, atordoada.- Gold Coast?- Só sabe me imitar agora? – eu ri, sentindo dor na barriga, tocando-a e fazendo careta – Claro que sim...
Parei, disposta a ficar observando-o por uma, duas, três horas, dias, meses, anos...Dei um passo e ele deu outro. Estávamos a uma curta distância, no meio da rua. Nossos olhos se encontraram e senti uma forte pontada na cabeça, fazendo-me gemer de dor.- O que houve? – Ele diminuiu a distância entre nós – Você está molhada... E... Com cara de dor.- Minha cabeça está doendo muito... – Confessei.- Meu Deus! – Ele me abraçou – Achei que tinha fugido, Clara!O afastei e sorri:- Eu fugi... Me perdoe. Mas nunca mais farei isto, Pedro. Não devia tê-lo deixado para trás, sozinho.- Bem... Me deixou sozinho por 15 minutos – olhou no relógio e sorriu – Me deve a virada do ano.Toquei sua boca levemente inchada, já sem o sangue.- Meu pai... – Fiquei em dúvida do que realmente tinha acontecido, já que minha cabeça doía e eu tinha alguns flashes estranhos com Patrick, a mãe dele, Austrália e Artemis, como se realmente estivesse vivido aquilo, embora imaginasse que foi só um sonho.- Seu pai c
POV Patrick“Não, na verdade é agora eu lhe digo que você é um filho da puta protegido pela mãe que não tem voz nem vez. Não sabe tomar decisões e se continuar se escondendo atrás da saia dela será um otário, perdedor a vida inteira. Dinheiro não traz felicidade... E você ama o surf, ama estar sozinho, ama a sua vida rodeada de mulheres, sem compromisso algum.”Fiquei martelando na cabeça as palavras ditas por Clara Versiani, enquanto olhava para o mar, os fogos de artifício ainda colorindo o céu escuro com o mar abaixo dele.Retirei meu calçado e fui andando até encontrar as primeiras ondas. Contei até a sétima e fiquei ali, torcendo para que tivesse um ano cheio de prosperidade e sonhos realizados.Mas qual era o meu sonho? O meu maior sonho era ser reconhecido no surf, o esporte ao qual eu tanto me dedicava.Desde cedo comecei a surfar, inicialmente com a prancha de morey buggy, onde aprendi a remar contra as ondas. Depois meu pai me deu a primeira funboard amarela que adesivei por
- Escolha uma que conhece ao menos... Não é preciso escolher uma estranha.- Mãe, eu não casarei.- Não pode abrir mão da nossa herança.- Não era “nossa”, mãe. Era minha. Se tia Dorinha quisesse que você ficasse com o dinheiro, deixaria seu nome no testamento. E talvez até pedisse que a senhora casasse com um desconhecido. Sei que não pensaria duas vezes para pôr a mão na grana. Mas eu não farei.Levantei e fui para o meu quarto. Ela pegou meu braço, apertando-o com força a ponto de machucar. Agora as lágrimas escorriam pelo seu rosto:- Você não vai viver da porra do esporte. Já vai fazer 30 anos. Será que não entende que é velho demais para isso?- Kelly Slater tem 27. E em 1998 chegou ao pentacampeonato. Posso não ser mais tão jovem... Mas também não tão velho. Sou bom no que faço. – Pisquei o olho e puxei com força meu braço que estava em poder dela.Fui para o meu quarto e comecei a botar minhas coisas numa mochila.- Onde pensa que vai? – Ela gritou.- Irei embora.- Embora? Pe
- Ana Carolina – ele respondeu de forma debochada – Nininha... Ana... Aninha... Ou simplesmente Nina, como ela preferia ser chamada.- Você sempre soube quem eu era! – Fiquei pasmo.- Acha que sou idiota, Pedro Moratti? Quantos Moratti você acha que existem em Laranjeiras?- Por que nunca disse nada? – Clara perguntou, atordoada.- Ana? – Josephine balançou a cabeça, com os olhos lacrimejando – A mãe de Pedro era a Ana?- Sim... Tudo leva a crer que meu pai era o amante da mãe de Pedro... E estava ao volante do carro quando houve o acidente. – Clara explicou.Josephine me olhou, com o semblante entristecido, dando para perceber a dor em seus olhos:- Eu sinto muito, Pedro.- Não, não sinta... – falei enquanto soltava Joaquim, que caiu na calçada – Você não tem culpa de nada, Josephine.- Vai fazer o que, moleque? Comer a minha filha para se vingar? – Joaquim continuou provocando.- Você foi o responsável pela morte da minha mãe. – Falei olhando em seus olhos, como desejei a vida intei