Quando cheguei na frente da casa onde meu irmão residia, nos fundos, estacionei o carro, feliz por ter pouco movimento e não precisar dar voltas e voltas na quadra até ter um lugar numa esquina para que eu pudesse deixar o carro de uma forma que me desse tranquilidade e segurança na hora de sair.Apertei a campainha que havia no portão e quem me atendeu foi uma mulher aparentando uns 40/45 anos.- Boa noite... Eu sou irmã do Renan Versiani. Gostaria de saber se ele está em casa.Ela sorriu:- Entre! O portão está aberto.Abri o portão e estava me dirigindo para o corredor ao lado da casa quando ela disse:- Renan está aqui. Entre, por favor.A olhei, confusa. A mulher veio até mim e cumprimentou-me com um beijo na bochecha:- Você deve ser a Clara.- Sim. – Afirmei, certa de que Renan havia falado sobre mim com ela.- Sou Talía. Muito prazer.Sorri, achando-a muito simpática enquanto era conduzida para dentro de sua residência.A casa de Talía aparentava ser grande por fora. E o seu i
Meu mundo desabou depois daquilo. Certamente dirigir era coisa que eu não faria novamente, por todos os problemas que tive ao longo de minha jornada como motorista. Ser forte era uma coisa. Insistir numa coisa que eu não sabia fazer era burrice.Dei o recado ao meu pai tal e qual o homem mandou. No entanto tudo que consegui foi uma risada irônica e se ele realmente ficou preocupado, não demonstrou.Dizer que fui tirada do carro com uma arma na cabeça foi o mesmo que explicar que tropecei no portão antes de entrar. Para Joaquim Versiani não era motivo de pânico ou mesmo registrar uma ocorrência policial. Questionado pela minha mãe sobre no que estava envolvido, meu pai negou qualquer coisa. Ela insistia que eram jogos de azar.Naquela noite Pipeline estava inquieta e não queria de maneira alguma ficar na minha cama. Estava visivelmente mais pesada e barriguda e escondi de todos, inclusive de Pedro, que imaginava que ela estaria prenha. Meu namorado não sabia das ameaças de meu pai com
Suspirei e a encarei:- Sei que não devia fazer isto... Mas... Já fiz.- Tente não fazer aqui em casa, Clara. Você e Pedro estão brincando com fogo.- Eu... Prometo que tentarei.- Você... Sente prazer com Pedro?- Sim. – Respondi de forma sincera – Todas as vezes. Ele foi paciente para minha primeira vez... Respeitou meu tempo. E o amo... Por isso e todas as coisas que ele faz por mim.- Você é tão jovem... E se realmente não for amor? Eu também achava amar seu pai.- Meu pai nunca foi uma pessoa capaz de ser amada... Desde que nasci ele sempre foi o mesmo sujeito egoísta, prepotente e que se acha o dono do mundo. Não sei como foi capaz de achar que sentiu algo por ele um dia. Tampouco como ainda estamos aqui, depois de tudo que ele fez e faz de ruim.Retirei meu braço do poder dela e saí.Eu estava organizando minhas coisas para ir para a escola quando ouvi do quarto uma buzina insistente, parecendo ser na frente de casa.Meu coração acelerou e por um momento imaginei que pudesse s
- Onde... Estão Pipe e os filhotes? – Tentei gritar, mas minha voz não acompanhou o tom que eu queria, saindo rouca e cheia de medo.- Botei todos no carro e joguei numa lixeira. Eu sabia que ele não estava blefando. Conhecia sua maldade a ponto de ter certeza de que realmente havia botado a minha cachorra, que tinha recém parido, junto dos filhotes numa lata de lixo.- Em que lugar? – implorei – Eu preciso resgatá-los.- Eles não ficarão nesta casa. - Eu... Só quero salvá-los. Acharei um lar para eles. – A dor dentro de mim era insuportável.- Larguei-os na cidade de Preston. Mas não os encontrará novamente. - Em qual... Rua?- Aquela deserta, que acaba no cemitério. Alguém vai encontrar eles e lhes dar um lar, não se preocupe. Só não quero aquela bicharada na minha casa. - Onde está mamãe? - Ela foi ao mercado... Ou está rodando a bolsa numa esquina, que é o que vagabundas fazem de melhor. – Riu, com escárnio.Pus minha mochila nas costas e saí sem olhar para trás. Era o fim. N
Ainda assim vovó nunca me disse o nome dele. E creio que fosse exatamente por medo que eu fizesse o que estava fazendo naquele momento: tentando descobrir quem ele era. Para poder entender o que tinha acontecido e se fosse o caso, fazê-lo pagar pela dor que minha mãe passou e o luto da minha vida inteira, por ter crescido sem meus pais. Quando parei o carro na calçada de casa, ajeitando sua frente para entrar na garagem, avistei Clara sentada no chão, na calçada, de frente para o portão.Desliguei o automóvel e corri na direção dela, que estava com a cabeça baixa. Percebi que tinha a mochila nas costas. Mas já era final de tarde. Então ela não havia ido para a escola?Assim que me viu ela levantou o rosto e percebi seus olhos vermelhos e inchados. Nitidamente havia chorado. E aquilo fez com que meu coração acelerasse e um frio percorresse meu estômago.Peguei suas mãos e a ajudei a levantar-se. Clara me abraçou, sem dizer nada. Deixei que suas lágrimas molhassem minha camiseta e alis
- Eu não tinha como saber, Clara. Se tivesse me contado a verdade, se aberto comigo desde o início, ou mesmo agora, quando comecei a frequentar a sua casa, eu saberia que não era para emprestar. – Perdi a paciência.- Meio milhão de norians... – ela riu, ironicamente – Quem empresta meio milhão de norians a um desconhecido?- Ele não é um desconhecido, caralho! É o seu pai!- Que não tem onde cair morto! Que deve para agiotas em todos os cantos! Que bate na mulher! Que nunca vai poder lhe pagar! Que pegou a porra da sua grana e comprou um carro zero quilômetro! – Ela gritava e chorava ao mesmo tempo, me culpando.Tentei me aproximar de Clara, que não me deixou, se afastando, ficando entre a porta e a estante de livros.- Eu não tenho culpa. Achei que estivesse ajudando... De alguma forma.- Por que não falou comigo antes?- Porque “você” não falou comigo antes... Porque não me contou a verdade?- Não estava claro a verdade para você, Pedro? Não pensei que eu tivesse que falar com pala
Mas eu não podia ser mãe agora. Nem nos próximos anos. Isso atrapalharia a vida de Pedro e seus sonhos e planos. E embora eu não soubesse o que queria fazer da vida, ser dona de casa não era uma das coisas que me representavam.Aguentei dezoito anos. Por que não aguentar mais dois, no máximo três? O que poderia ficar pior? Meu pai já tinha pedido o dinheiro. Mamãe e eu já sabíamos que ele devia a agiotas. Ele já havia traído a esposa com dezenas de mulheres diferentes. E agora não batia mais nela, o que era uma vitória, por menor que fosse. E Pipeline já havia sido largada em outra cidade com os filhotes e eu nunca mais a encontraria.- Obrigada, Pedro. Mas não! – Tentei não parecer irritada ou que estivesse fazendo pouco caso do convite dele.Também não passava pela minha cabeça explicar-lhe o tanto de coisas que pensei em tão pouco tempo antes de lhe dar aquela resposta.- Não... O quê?- “Não” para morar aqui. “Sim” para dormir aqui. “Não” para que me leve embora. – Sorri, tentando
Comecei a trabalhar no turno da manhã, numa loja de roupas. A dona era amiga da tia Rute, que me indicou, mesmo não estando na cidade, para a vaga. O salário era uma merda, mas eu tinha que partir de algo para ter dinheiro para pagar Pedro.Não levou uma semana e comecei a me atrapalhar com os horários, pois acordava cedo, ia para a escola à tarde e à noite estudava e fazia meus trabalhos, já que o ano estava acabando e as tarefas finais exigiam muito esforço e dedicação.Algumas tardes deixei de ir na aula para poder dormir mais tempo ou concluir trabalhos.Eu não havia contado a Pedro que estava trabalhando para pagá-lo pois sabia que ele ficaria furioso.Não havia passado um mês desde que comecei o trabalho e cheguei na aula atrasada. Achei melhor ir depois do que faltar novamente. Sabia que minhas notas haviam baixado, embora fosse quase impossível eu reprovar devido às médias altas dos bimestres anteriores.Na hora do intervalo, Flora pediu que eu fosse com ela ao banheiro. Assim