Mas eu não podia ser mãe agora. Nem nos próximos anos. Isso atrapalharia a vida de Pedro e seus sonhos e planos. E embora eu não soubesse o que queria fazer da vida, ser dona de casa não era uma das coisas que me representavam.Aguentei dezoito anos. Por que não aguentar mais dois, no máximo três? O que poderia ficar pior? Meu pai já tinha pedido o dinheiro. Mamãe e eu já sabíamos que ele devia a agiotas. Ele já havia traído a esposa com dezenas de mulheres diferentes. E agora não batia mais nela, o que era uma vitória, por menor que fosse. E Pipeline já havia sido largada em outra cidade com os filhotes e eu nunca mais a encontraria.- Obrigada, Pedro. Mas não! – Tentei não parecer irritada ou que estivesse fazendo pouco caso do convite dele.Também não passava pela minha cabeça explicar-lhe o tanto de coisas que pensei em tão pouco tempo antes de lhe dar aquela resposta.- Não... O quê?- “Não” para morar aqui. “Sim” para dormir aqui. “Não” para que me leve embora. – Sorri, tentando
Comecei a trabalhar no turno da manhã, numa loja de roupas. A dona era amiga da tia Rute, que me indicou, mesmo não estando na cidade, para a vaga. O salário era uma merda, mas eu tinha que partir de algo para ter dinheiro para pagar Pedro.Não levou uma semana e comecei a me atrapalhar com os horários, pois acordava cedo, ia para a escola à tarde e à noite estudava e fazia meus trabalhos, já que o ano estava acabando e as tarefas finais exigiam muito esforço e dedicação.Algumas tardes deixei de ir na aula para poder dormir mais tempo ou concluir trabalhos.Eu não havia contado a Pedro que estava trabalhando para pagá-lo pois sabia que ele ficaria furioso.Não havia passado um mês desde que comecei o trabalho e cheguei na aula atrasada. Achei melhor ir depois do que faltar novamente. Sabia que minhas notas haviam baixado, embora fosse quase impossível eu reprovar devido às médias altas dos bimestres anteriores.Na hora do intervalo, Flora pediu que eu fosse com ela ao banheiro. Assim
Talvez ele tivesse razão. Eu amava Flora e seríamos amigas para sempre. Mas era Pedro que estaria ao meu lado todos os dias, até o fim. Porque ele era minha outra metade, a pessoa detentora do ponto luminoso no ombro esquerdo, a marca que comprovava que minha alma esperou pela dele durante muito tempo, talvez até de vidas passadas.Se eu ficaria com Pedro Moratti para sempre? Eu gostaria, do fundo do meu coração, que sim.Se eu pagaria a dívida, mesmo que um dia viéssemos a casar? Sim, pagaria.- Tudo bem. – Concordei com ele.Pedro me entregou o envelope de dinheiro:- Devolva à Flora.- Eu entrego amanhã. – Pus de volta no porta-luvas.Pedro pegou-o e abriu o bolso da minha mochila, pondo dentro.- Assim é mais garantido que não vai esquecer. – Sorriu.Revirei os olhos e acabei sorrindo. Ele deu-me um beijo na bochecha:- Não se esqueça que precisamos confiar um no outro se queremos que tudo que planejamos para o futuro aconteça.- Eu sei... Sinto muito. Mas dever esta quantia de di
POV PATRICK- Por que tenho que contratar uma mulher para vendedora? – Tentei convencer Artemis mais uma vez a mudar de ideia.- Porque é bom para sua imagem, Patrick.- Minha imagem já está feita, Artemis. – Dei de ombros.- Me contratou para ser seu empresário porque confiava em mim, não é mesmo? Então faça como estou lhe sugerindo, porra! – Ele parecia estar perdendo a paciência.- Mulheres não entendem de surf.- Sabe que tem muitas delas entrando no esporte, não é mesmo?- Não sabem nada. Só querem aparecer. – Dei minha opinião.- Pode até pensar isso, Patrick, mas jamais dirá em público ou sequer em voz alta para qualquer pessoa ou até para si mesmo. Tem seleção hoje para a loja nova que vai abrir no Shopping de Cidade Planalto e irá escolher uma garota para a Matriz.- Acho que está querendo comer minhas funcionárias, Artemis – debochei, olhando-o de relance, atento ao trânsito.- Era só o que me faltava, Patrick, você pensar isso de mim!Dei um tapinha no seu ombro:- Estou br
- A vaga é para a Huxley Surf & Skate? – Ela perguntou.- Sim. Acho importante que alguém do sexo feminino passe a atender por lá, junto do meu outro funcionário. É uma forma de empregar mulheres, que raramente trabalham neste tipo de loja, além de tentar trazê-las para comprar... Ou simplesmente curtirem um pouco o esporte. Já estamos trabalhando com roupas femininas de marcas conhecidas de surf e skate. Mas tenho interesse em ampliar as marcas... Bem como a quantidade de... Roupas.- Legal. Me joguei para trás da cadeira e continuei com a caneta na mão, girando-a:- Gosta de surf – olhei para o currículo, fingindo não saber o nome dela, precisando ler – Clara... É isso?- Sim, Clara. Talvez... Minha letra não esteja muito legível. Fiz muitos currículos e no final... Meus dedos doíam. – Confessou de forma séria.- Gosta de escrever?Ela me olhou demoradamente antes de responder, parecendo escolher as palavras que diria:- Não muito.Sorri de forma irônica:- Bom que na loja não pre
POV ClaraAssim que saí do prédio da Agência de empregos no centro da cidade andei alguns passos e me escorei numa parede, tentando recuperar o fôlego.Eu não sabia se estava daquele jeito por conta de Patrick praticamente ter deixado claro que sabia das cartas ou porque tínhamos pela primeira vez conversado de fato.Só tinha a certeza de que meu coração estava batendo forte e as pernas levemente trêmulas.Deus, ele tinha cortado os cabelos! Agora estavam na altura dos ombros. E o desgraçado conseguiu ficar ainda mais lindo.Fechei os olhos e pensei em Pedro. Achar um homem bonito não era traição, tampouco proibido ou pecado. Afinal, Pedro sabia que eu era louca por Kelly Slater e nunca me criticou por isso. Patrick Huxley era como Kelly Slater... Com a diferença de que nunca mandei cartas anônimas para Kelly... Ou mesmo jurei amá-lo eternamente, independente de quantos homens passassem pela minha vida.Abri os olhos e sorri:- Você superou Patrick Huxley, Clara! – Tentei me convencer
- Podemos buscar hoje? – Beverly perguntou.- Nossa, por que tão rápido? Você não disse que era para “caso precisasse”? Entendi que era futuro. – Flora criticou.- O futuro é amanhã, Flora! – Ela riu.Acabamos indo todas para a farmácia do pai da colega e saindo de lá cada uma com um comprimido azul, “contrabandeado” e ainda de graça. Somente Flora não quis e achou tudo uma loucura.Quando saímos da Farmácia, perguntei à Flora:- Vai para casa?- Não! Papai vai me buscar e vamos dar uma volta na empresa.- O que vai fazer lá?- O Ensino Médio acabou, Clara! E eu vou ter que trabalhar na empresa do meu pai. Não há outra pessoa para assumir os negócios.- E o sonho de ser arquiteta?- Talvez eu tenha que abrir mão... Ao menos por enquanto.- Já contou ao seu pai sobre querer cursar Arquitetura?- Talvez eu fale hoje.- “Talvez” não. Você “precisa” falar. O seu pai é um amor. Jamais a obrigaria a fazer algo que não é de sua vontade.- Sim, exatamente por ele ser um pai maravilhoso que nã
- Pedro? – Ficou ruborizada.- Desculpe, mas é impossível não parar para admirá-la! – Sorri, ainda de braços cruzados.Clara sorriu e correu na minha direção, pulando no meu colo, forçando-me a segurá-la pelos quadris enquanto tomava meus lábios, em desespero pela minha língua.Se ela soubesse o quanto contei os minutos para senti-la daquele jeito... Apertar sua pele entre meus dedos, sentir seu gosto, o toque doce e suave de sua língua, o cheiro de xampu que emanava de seus cabelos recém lavados...Foi impossível não a levar em direção à cama, jogando-a no colchão e me pondo sobre ela, com minhas mãos incertas sobre por onde começar a tocá-la, já que eu sentia falta de cada pedaço do seu corpo com a mesma intensidade.- Seu pai e sua mãe... – Sussurrei entre seus lábios, amedrontado de eles nos pegarem naquela cena.- Acha mesmo que eu estaria com você nesta cama se houvesse qualquer risco? – Ela riu, puxando-me para junto de sua boca novamente.Já fazia um tempo que não usávamos cam