- É só isso que tem a dizer, Renan? Depois de tudo que eu contei você apenas me olha e diz que “sente muito”? – Limpei as lágrimas.- Eu posso lhe dar o dinheiro, Clara. – disse Talía.Eu ri tristemente:- De que adianta, Talía? Daí eu continuaria devendo 1 milhão... Meio para você e o outro meio para meu namorado ou minha melhor amiga.- Um milhão... É muito para mim. – Ela ficou sem jeito.Peguei a mão dela carinhosamente:- Eu sei, Talía. Só estou explicando que não adianta eu pegar seu dinheiro. Obrigada por tentar ajudar... Mas às vezes eu sinto que nada nem ninguém pode me ajudar, entende? É como se eu estivesse dentro de um buraco e visse o sol quando olho para cima... No entanto não tenho coragem de escalar as paredes... Porque eu tenho medo de lá em cima ser pior do que aqui embaixo...Talía e Renan me olharam, certamente sem entender a que me referia. Mas era assim mesmo que eu me sentia: numa prisão. Ainda assim eu tinha medo de sair de dentro dela e não saber viver livreme
Chegamos no dia 31 pela manhã na casa de tia Rute em Costa Sul, litoral de Noriah Norte. Pedro havia levado eu e meus pais em seu carro, já que meu pai se recusou a dirigir por um percurso tão longo.Assim que chegamos, abracei minha tia demoradamente. Estava louca de saudades. Meu primo havia crescido muito e já estava um mocinho com seus quatorze anos.- Davi tem até espinhas. – Observei.- Sim, seu primo está crescendo. Aposto que logo começará a trazer as namoradinhas para cá. – Tia Rute disse rindo.- Davi se adaptou bem ao litoral. – Mamãe falou ao ver o sobrinho bem-disposto e feliz.- Sim. Ele fez amigos e confessou que gostou muito mais daqui do que de Laranjeiras. Às vezes mudar não é tão ruim. Davi e eu ficamos tão apreensivos. No fim, já faz mais de uma no que estamos aqui... E amando.Fui ajudar Pedro a retirar as bagagens do carro.- Não precisa fazer isso, querida. – Ele pegou a mala da minha mão.- Hum, não precisa ser tão fofo o tempo todo. – Brinquei.Pedro largou a
- Não lhe disse que sempre achei que ela apoiava meu pai mais do que minha mãe?- Pedro... Você precisa esquecer isto. Onde quer que este homem esteja hoje, se fez algo errado certamente pagará.Pedro deu um beijo breve nos meus lábios:- Enfim... Ano novo, vida nova. Vou passar uma borracha nesta porra toda. E meu maior desejo é esquecer isso. Fingir que nunca aconteceu.- Precisa ser assim... – Alisei seu rosto – Agora me deixe ver o anel.- Sua safada! - Ele riu – Nem pensar. – Pegou a mala e saiu, não me deixando ver o anel.- Vai pedir minha mão ao meu pai? – Brinquei.- Não! – Ele olhou para trás, de forma séria – Já fiz isso uma vez... E confesso que não deveria ter feito.- Ah, se arrepende de ter me pedido em namoro? – Fiquei confusa.- Me arrependo... Porque seu pai não merecia que tudo acontecesse exatamente como ele queria. Ele sempre teve uma filha perfeita... E nunca soube valorizar.Pedro se dirigiu ao interior da casa e o sorriso morreu nos meus lábios. Eu não passei
Andei sem rumo pela beira do mar, desviando das pessoas sem sequer prestar atenção em ninguém. Eu estava destruída por dentro. E não tinha a mínima ideia de como contaria aquilo a Pedro, mesmo sabendo que precisava fazê-lo.Não tenho ideia de quanto tempo andei. Quando minhas pernas começaram a cansar e a visão ficar turva, retirei os óculos e vi que estava anoitecendo. Então retomei o trajeto de volta, incerta se aguentaria fazê-lo.Cheguei na casa de tia Rute já passava das 19 horas. Procurei por todo mundo e a casa parecia vazia. Claro que quando passei pela praia, na entrada da rua dela, onde estava marcado o reencontro com Pedro e meu primo, sabia que ninguém mais estaria ali.Comecei a gritar por todos até que vi a porta dos fundos aberta. Fui até lá e encontrei meu pai, sentado numa cadeira baixa de praia, com uma cerveja em lata na mão. Senti um nó na garganta ao perceber seus olhos estreitos e avermelhados, que eu já reconhecia de longe o que significava.- Não tem ninguém em
Vi um vulto ao lado do portão da rua e fui até lá, deparando-me com meu namorado. Abri o portão e escorei-me no muro, ao seu lado.- Oi. – Falei, cruzando os braços, imitando-o.- Oi.- Quero que saiba que eu não sinto absolutamente nada por Patrick.Pedro não disse nada. Respirei fundo e senti a tensão no ar. Ele não costumava ser ciumento. A não ser quando se referia a Patrick. Ainda assim sempre tentava se conter.- Você estudou sobre ciúme... Não pode agir assim. – Tentei.- Clara, você não me esperou na praia no horário combinado. Cheguei lá e estava só sua mãe e sua tia. Andou sozinha por aí, sendo que todo mundo sabe que este cara está em Costa Sul. Você me disse com todas as letras que ele era o amor da sua vida... E que ao final era com ele que ficaria.- Eu não tinha a mínima noção do que dizia, Pedro! Isso eu pensava antes de conhecer você.- Você disse para mim estas palavras.Parei em sua frente e perguntei, enquanto segurava seus ombros:- Tem dúvidas do que sinto por vo
POV PATRICKA casa estava lotada. Tinha tantas bebidas e comidas que mal daria para provar tudo. Eu não havia visto nenhuma mulher com a qual não desejasse ir para a cama. Talvez rolasse pegar duas ou três ao mesmo tempo, que era um sonho antigo ainda não realizado.Eu havia ganhado o campeonato nacional de surf e o próximo passo era vencer o mundial na Austrália. Eu tinha certeza que o ano de 2000 era meu e não tinha para mais ninguém. Kelly Slater me conheceria, pois a intenção era gravar meu nome na história do surf.- Acho que a gente poderia transar antes do mundo acabar. – Uma morena gostosa parou na minha frente e alisou meu peito sobre a camiseta branca.- Podemos... E se ele não acabar a gente continua transando... – beijei a boca dela, enlaçando-a com uma mão pela cintura enquanto com a outra jogava o espumante sobre ela, sentindo o líquido adocicado chegando nas nossas bocas, misturado ao gosto do nosso beijo.Ela era bem ansiosa e pôs a mão sob a minha bermuda, alcançando
Nem percebi que estava dirigindo na beira da praia. Não havia nada nem ninguém ali, somente a escuridão e o meu farol que iluminava um pouco a areia fina e que derrapava vez ou outra, fazendo as rodas quererem atolar.Foi quando vi o vulto branco na minha frente, saindo do nada. Tentei frear, mas o carro perdeu o controle. Ouvi o som do choque do corpo na lataria e finalmente o motor parou. Saí do carro rapidamente, caindo na areia. Levantei e corri até a pessoa, jogada no chão.Abaixei-me, em desespero, e levantei sua cabeça, retirando os cabelos do rosto.- Clara?No mesmo momento que chamei o nome dela, os fogos ecoaram no céu, anunciando que o ano 2000 havia chegado. Era a virada do milênio... E todos tinham que estar fazendo o que mais queriam na vida. E eu estava com ela desacordada em meus braços.- Por Deus, Clara... Acorde! – Balancei o rosto dela, enquanto segurava seu corpo, ajoelhado.Toquei seu nariz e ela estava respirando, embora de forma rápida demais. O corpo estava a
E agora, o eu deveria fazer? Beijá-la?Tanto evitei me aproximar daquela garota, quando a tinha tão perto o tempo todo! Fugi, fingi que ela não existia, a destratei e fiz pouco caso de seus sentimentos puros e verdadeiros. E agora ela não sentia mais nada por mim. Seus versos pertenciam ao tal Pedro, bem como todo o seu coração. E certamente ele a havia ferido, magoado, destratado da mesma forma que eu fiz.Por que você é tão azarada, Clara Versiani? Por que se apaixona pelos piores homens? E lamento informar, mas nos próximos dez anos não conhecerá o amor, pois estará comigo. Tampouco será feliz.Sinto muito e espero que futuramente possa me perdoar por ter me dado tanto de você... E eu ter retribuído sendo um filho da puta. Pedro a quebrou e eu pisarei nos cacos, mesmo sem querer.Não foi necessário pensar muito tempo. Quando percebi estava levando o rosto em direção ao dela, com os olhos fixos em seus lábios... Foi quando Clara deu um passo para trás.Como assim, Clara? Eu aposto q