- Alô...- Félix! Sou eu, Clara.- Clara, por Deus, onde você está? Sua mãe está apavorada. Inclusive iria à Polícia registrar o seu sumiço... Não sei se ela já não o fez, inclusive.- Sabe se ela está em casa? Imagino que já esteja de volta... Já que o senhor sabia do meu sumiço.- Irei chamá-la, Clara. Fique na linha... Por favor, não saia.Aguardei um tempo e observei Patrick por perto, não sabendo se ele conseguia ou não ouvir o que eu dizia.Não demorou muito tempo até que eu ouvisse a voz da minha mãe:- Clara? Por Deus, é você, minha filha... – percebi que ela começou a chorar.- Sim, mãe, sou eu. Estou bem.- O que houve? Onde você está? Quer que eu a busque, é isso?- Não, mãe... Não quero que me busque. Não voltarei para casa.- Como assim não voltará? Você... Está com Pedro? Mas... Ele ligou há pouco tempo para saber de você... Então... Encontrou-o agora?Só de ouvir o nome dele e saber que me procurava já senti meu coração acelerar e a boca do estômago doer. Não deveria, m
- Como assim?- É o que você ouviu, amigo. Tia Dorinha morreu e deixou toda a herança para mim.- Nossa... Eu deveria ficar feliz... Mas sentirei muito a sua falta, Patrick.- Estou ligando para dizer que lhe mandarei um contrato passando a Huxley para você.- Como assim?- Quero que fique com a minha loja. Sabe o quanto ela tem um valor sentimental para mim e não há ninguém no mundo que eu quereria mais que ficasse com a Huxley.- Eu... Posso tentar pegar emprestado um dinheiro com alguém... Já que não deu certo no banco aquela vez. Mas não posso aceitar que me dê a Huxley de mãos beijadas. Sei o quanto se esforçou para levantar aquela loja, Patrick. - Felizmente não preciso mais correr atrás de dinheiro. Fui um sortudo na vida, literalmente. E não aceito “não” como resposta. A Huxley é um presente... Não só em nome da nossa amizade, mas também de tudo que você passou comigo ao longo destes anos, nas horas boas e ruins.- Eu... Fico grato... De coração.- Como não voltarei a Laranje
POV CLARANunca na vida imaginei que pudesse haver algo como o Imperial Hotel Gold Coast, em Queensland. Além de gigantesco, talvez em tamanho um pouco menor que a cidade inteira de Laranjeiras, os quartos eram um por andar em cada um dos complexos, que em formato de losango na construção, deixavam ao centro a piscina azul gigantesca. Era de frente para a praia, uma exclusiva só para os hóspedes.Não bastasse a piscina gigantesca, o nosso quarto tinha uma particular, no lugar onde era a sacada. E sim, ela tinha vista para o mar azul turquesa, que parecia rodear tudo.- Acho que podemos nos perder neste quarto. – Olhei para Patrick, enquanto tentava descobrir onde acabava aquele apartamento onde ficaríamos.Ele riu:- O lugar é lindo. Mas sinceramente, acho que minha mãe exagerou. Não precisávamos de algo tão caro.Fui até a sacada e observei a piscina límpida e aspirei o cheiro de maresia que vinha com a brisa do mar.- Amo este cheiro de mar! – Observei.- Eu também. – Patrick parou
O quarto estava escuro, mas a porta de vidro que dava para a piscina aberta. A cortina branca esvoaçava com o vento fresco vindo da praia. E a lua iluminava o quarto e deixava tudo absolutamente romântico.Vi Pedro deitado ali. Abri e fechei os olhos várias vezes até me deparar com Patrick. Não faltava mais nada... Minha mente passar a me enganar.Pedro e Patrick eram completamente diferentes. Não havia nada que pudesse ser semelhante entre ambos.Visivelmente adormecido, Patrick retirou o braço de mim e virou-se para o outro lado. Percebi seus cabelos no travesseiro e alisei-os, realizando um sonho antigo. Sorri, lembrando o quanto eu havia imaginado aquele momento.Talvez eu tivesse amado Patrick Huxley por ele ser totalmente impossível. O fato de ser rejeitada e não poder tê-lo era o que me dava segurança e coragem para seguir com as cartas... E todas as investidas. Era como se eu tivesse que me privar de amar e ser amada por tantos anos.Quando Patrick se mexeu novamente, fiquei c
POV PEDROEu estava chegando em casa quando avistei o rapaz no portão. Ele tinha uma caixa na mão. Não lembrei de ter nenhuma entrega pendente.Pus o carro na garagem e não fechei o portão, a fim de atendê-lo. Voltei para casa no intervalo entre as aulas da tarde e noite para tomar um banho e comer algo rapidamente, sabendo que o terceiro turno da faculdade me esperava em alguns minutos.- Deseja algo? – Perguntei ao homem alto, moreno, de olhos claros e cabelos longos escuros.Definitivamente não parecia um entregador.- Você é Pedro Moratti?- Sim. – Confirmei.- Sou Artemis, amigo de Patrick Huxley.- Patrick Huxley? – Minha voz soou estranha a ponto de quase não reconhece-la.Ele me entregou a caixa:- Patrick pediu que lhe entregasse isto.- Você... Tem certeza de que é para mim?- Pedro Moratti, de Laranjeiras... Pesquisei muito e só existe você.Olhei a caixa grande encapada com um papel colorido:- Mas não conheço Patrick Huxley.- Pelo visto ele o conhece. E foi muito claro a
- Você... Tem notícias dela?Engoli em seco, sentindo novamente aquela dor se apossar de mim. Pelo visto Flora também não sabia nada.- Não. Mas Josephine me disse que ela ligou. E disse que estava bem. Então... Sabemos que ela não voltou porque não quis, não é mesmo?- Ela pagou você também?- Como assim?- Recebi um depósito de 500 mil norians em minha conta. O depósito foi feito por Clara. E veio de um banco da Austrália.- Austrália? Não... Faz sentido. – Balancei a cabeça, atordoado.- E alguma coisa faz sentido nesta história toda, Pedro?Peguei imediatamente o telefone e liguei para o meu advogado, torcendo para que ele me atendesse no domingo, que certamente era o dia em que ficava com a família, fora do escritório.- Alô!- Boa tarde, doutor. É Pedro. Desculpe estar ligando no domingo, mas é bem importante. Gostaria de saber se foi feito um depósito de 500 mil na minha conta nos últimos dias.- Sim, Pedro, foi feito. Veio de um banco internacional.- Lembra o nome de quem foi
No domingo seguinte, quando já estava anoitecendo a campainha tocou. Parecia que as pessoas haviam combinado de me importunar aos domingos. Ou talvez até tentassem outros dias, porém não conseguiam, já que eu nunca estava em casa, praticamente ficando mais tempo no campus da faculdade do que em qualquer outro lugar.Larguei meus livros, retirei os óculos e fui até a porta. E esperava qualquer pessoa, até o mesmo o tal Artemis, menos Anastácia.- Oi... – Ela acenou, parecendo sem jeito.Fui até o portão e a fitei:- Anastácia? Quanto tempo!- Sei que pediu que eu nunca mais o procurasse... Mas também sei que Clara que não está mais aqui. Então... Achei que pudéssemos nos ver e...Abri o portão, indo para fora e não a convidando a entrar. Independentemente do que havia acontecido entre mim e Clara, Anastácia havia sido mentirosa e se recusou a falar a verdade mesmo quando pedi. Armou aquele beijo que sequer aconteceu de fato para fazer com que eu me afastasse de minha namorada.Claro qu
Acordei na segunda-feira atrasado e minha cabeça doía como se tivesse levado uma martelada. Ressaca, algo que nunca tive na vida.Tomei um banho, peguei minha mochila e não fui diretamente para a faculdade. Dirigi até a Biblioteca.Chegando lá, perguntei pelos jornais antigos e fui levado até uma sala enorme, com tantos jornais que imaginei que levaria anos para encontrar algo a respeito do acidente da minha mãe.- Os mais recentes estão separados por ano. E naquele lado temos as primeiras edições.- Vocês têm aqui... Todos os exemplares do Jornal de Laranjeiras?- Quase todos... Infelizmente faltam alguns. Naquela mesa grande – apontou, me mostrando – Tem aquelas pastas. Nelas estão recortes de notícias importantes, principalmente de exemplares que já não temos mais. Talvez encontre alguns que já não estejam em tão bom estado. Futuramente temos planos de digitalizar as notícias... Afinal, é a nossa história... A história de Laranjeiras.Respirei fundo e comecei a procurar nas pilhas